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CARACTERÍSTICAS DAS MPE: ESTRUTURA, ORGANIZAÇÃO E ESPECIFICIDADES

No documento ArranjoProdutivoLocal (páginas 37-43)

2 DIMENSÕES TEÓRICAS DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (MPE):

2.2 CARACTERÍSTICAS DAS MPE: ESTRUTURA, ORGANIZAÇÃO E ESPECIFICIDADES

As MPE possuem características próprias de organização, de gestão, de relacionamento com clientes, fornecedores, instituições governamentais e demais atores econômicos, além de possuírem características próprias em relação a sua inserção no mercado e ao alcance e manutenção de sua competitividade. Quanto à estrutura organizacional, geralmente possuem uma ordem simples, apresentando recursos humanos limitados, com pequena burocracia interna. Com relação aos aspectos produtivos, normalmente apresentam baixo grau de diversificação, localizam-se próximas aos mercados consumidores, destinam sua produção para mercados locais ou especializados. Quanto às respostas que o mercado exige ou a determinadas exigências dos consumidores, as MPE são bastante flexíveis,

adaptando-se rapidamente às modificações em seu entorno. No que diz respeito à disponibilidade de recursos financeiros e acesso a linhas de crédito, as MPE possuem grandes dificuldades, o que se torna um grande problema e representa um dos fatores limitantes das MPE em relação às grandes empresas. Uma importante característica das MPE é a absorção do desemprego e a descentralização industrial, o que contribui para o crescimento e desenvolvimento de países como o Brasil, onde há alto desequilíbrio regional.

Os fatores condicionantes na adoção de métodos de custeio em MPE segundo Motta (2000), baseiam-se na análise da influência dos fatores contextuais, organizacionais e pessoais. Constata-se que não existe a influência de apenas um tipo de fator na adoção de uma política de custos, mas sim a influência conjunta de todos os fatores com predomínio daqueles mais afins com a filosofia de administração da empresa. Assim, quando há centralização de poder, os fatores pessoais são mais influentes; quando há delegação de poder ou a empresa possui uma estrutura formal de administração, os fatores organizacionais têm maior peso; e quando a administração está focada no cliente e no mercado, os fatores contextuais são mais importantes.

Segundo Sales e Souza Neto (2004), as margens de comercialização nas MPE são altas, pois sofrem a influência de suas características particulares. Elas operam com volume e giro muito baixos, além do pequeno poder de barganha sobre os fornecedores, o que as obriga a remarcarem seus preços com valores superiores para que possam repor seus estoques e obter lucro.

As características das MPE também foram objeto do estudo de Leone (1999). Para a autora, existem três tipos de especificidades que caracterizam as MPE: organizacionais, decisionais e individuais.

-Especificidades Organizacionais: são as que expõem a forma de gestão e de organização, em que a tendência presente é a de estrutura mais simples e menos formal, além da centralização da gestão no proprietário-dirigente;

-Especificidades Decisionais: são as que mostram o processo de tomada de decisão que geralmente é baseado na experiência pregressa, no julgamento ou na intuição do proprietário-dirigente e marcado não só por sua “racionalidade econômica”, mas também pela influência política e familiar;

-Especificidades Individuais: são as que tratam da não distinção entre o dirigente e o proprietário, ou seja, da fusão da pessoa física com a pessoa jurídica. Portanto, para a compreensão do funcionamento das MPE é de suma importância a análise das competências, das atitudes, das motivações e do comportamento organizacional do próprio proprietário- dirigente, pois é notória sua influência na forma de organização e atuação do negócio.

Essas especificidades refletem uma realidade diferente da vivenciada pelas grandes empresas e contribuem para tornar a gestão das MPE permeada por dificuldades que limitam o seu crescimento e desenvolvimento. (SILVA; PEREIRA, 2004).

Kruglianskas (1996), aponta como outra característica importante das MPE o baixo ou raro investimento em pesquisa de natureza mais básica. Essas empresas têm por vocação a aplicação da tecnologia já existente de forma original em novos produtos e tendem

a evitar as áreas que exigem recursos consideráveis em pesquisa e desenvolvimento (P&D). O autor afirma que em geral, os dirigentes das empresas são cépticos quanto à eficiência das grandes equipes que atuam nas empresas maiores e, portanto, nas MPE um número pequeno de pessoas envolve-se com o desenvolvimento de novos produtos. Assim, o problema de P&D nas MPE demonstra-se como um problema de escala, pois não há volume suficiente de vendas para custear o desenvolvimento de novos produtos e processos.

Dessa forma, e com base nas abordagens do IBGE (2003) e de Leone (1999), no que diz respeito às características das MPE verifica-se que essas empresas apresentam várias dificuldades para a manutenção de seus negócios o que coloca em risco sua sobrevivência. Assim sendo, torna-se relevante a exploração da alta taxa de mortalidade apresentada por essas empresas (cf. capítulo 3).

Segundo Versiani e Gaspar (2000, p.2), qualquer reflexão relativa às MPE, deve ser fundamentada no arcabouço e nas discussões das teorias econômicas, cujo eixo central é composto pelas questões relativas à sobrevivência e à permanência dessas unidades frente ao processo de oligopolização da economia. Para essas autoras pode-se identificar pelo menos dois enfoques quando se trata da análise da posição das MPE na estrutura econômica.

A primeira, considerada clássica, indaga sobre a possibilidade de sobrevivência dos pequenos negócios frente à concentração e à centralização do capital inerente ao processo de acumulação e ao modo de produção capitalista. A tese subjacente, em autores como Marshall, é a da extinção das PME’s ou de sua permanência temporária. Para Marshall (1945), o crescimento das firmas se daria numa evolução natural de empresas que nascem, crescem até certo tamanho, decrescem e morrem. O crescimento se efetuaria por etapas, a partir da divisão do trabalho, através da especialização de funções, e dos ganhos decorrentes de economias externas à firma. Estabelece-se, então, que o aumento do volume de produção e a redução dos custos decorrentes da escala aliada à divisão técnica do trabalho, permitindo maior produtividade, formariam as vantagens significativas à grande empresa que alijaria par-e-passo os

pequenos produtores da atividade econômica. A presença das pequenas empresas seria de caráter temporário, uma vez que estariam impossibilitadas de crescer devido as suas desvantagens econômico- estruturais. No entanto, haveria um ciclo evolutivo dos pequenos negócios alimentado devido à existência de homens ávidos por aventura ou pelos sistemas de subcontratação estabelecidos pelas grandes empresas. Esse processo permitiria a convivência de empresas com diferentes tamanhos, mas em seu bojo existiria o prenúncio da morte inexorável dos pequenos negócios.

Em contraponto, conforme as autoras, as visões modernas sobre a inserção das MPE na economia partem de pressupostos antagônicos, ou seja, de que as pequenas empresas devem ser analisadas conforme sua inserção na estrutura industrial. Assim, segundo Souza (1995), há condições para a sobrevivência das MPE apesar das probabilidades reduzidas de seu crescimento decorrentes principalmente do pequeno capital disponível, da dificuldade em obter financiamentos com prazo mais longos e da limitação em relação aos prazos na amortização dos empréstimos.

Portanto, segundo Versiani e Gaspar (2000), pode-se deduzir, de forma geral, que as MPE seriam mais frágeis, tendo que enfrentar e resistir à forte posição das grandes empresas. Entretanto, as desvantagens e a posição marginal das MPE em relação às grandes firmas, em muitos casos, parecem obscurecer, não só o reconhecimento de que elas possuem características e peculiaridades que lhes dão vantagens comparativas em relação às grandes empresas, mas que também percebem e avaliam o ambiente de forma diferenciada e, desse modo, trabalham as oportunidades e enfrentam as ameaças ambientais distintamente.

Assim sendo, o estudo conduzido por Souza (1995), sobre pequenas e médias empresas na reestruturação industrial, aponta as características das empresas de pequeno porte e seu papel nesse processo. Dentre as características do processo de reestruturação industrial destacam-se a tendência à desverticalização das grandes empresas em direção a unidades

menores, sob a mesma propriedade de capital ou não, onde a subcontratação ligada à especialização é revitalizada e a tendência à valorização das vantagens de atuação conjunta, onde a eficiência coletiva pode surgir da aglomeração de pequenas empresas organizadas em distritos ou pólos industriais. Além disso, a autora destaca algumas características das MPE, tais como: o estímulo à iniciativa privada e à capacidade empreendedora que contribui para a geração de empregos e absorção de mão-de-obra; a contribuição para a descentralização da atividade econômica, em complemento à grande empresa ou na promoção do desenvolvimento local e regional; o potencial de assimilação, adaptação, introdução ou, em algumas vezes, a geração de novas tecnologias de produto e de processo.

Souza (1995), observa também que a diversidade dos pequenos negócios evidencia trajetórias específicas para o segmento, que traduz os diferentes espaços de sua atuação e os tipos particulares de sua organização social. Portanto, as MPE devem ser abordadas de acordo com a categoria de sua trajetória, a saber:

a) MPE em mercados competitivos, que no geral são concebidas como amortecedoras do desemprego, pois utilizam a estratégia competitiva de custos menores da mão-de-obra e do baixo investimento em inovações, permitindo com isso um posicionamento no mercado por suas vantagens de curto prazo. Essas empresas, na maioria dos casos, apresentam menor produtividade, maiores custos sociais, desqualificação de pessoal e relações de trabalho precárias;

b) MPE independentes em estruturas industriais dinâmicas, ou seja, empresas que buscam nichos específicos de mercado através de inovações tecnológicas;

c) MPE que adotam o modelo comunitário e, geralmente, são situadas em distritos industriais que buscam eficiência coletiva com a sinergia obtida pelas especializações. Essas empresas, por intermédio de ações coordenadas, alcançam vantagens inacessíveis à empresa individual; e,

d) MPE que adotam o modelo de coordenação interagindo com as grandes empresas, por meio de parceria ou subcontratação.

Por fim, Botelho et al. (2004), ao tratarem da reestruturação produtiva ocorrida nas últimas décadas nas grandes empresas citam a ampliação da participação das MPE nas estruturas produtivas em diversos países desenvolvidos e em desenvolvimento, em alguns casos pela formação de redes com participação importante de pequenas empresas. Além disso, notam que a inserção competitiva de empresas de pequeno porte ocorreu também em estruturas organizacionais nas quais as MPE não são subordinadas às grandes empresas, como é o caso das aglomerações setoriais com predominância de pequenas empresas, comumente chamados de clusters ou arranjos produtivos locais – APLs.

De forma a ampliar essa discussão serão apresentadas, nas próximas seções, as redes de MPE e, posteriormente, os distritos industriais, clusters e os arranjos produtivos locais – APLs.

No documento ArranjoProdutivoLocal (páginas 37-43)