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Características das empresas que possuem Investimentos

Capítulo III Resultados e

III.5 Mudança do modo de operação no mercado externo

III.5.1 Características das empresas que possuem Investimentos

Dentro do grupo de empresas presentes na amostra, existe um subgrupo que se diferencia pelo grau de envolvimento no mercado internacional. Essas empresas ultrapassaram o estágio de exportação e realizaram algum tipo de Investimentos Externos Diretos (IED). Doze empresas da amostra possuem essa característica. Uma investigação mais profunda foi realizada buscando identificar alguma característica comum nestas empresas que justifiquem a decisão de realizar IED.

A suposição inicial era a de que as empresas que possuem maior participação das operações internacionais no faturamento realizassem IED, uma vez que a importância das operações internacionais seria uma justificativa para investir no mercado externo. Assim, esperava-se que as empresas com IED se caracterizassem por um peso maior das operações internacionais no faturamento. Porém, essa relação não foi observada para as empresa desta amostra. O Quadro 4 apresenta esses resultados:

Quadro 4 – Relação entre Participação das Operações Internacionais no Faturamento com Investimento Externo Direto

Até 10% 11% - 20% 21% - 40% Número de empresas com

IED * 5 4 2

Fonte: Resultados da pesquisa

* Uma das empresas não informou seu coeficiente de operações internacionais – faturamento, pois iniciou suas operações internacionais em 2005.

Essa falta de relação direta pode ser em parte explicada pelo período do processo de internacionalização no qual o IED foi realizado. Do grupo de 12 empresas, 9 responderam que o IED foi realizado no início do processo de internacionalização, como estratégia de entrada no mercado externo. Algumas características específicas de produtos ou serviços podem justificar a realização de Investimentos Externos Diretos no início do processo de internacionalização. As prestadoras de serviços não- comercializáveis ⎯ caso de 4 empresas deste grupo ⎯, por exemplo, necessitam estar presente no local onde o serviço será prestado, pois o contato direto com o consumidor ou cliente é essencial para a realização deste serviço e, por isso, algum nível de investimento no país estrangeiro deve ser realizado.

As empresas que não são prestadoras de serviços não-comercializáveis, mas que entraram no mercado internacional através de IED, podem ter escolhido essa estratégia de entrada por atribuírem ao IED uma função estratégica necessária para garantir a competitividade em novos mercados, maior nível de tolerância do empreendedor ao risco, perfil mais controlador do empreendedor, oportunidade de parceria etc.

III.6 Barreiras de entrada para o mercado externo

As empresas foram questionadas a respeito das principais dificuldades encontradas durante o início do processo de internacionalização. Uma lista contendo 15 possíveis obstáculos à entrada de empresas no mercado internacional foi apresentada. Esses

obstáculos estão relacionados com a própria organização e com o ambiente político, social e econômico em que ela atua. O Gráfico 7 apresenta as respostas.

A dificuldade de encontrar compradores e de estabelecer relacionamentos comerciais foi apontada por 49% das empresas como a principal barreira de entrada para o mercado internacional. Na ocasião do contato telefônico com algumas empresas, houve relatos de que não existe um padrão a ser seguido ou um modelo que as ensine a encontrar mercado e clientes para seus produtos ou serviços. Para iniciar suas operações internacionais, as PMEs utilizam canais diversos e muitas vezes originais: “sacoleiras” internacionais; representantes e agentes internacionais; serviços de consultoria; participação em eventos comerciais e não-comerciais nacionais e internacionais; relacionamentos pessoais e profissionais; internet; reportagens de televisão; e jornais e revistas veiculados em vários países.

Essa resposta mostra a importância das redes de relacionamentos no processo de internacionalização das empresas. Segundo Coviello e McAuley (1999), a escola de pesquisa de redes de relacionamentos sugere que o processo de internacionalização depende mais dos grupos de relacionamentos estabelecidos pela empresa do que das próprias vantagens específicas. Muitas vezes, relacionamentos pessoais ou profissionais funcionam como pontes para o mercado externo, pois estabelecem ligações entre a empresa e os distribuidores, clientes ou consumidores. Segundo Coviello e Munro (1995), o envolvimento das empresas em redes de relacionamento internacionais acelera seu processo de internacionalização. A internacionalização para dentro também é capaz de inserir a empresa em uma rede de relacionamentos capaz de facilitar o movimento de internacionalização para fora da empresa (WELCH e LUOSTARINE, 1993; KORHONEN et al.,1995).

Nos últimos anos, a APEX-Brasil (Agência de Promoção de Exportações e Investimentos), agência subordinada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, tem auxiliado significativamente as empresas com potencial para exportar a encontrarem possíveis compradores. Através de subsídios para participação em feiras internacionais, da promoção de rodadas de negociação, missões comerciais e consórcios de exportação, a agência visa a aumentar a rede de contatos e inserir mais empresas no ambiente competitivo internacional. A APEX desenvolveu um sistema de Inteligência Comercial com o objetivo de facilitar o acesso de principalmente PMEs ao mercado externo. Esse sistema disponibiliza informações relevantes, tais como países

exportadores que disputam mercado com o Brasil, preços praticados pelas empresas, logística de transporte e cadeias de distribuição, estrutura e condições de acesso ao mercado (normas e regulamentos, barreiras tarifárias e não-tarifárias), possíveis parcerias estratégicas, e clientes potenciais para rodadas de negócios com exportadores brasileiros. A burocracia alfandegária e tributária brasileira não poderiam deixar de ser citadas como obstáculos à expansão internacional das empresas. A burocracia alfandegária está relacionada às etapas finais do processo de exportação, mais especificamente após a chegada da mercadoria no porto de saída. Ela alcançou nesta pesquisa o segundo lugar na lista das principais barreiras de entrada para o mercado externo. No boletim Sondagem Especial da Confederação Nacional da Indústria (SECNI, 2005), a burocracia alfandegária foi considerada, por 38% das PMEs, o principal entrave ao crescimento das exportações.

O sistema tributário brasileiro, outro grave problema apontado pelas empresas, é extremamente burocrático, ou seja, é um sistema complexo e prejudicial à competitividade dos produtos e serviços produzidos internamente. Sua complexidade é resultante da diversidade, da cumulatividade e da difícil desoneração dos tributos. A burocracia tributária foi considerada nesta pesquisa a terceira maior barreira de entrada para o mercado externo. No boletim SECNI (2005), a burocracia tributária foi considerada, por 32% das empresas (pequenas e médias), o maior obstáculo no processo de exportações. Outra pesquisa realizada pela CNI (2002) constatou que a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) foi considerada pelas empresas a incidência tributária que mais afeta a competitividade externa dos produtos brasileiros. Tal resultado não surpreende, dado que esse tributo não só recai cumulativamente sobre a cadeia produtiva, como também não é ressarcido quando o produto é exportado.

A falta de conhecimento do administrador sobre as práticas e políticas dos mercados internacionais também foi considerada uma barreira para a entrada no mercado internacional. Ao contrário das grandes empresas que podem solucionar esse tipo de problema através da contratação de profissional ou de empresa especializada, as PMEs na maioria das vezes não possuem recursos financeiros para realizar contratações que as auxiliem no processo de internacionalização. O empreendedor ou principal administrador, geralmente, acumula essa função juntamente com várias outras áreas estratégicas da empresa. A concentração das principais decisões relativas à empresa em

uma única pessoa faz com que o tempo disponível para o aprendizado ou dedicado a uma área específica da empresa seja extremamente escasso. Todos esses problemas tornam o processo de internacionalização das PMEs lento ou, muitas vezes, inviável.

Por fim, as empresas apontam como dificuldade o “Custo Brasil”, que compreende os custos dos transportes terrestres, portos, comunicações etc., cujos estados de deterioração estão hoje elevados em função da insuficiência de investimentos públicos em infra- estrutura. O “Custo Brasil” afeta os custos de investimento e a rentabilidade das empresas, e a formação dos preços dos produtos para exportação. Em outras palavras, trata-se de um limitador da capacidade de competição do produto nacional no exterior. A dificuldade na obtenção de financiamento para as exportações foi apontada como sendo um grave problema por 23% das empresas. Este percentual parece baixo, visto que a pesquisa trata de PMEs. A escassez de recursos, principalmente financeiros e organizacionais, afeta diretamente o comportamento exportador. A literatura que discute o tema propõe e suporta o relacionamento entre o tamanho da firma e a probabilidade de esta vir a exportar (CAVUSGIL, BILKEY e TESAR, 1979; CAVUSGIL e NEVIN, 1981; WITHEY, 1980; YAPRAK, 1985; CAVUSGIL e NAOR, 1987). Porém, apenas 23% das empresas desta amostra consideram a dificuldade de acesso a financiamento uma barreira ao processo de internacionalização e, como será visto posteriormente, somente 42% delas utilizam algum tipo de financiamento das suas operações internacionais. Isso pode ser atribuído a alguns fatores, tal como a adoção de uma correta estratégia de internacionalização, que exija da empresas investimentos proporcionais à sua capacidade financeira (BONACCORSI, 1992). As empresas selecionadas na pesquisa são casos de empresas com boa performance no mercado doméstico e, portanto, capazes de suportar financeiramente suas operações internacionais.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

Dificuldade na comunicação internacional entre estabelecimentos

Dificuldade de contratar recursos humanos com conhecimento de mercado internacional Dificuldade na administração das taxas de câmbio Dificuldade em desenvolver estrutura organizacional

efetiva no

Cultura e língua diferentes do país estrangeiro Dificuldade de contratação do seguro de crédito Dificuldade de conformidade aos padrões exigidos

no exterior (qualidade)

Ausência de marcas conhecidas Acesso e qualidade dos serviços de apoio à

promoção das exportações

Dificuldade de acesso ao financiamento da produção e das exportações Custo da armazenagem, transporte interno (fábrica-

porto) e frete internacional

Falta de conhecimento do administrador sobre mercados internacionais, práticas e políticas

Burocracia tributária Burocracia alfandegária Dificuldade de encontrar compradores e estabelecer

relacionamento comercial exterior

Gráfico 7 – Barreiras de entrada ao mercado externo

Fonte: Resultados da pesquisa