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Conceitos e Impacto Económico do Empreendedorismo

AUTOR DESCRIÇÃO DO EMPREENDEDOR SEGUNDO AS CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS

2.2.2.3 As características cognitivas

Como vimos anteriormente, acerca da perspectiva da teoria psicológica é possível definir os traços psicológicos que diferenciam um empreendedor do seu antagonista, um não-empreendedor (Begley & Boyed, 1987; Green, David & Dent, 1996). No entanto, alguns autores sustentam que essas características, apesar de importantes, não são capitais, já que podem ser modificadas ou ultrapassadas através da experiência, educação, formação, ou até da interacção com os outros (Gartner, Shaver, Gatewood & Katz, 1994). Drucker (1985) considera que existem muitos casos em que os empreendedores não possuem essas características e apesar disso são capazes de criar empresas de sucesso. Assim, identificar o potencial empreendedor, parece requerer, além das características psicológicas, uma infra- estrutura cognitiva adequada, ou seja, o potencial empreendedor aparece quando um indivíduo consegue percepcionar uma oportunidade, reconhecendo-a como potencialmente exequível, e dedicando-lhe a competência, capacidade e vontade necessárias para o desenvolvimento dessa mesma (Shapero, 1981; Shaver & Scott, 1991; Reitan, 1997).

Parece ser consensual que os psicólogos recentemente influenciados pelos desenvolvimentos da psicologia cognitiva, se estejam a orientar para o estudo das variáveis cognitivas que induzem os empreendedores a encontrar uma oportunidade de negócio e a explorá-la eficazmente (Mitchell, Smith, Seawright e Morse, 2000; Baron, 2004).

Relativamente à definição de psicologia cognitiva, e de acordo com Gardner (1999, citado em Aiub, 2002), ela veio responder a questões epistemológicas, sobretudo àquelas referentes à natureza, origens, desenvolvimento e aplicação do conhecimento humano, nomeadamente, a aprendizagem, a memória, a linguagem, a percepção, o raciocínio e o pensamento, tal como refere Carraher (1983).

Assim, nessa linha de raciocínio, de acordo com Dorion e Drumm (2002), o pensamento cognitivo distingue-se do pensamento psicológico porque o primeiro se refere às consequências que advêm das relações de causa e efeito que têm os determinantes psicológicos sobre a própria dimensão cognitiva.

É perante este contexto, que há cerca de 20 anos, que o estudo do empreendedor sob a perspectiva cognitiva tem ocupado um lugar de destaque na explicação do processo mental individual do empreendedor (Bird, 1992).

Interessa salientar, no entanto, as distintas dimensões que Mitchel, Busenitz, Lant, McDougall, Morse e Smith (2004) fazem entre a psicologia cognitiva e a cognição do empreendedor. Para estes autores, a psicologia cognitiva surge como explicação do processo mental que ocorre no indivíduo, bem como a interacção com o meio envolvente, enquanto o empreendedorismo cognitivo se poderia definir como a estrutura do conhecimento que o indivíduo utiliza para conseguir aceder, julgar ou decidir sobre a avaliação de uma oportunidade, risco e das suas possibilidades de crescimento. A perspectiva cognitiva no contexto empreendedor procura entender como os indivíduos utilizam os modelos mentais para agregar informações que inicialmente não apresentam qualquer tipo de relação ou ligação, de forma a ajudá-los a decidir sobre a criação de uma empresa.

Os primeiros estudos realizados nesta temática tiveram em conta os conceitos de cognitivo biases e os processos heurísticos no que concerne às decisões estratégicas (Busenitz, 1992). Incidiram também na capacidade de operacionalização, na percepção e na auto-eficiência (Krueger, 1993; Krueger & Dickson, 1994). Relativamente a esta última característica ela é considerada como essencial para o empreendedor de sucesso (Bandura, 1997, citado em Markman, Baron & Balkin, 2005; Fernández, Liñán & Santos, 2009). Também a perseverança assume um papel preponderante na capacidade de enfrentar com êxito as adversidades com que o empreendedor se vai deparando (Eisenberger, 1992, citado em Markman et al., 2005). Foi Mitchell et al. (1994), no entanto, que usou pela primeira vez a psicologia cognitiva para diferenciar o empreendedor do não empreendedor. Mais tarde,

empreendedor dos mecanismos cognitivos: pensamento “especulativo”2, “planos ilusórios”3 e ilusão do controlo.

No processo de identificação de oportunidades foram reconhecidas como ferramentas cognitivas a utilizar, um conjunto distinto do processamento de informação e percepção que se denomina de “estado de alerta”, que no empreendedor se traduz como a habilidade de encontrar sem procurar (Kirzner, 1979, citado em Tang, Tang & Lohrke, 2007). Baron (2004) também afirma que as pessoas alertas (tradução do alertness) tendem a procurar ser precisas e conseguem-no devido ao facto de possuírem processos mentais mais complexos, utilizando o pensamento para além dos limites normais, ou seja, possuem o chamado pensamento especulativo. Relativamente ao “plano ilusório” e ilusão do controlo, o mesmo autor, refere que os empreendedores subavaliam os riscos envolvidos na criação duma start-up, ou seja, eles avaliam o risco numa dimensão inferior comparativamente com o resto da população.

Na continuidade desta temática, Palich e Bagby (1992, citado em Morales, 2004), abordaram nos seus estudos os empreendedores na visão da psicologia cognitiva, e verificaram que estes se diferenciam dos não empreendedores devido à capacidade de interpretação e categorização das situações, no sentido em que vislumbram “mais forças que fraquezas”, “mais oportunidades que ameaças” e “mais possibilidades de ganhar do que perder”. Dessa forma, o empreendedor ao procurar uma actividade descurada ou mesmo ignorada, fá-lo porque consegue percepcionar que os seus resultados positivos serão muito superiores.

Na mesma linha de pensamento, Gartner, Shaver e Gatewood, (2000), para explicar o comportamento empreendedor focalizaram nos mecanismos cognitivos a identificação de habilidades e a percepção como características positivas na explicação deste comportamento. Considerando que as habilidades são o conjunto de aptidões para utilizar as capacidades físicas e intelectuais que se traduzem em acções realizadas a partir do conhecimento (Longen, 1997), para Cielo (2001) estas são adquiridas através da experiência e podem dividir-se em três grupos: habilidades mentais (o empreendedor adapta os seus planos de acção às diferentes necessidades de negócio), habilidades interpessoais (o empreendedor possui estabilidade emocional, sociabilidade, tacto, boas relações interpessoais e empatia) e

2 Tradução livre de counterfactual. 3 Tradução livre de planning fallacy.

habilidades de comunicação (compreende eficientemente a comunicação escrita e oral). Relativamente à definição de percepção, segundo Gibson (1981), reporta-se à aquisição de conhecimento característico sobre objectos ou eventos que estimulam directamente os sentidos num momento particular. No processo empreendedor, Hisrich e Peters (2004) consideram que a percepção que é necessária para o mesmo é resultado da cultura, da subcultura, da família e da educação. Para Lima (2001), os valores (existenciais, intelectuais, morais e religiosos) também compõem a percepção, constituindo o grupo de elementos culturais que mais contribuem para o desenvolvimento das características individuais. Também um outro aspecto relevante para a actividade do empreendedor neste contexto é a ideia do fracasso, que para o empreendedor pode ser considerado um sinal para uma oportunidade inovadora (Drucker, 1987), como já falamos anteriormente.

Perante este contexto, o processo cognitivo é muitas vezes dominado por erros ou “enviesamento”. Assim, o “enviesamento” pode ser definido como um conhecimento que certifica as crenças do indivíduo, sendo recordado, por isso, mais depressa (Johnson-Laird, 1999, citado em Baron, 2004). Os erros cognitivos podem ser os seguintes: (1) tendência para acreditar que tudo correrá bem (Shepperd, Ouellette & Fernandez, 1996); (2) tendência para acreditar que se podem atingir objectivos em tempos inferiores aos que na realidade são necessários (Buehler, Griffin & Ross, 1994); (3) tendência para o estado afectivo influenciar a percepção e decisão do indivíduo (Forgas, 1995). Desta forma, pode-se considerar que os empreendedores são mais passíveis ao enviesamento, e assim, este factor poderá funcionar como um impulsionador à criação de empresas (Baron, 2004).

Resumindo, Baron (2004) enumera os principais factores cognitivos no campo do empreendedorismo: (i) reduzida percepção de risco; (ii) enfatização das probabilidades reduzidas de sucesso; (iii) maior susceptibilidade aos vários enviesamentos cognitivos; (iv) reconhecimento das oportunidades; e, (v) o sentido de alerta e pensamento especulativo.

Para Chen, Greene e Crick (1998), o aparecimento da abordagem cognitiva está a contribuir para se ultrapassar o dilema na definição da personalidade empreendedora e assim a atrair os investigadores do empreendedorismo. Para eles, o potencial empreendedor é o indivíduo aliado ao contexto na identificação de mecanismos cognitivos que diferenciem os que percebem oportunidades e empreendem prosperamente.

Perante esta problemática, esta nossa investigação aborda como factores cognitivos que influenciam o empreendedorismo: (i) a percepção do sucesso; (ii) a resolução de

empreendedorismo atento.