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1.2. As Expressões Idiomáticas

1.2.2. Características

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26 Inherent in answering this question is one involving the introduction of an idiom into the base P-marker generated by a set of context-free phrase structure rules. Second is the question of how to account for the recalcitrance of idioms to undergo particular syntactic transformations”. (Fraser, 1970)

A fixidez

Como já referimos anteriormente a lexicalização transforma uma combinação livre de palavras numa combinação fixa, coesa e estável, através da convencionalização que o uso e a sistematização provocam. Ainda que as fraseologias retenham muito das características da composição livre, também se distanciam destas pela sua estabilidade sintático-semântica.

Exemplificando segundo Rebelo (2000:29)

a) “Arranjar lenha para se queimar” – Próxima da composição livre3 b) “Mais velho do que a Sé de Braga” - Fraseolexema4

Desta forma, a relativa fixidez das Expressões Idiomáticas comprova-se pela coesão semântica e morfossintática dos seus componentes, cuja estabilidade total ou relativa pode ser comprovada através de testes e operações, que as distinguem das composições livres (Rebelo, 2000:27). Sujeitando as Expressões Idiomáticas a determinadas transformações podemos verificar que elas não perdem a sua gramaticalidade, mas perdem a sua coesão semântica (idiomaticidade).

3 A composição livre regulada pela técnica do discurso “é toda a combinação gerada pelas regras combinatórias jogando com as propriedades sintácticas e semânticas, como, por exemplo, as regras que regulam a relação entre verbos e respectivos complementos” (Vilela, 2002:169/170)

4 “Reservamos a designação de fraseolexema para o tipo de fraseologias que têm uma estrutura semântica e sintáctica completamente fixa” (Rebelo, 2000:66)

27 Passamos a exemplificar, apoiando-nos em Vilela e Rebelo:

1. A ordem dos constituintes é fixa:

a) “Andar de cavalo para burro”

* “Andar de burro para cavalo”

b) “Deixar correr o marfim”

* “Deixar o marfim correr”

2. Os componentes lexicais e semânticos são fixos:

a) “Amargar a boca”

* “Amargar a língua”

b) “Abrir os cordões à bolsa”

* “Abrir os cordões ao saco”

3. Restrições de adição (adjetival):

a) “Comer que nem um abade”

* “Comer que nem um abade guloso”

b) “Aquilo com que se compram os melões”

* “Aquilo com que se compram os melões maduros”

4. Restrições de supressão (ausência de artigo):

a) “Dar uma mãozinha”

*”Dar mãozinha”

b) “Custar os olhos da cara”

* “Custar olhos da cara”

5. Restrições de relativização:

a) “Dar pérolas a porcos”

28 * ”As pérolas que (alguém) deu a porcos”

b) “Fazer castelos no ar”

* “Os castelos que (alguém) fez no ar”

6. Restrições de passivização:

a) “Não pregar olho”

* ”O olho não foi pregado (por alguém)”

b) “Dizer para com os seus botões”

* “Para com os seus botões foi dito (por alguém)”

7. Restrições de pronominalização:

a) “Meter uma cunha”

* “Meteu-a”

b) “Surfar uma onda”

* “Surfou-a”

8. Restrições de determinação:

a) “Ser um zero à esquerda”

* “Ser aquele zero à esquerda”

b) “Dar água pela barba”

* “Dar aquela água pela barba”

9. Restrições de intensificação (VILELA, 2002; 189):

a) “Ser música para os meus ouvidos”

* “Ser muita música para os meus ouvidos”

b) “Ficar nas nuvens”

* “Ficar muito nas nuvens”

10. Restrições de indefinição:

29 a) “Separar o trigo do joio”

* “Separar um trigo do joio”

b) “Ter a papinha toda feita”

* “Ter uma papinha toda feita”

A fixidez das fraseologias tem sido posta em causa, precisamente por se verificar no texto e no discurso uma desconstrução dessa estabilidade, que provoca uma enorme possibilidade de variações, “as variantes usuais ou convencionais”, previstas dentro da norma linguística (Vilela, 2002:174). Nestas mudanças estruturais e ainda no parecer de Vilela, dão-se “mudanças morfológicas e sintáticas parciais de cada um dos componentes (variantes de estrutura fraseológica), mantendo-se sempre o significado e a marca diastrática5 em que se verifica apenas a substituição de elementos estruturais do fraseologismo, como sendo as variantes de sentido estrito.

Vilela (2002:175-178) faz uma avaliação exaustiva das variáveis que algumas Expressões Idiomáticas podem assumir na norma linguística, das quais destacamos algumas:

1. Variantes estruturais de género, com diminutivo e superlativo:

a) “De beiço caído / Beiça caída”

b) “Ter a papa toda feita / papinha toda feita”

c) “Coisa nenhuma / coisíssima nenhuma”

2. Variação entre singular e plural:

a) “Em água/ águas de bacalhau”

b) “Jurar a pé junto / pés juntos”

3. Variação entre diferentes formas de negação e não negação:

a) “Não ter papas na língua / sem papas na língua”

5 É o registo de língua/a situação que condicionam a escolha criteriosa, por parte do enunciador relator, de uma expressão cristalizada.

30 b) “Medir / não medir as palavras”

4. Variação entre preposições:

a) “Ficar com os olhos em bico / de olhos em bico”

5. Variação em que é possível a antonímia:

a) “Ser boa rés / más rés”

b) “De cabeça caída / levantada”

6. Variação em campo lexical homogéneo:

a) “Dar / deitar / lançar / pérolas a porcos”

b) “Vir com pezinhos de lã / passinhos de lã”

7. Variação de campo lexical heterogéneo:

a) “Comprar / vender / comer / apanhar/ gato por lebre”

b) “Gastar dinheiro à tripa forra / à larga / à farta / às mãos cheias / a rodo”

8. Variação diastrática:

a) “Não ir à bola com alguém” / “não ser santo da sua devoção” / “não ir à missa de alguém”

9. Variação por presença/ausência de elementos actanciais ou por transgressão da combinação livre:

a) “Estar com os olhos em alguém / com os olhos postos em alguém”

b) “Pôr alguém na rua / pôr alguém no olho da rua”

10. Variação de núcleo com fixidez do colocativo:

a) “Estar gagá / xexé / mais para lá do que para cá”

Existem ainda, variações no texto e no discurso que passam por cortes e adições dos respetivos elementos constitutivos e que vêm pôr em causa o congelamento das

31 Expressões Idiomáticas, vindo a utilizar-se o termo de relativamente fixas por se verificar que elas se desconstroem totalmente por enfatização de quem as utiliza, visando a transmissão da mensagem opinativa (argumentativa) através da expressividade e da emotividade.

Naturalmente, esta questão desvanece-se quando aplicada à Língua Materna porque os falantes fazem uso do seu saber empírico. Contudo, na aprendizagem de uma LE, conhecer tais oscilações torna-se primordial.

Entre as dificuldades com as quais se deparam o professor e o aprendente de uma língua estrangeira, estão as expressões idiomáticas. Sendo expressões cristalizadas e indecomponíveis, cujo sentido e emprego são determinados cultural e convencionalmente, estas não só estão vinculadas à situação de enunciação, como apresentam uma significação que não corresponde à soma dos significados individuais dos seus constituintes.

É também importante observar que

“a aquisição da maioria das combinações idiomáticas se faz de forma não sistemática, em leituras ou conversas, desde que o falante esteja atento a elas. Além disso, esse indivíduo só perceberá que se trata de uma expressão consagrada quando a ouvir repetidas vezes. Então, poderá memorizá-la e utilizá-la quando a situação e o contexto as transformarem num fator específico de eficácia comunicacional”. (Xatara, 1995:200)

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