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A atitude com relação ao risco costumava ser analisada como domínio exclusivo da racionalidade humana, ou seja, a questão da atitude com relação ao risco era vista como um construto principalmente cognitivo. No domínio financeiro, os investidores seriam conduzidos por avaliações cognitivas de risco, considerando o trade-off entre risco e recompensa do mercado, antes de tomarem suas decisões financeiras. No entanto, apesar da importância incontestável de examinar as avaliações de risco dos investidores, a compreensão da tomada de decisão financeira pode se beneficiar dos campos da economia comportamental, da psicologia e da neurociência que, tomando uma abordagem complementar, vem investigando o lado não-cognitivo do comportamento de risco (Bucciol & Zarri, 2015).

A tolerância ao risco financeiro refere-se à propensão de um indivíduo em aceitar as mudanças negativas no valor do investimento ou um resultado adverso, diferente do esperado (Grable & Lytton, 1999a, 1999b, Kannadhasan, 2015).

Segundo Gibson, Michayluk e Van de Venter (2013), a tolerância ao risco financeiro é o nível de desconforto que um indivíduo está disposto a aceitar enquanto arrisca a riqueza atual com vistas ao para o crescimento dessa riqueza no futuro.

Fisher e Yao (2017) destacam que, em mercados eficientes, os investidores podem esperar um maior retorno para um maior nível de risco. Assim, os investidores com níveis mais altos de tolerância ao risco tendem a investir em ativos mais arriscados (como ações, por exemplo), para obterem maiores retornos a longo prazo e construir maior riqueza (Yao, Hanna & Lindamood, 2004, Neelakantan, 2010).

Por outro lado, um investidor com menor tolerância ao risco requer uma compensação adicional para aceitar incerteza quando confrontado com um investimento que tenha rendimentos variáveis. Dessa forma, os investidores com baixos níveis de tolerância ao risco podem ter maior dificuldade em atingir seus objetivos financeiros e criar riqueza de forma adequada para a aposentadoria, uma vez que é improvável que invistam em ações (Neelakantan, 2010; Hanna, Waller & Finke, 2008; Yao, Hanna & Lindamood, 2004; Fisher & Yao, 2017).

De acordo com Chaulk, Johnson e Bulcroft (2003), a pesquisa sobre a tolerância ao risco financeiro tem sido fortemente relacionada ao conceito econômico de aversão ao risco. A partir desse enfoque, os pesquisadores avaliam a aversão ao risco sob uma ótica objetiva, que é a proporção dos ativos de risco que o indivíduo

tem em carteira com relação à sua riqueza. Assim, pessoas com alta tolerância ao risco teriam uma proporção proporcionalmente maior de ativos de risco em comparação com àquelas com baixa tolerância ao risco. Além disso, os indivíduos com alta tolerância ao risco também suportariam com mais tranqüilidade os altos e baixos do mercado acionário.

No entanto, Chaulk et al. (2003) argumentam que a tolerância ao risco financeiro também pode ser conceituada como um construto subjetivo que é o resultado de um processo de percepção e julgamento. Assim, a tolerância ao risco financeiro pode ser definida como um componente psicológico da tomada de decisão sob incerteza financeira, situação em que indivíduos avaliam a desejabilidade de possíveis resultados e sua probabilidade de ocorrência (Kahneman & Tversky, 1979). Do ponto de vista do planejamento financeiro, a tolerância ao risco tem desempenhado um papel importante na orientação dos indivíduos para um investimento psicologicamente satisfatório e confortável Chaulk et al. (2003).

Kannadhasan (2015) destaca a importância de se diferenciar a tolerância ao risco financeiro do comportamento quanto ao risco financeiro. De acordo com esse autor, o comportamento do indivíduo quando ao risco pode ser diferente da sua vontade ou intenção, uma vez que é afetado por fatores externos que podem estar além de seu controle. Por exemplo, uma emergência financeira ou a perda de emprego, podem levar a pessoa a ter um comportamento distinto daquele que teria em condições normais, ou seja, daquele que teria pretendia ter. Já a tolerância ao risco representa a intenção de comportamento.

Segundo Yao, Gutter e Hanna (2005) acredita-se que uma maior disposição para assumir riscos, ou seja, uma maior tolerância ao risco seja um pré-requisito para acumular riqueza. Já Hanna, Gutter e Fan (2001) destacam que a tolerância ao risco financeiro desempenha um papel crucial nas escolhas individuais sobre acumulação de riqueza, aposentadoria, alocação de carteira, seguros e todos os outros investimentos e decisões financeiras que o indivíduo deverá tomar ao longo da vida.

Entender e avaliar a tolerância ao risco financeiro ajudaria os assessores financeiros a desenvolverem uma carteira ótima, capaz de maximizar o retorno do investidor, ao nível de risco aceitável para ele. A incapacidade de avaliar com precisão a tolerância ao risco pode levar a decisões de investimento sub-ótimas (Schirripa & Tecotzky, 2000; Kannadhasan, 2015).

Cordell (2001) propõe que a tolerância ao risco de investimento seja separada em quatro componentes: propensão (comportamento de risco observado na ocorrência de situações normais), atitude (vontade de incorrer em risco monetário, para exemplo, medido por respostas a hipotéticos cenários de investimento), capacidade (capacidade financeira para incorrer em risco) e conhecimento.

Considerando a importância da tolerância ao risco financeiro nas decisões de investimento, vários estudos anteriores, como Grable e Lytton (1998); Grable e Lytton (1999); Coleman (2003); Grable e Joo (2004); Hallahan, Faff e McKenzie (2004), dentre outros, investigaram os fatores que podem afetá-la, dentre eles fatores demográficos, sociais, ambientais e psicológicos durante um determinado período de tempo. Várias constatações desses estudos contribuíram para auar a classificar os investidores em determinadas categorias de tolerância ao risco.

No entanto, segundo Kannadhasan (2015), é importante avaliar o impacto desses fatores periodicamente, pois a tolerância ao risco financeiro pode variar de uma pessoa para outra, de um período para outro, e de um país para outro. Além disso, a tolerância ao risco de um indivíduo muda ao longo do tempo, porque é influenciada também por suas experiências de vida (Van de Venter, Michayluk & Davey, 2012; Kannadhasan, 2015).

No presente trabalho, é considerado que a tolerância ao risco representa a intenção de comportamento de um indivíduo.