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AS MPE: IMPORTÂNCIA ECONÔMICA

No documento ArranjoProdutivoLocal (páginas 33-37)

2 DIMENSÕES TEÓRICAS DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (MPE):

2.1 AS MPE: IMPORTÂNCIA ECONÔMICA

O paradigma técnico-produtivo fordista entra em crise a partir do final da década de 60 e inicio da década de 70 dando lugar a um novo padrão produtivo com base nas tecnologias de informação e de comunicação. Assim, segundo Jacques (1988) apud NAVARRO (1995), p. 100) vislumbra-se uma mudança mundial na qual:

a produção maciça, o consumo maciço, a cidade grande, o Estado protetor e onipotente, o Estado construtor de habitações e o Estado nacional (características do fordismo) encontram-se em decadência; a flexibilização, a diversidade, a diferenciação, a mobilidade, a comunicação, a descentralização e a internacionalização (características do pós-fordismo) encontram-se em ascensão.

Até então, a forma de produção fundamentava-se na eletromecânica, um sistema de produção em massa intensivo em energia e materiais, com estrutura verticalizada e alto grau de hierarquização. A grande diversidade que surge como modelo de superação baseia-se no novo padrão caracterizado pela flexibilização e desverticalização do processo de produção, gastos com pesquisa e desenvolvimento, multifuncionalidade do trabalhador, estabelecimento de redes empresariais estratégicas, dentre outros aspectos.

Além disso, outros fatos, tais como a abertura do mercado, a desregulamentação da economia e a privatização de empresas públicas levam as empresas a reestruturar suas bases produtivas. O movimento de reestruturação empresarial caminha direcionado para a redução de custos, da ociosidade e dos riscos como instrumentos da maior flexibilidade no uso do capital e do trabalho. Criam-se novas formas organizacionais associando-se qualidade e produtividade no âmbito das empresas e as estratégias passam a incorporar os aspectos tecnológicos, além dos aspetos produtivos e mercadológicos. Redes de empresas são criadas e o processo de terceirização nas grandes firmas se instala com a conseqüente redução dos postos de trabalho.

A década de 70 foi marcada pela diminuição da taxa de crescimento do comércio internacional, pela aceleração do processo inflacionário e, conseqüentemente, pela instabilidade financeira. Caracterizou-se como uma década de transição, cujo fator determinante da competitividade neste período foi a tecnologia com base na microeletrônica, que se constituiu num dos elementos do novo paradigma tecnológico (SUZIGAN, 1989).

Na década de 80, observou-se uma crescente difusão de bens e serviços que incorporaram a nova tecnologia. Este fato deveu-se à aplicação da microeletrônica a bens e

serviços, à redução dos preços relativos dos produtos que incorporavam esta inovação, ao forte impacto sobre as estruturas organizacionais, financeiras e processos de trabalho e aos efeitos que reduziam os custos de capital e aumentavam a produtividade do trabalho (COUTINHO, 1992). Com isso, desencadeou-se uma intensa onda de inovações. O novo paradigma tecnológico introduziu grandes modificações na estrutura industrial, ocasionando transformações no processo produtivo, com novas formas de gerenciamento e organização da produção e com inovações sociais, resultantes da adaptação das relações de trabalho a estes novos padrões.

Coutinho (1992, p.71) destaca as características do novo paradigma tecnológico que marcou os anos 80, quais sejam:

1) o peso crescente do complexo industrial;

2) um novo paradigma de produção industrial – a automação integrada flexível;

3) revolução nos processos de trabalho;

4) transformação das estruturas e estratégias empresariais; 5) as novas bases da competitividade;

6) a “globalização”como aprofundamento da internacionalização; e 7) as “alianças tecnológicas”como nova forma de competição.

Na década de 90, abre-se espaço para um novo modelo de empresa que busca flexibilizar seus processos organizacionais. Essa flexibilização tem como resultado uma estrutura organizacional mais enxuta e descentralizada, em que a grande empresa dilui suas atividades, abrindo-se, com isso, oportunidades para o surgimento de pequenas unidades produtivas autônomas (COUTINHO, 1992).

É nesse cenário de mudança tanto no paradigma técnico-produtivo como no modelo de reestruturação produtiva, que as empresas de pequeno porte começam a se destacar no mundo e passam a gerar grande número de empregos formais, contribuindo para a

descentralização da atividade econômica, a diminuição do desemprego e a aglutinação de uma determinada atividade econômica em uma mesma região, além de mostrar agilidade na adaptação e geração de novas tecnologias seja de produtos ou de processos.

Segundo Glass (1998), a pequena empresa é um modo de produção característico desde os tempos remotos. Indústrias artesanais nas quais os membros de uma família desenvolvem suas atividades em função de uma determinada divisão do trabalho continuam existindo atualmente nos meios rurais e urbanos. Ainda hoje, a maioria dos trabalhadores de todos os países, remunerados ou não, trabalham em empresas de pequeno porte.

Para Kruglianskas (1996), as micro, pequenas e médias empresas têm importância crescente na economia. A existência de significativo número dessas empresas leva à menor concentração de mercado e induz à melhor distribuição de renda, favorecendo a estabilidade social e política. Uma estrutura de mercado menos concentrada permite maior dinamismo, aumenta as chances de alocação de recursos mais condizentes com a demanda e reduz os problemas inflacionários, decorrentes da existência de oligopólios com grande poder sobre o estabelecimento de preços no mercado.

Além disso, o movimento de fusões e aquisições acabou por generalizar a conformação de oligopólios mundiais, onde as grandes empresas, ao concentrar ativos estratégicos, aumentam as assimetrias e o poder que detêm ante as empresas menores. Nesse sentido, Chesnais (1997), aponta que, mesmo nos países em que as pequenas empresas são suficientemente fortes, sua existência depende, em larga medida, das perspectivas que lhes oferecem os grandes grupos, como compradores de produtos intermediários, bem como da natureza da cooperação tecnológica que estes lhes propiciam.

A despeito de todas as restrições a que estão sujeitas as MPE, Ceglie e Dini (1999) observam que elas representam um papel chave no estímulo e sustentação do crescimento econômico, e ainda apresentam grande importância no desenvolvimento eqüitativo dos países em desenvolvimento.

Por fim, Domingos (1995), destaca que as MPE representam uma alternativa viável e concreta para o fortalecimento da economia de um pais, pois constituem um fator de estabilidade política, ao propiciar a desconcentração do poder econômico e o fortalecimento da classe média, tornando-se elemento fundamental do processo democrático, dada sua expressão tanto em âmbito nacional como em âmbito local. No plano social as MPE desempenham um papel extremamente relevante na geração de empregos, inclusive da mão- de-obra pouco especializada, na absorção das matérias-primas e atendimento dos mercados locais, na distribuição da renda e na mobilidade social.

No documento ArranjoProdutivoLocal (páginas 33-37)