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Características demográficas e a tolerância ao risco

2.7 Fatores que influenciam a tolerância ao Risco

2.7.1 Características demográficas e a tolerância ao risco

Há vários fatores que são destacados pela literatura como influenciadores da tolerância ao risco. Gava e Vieira (2006, p. 2) afirmam que “existe um certo consenso

de que variáveis como sexo, idade, renda, ocupação e educação influenciem a tolerância ao risco”.

Fisher e Yao (2017) exploram a questão das diferenças de gênero na tolerância ao risco financeiro. Os resultados obtidos por esses autores indicam que as diferenças de gênero são importantes nos determinantes individuais da tolerância ao risco financeiro, porém, moderadas por outras variáveis, como a incerteza quanto à renda e o patrimônio líquido. Os mesmos autores destacam que os consultores financeiros devem entender como a incerteza de renda e o patrimônio líquido podem afetar de forma distinta a tolerância ao risco entre homens e mulheres.

As diferenças de gênero na tolerância ao risco têm implicações críticas para as mulheres. As variações nas preferências de risco entre homens e mulheres podem levar a diferenças nas alocações de carteira que resultam na desigualdade de riqueza. Por exemplo, as mulheres com níveis mais baixos de tolerância ao risco podem não estar preparadas adequadamente para a aposentadoria, dado a sua longevidade e a maior responsabilidade individual colocada na gestão de recursos para a aposentadoria nos dias de hoje (Yao, Sharpe & Wang, 2011; Fisher & Yao, 2017). Wang (1994) ressaltou que os consultores financeiros relatam que as mulheres detêm carteiras mais conservadoras e que produzem retornos mais baixos. Os investimentos conservadores podem levar a níveis mais baixos de acumulação de recursos, o que contribui para a diferença de gênero na riqueza (Fisher & Yao, 2017).

Bannier e Neubert (2016) estudaram a tolerância a riscos financeiros em homens e mulheres, tanto no caso de investimentos financeiros padrão (mais simples) como no caso dos mais sofisticados. O resultado encontrado pelos autores mostrou que os investimentos mais simples estão fortemente associados à educação financeira, real e percebida, para os homens, mas apenas com a educação financeira real para as mulheres. Em contrapartida, os investimentos sofisticados estão significativamente relacionados à educação financeira percebida, com uma associação ainda mais forte para as mulheres do que para os homens.

Keese (2012) também chegou à conclusão de que há uma tendência de que os homens sejam capazes de suportar mais riscos financeiros do que as mulheres.

A idade é também um dos fatores que tem sido bastante associado à tolerância ao risco financeiro, como é ressaltado por Grable e Lytton (2001); Grable, Roszkowski, Joo, O’Neill, & Lytton (2009); Levy (2015) e Fisher e Yao (2017).

Parece ser um consenso entre os estudiosos o fato que adultos mais jovens são mais tolerantes ao risco do que adultos mais velhos (Fisher & Yao, 2017; Yao, et al., 2011; Yao & Lindamood, 2004; Gibson et al., 2013; Grable, 2000; Grable, 2008; Hawley & Fujii, 1993). Porém, alguns outros pesquisadores encontraram uma relação positiva entre idade e tolerância ao risco ou não encontraram relação alguma entre as duas variáveis (Grable, 2000; Hanna, Gutter & Fan, 1998; Wang & Hanna, 1997). Já outros autores, como Hallahan et al. (2004) e Faff, Hallahan e McKenzie (2009) encontraram uma relação positiva entre idade e tolerância ao risco e uma relação negativa entre idade ao quadrado e tolerância ao risco, indicando que há primeiramente uma elevação da tolerância ao risco com a idade e depois há um decréscimo.

Outros fatores que têm sido associados à tolerância ao risco são número de dependentes e o nível de educação.

Faff et al. (2009) propuseram uma relação não-linear entre a tolerância ao risco financeiro e o número de dependentes.

A educação também recebeu atenção na literatura como um fator relacionado à tolerância ao risco, com níveis mais elevados de educação associados a uma maior tolerância ao risco (Chang, DeVaney & Chiremba, 2004; Chaulk et al., 2003; Grable, 2000; Grable et al., 2009; Nogueira, 2009; Melo & Silva, 2010; Hawley & Fujii, 1993; Sung & Hanna, 1996; Yao et al., 2011). Indivíduos com um grau de bacharel ou superior seriam mais tolerantes ao risco do que indivíduos com menor escolaridade (Grable, 2008; Halek & Eisenhauer, 2001).

A educação é considerada como uma forma de aumentar a capacidade do indivíduo para avaliar os riscos inerentes ao processo de investimento e, portanto, lhe confere maior tolerância ao risco financeiro (Hallahan et al., 2004).

No entanto, Gibson et al. (2013), por exemplo, não encontraram uma relação significativa entre educação e tolerância ao risco financeiro.

Alguns autores avaliaram também a relação entre o tipo de ocupação e a tolerância ao risco. De acordo com Grable (2000), Sung e Hanna (1996), e Brown, Dietrich, Ortiz-Nuñes e Taylor (2011), os trabalhadores autônomos e aqueles que exercem cargos gerenciais teriam maior grau de tolerância ao risco.

Campara, Vieira, Bender Filho e Coronel (2017, p. 1), por sua vez, encontraram em sua pesquisa que “os homens, casados, sem dependentes, com estabilidade empregatícia, mais jovens, com níveis de escolaridade menores e maiores níveis de

renda possuem uma maior probabilidade de assumir risco”. Ou seja, com relação à escolaridade, a pesquisa desses autores vai de encontro às pesquisas que demonstraram que o maior nível de escolaridade indica maior tolerância ao risco.

As origens raciais e étnicas também foram consideradas importantes para explicar a tolerância ao risco, como foi destacado por Weber e Hsee (1998). Hawley e Fujii (1993) descobriram que os brancos eram mais tolerantes ao risco do que outros grupos étnicos. No entanto, Yao, Gutter & Hanna (2005) argumentam que, em comparação com seus pares brancos, os entrevistados negros e hispânicos eram mais propensos a tomar substanciais riscos financeiros (versus alto, algum ou nenhum risco), mas significativamente menos propensos a assumir algum risco financeiro (contra nenhum risco). Barsky, Juster, Kimball e Shapiro (1997) mostraram que os negros apresentam a média de tolerância ao risco mais elevada do que os entrevistados brancos. Por outro lado, Hanna e Lindamood (2008) cujo estudo foi baseado nos dados da Survey of Consumer Finances (SCF) mostraram que os respondentes negros eram menos propensos a entrarem em investimentos arriscados.

Outros fatores estudados como influenciadores da tolerância ao risco são o nível de renda, a incerteza quanto à renda e o nível de riqueza. De acordo com Fisher e Yao (2017), várias pesquisas mostram que um aumento na renda está associado a maiores níveis de tolerância ao risco, enquanto a incerteza de renda parece estar associada a menores níveis de tolerância ao risco (Hochguertel, 2003). Em contraste, Gibson et al. (2013) não encontraram uma relação significativa entre riqueza e tolerância ao risco financeiro, e Hawley e Fujii (1993) encontraram uma relação negativa entre riqueza e tolerância ao risco.