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História Política do Senegal

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CAPITULO II: A DESCENTRALIZAÇÃO FLORESTAL NO SENEGAL

II. 3 HISTÓRIOCO DO PROCESSO DA DESCENTRALIZACAO NO SENEGAL

II.3.1 História Política do Senegal

Suas configurações geográficas atuais do Senegal foi uma construção política da era colonial. Segundo as épocas, seus limites atuais se inscrevem no território do Saara na preceptoria e na proto-história, do Sudão no período medieval, da Senegambia e África Ocidental Francesa (OAF) no período colonial, e do Sahel no período contemporâneo. Frente à multiplicidade de geografias, é bom lembrar que as referências cronológicas desta pesquisa situam-se desde a conquista colonial (século 15) até os tempos contemporâneos. Esta escolha temporal poderá nos informar em primeiro lugar, sobre os fatores históricos causadores das mudanças ocorridas nas sociedades autônomas senegalesas que se tornarem ‘sociedades bloqueadas’ (AMIN, 1985) dependentes e periféricas no sistema mundial. Em segundo lugar, isto nos permitirá traçar o histórico da subdivisão do território senegalês desde a fase colonial, e suas implicações nas sociedades rurais.

Os portugueses foram os primeiros europeus a chegar na orla senegalesa no século XV nas suas tentativas de circundar a África para descobrir uma rota marítima para a Índia. Nas suas precedentes conquistas nas ilhas Canárias, os europeus confiantes de suas habilidades marítimas, desembarcaram com liberdade nas ilhas e escravizaram pessoas. Ao contrario dos nativos das Canárias, que não possuíam barcos, os povos da África ocidental tinham uma cultura marítima muito bem desenvolvida e especializada, capaz de proteger suas águas (THORNTHON, 2004). Assim, de inicio, os portugueses estabeleceram relações diplomáticas com os governantes do Senegal permitindo um comércio sem hostilidades, após pagamento de taxas e direitos aduaneiros aos poderes locais. Todavia Portugal perdeu logo o monopólio de manter relações comerciais com os parceiros africanos. As outras potências européias (Inglaterra, Franca, Holanda), cientes dos retornos financeiros deste comércio marítimo, procuraram comercializar também na orla da África. A França instalou seu primeiro estabelecimento comercial no Norte do país em Saint-Louis, depois outros foram implementados ao longo do litoral (Rufisque, Saly Portugal e Joal) para assegurar

seus monopólios na costa Atlântica”.

Estes pontos comerciais tornaram-se armazéns de escravos, exportando milhares de africanos para as Américas e ilhas do Caribe, sob a cumplicidade das aristocracias dos reinados30. Este contexto de crise em Senegambia que se manifestou tanto ao nível social, material e espiritual, colocou em dúvida a eficiência da ideologia do poder tradicional, sendo uma oportunidade para os ‘marabu31’ de impor o Islã como modelo de estruturação social: dando início a uma série de guerras santas no século 18. O objetivo principal deste movimento de islamizacão, foi de destruir os reinados tradicionais pagãos, e substituir a aristocracia aliada dos comerciantes de escravos. DIOUF (2001) argumenta que frente à expansão muçulmana, a reorganização das lógicas sociais se diferenciou segundo os tipos de sociedades. Nas sociedades hierarquizadas, a elite aristocrata, seus aliados os traficantes de escravos e os ‘marabu’ disputam pelo controle dos recursos humanos e naturais. Em contrapartida, as sociedades igualitárias32 se isolaram em locais inacessíveis, adaptando suas estruturas sociais, econômicas e culturais num espírito de resistência, de irredentismo e de etnocentrismo exacerbado. O autor persegue que tal diferenciação de respostas ao tráfico negreiro e à expansão do islã, explica as modalidades distintas da conquista e da pacificação colonial: o cooptação para as sociedades hierarquizadas e as rebeliões e repressões repetidas às sociedades igualitárias.

No final do século 18, a revolução industrial modificou as prioridades dos europeus, e o tráfico de escravos ficou negligenciado. Com a abolição da escravidão na França em 1848, o centro da gravidade do capital passou do setor comercial para a indústria. Senegal como outros países africanos, deixaram de fornecer mão de obra para entregar matérias primas

30 Antes da ocupação européia, o atual território senegalês era dividido em reinados que eram

socialmente e politicamente estruturados. Estes reinados eram Joloff, Cayor, Baol, Walo, Siin, Saloum. Ver a obra de Barry sobre a história do Senegal pré-colonial

31

Chefes religiosos muçulmanos

32 Nas sociedades igualitárias, a autoridade é relativamente difusa, ou seja, pouco centralizada. Não

existe uma estratificação social em castas. Elas se organizam segundo um modelo plural de representações e de instituições políticas e jurídicas, e se baseiam no domínio de seu território, lugar de inscrição de sua ideologia, de seu sistema de produção, de reprodução e de redistribuição (Diouf, 2001). Esta tendência à autonomia e liberdade individual poderia explicar porque as sociedades igualitárias foram muitas refratárias ao islã, ao tráfico Atlântico e à colonização, que tentaram impor novos poderes políticos.

agrícolas e minerais. Para os governantes franceses que não podiam mais transportar mão de obra nas áreas de culturas tropicais (Brasil, Caribe), tinham que se adaptar à nova situação. A estratégia de saída da crise foi então de instaurar um plano de colonização agrícola nas suas colônias, entre 1819 e 1831 (BARRY, 1985,215). A multiplicidade de conflitos internos, e a potência militar dos europeus, favoreceram a conquista territorial do Senegal. Grande parte dos reinados desaparecerem entre 1885 e 1895. A eliminação do poder político e administrativo destes reinados, foi essencial para controlar as estruturas de produção: as comunidades camponesas sem a existência de intermediários, e a instaurar uma política administrativa colonial. No ano de 1895, Senegal foi oficialmente reconhecido como uma colônia francesa e a federação da África Ocidental Francesa33 (AOF) criada, tendo Saint – Louis como capital. Após a conquista territorial, o objetivo imediato dos franceses foi então de “valorizar” as terras com culturas industriais exportáveis.

No Senegal, principalmente as várzeas do rio Senegal, ao norte foram o primeiro lugar para executar o plano agrícola devido a sua proximidade com a capital Saint-Louis, e as suas potencialidades agrícolas. Nestes experimentos agrícolas, o amendoim chamou atenção, assim como a borracha arábica (BARRY, 1985,221). As populações locais já conheciam o amendoim, elas usavam os grãos como condimento culinário, para produção artesanal de óleo e para a fabricação de sabão. Segundo BARRY (1988, 202), a escolha do amendoim não é resultado de um determinismo geográfico, mas uma escolha econômica e deliberada da Franca para óleo de amendoim, crucial naquela fase de seu desenvolvimento industrial. Assim o amendoim imposto como fundamento da economia colonial, inaugura os processos da criação do espaço colonial.

Todavia, o amendoim não encontrou sucesso no Norte, nas várzeas do rio Senegal, como se esperava no plano da colonização agrícola. O desenvolvimento do amendoim virou mesmo realidade apenas na segunda metade do século 20 na parte centro-oeste do país chamada de ‘bacia do amendoim’ onde o amendoim encontrou condições agroecológicas e

33 OAF foi criada em 1895, mas sua composicao final se estabiliza em 1919 composta das colonias

do : Senegal, Guinee Conakry, Costa de Marfim, Dahomey (atual Benin), Niger, Mauritania, Soudan francais (atual Mali), Haute-Volta (atual Burkina Faso)

sociais favoráveis para seu desenvolvimento. Entretanto, o Islã tinha se estabelecido como principal força social organizadora e administrativa de muitas comunidades camponesas. Pacífico e sob forma de confrarias, o Islã ‘a moda senegalesa’ mobilizou os camponeses com o projeto colonial: a valorização das terras com o amendoim. A mensagem do líder espiritual Cheikh Amadou Bamba “o trabalho é uma forma de rezar, é santificador”, foi a palavra de ordem para que os ‘marabu mourides’ colaborassem com a administração colonial, investindo ativamente na expansão do amendoim em novos territórios. Os ‘marabu’34 assumiram de fato a função de intermediários incontornáveis entre a administração colonial e as comunidades camponesas.

Através desta retrospectiva histórica, quero enfatizar que a divisão administrativa atual do Senegal não pode ser dissociada da expansão do amendoim, nem da administração colonial. De fato no meio do século 20 uma organização política e administrativa colonial dualista tomou lugar. As áreas de produção se concentraram basicamente nos vilarejos da bacia do amendoim, a exportação do amendoim realizava-se apenas a partir dos centros portuários: as cidades costeiras (Dacar, Rufisque, Kaolack, Saint-Louis). Para isto, modernas infra-estruturas de transporte (trem, estrada, portos) foram construídas cuja vocação essencial foi de encaminhar a produção de amendoim nos portos em direção à metrópole. A distinção geográfica entre as áreas de produção e os mercados urbanos, se traduziu em termos administrativos, da subdivisão das populações em duas categorias: o ‘sujet’ francês submetido ao ‘código do l’indigénat’ e o ‘originário’ cidadão francês. Foram categorizados ‘originários’ aqueles que nascerem ou eram residentes pelos menos cinco anos nas Quatre Communes35 : Dacar, Rufisque, Gorée, Saint-Louis. Estas quatro cidades eram como se fosse o prolongamento da metrópole Francesa no continente africano com a especificidade própria a uma sociedade colonial. Os ‘Quatre Communes’ foram dotadas de uma organização calcada no modelo das ‘communes’ francesas. A ‘commune’ era dirigida por um conselho municipal e tinha o direito de mandar um

34 A obra de Copans (1980) aprofunda o papel dos ‘marabu’ na difusão da monocultura do

amendoim dentro de um mundo rural senegalês. COPANS, Jean. 1980.

35 Os Quatre Communes são compostas de Dacar, Rufisque, Goree and Saint-Louis. Com a lei de

1855, estas cidades foram consideradas como cidades francesas localizadas no Senegal, e seus habitantes se beneficiaram do estatuto de cidadão francês.

representante ao parlamento francês em Paris para defender seus interesses. Os indivíduos que residiram nestas cidades durante pelo menos cinco anos adquiriram o estatuto de cidadão francês, lhes dando direito a participar da vida política parlamentar e municipal. Os principais beneficiários deste arranjo jurídico foram os mestiços, os franceses de origem (podendo assim exercer seus direitos civis e políticos mesmo fora do seu território), e os ‘nascidos’ das localidades que se tornaram “commune”.

Saint-Louis, porta de entrada dos europeus, foi a primeira cidade senegalesa a qual em 1758 elegeu um presidente mestiço para a câmara municipal para defender os interesses de seus habitantes. A Ilha de Gorée que foi muito ativa durante o tráfico negreiro, se transformou em cidade a moda européia. Todavia, com a expansão demográfica e a intensificação das atividades comerciais em Dacar e Rufisque, estas duas áreas se urbanizaram devido à expansão territorial dos franceses. Grande parte das atividades administrativas e comerciais foi transferida para a cidade de Dacar que em 1895 se tornou capital da AOF.

Ao contrario dos ‘Originais’ que se beneficiaram dos privilégios políticos, os ‘Sujeit’ habitavam fora do espaço dos ‘Quatre Communes’. Eles não tinham nenhum direito civil e eram tratados de forma discriminatória. Eles podiam ser encarcerados sem processo, ser forçados a trabalhar na construção de infra-estruturas, ser tratados diferenciadamente no exército. Até as licenças de exploração das florestas, eram apenas o privilégio dos ‘originais’. O espaço de residência dos ‘sujeit’ também chamados de ‘territórios de administração de direita’ era organizado em circunscrições administrativas sob o nome de ‘cercle’ e canton’. O ‘cercle’ constituiu a unidade territorial e administrativa mais baixa na colônia senegalesa sob a supervisão de um administrador colonial: ‘Comandante de cercle’ sempre era um europeu. O ‘Cercle’ era composto de muitos ‘Cantões’. Quanto ao ‘Cantão’, ele era maior que um vilarejo, não respeitando nenhuma divisão étnica, e sempre dirigido por um senegalês. Os chefes escolhidos para os ‘Cantões’ pela administração colonial eram detentores de certa legitimidade social, herdada da era das monarquias tradicionais. Todavia seu poder administrativo era apenas simbólico, não tinha nenhuma

autoridade sobre os indivíduos, nem sobre os recursos naturais na sua circunscrição. O centralismo colonial lhes proporcionou poucas possibilidades de legitimar sua autoridade, e de administrar seu território. A função dele era essencialmente fiscal: recensear as populações sujeitas ao pagamento de impostos e supervisionar a arrecadação de impostos pelos chefes dos vilarejos. A administração colonial era ciente de que a mediação dos chefes dos ‘Cantões’ poderia facilitar a administração dos territórios dos ‘sujeits’. Todavia, o enquadramento colonial apoiou-se em auxiliares locais: primeiro os chefes tradicionais, e depois os ‘marabu’.

Os ‘marabu’ não somente se impuseram como grandes produtores de amendoim, mas incentivavam seus discípulos à expansão do cultivo do amendoim. Frente à influência dos ‘marabu’ sobre as comunidades camponesas, o colonizador se apoiou sobre a autoridade do ‘marabu’ em proveito de uma colonização eficaz, vantajosa e sem grande investimento (DIOP & DIOUF, 2002, 34). A administração colonial percebeu logo que o carisma dos ‘marabu’ podia fornecer um apoio ideológico para legitimar sua dominação e convencer as comunidades a investir ao projeto colonial. Sem responsabilidade administrativa, mas reconhecidos pela autoridade colonial, os ‘marabu’ permitiram ao estado colonial atingir as sociedades rurais, traduzindo as diretivas políticas e administrativas em princípios sociais e religiosos. Desde então os ‘marabu’ se tornaram empreendedores políticos incontornáveis, mesmo após a construção de um Estado pós-colonial. Segundo o historiador senegalês Mamadou Diouf (2001:200), a interferência entre o político, o religioso e a economia, que marca o signo distintivo da trajetória da política do Senegal, constitui o fruto de uma longa acumulação histórica. Na sua obra ‘Histoire du Senegal’(2001:200), o mesmo autor argumenta que a integração dos ‘marabu’ na administração colonial favoreceu a emergência de uma matriz referencial político e econômica Woloff e Muçulmano do

diggel36(o centro), que se tornou o instrumento de apreciação das outras sociedades

(periferias). Estas periferias, por serem sociedades igualitárias, sem chefe ou com ausência de matéria prima de interesse colonial, são marginalizadas ou subordinadas ao modelo do

36 Diggel e uma prescrição do chefe religioso aos seus discípulos. Por exemplo, o líder religioso

pode pedir a seus discípulos que votem no seu candidato. Este chefe, de fato, o garante de uma verdade incontestável, levando a uma obediência absoluta.

centro, criando uma situação crônica de tensões. A rebelião atual para reivindicação da independência da Casamance no Sul é a mais trágica ilustração.

Como salientado previamente, somente os originários dos ‘Quatre communes’ tinham exclusividade em participar na vida política da colônia. A cidade não era apenas um espaço de evacuação dos produtos agrícolas, de recepção de produtos manufaturados, mas também um espaço de aprendizado de lutas políticas e de uma vida urbana moderna. A escola francesa implantada em Saint Louis desde o século 19 tinha formado a primeira geração de intelectuais senegaleses, que através de seu direito à cidadania, investiu-se nas atividades políticas. Os mestiços foram inicialmente os primeiros engajados na política, mas logo os senegaleses ‘negros’ também participaram ativamente na vida política. Em 1914 o primeiro deputado negro Blaise Diagne foi eleito no parlamento francês, dando assim voz à classe política senegalesa negra. No mesmo período, os sindicatos se ativaram no cenário político com uma primeira greve dos trabalhadores em Dacar reclamando melhores condições de trabalho e subvenções para as familiais. O movimento sindicalista tomou força mesmo nos anos 40 com a greve durante seis meses dos trabalhadores da rede ferroviária das colônias da OAF com a reivindicação de ‘salários iguais para trabalhos iguais’37 referindo-se aos seus colegas europeus. Este movimento de greve não se limitou apenas aos sindicatos, recebeu em geral a solidariedade da população citadina que tinha interesse a uma mudança na situação econômica deles. Nesta perspectiva, os sindicatos se alinharam aos partidos políticos, com as tentativas de impor a administração colonial, as noções de ‘igualdade e não segregação’. Em 1946, a adoção da lei ‘Cidadania para todos’ do deputado Lamine Guéye estendeu a cidadania francesa à população rural38 generalizando o direito de voto, marcando assim a entrada das comunidades camponesas, e, sobretudo dos ‘marabu’ no jogo político.

37 O romancista senegalês Ousmane Sembéne (1960) na sua obra: Les Bouts de Bois de Dieu fez

uma descrição detalhada sobre as causas e os acontecimentos da greve dos trabalhadores da rede ferroviária Dakar- Niger de outubro 1947 a Marco 1948. Dacar, Thies e Bamako foram os principais centros de rebelião.

38 Em 1946 foi votada a lei de Lamine Guéye que anula a distinção entre os países de administração

A dualidade geográfica política ‘originários’(citadinos assimilados)/ ‘sujeit’ (rurais dominados) que teoricamente esteve no fim, teve repercussões nas trajetórias dos partidos políticos. Nos anos de 1950, o cenário político era dominado por duas principais formações políticas: SFIO39 dirigido pelo deputado Lamine Guéye e BDS40 liderado por Léopold Sédar Senghor. Os ‘originários’ apóiam o SFIO que adotou a cor vermelha dos comunistas europeus enquanto que Senghor insistindo sobre a ‘Negritude41’ e os valores do mundo negro investe nas áreas rurais. Através do seu discurso sobre apego aos valores dos negros, BDS ganhou o voto dos ‘marabu’ e adota a cor verde, a cor do Islã e do mundo rural. Devido ao apoio dos ‘marabu’, dos intelectuais originários das periferias coloniais, dos líderes dos sindicatos, BDS de Senghor se tornou o partido hegemônico. Em 1958, os dois partidos fusionam para UPS42 tendo como principal reivindicação: a soberania. Em 1958, a França organizou um referendum para as colônias africanas aceitarem ou rejeitarem a criação de uma comunidade franco-africana. Senegal votou sim e aderiu a esta comunidade. Senegal e Sudão francês (atual Mali) puderam assim dispor de governos territoriais com competências limitadas. Em 1959, Senegal e Sudão francês acedem à independência no quadro da Federação de Mali que logo desapareceu em alguns meses. Em 1960 a independência da República do Senegal foi proclamada, tendo como primeiro presidente Léopold Sedar Senghor, tendo com base doutrinária, o socialismo africano. Através desta doutrina, os novos líderes do Senegal estabelecerão um modelo de administração central, no qual as sociedades rurais seriam enquadradas pelo partido e nas cooperativas agrícolas.

A primeira constituição senegalesa optou pelo regime parlamentar que foi um fracasso. Em 1963 o regime se tornou presidencial com partido único. Teve que esperar até 1974, para poder ter a primeira aparição legal dos partidos de oposição no cenário político, dando assim uma abertura democrática limitada a três correntes: socialismo, marxismo – leninista, e liberal. O multipartidarismo foi efetivo mesmo em 1981 sob a presidência Abdou Diouf com a proliferação de partidos políticos e uma maior liberdade de expressão

39 Section Française de l’International Ouvrière 40 Bloc Démocratique Sénégalais

41 um movimento político e literário criado nos anos 30 para combater o colonialismo e racismo

francês

das mídias privadas. A ruptura com o partido socialista de Senghor, aconteceu com a vitória nas eleições de 2000 de Abdoulaye Wade do PDS Partido democrático Senegalês, dando a emergência a uma classe política opositora durante mais de 25 anos.

A configuração contemporânea política, social, e econômica do Senegal é o produto de trajetórias históricas acumuladas durante o período colonial. Logo após independência, as prioridades do movimento nacionalista foram entre outras a construção e a modernização de uma Nação Moderna. O quadro atual institucional do Estado pós – colonial mostra que existe uma continuidade colonial: a geografia territorial colonial, assim como a centralidade do amendoim com motor de desenvolvimento, a consolidação do poder de mediação dos ‘marabu’ e sobretudo as instâncias nacionais de decisão concentrados na capital Dacar.

A criação das ‘Quatre Communes’ para permitir populações nativas a participar na gestão dos assuntos locais, representa, ao meu entender, as origens da experiência senegalesa em termos de descentralização. Tem-se que notar, entretanto, que a descentralização ‘de tipo colonial’ resultou de uma exclusividade de estatuto de apenas as populações urbanas participarem da vida política da colônia. Os centros urbanos se tornaram centros de exportação dos produtos agrícolas, de recepção de produtos manufaturados, mas também um espaço onde decisões em direção ao mundo rural eram tomadas, as populações no meio rural eram excluídas do jogo político e das instâncias de decisões.

II.3. 2 A descentralização do Senegal Independente até os tempos

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