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Características Demográficas do Senegal

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CAPITULO II: A DESCENTRALIZAÇÃO FLORESTAL NO SENEGAL

II.1 APRESENTAÇÃO DO SENEGAL

II.1.2 Características Demográficas do Senegal

Em 2002, a estimativa da população do Senegal foi de 9.908.000 habitantes sobre uma superfície de 197.000 km2. As projeções para 2025 prevêem o desdobramento da

9 Sahel, área de transição entre o deserto do Saara e as áreas da Savana, caracterizadas pelas

incertezas do clima. O Sahel estende-se sobre uma área que cobre nove outros países africanos: o Senegal, a Mauritânia, o Mali, o Burkina Faso, o Niger, o Chade, o Cabo Verde, a Gâmbia e a Guiné Bissau

população chegando a 16.511.000 habitantes (WRI, 2003). Senegal dispõe de uma alta taxa de crescimento populacional de 2,7% ao ano; todavia a taxa de crescimento é bem superior nas áreas urbanas (3,3%) do que nas áreas rurais (-1,5%), devido à migração campo- cidade. O crescimento rápido da população é o resultado do pouco uso de métodos anticontraceptivos e ao casamento precoce (50% das mulheres entre 20 e 49 anos se casam antes dos 17 anos). Vale salientar que 44% da população têm menos de 15 anos (WRI, 2003). Esta juventude chega a constituir um potencial de força produtiva, mas também cria uma forte demanda em termos de educação, saúde e emprego.

Mesmo que a taxa de crescimento econômico tenha chegado a 4,7% em 2008 (WORLD BANK, 2008), ela é caracterizada por um baixo desempenho do setor primário e por fortes desigualdades entre as cidades e as áreas rurais. O crescimento não garantiu uma redução significativa da pobreza, sobretudo no mundo rural quando o meio ambiente continua se degradando.

Senegal é administrativamente repartido em onze (11) regiões (figura 1). As subdivisões realizadas do espaço territorial desde a época colonial, são conseqüências de uma política dos governos que deram prioridades à construção de uma nação moderna, com certa preocupação de inserir as sociedades camponesas nas estruturas administrativas.

Figura 1: As Regiões Administrativas do Senegal

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Regions_of_Senegal

Dacar, a capital do Senegal, se destaca em relação a outras regiões por ter ao mesmo tempo, a menor superfície (550 km²) e a maior densidade populacional (2.728 habitantes/km²). A sua população é largamente urbana (96%). Entre 1976 e 1988, a taxa de crescimento anual chegou a 3,89%. Esta taxa se explicou pelo forte êxodo rural, e a concentração dos serviços, dos poderes políticos e econômicos. Assim Dakar reagrupa todas as etnias do Senegal, sendo a língua woloff a mais falada.

A região de Thies ocupa a posição da segunda região mais povoada, principalmente pelo grupo étnico Sereer. Ela conheceu importantes fluxos migratórios devido a numerosas

instalações industriais (químicas, têxteis,..) e turísticas (devido à orla no Oceano Atlântico). Mesmo se os setores de turismo, de pesca e da extração mineira constituam grande parte de sua economia, a agricultura continua a ocupar um lugar importante, participando com 15% do PNB (produto nacional bruto).

No norte do Senegal, a região de Saint-Louis chamada por muitos tempos de ‘région du Fleuve10’ devido à presença do ‘Rio Senegal’, é essencialmente habitada pelos Woloff, Haalpulaar e Maures11. Com uma densidade baixa de 15 habitantes/km² e uma taxa de crescimento de 1,9%, Saint-Louis conhece uma forte emigração, apesar de suas potencialidades naturais. Com exceção de Richard Toll que tem uma vocação agro- industrial graças a agricultura irrigada, o resto da região está sob influência do clima saheliano: seco e quente.

Da mesma maneira, Louga que é a terceira região mais extensa do Senegal, é habitada por apenas 7,11% da população total. A sua instabilidade climática acentua a degradação do meio ambiente e consequentemente freia a principal vocação da região: atividades silvo- pastoris. Louga é majoritariamente habitada pelos Pulaar que praticam um pastoralismo extensivo. A agricultura ainda é um setor tímido da mesma forma que o setor industrial. Esta morosidade econômica poderia explicar em parte, os massivos movimentos migratórios para outras áreas mais promissoras.

No centro – oeste do Senegal, a região de Diourbel sofre também de uma pluviometria muito instável. Diourbel conheceu seu apogeu durante o período colonial, sendo um centro econômico importante, devido a forte implicação dos chefes religiosos “mourides12’ na produção do amendoim. Todavia, segundo os inquéritos nacionais sobre orçamento e

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Pode ser traduzido como região do Rio. Apesar de uma fraca e irregular pluviometria, Senegal dispõe de recursos em águas superficiais e subterrâneas relativamente importantes. Os principais recursos em águas de superfície são constituídos pelos rios : rio Senegal (1800 km) e rio Gâmbia (1150 km) que nascem no maciço do Fouta Djallon situado na Republica de Guine

11 Saint Louis tem fronteira com Mauritânia, o que explica uma forte presencia de Maures na região 12 Os mourides são membros de uma confraria muçulmana ‘Mouridisme’. Ela foi fundada em

Diourbel, mas especificamente em Touba que se tornou a cidade santa atraindo hoje milhares de discípulos. Estes se investem ativamente nas atividades de desenvolvimento da localidade.

consumo das famílias (ESAM I,), a taxa de pobreza13 chega a 65,3%. A agricultura ainda emprega 57% da população ativa, mas a renda deste setor representa apenas 8,6% do total regional (SRPSD, 2005)14. Diourbel destaca-se por não possuir nenhuma formação florestal remanescente. Os recursos naturais foram fortemente degradados, todas as florestas foram desmatadas a favor das terras agrícolas.

Até 1984, as regiões de Fatick e de Kaolack foram partes de uma mesma região chamada de Sine Saloum. A minha pesquisa de campo foi realizada nestas duas regiões. Havia e ainda há, em ambas, muito investimento na produção e na comercialização de amendoim, a principal cultura comercial do Senegal. Fatick, Kaolack e Diourbel constituam a ‘bacia do amendoim’, a área onde o cultivo de amendoim mais se desenvolveu. Com exceções da agricultura e da pesca, esta região se caracteriza por pouco dinamismo econômico; as atividades industriais têm fraco desempenho. As taxas de pobreza chegam a 46,3% em Fatick e em Kaolack a 45,5%. A sua população é predominantemente constituída pelos grupos étnicos Sereer e Pulaar.

Quanto à região de Tambacounda foi por muito tempo chamado de Senegal Oriental devido à sua posição geográfica. Apesar de ter a maior superfície (30% do território nacional) e de se beneficiar de boas condições pluviométricas e de fortes potencialidades florestais, Tambacounda é a região menos povoada do Senegal. A população desigualmente repartida é constituída essencialmente de Pulaar, Manding e Bambara. Desde a era colonial, a região se beneficiou de programas governamentais de colonização para a expansão das fronteiras do amendoim, mas estes não obtiveram êxito. A sua rede hidrográfica densa favorece a freqüência de doenças como malaria, "trypanosomiase15" e da "onchocercose16", e desencoraja a colonização humana. Mesmo assim, a região tem uma vocação fortemente agrícola, especializando-se no cultivo de arroz e de algodão, além do amendoim. Suas formações florestais abundantes lhe proporcionam um lugar de

13 as taxas de pobreza do texto se refere a proporção da população que vivem com menos de 1 $ por

dia e que dispõe de menos 2400 calorias por dia. Este foi o indicador economico empregado pelo Estado e as instituições internacionais para caracterizar a pobreza no Senegal

14 Service Régional de la Prévision et de la Statistique de Diourbel

15 Doença do sono

destaque na cadeia de abastecimento do carvão, de madeira e outros produtos florestais. A região se beneficia também de importantes reservas de ferro, de mármore e de ouro cuja exploração é predominantemente realizada por empresas privadas.

Na parte Sul do país, as regiões de Kolda e de Ziguinchor foram criadas em 1984 após a cisão da região conhecida como Casamance. Ziguinchor também chamada de “Basse Casamance” está localizada entre a Gâmbia ao norte e a Guiné-bissau no sul. Ela se beneficia das melhores condições pluviométricas do país e possui uma rede hidrográfica muita densa (Rio Casamance e suas ramificações). A sua população é predominantemente Joola, ativa na agricultura, na pesca e na transformação e conservação de produtos marítimos. Quanto a Kolda, tem a população menos urbana do país, com uma taxa de apenas 8,62%. A sua população é composta na maioria de Mandinga e de Pular, mas as culturas comerciais atraíram migrantes originários da Guiné-bissau e da Guiné-Conakry. Kolda e Tambacounda são as regiões que mais concentram formações florestais no Senegal.

A paisagem sociocultural do Senegal está então marcada pela presença de uma diversidade de grupos étnicos. Não existe um consenso sobre o número dos grupos étnicos existentes no Senegal; as classificações variam de uma publicação para outra. A língua materna, os nomes patronímicos, e as localidades que são geralmente os principais critérios de identificação étnica, não são muito aplicáveis no caso senegalês. A repartição geográfica contemporânea dos grupos étnicos é resultante dos movimentos migratórios, das estratégias de resistência, de fugas ou de conquistas de novos espaços. Da mesma forma, a mobilidade das populações, e as relações matrimoniais intensas entre etnias dificultariam traçar hoje uma delimitação geográfica das etnias. Algumas localidades são certamente associadas a uma etnia especifica, como Fatick e Kaolack aos Sereer ou Ziguinchor aos Joola, mas é importante perceber que Fatick ou Ziguinchor representa apenas um espaço tradicional de concentração respectivamente dos Sereer e dos Joola, que ao longo dos tempos, por ser um ambiente sócio econômico favorável, acolheram migrantes de diversas origens. Por isso tem que levar em consideração que nenhuma região administrativa do Senegal tem um povoamento homogêneo, mas é constituída de uma diversidade de grupos

sociais, étnicos e religiosos. Tal diversidade étnica se encontra até mesmo ao nível de vilarejo, onde indivíduos de etnias coabitam e exploram, às vezes de formas diferenciadas, os recursos naturais. Também, é importante ressaltar que dentro de um grupo étnico, encontram-se particularidades mais ou menos significativas que se traduzem em diferenças na língua, nos costumes, nas crenças e nos valores. Por exemple a etnia Sereer é constituída de sub- grupos. Os Sereer: Ndut, Noon, Safen habitam a região de Thies e têm características lingüísticas muitas diferentes dos Sereer chamados Sine encontradas na região de Fatick. Quanto aos Sereer Niominka, se distingue dos outros Sereer por terem seu habitat natural nas ilhas (NIANE, 1995).

Outro fato demográfico importante a ressaltar aqui consiste na repartição desigual da população, resultante de vários processos históricos. A concentração humana na parte ocidental hoje observada é um produto das políticas da ocupação do território desde a época colonial. Os administradores coloniais privilegiaram a "valorização" das regiões costeiras (devido ao acesso fácil aos portos), para a construção de infra-estruturas e para a expansão das fronteiras agrícolas, em detrimento do interior. Estes centros como Dacar e Thies se urbanizaram rapidamente conhecendo hoje muitos problemas associados a um mal, ou falta de planejamento. Quanto ao norte, além da falta de programas de desenvolvimento, o vazio demográfico se explica também pelos sucessivos períodos de seca e pela profundidade do lençol freático dificultando atividades agrícolas e pastoris. As várzeas do leste do território não foram propícias à ocupação humana devido à ocorrência de doenças parasitoses. Nas regiões densamente povoadas, uma das questões cruciais é a pressão sobre os recursos naturais já limitados, quando a população não pára de crescer.

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