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Maria Carolina Maggiotti Costa

A GESTÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO: A

EXPERIÊNCIA DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DO SETOR

METAL-MECÂNICO DA REGIÃO PAULISTA DO GRANDE ABC

São Paulo

2006

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MARIA CAROLINA MAGGIOTTI COSTA

A GESTÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO: A

EXPERIÊNCIA DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DO SETOR

METAL-MECÂNICO DA REGIÃO PAULISTA DO GRANDE ABC

Dissertação de mestrado apresentada ao Centro Universitário SENAC, como exigência parcial para obtenção do grau de Mestre em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente

Orientador: Prof. Dr. Celso Amorim Salim

São Paulo

2006

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Costa, Maria Carolina Maggiotti

Título: A GESTÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO: A

EXPERIÊNCIA DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DO SETOR METAL-MECÂNICO DA REGIÃO PAULISTA DO GRANDE ABC

A Banca Examinadora de Dissertação de Mestrado, em seção pública realizada em ___/____/_____, considerou o candidato:

( ) aprovado ( ) reprovado 1) Examinador: ______________________________________________________ 2) Examinador: ______________________________________________________ 3) Presidente: ______________________________________________________

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AGRADECIMENTOS

A Deus por sua infinita bondade.

À Fundacentro por ter me proporcionado cursar o mestrado.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Celso Amorim Salim, por suas intervenções e por todo apoio nos momentos difíceis.

Ao Prof. Dr. Dorival Barreiros, por suas contribuições no decorrer deste trabalho. Aos funcionários da Divisão de Biblioteca da Fundacentro, pelo auxílio inestimável. À Eliane Carpanelli, por seu auxílio na formatação gráfica deste trabalho.

Ao Marcos Roberto Ahorn, pela conversa e pelos esclarecimentos.

Aos empresários que tão bem me receberam e dedicaram parte de seu escasso tempo na realização das entrevistas.

A minha mãe Edna e meus irmãos Maria Cristina, Mauro César e Mariângela, por todo apoio e incentivo na conclusão de mais uma importante etapa de minha vida.

Ao meu filho Affonso Henriques, por não ter me deixado esmorecer.

Ao Paulo Íris, meu companheiro e amigo, pela orientação informal, pelo apoio e pelo carinho recebidos.

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RESUMO

Este trabalho tem por objetivo analisar a configuração do arranjo produtivo local do setor metal-mecânico, segmento ferramentaria, da região paulista do Grande ABC, composto por um aglomerado de micro e pequenas empresas (MPE), com ênfase na gestão da segurança e saúde no trabalho (SST) na dimensão local. Para tanto, foi efetuada uma revisão da literatura, sendo apresentadas as características das MPE e sua importância econômica, as redes de MPE, os clusters, os distritos industriais e os arranjos produtivos locais. Foram estudados também os sistemas de gestão da SST e suas normas de referência e a gestão da SST no ambiente das empresas de pequeno porte. A fim de executar o levantamento de dados, foi efetuado estudo de caso no qual se verificou mais profundamente a estrutura física e mercadológica das empresas pesquisadas, suas principais dificuldades operacionais, suas práticas de gestão da SST e o posicionamento de cada uma delas em relação ao arranjo produtivo local em que estão inseridas. Os resultados da pesquisa nas empresas evidenciaram que as indústrias estudadas não têm gestão sistêmica da SST que contribua efetivamente para a melhoria da qualidade de vida nas atividades laborais, limitando-se apenas ao cumprimento da legislação de SST e confirmando que suas condições de trabalho estão muito aquém daquelas oferecidas pelos grandes estabelecimentos. Além disso, constatou-se também que as empresas pesquisadas não têm suas características de gestão associadas aos potenciais benefícios de um APL, haja vista não possuírem vínculos fortes de informação e cooperação mútuas, o que indica que elas não usufruem por completo dos benefícios de estarem associadas territorialmente para uma complementação de suas gestões individuais.

Palavras-Chave: Micro e Pequenas Empresas, Arranjos Produtivos Locais, Metal-mecânico, Grande ABC, Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho.

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ABSTRACT

The objective of this work is to analyze the characteristics of local productive setups located in the ABC region of the greater São Paulo, Brazil, in particular the subsector of machine tools, made up of a group of micro and small companies, with emphasis on safety and health management, on a local scale. A general literature review containing the characteristics of micro and small companies and their economic importance, micro and small company networks, clusters, industrial districts and local productive setups was conducted. Safety and health at work management systems as well as the application of international reference standards and regulations within the universe of small companies was also analyzed. A case study was conducted, aiming to verify in depth the physical and marketing structure of the companies analyzed, their main operational problems, application of safety and health at work management systems, and the positioning of each one in relation to the local productive setup they are a part of. The result of the research on the companies reveal that the companies concerned do not have a general safety and health at work management system which would effectively contribute to the improvement of the quality of life within working class activities, they simply comply with the safety and health at work legislation, confirming that working conditions are far from those offered by large establishments. It was also verified that the small companies analyzed do not have their managerial characteristics associated to the prospective local productive setup benefits, being that they do not share strong information or have mutual cooperation bonds. As a result, they do not take full advantage of the fact that they are located physically close to each other thus complementing each other’s individual managerial systems.

Keywords: Micro and Small companies, Industrial Clusters, Metal and Mechanical, ABC region of the Greater São Paulo (Brazil), Safety and Health at work management.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Mix estratégico ... 45

FIGURA 2- Modelo BS 8800 abordagem HS(G)65 ... 91

FIGURA 3 - Modelo BS 8800 com abordagem ISO 14001 ... 92

FIGURA 4 – Principais elementos do sistema de gestão da SST – OHSAS 18001 ... 96

FIGURA 5 – Principais elementos do sistema de gestão da SST – Guia ILO-OSH... 99

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Número de empresas formais no Brasil, por porte e setor - 1996-2002... 75 TABELA 2 - Distribuição percentual de pessoas ocupadas no Brasil, por porte de empresa e setor de atividade – 1996 – 2002 ... 75 TABELA 3 - Salários e rendimentos médios anuais no Brasil, por porte de empresas e setor – 1996 – 2002 ... 76 TABELA 4 - Distribuição percentual dos salários e rendimentos pagos no Brasil, por porte de empresa e setor de atividade - 1996 – 2002... 77 TABELA 5 -Variação percentual na massa de salários e rendimentos pagos no Brasil, por

porte de empresa e setor de atividade – 1996 - 2002... 77 TABELA 6 - Distribuição de empresas por porte nos paises: EUA, Europa, Japão e Brasil .. 79 TABELA 7 - Distribuição do número de pessoas ocupadas nas empresas por porte, nos EUA, Europa, Japão e Brasil. ... 80 TABELA 8 -Taxa de Mortalidade por Região e Brasil... 82 TABELA 9 - Ranking das dez principais razões para encerramento das atividades da empresa, segundo as opiniões espontâneas dos proprietários (Brasil) ... 82

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Classificações para micro e pequenas empresas no Brasil ... 74

QUADRO 2 - Requisitos da norma BS 8800 ... 92

QUADRO 3 - Requisitos da norma BSI OHSAS 18001 ... 94

QUADRO 4 - Requisitos do guia ILO-OSH ... 98

QUADRO 5 - Descrição das atividades econômicas objeto da pesquisa, apresentadas segundo seu código CNAE ... 113

QUADRO 6 - Distribuição do número de empresas segundo atividade e porte - município de Santo André ... 113

QUADRO 7 - Distribuição do número de empresas segundo atividade e porte - município de São Bernardo do Campo... 114

QUADRO 8 - Distribuição do número de empresas segundo atividade e porte - município de São Caetano do Sul... 114

QUADRO 9 - Distribuição do número de empresas segundo atividade e porte - município de Diadema... 115

QUADRO 10 - Distribuição do número de empresas segundo atividade e porte - município de Mauá ... 115

QUADRO 11 - Distribuição do número de empresas segundo atividade e porte - município de Ribeirão Pires ... 116

QUADRO 12 - Distribuição do número de empresas segundo atividade e porte - município de Rio Grande da Serra ... 116

QUADRO 13 - Distribuição do número de empresas segundo atividade e porte – Região Paulista do Grande ABC... 117

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QUADRO 14 - População (em 2001), pessoal ocupado em geral e pessoal ocupado nas atividades de interesse, distribuídos pelos municípios da região, nos anos 2003 e 2004 ... 118 QUADRO 15 - Desligamentos ocorridos em 2003 e 2004 na Região paulista do Grande ABC advindos de falecimento ou aposentadoria associados a acidentes de trabalho ou doença profissional distribuídos pelo porte das empresas... 119

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LISTA DE GRÁFICOS

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LISTA DE ABREVIATURAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas APL – Arranjo Produtivo Local

ASSOFAP – Associação dos Fabricantes de Auto Peças do Grande ABC ASSOFER – Associação das Ferramentarias do Grande ABC

ATPLAS – Associação dos Transformadores de Plástico do Grande ABC BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BS – British Standards

BSI – British Standards Institution

CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

CNAE – Código Nacional de Atividades Econômicas CNC – Comando Numérico Computadorizado CNI – Confederação Nacional da Indústria CT&I – Ciência, Tecnologia e Inovação DI – Distrito Industrial

EHS – Environmental Health and Safety EPI – Equipamento de Proteção Individual FEI – Fundação Educacional Inaciana FMEA – Failure Mode and Effect Analysis GTP – Grupo de Trabalho Permanente HSE – Health Safety Executive

HSG – Health and Safety Guide

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ILO – International Labor Organization

IPEI – Instituto de Pesquisas e Estudos Industriais ISO – International Organization for Standardization LER – Lesão por Esforços Repetitivos

MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia

MDIC – Ministério da Indústria, Desenvolvimento e do Comércio Exterior MPE – Micro e Pequena Empresa

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NBR – Norma Brasileira NR – Norma Regulamentadora OC – Organismos Certificadores

OCDE – Organization for Economic Co-operational Development OHSAS – Occupational Health and Safety Assessment Series OIT – Organização Internacional do Trabalho

OMS – Organização Mundial da Saúde ONG – Organização Não-Governamental

OSHA – Occupational Safety and Health Administration

PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

PDCA – Plan, Do, Check, Act PPA – Plano Plurianual das Ações

PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais RAIS – Relação Anual de Informações Sociais

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SESMT – Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho SGA – Sistema de Gestão Ambiental

SGQ – Sistema de Gestão da Qualidade

SGSST – Sistema de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho

SIMPLES – Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte

SPIL – Sistema Produtivo e Inovativo Local SPL – Sistema Produtivo Local

SSO – Segurança e Saúde Ocupacional SST – Segurança e Saúde no Trabalho VPP – Voluntary Protection Programs

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 17

1.1 ANTECEDENTES... 17

1.2 QUESTÕES DE PESQUISA ... 21

1.3 A REGIÃO PAULISTA DO GRANDE ABC E O “PROJETO APL DO GRANDE ABC” ... 23

1.4 JUSTIFICATIVA... 25

1.5 OBJETIVOS DO ESTUDO ... 28

1.5.1 OBJETIVO GERAL ... 28

1.5.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS... 29

1.6 DELIMITAÇÕES DO TRABALHO DE PESQUISA... 29

1.7 DESCRIÇÃO E ORGANIZAÇÃO DOS CAPÍTULOS... 30

2 DIMENSÕES TEÓRICAS DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (MPE): ELEMENTOS E PERSPECTIVAS... 31

2.1 AS MPE: IMPORTÂNCIA ECONÔMICA... 32

2.2 CARACTERÍSTICAS DAS MPE: ESTRUTURA, ORGANIZAÇÃO E ESPECIFICIDADES ... 36

2.3. REDES DE MPE ... 42

2.4 CLUSTERS, DISTRITOS INDUSTRIAIS (DIS) E ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS (APLS)... 51

2.4.1 A VISÃO DE MARSHALL E OS DISTRITOS INDUSTRIAIS ITALIANOS... 55

2.4.2 OS CLUSTERS DE EMPRESAS - ABORDAGENS RECENTES ... 62

2.4.3 ARRANJO PRODUTIVO LOCAL E SISTEMA PRODUTIVO E INOVATIVO LOCAL... 66

3 BRASIL: EVOLUÇÃO E SITUAÇÃO ATUAL DAS MPE ... 73

3.1 CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO... 73

3.2 PERFIL DAS MPE: TENDÊNCIAS E VARIAÇÕES ... 75

3.3 COMPARATIVO DA DISTRIBUIÇÃO DAS MPE: BRASIL E OUTROS PAÍSES... 78

3.4 DA SOBREVIVÊNCIA AO EMPREGO INSTÁVEL... 80

4 SOBRE A GESTÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO NAS MPE: ALTERNATIVAS E DESAFIOS... 83

(16)

4.1 BASES CONCEITUAIS... 83

4.2 SGSST – NORMAS DE REFERÊNCIA... 88

4.3 GESTÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO NAS MPE... 101

5 MATERIAL E MÉTODO ... 105

5.1 MÉTODO DA PESQUISA... 105

5.2 COLETA DE DADOS... 107

5.4 ANÁLISE DOS DADOS ... 110

6 ANÁLISE DOS RESULTADOS ... 112

6.1 BREVE CARACTERIZAÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO DO GRANDE ABC PAULISTA... 112

6.2. AS PEQUENAS INDÚSTRIAS ESTUDADAS... 119

6.2.1 A EMPRESA 1 ... 120

6.2.1.1 A EMPRESA 1 E A SST ... 122

6.2.1.2 A EMPRESA 1 NO “PROJETO APL DO GRANDE ABC” ... 125

6.2.2 A EMPRESA 2 ... 126

6.2.2.1 A EMPRESA 2 E A SST ... 129

6.2.2.2 A EMPRESA 2 NO “PROJETO APL DO GRANDE ABC” ... 132

6.2.3 A EMPRESA 3 ... 134

6.2.3.1 A EMPRESA 3 E A SST ... 136

6.2.3.2 A EMPRESA 3 NO “PROJETO APL DO GRANDE ABC” ... 139

6.2.4 A EMPRESA 4 ... 140

6.2.4.1 A EMPRESA 4 E A SST ... 142

6.2.4.2 A EMPRESA 4 NO “PROJETO APL DO GRANDE ABC” ... 145

6.2.5 A EMPRESA 5 ... 146

6.2.5.1 A EMPRESA 5 E A SST ... 148

6.2.5.2 A EMPRESA 5 NO “PROJETO APL DO GRANDE ABC” ... 151

6.2.6 A EMPRESA 6 ... 152

6.2.6.1 A EMPRESA 6 E A SST ... 154

6.2.6.2 A EMPRESA 6 NO “PROJETO APL DO GRANDE ABC” ... 157

(17)

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 165

REFERÊNCIAS ... 168

APÊNDICE A ... 175

(18)

1 INTRODUÇÃO

1.1 Antecedentes

A ciência econômica, recentemente, tem demonstrado que os países que avançaram o fizeram por intermédio de uma consistente articulação de suas políticas públicas com vistas ao desenvolvimento produtivo associado à distribuição de renda.

No Brasil, os modelos de desenvolvimento priorizaram o crescimento econômico com a concentração e rebaixamento dos níveis de renda gerados pelo processo distributivo. A visão equivocada era a de que desenvolvimento seria praticamente sinônimo de crescimento econômico e acumulação de capitais. Embora o país tenha crescido economicamente nas décadas de 1960 e 1970, os problemas sociais (desigualdade, exclusão, criminalidade, favelização, o caos urbano, a crescente degradação do meio ambiente, dentre outros) somente se agravaram (SEBRAE, 2003).

Atualmente, com a retomada do processo de desenvolvimento, o país necessita atentar para o seu maior desafio, que é o de enraizar a democracia e acabar com a pobreza, aliando crescimento econômico à redução da desigualdade. Além disso, é necessário evitar e não repetir os modelos passados que pregavam que desenvolvimento se restringia ao crescimento e concentração do capital em prejuízo do bem-estar do povo e do meio ambiente. É de fundamental importância que, ao desenvolver novas iniciativas empresariais, tenha-se em conta:

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- o capital humano, que se traduz nos conhecimentos, habilidades e competências da população local, as condições e a qualidade de vida (SEBRAE, 2003);

- o capital social, que se refere às instituições, relações e normas que ajustam a qualidade e quantidade das interações sociais de uma sociedade. O capital social não é somente a soma de instituições que compõem uma sociedade, mas sim a substância que a mantém unida (WORLD BANK, 2006);

- a governança, que se refere às relações entre empresas e a mecanismos institucionais por intermédio dos quais se consegue a coordenação extra-mercado das atividades dentro de uma cadeia produtiva (HUMPHREY & SCHMITZ , 2002); e

- o uso sustentável do capital natural (SEBRAE, 2003).

Na fundamentação teórica dessa visão, verifica-se a convergência de pelo menos duas importantes correntes do pensamento contemporâneo: a que enfatiza a noção de capital social como um conjunto de recursos capazes de promover a melhor utilização dos ativos econômicos pelos indivíduos e pelas empresas; e a que privilegia a dimensão territorial do desenvolvimento insistindo na idéia de que a competitividade é um atributo do ambiente, antes mesmo de ser um trunfo de cada empresa (ABRAMOVAY, 2000; SEBRAE, 2003).

Quando a questão do desenvolvimento nacional é abordada, não se pode deixar de considerar uma importante variável do cenário internacional: a globalização da economia, que se constitui em um fenômeno marcante e irreversível do fim do século XX e começo do século XXI e tem como elemento catalisador a combinação do crescente movimento de

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liberalização e desregulamentação dos mercados (sobretudo dos sistemas financeiros e dos mercados de capitais) com o advento do paradigma das tecnologias de informação. (CASSIOLATO; LASTRES, 1999).

Em decorrência da globalização, verificam-se grandes mudanças e turbulências no ambiente no qual estão inseridas as empresas, um dos principais agentes do desenvolvimento. Como mudanças principais, nota-se o acirramento da competição, a introdução de novas tecnologias e inovações, a redução de barreiras comerciais, o estabelecimento de barreiras técnicas, a ampliação dos fluxos de investimentos externos e a modificação das estratégias de produção das empresas. Portanto, é neste contexto que as empresas competem e lutam para sobreviver.

As micro, pequenas e médias empresas, que têm uma expressiva participação na economia nacional, sofrem impactos ainda mais intensos dos desafios competitivos contemporâneos.

Avaliações de experiências em vários países, desenvolvidos ou em desenvolvimento, têm evidenciado e comprovado os efeitos positivos de aglomerações econômicas de pequenas e médias empresas em um determinado espaço territorial no processo de desenvolvimento econômico e social das nações. Tais aglomerações de empresas em um determinado território e com atividades similares são definidas na literatura internacional como clusters e na literatura nacional como Arranjos Produtivos Locais (APLs), dentre outras definições menos utilizadas.

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A constatação de que o processo de adensamento empresarial eleva a competitividade das empresas e impulsiona o desenvolvimento vem se refletindo nas políticas públicas, o que lhes conferem o papel de propor ações, orientadas para impulsionar o desenvolvimento local tendo como alvo não a empresa individual, mas os vínculos entre as organizações e as demais instituições situadas em um espaço territorial delimitado.

Além de todo o exposto, torna-se necessário ressaltar que na maioria dos países, as empresas de pequeno porte apresentam dificuldades para alcançar os padrões estabelecidos nas legislações nacionais que regem a matéria em geral e em particular nas legislações sobre saúde e segurança no trabalho (SST) e, conseqüentemente, apresentam uma elevada incidência de acidentes de trabalho. No Brasil, onde o setor produtivo está constituído majoritariamente por micro e pequenas empresas, este problema é especialmente preocupante devido ao fato de que um elevado contingente de trabalhadores está presente nestas empresas. A ausência de um tratamento adequado da SST implica, não só em uma tragédia para os trabalhadores e suas famílias, como também em uma grande carga social e econômica para a empresa e para a sociedade, limitando o progresso e o desenvolvimento do setor e do país.

A empresa de pequeno porte, em razão dos escassos recursos financeiros de que dispõe, deve ser cuidadosa na observação e no controle de seus riscos laborais e ambientais, pois a inobservância destes pontos cruciais poderá gerar responsabilidade civil e criminal com sérios danos a sua imagem e patrimônio.

Cabe ao empregador a obrigação e o dever de organizar a SST por intermédio da implementação de ações relativas ao tema, ou seja, de um sistema de gestão da SST específico

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voltado para a garantia da segurança e saúde de seus funcionários, porém, aliado aos demais sistemas organizacionais, agregando valor aos processos.

Segundo afirma Oliveira (2002, p.177), por mais elaborado que seja um programa de SST e por melhor que sejam as ferramentas por ele disponibilizadas para o diagnóstico e solução dos riscos do trabalho, se não houver disposição e participação compromissada de todos os envolvidos em suas ações, especialmente o corpo gerencial da empresa, os resultados por ele produzidos serão limitados, tanto do ponto de vista do que poderá ser feito – identificação e solução dos riscos do trabalho – quanto da manutenção da correção e principalmente no combate ao surgimento de problemas semelhantes aos que forem corrigidos.

Entretanto, deve-se considerar que apesar das abordagens sobre as estratégias sistêmicas serem defendidas por autores, bem como pelas normas internacionais, a situação é outra quando se depara com a empresa de pequeno porte, pois este segmento empresarial está quase sempre estruturado no âmbito familiar ou entre indivíduos que constituíram um negócio, por experiência no ramo e conhecimento da tecnologia, ou muitas vezes, por espírito empreendedor. (GOMES, R.S.; PACHECO JR, W, 2002).

1.2 Questões de pesquisa

Em âmbito mundial, verifica-se a existência de inúmeros sistemas de produção regionalmente concentrados demonstrando que a dimensão local vem assumindo uma importância crescente no processo de inovação tecnológica, fator fundamental na competitividade. No caso do Brasil, em virtude de seu vasto território, da heterogeneidade espacial da economia e da grande desigualdade regional, torna-se cada vez mais urgente a implementação de ações indutoras do desenvolvimento local. Portanto, essas ações só farão sentido se forem compartilhadas com redes locais empresariais, sociais e institucionais, onde essas condições sejam levadas em conta da mesma forma que a dimensão econômica.

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Nesse contexto, a busca de soluções conjuntas por um determinado número de empresas propiciou o surgimento de associações empresariais com o objetivo de definir estratégias conjuntas para as suas necessidades, unindo-se em redes, buscando seu fortalecimento e competitividade, potencializando suas características, por intermédio da união entre parceiros.

Portanto, ações em APLs vêm ganhando maior destaque, na tentativa de transformá-los em objeto prioritário das políticas de desenvolvimento. Entretanto, um dos principais desafios será certamente o da orquestração política e técnica na sua administração. Este exercício é ainda muito recente no país e, conseqüentemente, esta nova maneira de trabalho integrado e sinérgico de organizações vem sendo construída paulatinamente.

Assim sendo, um esforço continuado das organizações envolvidas será necessário para a minimização das redundâncias em suas atuações, para a otimização das parcerias, para a adequação da governança, considerando a diversidade de modelos e de maturidade dos APLs, levando-se em conta a limitada experiência na sua gestão.

Além disso, há a necessidade do conhecimento aprofundado do APL, com vistas à formulação de estratégias de atuação. Nesse sentido, um diagnóstico das empresas constituintes do APL será elaborado, respeitando-se a multiplicidade e a complexidade da realidade existente. Tal diagnóstico deverá contemplar as variáveis internas das empresas, isto é, sua gestão administrativa e financeira, seu processo produtivo, aspectos mercadológicos, saúde e segurança do trabalhador, assim como as relações entre as empresas constituintes do APL e os fatores e condicionantes fiscais, financeiros e político institucionais.

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O estudo de fatores anteriormente mencionados constitui-se no objeto deste trabalho, com particular destaque para uma variável de fundamental importância - a segurança e saúde no trabalho (SST) - por ser questão que atua diretamente sobre a qualidade de vida dos trabalhadores e de suas famílias e ser um dos componentes principais a ser observado pelo gestor na implementação de sistemas de gestão.

Pois Barreiros (2002, p.12) observa:

que no paradigma pós-industrial, cada vez mais, as organizações têm que se diferenciar no mercado não somente sendo mais competitivas e lucrativas, mas também demonstrando de forma inequívoca às partes interessadas que têm uma atuação ética, em que conceitos como o de responsabilidade social e desenvolvimento sustentável ganham importância e são explicitados como parte da missão organizacional.

Assumir uma atuação socialmente responsável – neste contexto – implica reavaliar a gestão organizacional para que os impactos negativos decorrentes de sua atividade sobre a qualidade de vida de seus funcionários (incluindo aí a segurança e saúde no trabalho) possam ser reduzidos a uma condição aceitável.

Parte-se do pressuposto que deva existir nas organizações um conjunto de atributos positivos a fim de assegurar que o trabalho não seja a causa de morte, mutilações, sofrimentos e doenças para quem o realiza.

Assim sendo, para a realização deste trabalho será analisado o APL do setor metal-mecânico da região paulista do Grande ABC, constituído, dentre outros atores, por empresas de pequeno porte do segmento de ferramentaria.

1.3 A Região Paulista do Grande ABC e o “Projeto APL do Grande ABC”

O Grande ABC, situado na região metropolitana de São Paulo, abrange uma área de 825 km2 e tem uma população estimada de 2,5 milhões de habitantes, sendo constituído por sete municípios: Santo André, São Bernardo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá,

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Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra (IBGE, 2005). Segundo a Agencia de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC (2006), a região apresenta um alto padrão de vida e é responsável por 12% da atividade industrial do Estado de São Paulo. Além da presença de grandes empresas do setor automobilístico, o ABC também se destaca pela força de seu complexo químico-petroquímico e por inúmeras indústrias de autopeças sendo o principal pólo automotivo do país. Sua renda per capita é aproximadamente de R$1000/mês, o que torna a região o terceiro mercado consumidor do país.

Em agosto de 2004, a Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC e o SEBRAE deram início à implantação de um projeto de desenvolvimento de arranjos produtivos locais para o setor metal-mecânico envolvendo os segmentos de autopeças, ferramentaria e plásticos, atividades industriais de grande importância para a economia regional. Para dar início ao projeto, foram destinados R$ 1,8 milhão em recursos, sendo R$ 1,7 milhão provenientes do Sebrae e R$ 100 mil da Agência de Desenvolvimento do Grande ABC. Participam do projeto 63 micro e pequenas empresas (com até 99 funcionários cada) desses três segmentos, instaladas nos sete municípios da região, sendo 16 empresas de ferramentaria, 24 de autopeças e 23 de plásticos. O objetivo do projeto é fortalecer e desenvolver a vocação regional nessas três áreas, oferecendo às indústrias participantes meios e conhecimentos que permitam maior capacidade competitiva no mercado interno e no plano internacional. O projeto busca a melhoria das empresas participantes, a geração de novos empregos, o aumento na qualidade dos produtos e serviços, e a conseqüente ampliação da produtividade e lucratividade dessas empresas, incentivando a atuação coletiva e as ações conjuntas dos três grupos. (AGÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO GRANDE ABC, 2006).

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Ainda segundo a Agência de Desenvolvimento do Grande ABC, em 2003, as empresas participantes do Projeto APL Grande ABC faturaram cerca de R$ 136 milhões e empregaram 1742 pessoas. Já em 2004, o faturamento atingiu R$ 184 milhões, com 2100 empregados. Para 2005, a previsão era a de que o faturamento aumentasse 20%, em média, resultando em R$ 240 milhões. Com o objetivo de proporcionar aos empresários maior representatividade, em dezembro de 2004 foram fundadas três associações por meio de ações do projeto, quais sejam, Assofap-ABC (Associação dos Fabricantes de Autopeças do Grande ABC), a Assofer-ABC (Associação das Ferramentarias do Grande ABC) e a Atplas-ABC (Associação dos Transformadores de Plástico do Grande ABC). Com essas associações, os empresários podem aglutinar mais empresas e desenvolver atividades que fortaleçam cada setor.

Como conseqüência da atuação dos gestores do projeto foi firmado um acordo entre o Centro Universitário da FEI (Fundação Educacional Inaciana) e o APL do Grande ABC que prevê a aproximação entre universidades e pequenas empresas. Com o apoio do IPEI -(Instituto de Pesquisas e Estudos Industriais), o projeto pretende utilizar o conhecimento das universidades na área de Pesquisa e Desenvolvimento, para ajudar as empresas do APL a desenvolver ou aprimorar seus produtos e serviços.

1.4 Justificativa

O cenário econômico atual tem exposto as empresas brasileiras a uma severa concorrência internacional, em que as empresas de pequeno porte são as mais vulneráveis em razão das limitações impostas pela elevada burocracia e tributação, dificuldade de acesso a crédito, dentre outros aspectos. É vital para o desenvolvimento do país rever as relações entre

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as empresas de pequeno porte de um dado setor que tenham uma dinâmica produtiva instalada em uma região bem delineada geograficamente (CASSIOLATO; LASTRES, 2001).

Conforme mencionado acima, experiências em vários países evidenciam os efeitos positivos de aglomerações econômicas em um determinado espaço territorial no processo de desenvolvimento econômico e social das nações

Assim, real importância está sendo dispensada à questão do adensamento empresarial em territórios nas políticas públicas nacionais. Como exemplo, verifica-se a inclusão pelo Ministério da Indústria, Desenvolvimento e do Comércio Exterior - MDIC - no Plano Plurianual das Ações do Governo Federal - PPA - para o período 2004-2007, da política industrial como um dos pontos centrais da estratégia brasileira de desenvolvimento. Nas estratégias dessa política industrial mais ampla, o PPA incluiu o fortalecimento dos Arranjos Produtivos Locais - APLs. Segundo informe do MDIC (2005), o Governo Federal está organizando este tema no âmbito do PPA 2004-2007, por meio do Programa 1015 - Arranjos Produtivos Locais, além da instituição do Grupo de Trabalho Permanente para Arranjos Produtivos Locais – GTP APL – instituído pela Portaria Interministerial nº 200 de 03/08/2004, que é composto por 23 instituições, sendo onze ministérios e suas vinculadas, além de instituições não-governamentais, de abrangência nacional.

Coerentemente com esta política, o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) nos seus programas de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) para o desenvolvimento local, têm buscado articular e orientar projetos de desenvolvimento tecnológico que contribuam para aumentar a competitividade sistêmica de cadeias produtivas e empresas que atuam em segmentos da produção com forte potencial para dinamizar os APL’s (MCT, 2005).

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Para o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) (2004), uma das instituições participantes do GTP APL, a política industrial, além da escolha dos setores produtivos que serão beneficiados pelos recursos públicos (financeiros, fiscais e humanos), deverá contemplar também as concentrações de um número significativo de empresas de um mesmo setor que lograram gerar sinergias e externalidades e que vêm crescendo mesmo nas duas décadas de intensa crise econômica.

Existem no país, especialmente no Estado de São Paulo, regiões com essas características. Pode-se citar como exemplo um APL de forte concentração de atividades do setor metal-mecânico localizado na região paulista do Grande ABC. Esse APL contém uma estrutura de produção bem delineada, caracterizando-se pela presença de uma micro-cadeia produtiva local e de algumas iniciativas de articulação regional entre empresas e entre agentes locais, como prefeituras, organizações de apoio, associações empresariais, e instituições de ensino e pesquisa.

Na medida em que o APL é constituído majoritariamente por empresas de pequeno porte que respondem por significativa parcela do produto e dos postos de trabalho do setor no país, é relevante o conhecimento, dentre outros aspectos, da gestão da SST nesse ambiente. A opção pelo segmento de ferramentaria do APL do Grande ABC Paulista como objeto desta dissertação, foi baseada na importância deste segmento no contexto da indústria automotiva e por sugestão do Escritório Regional Grande ABC II do Sebrae no Estado de São Paulo, que é um dos gestores do APL e que facilitará o contato inicial com as empresas constituintes do arranjo.

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A gestão da SST é hoje reconhecida por organismos internacionais como a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma variável essencial na elaboração de modelos de sistemas de gestão que considerem a produtividade e respeitem o meio ambiente

Portanto, é razoável considerar que a SST está firmemente arraigada ao conceito de trabalho decente, pois como expressa a OIT (2005, prefácio) “Trabalho decente é trabalho seguro, e trabalho seguro é também um fator de produtividade e crescimento econômico”.

Nesse cenário, no qual estão imersas as empresas constituintes de um APL, os organismos internacionais e, por conseguinte, o governo brasileiro, recomendam a promoção de programas destinados à redução de mortes por causas ocupacionais, de acidentes de trabalho e de enfermidades relacionadas ao trabalho. Infelizmente, um problema emergente e ainda não devidamente dimensionado no âmbito do largo espectro composto pelas MPE.

1.5 Objetivos do estudo

1.5.1 Objetivo geral

Conhecer o modo como a gestão da segurança e saúde no trabalho é tratada no âmbito das empresas do APL metal-mecânico, segmento ferramentaria da região paulista do Grande ABC.

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1.5.2 Objetivos específicos

a) Identificar as principais características do APL metal-mecânico da região paulista do Grande ABC.

b) Descrever as ações relativas à gestão da segurança e saúde no trabalho no âmbito das empresas do APL metal-mecânico, segmento ferramentaria da região paulista do Grande ABC, verificando o tipo de infra-estrutura organizacional que as suportam.

c) Contribuir com subsídios para fortalecer a iniciativa da gestão da SST no âmbito do APL metal-mecânico, segmento ferramentaria da região paulista do Grande ABC.

1.6 Delimitações do trabalho de pesquisa

O trabalho enfocará um grupo de empresas participantes de um projeto específico no APL metal-mecânico da região paulista do Grande ABC. O segmento a ser pesquisado escolhido é o de ferramentaria.

Com base nessa delimitação, serão coletados dados que permitam evidenciar a configuração do APL, bem como o modo como é tratada a questão da segurança e saúde no trabalho no âmbito das empresas constituintes do APL.

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Esta pesquisa possui caráter exploratório e tem por objetivo contribuir para o aumento do conhecimento nessa área.

1.7 Descrição e organização dos capítulos

Este trabalho está estruturado da seguinte forma: o primeiro capítulo é composto pela introdução, que contempla os antecedentes, as questões da pesquisa, a descrição da região paulista do Grande ABC e o Projeto APL do Grande ABC, a justificativa, os objetivos e as delimitações do trabalho de pesquisa. O segundo capítulo consta de uma revisão da literatura acadêmica sobre o tema; inicialmente discute-se a MPE abordando sua importância para a economia e suas principais características, seguida do relato sobre as redes de MPE, a formação dos clusters, distritos industriais e os arranjos produtivos locais. A seguir, no terceiro capítulo, é apresentada a evolução e a situação atual das MPE no Brasil. O quarto capítulo trata das alternativas e desafios da gestão da segurança e saúde no trabalho nas MPE. No quinto capítulo são especificados os materiais e métodos utilizados no estudo. O sexto capítulo analisa os resultados obtidos no estudo de caso efetuado no APL do setor metal mecânico – segmento de ferramentaria do Grande ABC paulista, evidenciando sua configuração, as principais características das MPE estudadas, bem como os modelos de gestão da SST encontrados. Finalmente, no sétimo e último capítulo são apresentadas as considerações finais.

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2 DIMENSÕES TEÓRICAS DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (MPE): ELEMENTOS E PERSPECTIVAS

Neste capítulo, explicita-se o referencial que fundamentará a pesquisa a ser desenvolvida, justificando-se a sua adoção em relação ao tema investigado. Essa base teórica é necessária para buscar o significado dos fenômenos e relações observados e a explicação e o entendimento dos aspectos da realidade em estudo, permitindo sua interpretação. Todavia, parte-se do pressuposto de que a teoria não é um modelo ao qual a realidade deva adaptar-se, pois é a realidade que aperfeiçoa a teoria, muitas vezes reformulando-a ou até mesmo invalidando-a (Bastos et al., 2004 ).

Com base em Selltiz et al. (1974, p. 552), vale destacar o seguinte:

a teoria aumenta a produtividade da pesquisa, pois apresenta indicações significativas para esta, liga resultados aparentemente isolados através de processos subjacentes semelhantes, e apresenta explicação para relações observadas. Quanto mais a pesquisa seja orientada por teoria sistemática, maior a probabilidade de que seus resultados contribuam diretamente para o desenvolvimento e maior organização do conhecimento. As relações entre a teoria e a pesquisa não se dão em apenas uma direção. A teoria estimula a pesquisa e aumenta o sentido de seus resultados; a pesquisa empírica, de outro lado, serve para verificar as teorias existentes e apresentar uma base para a criação de novas teorias.

De fato, nenhuma teoria consegue explicar todos os fenômenos e processos. O investigador separa, recorta determinados aspectos significativos da realidade para trabalhá-los, buscando interconexão sistemática entre eles. Portanto, as teorias são explicações parciais da realidade, pois colaboram para esclarecer melhor o objeto de investigação, ajudam a levantar as questões, as perguntas e o problema com mais propriedade, permitem maior clareza na organização dos dados e também iluminam a análise dos dados organizados embora não possam direcionar totalmente essa atividade, sob pena de anulação da

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originalidade do problema investigado. Em suma, a teoria é um conhecimento que serve ao processo de investigação e orienta a obtenção de dados e a análise dos mesmos, e de conceitos, que veiculam seu sentido (MINAYO et. al., 2001).

Sendo assim, os capítulos 2, 3 e 4 serão estruturados em seções e subseções que têm por objetivo a apresentação dos mais recentes estudos e pesquisas desenvolvidos e que contemplam as características e a importância econômica das MPE, sua formação em redes, sua regionalização sob a forma de clusters e arranjos produtivos locais e por fim a gestão da saúde e segurança no trabalho nesse ambiente.

As seções principais estão assim distribuídas: as MPE - importância econômica; as características das MPE; as redes de MPE; e os Clusters, Distritos Industriais e Arranjos Produtivos Locais.

2.1 As MPE: importância econômica

O paradigma técnico-produtivo fordista entra em crise a partir do final da década de 60 e inicio da década de 70 dando lugar a um novo padrão produtivo com base nas tecnologias de informação e de comunicação. Assim, segundo Jacques (1988) apud NAVARRO (1995), p. 100) vislumbra-se uma mudança mundial na qual:

a produção maciça, o consumo maciço, a cidade grande, o Estado protetor e onipotente, o Estado construtor de habitações e o Estado nacional (características do fordismo) encontram-se em decadência; a flexibilização, a diversidade, a diferenciação, a mobilidade, a comunicação, a descentralização e a internacionalização (características do pós-fordismo) encontram-se em ascensão.

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Até então, a forma de produção fundamentava-se na eletromecânica, um sistema de produção em massa intensivo em energia e materiais, com estrutura verticalizada e alto grau de hierarquização. A grande diversidade que surge como modelo de superação baseia-se no novo padrão caracterizado pela flexibilização e desverticalização do processo de produção, gastos com pesquisa e desenvolvimento, multifuncionalidade do trabalhador, estabelecimento de redes empresariais estratégicas, dentre outros aspectos.

Além disso, outros fatos, tais como a abertura do mercado, a desregulamentação da economia e a privatização de empresas públicas levam as empresas a reestruturar suas bases produtivas. O movimento de reestruturação empresarial caminha direcionado para a redução de custos, da ociosidade e dos riscos como instrumentos da maior flexibilidade no uso do capital e do trabalho. Criam-se novas formas organizacionais associando-se qualidade e produtividade no âmbito das empresas e as estratégias passam a incorporar os aspectos tecnológicos, além dos aspetos produtivos e mercadológicos. Redes de empresas são criadas e o processo de terceirização nas grandes firmas se instala com a conseqüente redução dos postos de trabalho.

A década de 70 foi marcada pela diminuição da taxa de crescimento do comércio internacional, pela aceleração do processo inflacionário e, conseqüentemente, pela instabilidade financeira. Caracterizou-se como uma década de transição, cujo fator determinante da competitividade neste período foi a tecnologia com base na microeletrônica, que se constituiu num dos elementos do novo paradigma tecnológico (SUZIGAN, 1989).

Na década de 80, observou-se uma crescente difusão de bens e serviços que incorporaram a nova tecnologia. Este fato deveu-se à aplicação da microeletrônica a bens e

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serviços, à redução dos preços relativos dos produtos que incorporavam esta inovação, ao forte impacto sobre as estruturas organizacionais, financeiras e processos de trabalho e aos efeitos que reduziam os custos de capital e aumentavam a produtividade do trabalho (COUTINHO, 1992). Com isso, desencadeou-se uma intensa onda de inovações. O novo paradigma tecnológico introduziu grandes modificações na estrutura industrial, ocasionando transformações no processo produtivo, com novas formas de gerenciamento e organização da produção e com inovações sociais, resultantes da adaptação das relações de trabalho a estes novos padrões.

Coutinho (1992, p.71) destaca as características do novo paradigma tecnológico que marcou os anos 80, quais sejam:

1) o peso crescente do complexo industrial;

2) um novo paradigma de produção industrial – a automação integrada flexível;

3) revolução nos processos de trabalho;

4) transformação das estruturas e estratégias empresariais; 5) as novas bases da competitividade;

6) a “globalização”como aprofundamento da internacionalização; e 7) as “alianças tecnológicas”como nova forma de competição.

Na década de 90, abre-se espaço para um novo modelo de empresa que busca flexibilizar seus processos organizacionais. Essa flexibilização tem como resultado uma estrutura organizacional mais enxuta e descentralizada, em que a grande empresa dilui suas atividades, abrindo-se, com isso, oportunidades para o surgimento de pequenas unidades produtivas autônomas (COUTINHO, 1992).

É nesse cenário de mudança tanto no paradigma técnico-produtivo como no modelo de reestruturação produtiva, que as empresas de pequeno porte começam a se destacar no mundo e passam a gerar grande número de empregos formais, contribuindo para a

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descentralização da atividade econômica, a diminuição do desemprego e a aglutinação de uma determinada atividade econômica em uma mesma região, além de mostrar agilidade na adaptação e geração de novas tecnologias seja de produtos ou de processos.

Segundo Glass (1998), a pequena empresa é um modo de produção característico desde os tempos remotos. Indústrias artesanais nas quais os membros de uma família desenvolvem suas atividades em função de uma determinada divisão do trabalho continuam existindo atualmente nos meios rurais e urbanos. Ainda hoje, a maioria dos trabalhadores de todos os países, remunerados ou não, trabalham em empresas de pequeno porte.

Para Kruglianskas (1996), as micro, pequenas e médias empresas têm importância crescente na economia. A existência de significativo número dessas empresas leva à menor concentração de mercado e induz à melhor distribuição de renda, favorecendo a estabilidade social e política. Uma estrutura de mercado menos concentrada permite maior dinamismo, aumenta as chances de alocação de recursos mais condizentes com a demanda e reduz os problemas inflacionários, decorrentes da existência de oligopólios com grande poder sobre o estabelecimento de preços no mercado.

Além disso, o movimento de fusões e aquisições acabou por generalizar a conformação de oligopólios mundiais, onde as grandes empresas, ao concentrar ativos estratégicos, aumentam as assimetrias e o poder que detêm ante as empresas menores. Nesse sentido, Chesnais (1997), aponta que, mesmo nos países em que as pequenas empresas são suficientemente fortes, sua existência depende, em larga medida, das perspectivas que lhes oferecem os grandes grupos, como compradores de produtos intermediários, bem como da natureza da cooperação tecnológica que estes lhes propiciam.

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A despeito de todas as restrições a que estão sujeitas as MPE, Ceglie e Dini (1999) observam que elas representam um papel chave no estímulo e sustentação do crescimento econômico, e ainda apresentam grande importância no desenvolvimento eqüitativo dos países em desenvolvimento.

Por fim, Domingos (1995), destaca que as MPE representam uma alternativa viável e concreta para o fortalecimento da economia de um pais, pois constituem um fator de estabilidade política, ao propiciar a desconcentração do poder econômico e o fortalecimento da classe média, tornando-se elemento fundamental do processo democrático, dada sua expressão tanto em âmbito nacional como em âmbito local. No plano social as MPE desempenham um papel extremamente relevante na geração de empregos, inclusive da mão-de-obra pouco especializada, na absorção das matérias-primas e atendimento dos mercados locais, na distribuição da renda e na mobilidade social.

2.2 Características das MPE: estrutura, organização e especificidades

As MPE possuem características próprias de organização, de gestão, de relacionamento com clientes, fornecedores, instituições governamentais e demais atores econômicos, além de possuírem características próprias em relação a sua inserção no mercado e ao alcance e manutenção de sua competitividade. Quanto à estrutura organizacional, geralmente possuem uma ordem simples, apresentando recursos humanos limitados, com pequena burocracia interna. Com relação aos aspectos produtivos, normalmente apresentam baixo grau de diversificação, localizam-se próximas aos mercados consumidores, destinam sua produção para mercados locais ou especializados. Quanto às respostas que o mercado exige ou a determinadas exigências dos consumidores, as MPE são bastante flexíveis,

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adaptando-se rapidamente às modificações em seu entorno. No que diz respeito à disponibilidade de recursos financeiros e acesso a linhas de crédito, as MPE possuem grandes dificuldades, o que se torna um grande problema e representa um dos fatores limitantes das MPE em relação às grandes empresas. Uma importante característica das MPE é a absorção do desemprego e a descentralização industrial, o que contribui para o crescimento e desenvolvimento de países como o Brasil, onde há alto desequilíbrio regional.

Os fatores condicionantes na adoção de métodos de custeio em MPE segundo Motta (2000), baseiam-se na análise da influência dos fatores contextuais, organizacionais e pessoais. Constata-se que não existe a influência de apenas um tipo de fator na adoção de uma política de custos, mas sim a influência conjunta de todos os fatores com predomínio daqueles mais afins com a filosofia de administração da empresa. Assim, quando há centralização de poder, os fatores pessoais são mais influentes; quando há delegação de poder ou a empresa possui uma estrutura formal de administração, os fatores organizacionais têm maior peso; e quando a administração está focada no cliente e no mercado, os fatores contextuais são mais importantes.

Segundo Sales e Souza Neto (2004), as margens de comercialização nas MPE são altas, pois sofrem a influência de suas características particulares. Elas operam com volume e giro muito baixos, além do pequeno poder de barganha sobre os fornecedores, o que as obriga a remarcarem seus preços com valores superiores para que possam repor seus estoques e obter lucro.

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As características das MPE também foram objeto do estudo de Leone (1999). Para a autora, existem três tipos de especificidades que caracterizam as MPE: organizacionais, decisionais e individuais.

-Especificidades Organizacionais: são as que expõem a forma de gestão e de organização, em que a tendência presente é a de estrutura mais simples e menos formal, além da centralização da gestão no proprietário-dirigente;

-Especificidades Decisionais: são as que mostram o processo de tomada de decisão que geralmente é baseado na experiência pregressa, no julgamento ou na intuição do proprietário-dirigente e marcado não só por sua “racionalidade econômica”, mas também pela influência política e familiar;

-Especificidades Individuais: são as que tratam da não distinção entre o dirigente e o proprietário, ou seja, da fusão da pessoa física com a pessoa jurídica. Portanto, para a compreensão do funcionamento das MPE é de suma importância a análise das competências, das atitudes, das motivações e do comportamento organizacional do próprio proprietário-dirigente, pois é notória sua influência na forma de organização e atuação do negócio.

Essas especificidades refletem uma realidade diferente da vivenciada pelas grandes empresas e contribuem para tornar a gestão das MPE permeada por dificuldades que limitam o seu crescimento e desenvolvimento. (SILVA; PEREIRA, 2004).

Kruglianskas (1996), aponta como outra característica importante das MPE o baixo ou raro investimento em pesquisa de natureza mais básica. Essas empresas têm por vocação a aplicação da tecnologia já existente de forma original em novos produtos e tendem

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a evitar as áreas que exigem recursos consideráveis em pesquisa e desenvolvimento (P&D). O autor afirma que em geral, os dirigentes das empresas são cépticos quanto à eficiência das grandes equipes que atuam nas empresas maiores e, portanto, nas MPE um número pequeno de pessoas envolve-se com o desenvolvimento de novos produtos. Assim, o problema de P&D nas MPE demonstra-se como um problema de escala, pois não há volume suficiente de vendas para custear o desenvolvimento de novos produtos e processos.

Dessa forma, e com base nas abordagens do IBGE (2003) e de Leone (1999), no que diz respeito às características das MPE verifica-se que essas empresas apresentam várias dificuldades para a manutenção de seus negócios o que coloca em risco sua sobrevivência. Assim sendo, torna-se relevante a exploração da alta taxa de mortalidade apresentada por essas empresas (cf. capítulo 3).

Segundo Versiani e Gaspar (2000, p.2), qualquer reflexão relativa às MPE, deve ser fundamentada no arcabouço e nas discussões das teorias econômicas, cujo eixo central é composto pelas questões relativas à sobrevivência e à permanência dessas unidades frente ao processo de oligopolização da economia. Para essas autoras pode-se identificar pelo menos dois enfoques quando se trata da análise da posição das MPE na estrutura econômica.

A primeira, considerada clássica, indaga sobre a possibilidade de sobrevivência dos pequenos negócios frente à concentração e à centralização do capital inerente ao processo de acumulação e ao modo de produção capitalista. A tese subjacente, em autores como Marshall, é a da extinção das PME’s ou de sua permanência temporária. Para Marshall (1945), o crescimento das firmas se daria numa evolução natural de empresas que nascem, crescem até certo tamanho, decrescem e morrem. O crescimento se efetuaria por etapas, a partir da divisão do trabalho, através da especialização de funções, e dos ganhos decorrentes de economias externas à firma. Estabelece-se, então, que o aumento do volume de produção e a redução dos custos decorrentes da escala aliada à divisão técnica do trabalho, permitindo maior produtividade, formariam as vantagens significativas à grande empresa que alijaria par-e-passo os

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pequenos produtores da atividade econômica. A presença das pequenas empresas seria de caráter temporário, uma vez que estariam impossibilitadas de crescer devido as suas desvantagens econômico-estruturais. No entanto, haveria um ciclo evolutivo dos pequenos negócios alimentado devido à existência de homens ávidos por aventura ou pelos sistemas de subcontratação estabelecidos pelas grandes empresas. Esse processo permitiria a convivência de empresas com diferentes tamanhos, mas em seu bojo existiria o prenúncio da morte inexorável dos pequenos negócios.

Em contraponto, conforme as autoras, as visões modernas sobre a inserção das MPE na economia partem de pressupostos antagônicos, ou seja, de que as pequenas empresas devem ser analisadas conforme sua inserção na estrutura industrial. Assim, segundo Souza (1995), há condições para a sobrevivência das MPE apesar das probabilidades reduzidas de seu crescimento decorrentes principalmente do pequeno capital disponível, da dificuldade em obter financiamentos com prazo mais longos e da limitação em relação aos prazos na amortização dos empréstimos.

Portanto, segundo Versiani e Gaspar (2000), pode-se deduzir, de forma geral, que as MPE seriam mais frágeis, tendo que enfrentar e resistir à forte posição das grandes empresas. Entretanto, as desvantagens e a posição marginal das MPE em relação às grandes firmas, em muitos casos, parecem obscurecer, não só o reconhecimento de que elas possuem características e peculiaridades que lhes dão vantagens comparativas em relação às grandes empresas, mas que também percebem e avaliam o ambiente de forma diferenciada e, desse modo, trabalham as oportunidades e enfrentam as ameaças ambientais distintamente.

Assim sendo, o estudo conduzido por Souza (1995), sobre pequenas e médias empresas na reestruturação industrial, aponta as características das empresas de pequeno porte e seu papel nesse processo. Dentre as características do processo de reestruturação industrial destacam-se a tendência à desverticalização das grandes empresas em direção a unidades

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menores, sob a mesma propriedade de capital ou não, onde a subcontratação ligada à especialização é revitalizada e a tendência à valorização das vantagens de atuação conjunta, onde a eficiência coletiva pode surgir da aglomeração de pequenas empresas organizadas em distritos ou pólos industriais. Além disso, a autora destaca algumas características das MPE, tais como: o estímulo à iniciativa privada e à capacidade empreendedora que contribui para a geração de empregos e absorção de mão-de-obra; a contribuição para a descentralização da atividade econômica, em complemento à grande empresa ou na promoção do desenvolvimento local e regional; o potencial de assimilação, adaptação, introdução ou, em algumas vezes, a geração de novas tecnologias de produto e de processo.

Souza (1995), observa também que a diversidade dos pequenos negócios evidencia trajetórias específicas para o segmento, que traduz os diferentes espaços de sua atuação e os tipos particulares de sua organização social. Portanto, as MPE devem ser abordadas de acordo com a categoria de sua trajetória, a saber:

a) MPE em mercados competitivos, que no geral são concebidas como amortecedoras do desemprego, pois utilizam a estratégia competitiva de custos menores da mão-de-obra e do baixo investimento em inovações, permitindo com isso um posicionamento no mercado por suas vantagens de curto prazo. Essas empresas, na maioria dos casos, apresentam menor produtividade, maiores custos sociais, desqualificação de pessoal e relações de trabalho precárias;

b) MPE independentes em estruturas industriais dinâmicas, ou seja, empresas que buscam nichos específicos de mercado através de inovações tecnológicas;

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c) MPE que adotam o modelo comunitário e, geralmente, são situadas em distritos industriais que buscam eficiência coletiva com a sinergia obtida pelas especializações. Essas empresas, por intermédio de ações coordenadas, alcançam vantagens inacessíveis à empresa individual; e,

d) MPE que adotam o modelo de coordenação interagindo com as grandes empresas, por meio de parceria ou subcontratação.

Por fim, Botelho et al. (2004), ao tratarem da reestruturação produtiva ocorrida nas últimas décadas nas grandes empresas citam a ampliação da participação das MPE nas estruturas produtivas em diversos países desenvolvidos e em desenvolvimento, em alguns casos pela formação de redes com participação importante de pequenas empresas. Além disso, notam que a inserção competitiva de empresas de pequeno porte ocorreu também em estruturas organizacionais nas quais as MPE não são subordinadas às grandes empresas, como é o caso das aglomerações setoriais com predominância de pequenas empresas, comumente chamados de clusters ou arranjos produtivos locais – APLs.

De forma a ampliar essa discussão serão apresentadas, nas próximas seções, as redes de MPE e, posteriormente, os distritos industriais, clusters e os arranjos produtivos locais – APLs.

2.3. Redes de MPE

Segundo Amato Neto (2000), uma tendência que se intensifica na economia moderna, sob o marco da globalização e do processo de reestruturação industrial, é a que diz

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respeito às formas de relações intra e interempresas, principalmente a que envolve pequenas organizações. A formação e o desenvolvimento de redes de empresas desempenha um papel relevante não só nas economias de países industrializados, como Itália, Japão e Alemanha, como também nos países de economias em desenvolvimento, a exemplo do México, Chile, Argentina e Brasil.

Como resultado de uma ampla revisão da literatura realizada sobre o tema redes de empresas, Amato Neto (2000) constata que o conceito de rede é, de forma geral, muito abrangente e complexo. Para o autor, em uma primeira aproximação, o conceito de rede está associado à noção de um conjunto ou uma série de células interconectadas por relações bem definidas; a rede interfirmas está situada no núcleo da teoria organizacional e constitui-se no modo de regular a interdependência de sistemas complementares (produção, pesquisa, engenharia, coordenação e outros). “Portanto, as competências e atribuições de uma rede de empresas estão basicamente ligadas aos processos de coordenação que uma coalizão interfirmas pode empregar” (AMATO NETO, 2000, p. 46).

Ainda, segundo o autor, na formação de redes interfirmas identificam-se três variáveis determinantes, quais sejam: a diferenciação, a interdependência interfirmas e a flexibilidade. A diferenciação, quando relacionada a uma rede, pode prover seus benefícios inovadores a todos os seus participantes; o que não ocorre em uma firma isolada, dado que a diferenciação pode, nesse caso, gerar elevação em seus custos. Já a interdependência interfirmas é um mecanismo que prediz a formação de redes e por isso mesmo é adotado como uma unidade organizacional. Por fim, a flexibilidade, entendida tanto no aspecto inovador e produtivo como no aspecto organizacional, é uma das maiores propriedades das redes, já que algumas podem auto-arranjar-se de acordo com suas contingências.

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Para Ravena (2000), entre o mercado e as organizações surge uma multiplicidade de novos termos que designam modos de coordenação (como as relações de cooperação; os contratos implícitos e as redes) que dão conta de uma realidade não submissa às abstrações teóricas. As redes empresariais representam algo mais que uma forma híbrida já que provém uma forma específica de coordenação que pode resolver problemas que nem os mercados nem as organizações enfrentam.

Também segundo Ravena (2000), as redes constituem conjuntos de atores ligados por relações implícitas ou explicitas que vão desde o simples conhecimento até a cooperação, embora não se deva confundir redes com relações de cooperação; estas implicam às redes, porém não ocorre o contrário; a cooperação significa a harmonização de interesses, a distribuição dos recursos; pode ser uma condição possível porém não necessária para a constituição da rede.

As redes não são resultantes da vontade de um único ator, senão que resultam de um plano estratégico onde cada um participa de um conjunto de interações com outros atores relativamente autônomos, motivados por um interesse próprio, situação que demanda ajustes contínuos e adaptações mútuas (GRANOVETTER, 1985; CALLON, 1991 apud RAVENA, 2000).

A participação em redes de cooperação possibilita às empresas alcançarem uma vantagem competitiva no mercado, difícil de ser obtida se atuarem de forma isolada, observa Casarotto Filho e Pires (1999). A partir da definição dos objetivos da empresa, assim como, a forma de atingi-los, analisados sob a óptica da análise dos ambientes externo, com suas oportunidades e ameaças, e interno, com os pontos fortes e fracos, levaram os autores a

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considerar uma combinação de estratégias e políticas, que está explicitada na Figura 1. Essa abordagem, chamada de “mix estratégico” consolida as estratégias mínimas para orientar as empresas em seus investimentos no novo ambiente de negócios.

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1. Definição do negócio – UEN 4. Estratégia de utilização dos meios 2. Estratégia competitiva 5. Políticas de negócio e de gestão 3. Estratégia de produto mercado 6. Estratégia de produção

FIGURA 1 - Mix estratégico

Fonte: Adaptado de Casarotto Filho e Pires (1999, p.26).

O primeiro tipo de estratégia – como competir – indica que uma pequena empresa pode competir por intermédio de: uma diferenciação de seus produtos,associada ou não a um nicho de mercado; posicionar-se na liderança de custo; fazendo parte de uma grande rede topdown, ou seja, associando-se a uma empresa mãe e uma rede de fornecedores; e, por intermédio da participação em uma rede de empresas flexíveis, ou seja, adesão a consórcios com escopos amplos ou mais restritos.

O segundo tipo de estratégia – como desenvolver – preocupa-se com o modo pelo qual se pretende desenvolver o próprio negócio. De um modo geral, nas redes de empresas

Análise de portfólio Em que atuar Como competir Como desenvolver Quanto investir Como negociar Como lidar com

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uma associação em consórcio envolve fases do início e fim da cadeia de valor, ou seja, o desenvolvimento de produtos e sua distribuição, respectivamente. Dessa maneira, as empresas buscarão se concentrar naquilo que devem fazer melhor, que é produzir.

O terceiro tipo de estratégia – quanto investir – traz à baila a estratégia de utilizaçãodos meios disponíveis. Embora esta estratégia tenha sido inicialmente pensada para grandes empresas, ela pode ser perfeitamente utilizada para MPE. Geralmente, a utilização dos meios está associada à situação individual da empresa, condicionada à sua participação no mercado. Caso a empresa participe de uma rede de cooperação, as perspectivas gerais do negócio devem ser, também, consideradas.

O quarto tipo de estratégia – como produzir – ou estratégia de produção, considera o posicionamento inicial da empresa na matriz produto/processo e considera as possíveis opções: concentrar no produto, considerando as alternativas de variação de produtos e de quantidades de modo flexível; ou concentrar no processo, mirando na competição por liderança de custo. A evolução temporal do posicionamento explicitará se o crescimento se dará de forma conservadora (risco pequeno) ou de forma mais agressiva (assumindo determinados riscos). A opção conservadora, isto é, primeiro ganhar mercado e aumentar volume da produção para depois investir em processo e crescer – demanda um menor investimento. A opção mais agressiva, mais apropriada em situações de mudanças no ambiente, exige do empresário uma preparação adequada de modo a minimizar sempre que possível os riscos envolvidos.

Segundo Casarotto e Pires (1999), os tipos de estratégias vistos anteriormente apontam que as MPE possuem dificuldades e limitações para competirem isoladamente. Portanto, resta às MPE duas opções, ou seja, ser fornecedor numa rede topdown ou ser

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participante de uma rede flexível de pequenas empresas. No primeiro tipo, a pequena empresa pode tornar-se fornecedora de uma grande empresa ou, principalmente, subfornecedora. Trata-se de uma rede em que o fornecedor é dependente das estratégias da grande empresa e tem pouco ou nenhum poder nos destinos da rede. No segundo tipo, as empresas se unem por um consórcio com objetivos mais amplos ou mais restritos, que possuem algumas possibilidades de abrangência, quais sejam: formação do produto; valorização do produto; valorização da marca; desenvolvimento de produtos; comercialização; exportações; padrões de qualidade; e, obtenção de crédito. Esse tipo de rede tem sido o sustentáculo de economias desenvolvidas como a região italiana da Emília Romana.

A formação de consórcios não acontece de forma rápida. A questão cultural é extremamente relevante e sua concretização está diretamente ligada aos modelos de desenvolvimento regional, em especial ao tipo de ação exercido pelas associações patronais de MPE. Esse tipo de cooperação vem chamando a atenção em todo o mundo, pois possibilita a geração de empregos e assegura o desenvolvimento regionalmente sustentado. Além disso, a cooperação entre empresas é algo tão irreversível como a globalização e talvez seja o modo como as pequenas empresas possam vir a assegurar sua sobrevivência e a sociedade garantir seu desenvolvimento equilibrado (CASAROTTO; PIRES, 1999).

No caso específico de associações de MPE com uma empresa âncora, Botelho et al. (2004), observam que esse movimento é originário de um processo de desverticalização dessas empresas e externalização de algumas atividades que passaram a ser realizadas por pequenas empresas, em sua maioria de propriedade de antigos funcionários. Esse movimento de subcontratação especializada e com uma lógica cooperativa teve início no Japão, onde a política industrial, a partir dos anos 70, estimulou a formação de keiretsu. A organização de

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MPE em rede por uma grande empresa esteve também presente no desenvolvimento recente de algumas regiões da Alemanha, principalmente na província de Baden-Württemberg.

A partir da década de 80, o movimento de desverticalização ganha amplitude mundial e destaca-se como uma das características principais dos processos de reestruturação industrial das grandes empresas em direção ao novo paradigma tecológico-produtivo com o aumento das relações de subcontratação. O que determinou esse processo foi a procura por maior flexibilidade produtiva e a tentativa de diminuição de custos nas grandes firmas, em função do aumento da competição intercapitalista. Os processos de desverticalização se viabilizaram, principalmente pelos desenvolvimentos na área de informática e telecomunicações, que possibilitaram a redução substancial dos custos de transações interfirmas. (BOTELHO et a.l, 2004.).

Baldi e Lopes (2002, p.33), destacam os motivos do porque do estudo sobre as organizações em forma de rede ter crescido muito desde as décadas de 80 e 90:

As redes têm recebido crescente atenção na literatura organizacional, como decorrência, dentre outros motivos, de sua aplicação nas mais diversas esferas da sociedade. As redes têm sido empregadas como alternativa de expansão por empresas em setores competitivos (farmacêuticas, biotecnologia, automobilística), bem como por organizações não-econômicas, tais como ONG, universidades e centros de pesquisa.

Cassiolato e Lastres (1999), enfatizam que o estabelecimento de redes de todo o tipo, identificadas a partir da generalização das práticas de reestruturação industrial, se consolida como parte de um novo formato de organização industrial. Quando uma questão sobre a influência da dimensão local é levantada, se faz necessária a análise das relações interfirmas nos arranjos locais.

Referências

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