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CARACTERÍSTICAS DO REGISTRO CIVIL NA LEI DE REGISTROS

Os eventos de maior relevância do cidadão se dão no momento do registro civil, quando este “é considerado maior ou menor, capaz ou incapaz, interdito, emancipado, solteiro ou casado, filho e/ou pai. Em outras palavras, o registro informa a biografia jurídica de cada sujeito de direito.” (PADOIN, 2011, p. 35).

O instituto Registro Civil teve sua origem na Igreja Católica, assentando os nascimentos, casamentos e os óbitos, desde a Idade Média, por meio dos apontamentos nos livros paroquiais. No Brasil, esse modelo de registro paroquial, tornou-se ineficaz, sobretudo com a chegada dos imigrantes e com a abolição da escravatura, deixando de satisfazer a demanda, surgindo a necessidade que o Estado tornasse o sistema de registro civil um serviço técnico, para que todas as pessoas pudessem ter suas diligências atendidas. (EL DEBS, 2016).

Seguindo esse sistema rígido, ao nascer todo indivíduo terá o assento do seu nascimento registrado, visto que no Brasil todas as pessoas devem ser registradas, garantindo assim o direito à cidadania, uma vez que a Constituição Federal, como regra, reputa brasileiros todos os nascidos em territorial nacional, mesmo que filho de estrangeiros.

O direito ao registro de nascimento é visto pelo direito como um direito sagrado, porquanto se ao nascer o indivíduo não tiver assegurado o seu registro de nascimento, terá aí o seu primeiro direito à cidadania negado. (ASFOR ROCHA apud NETO, 2014, p. 28).

Segundo o art. 1º da Constituição Federal, a cidadania é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. Importante frisar que a cidadania, conforme pacífica doutrina, é viabilizada a partir do registro de nascimento, que

permitirá à criança o acesso a todas as políticas públicas e direitos de que pode dispor em face do Poder Público e até mesmo de particulares. Nesse pensar, elucida-se que:

o registro civil das pessoas naturais tem por finalidade fixar os mais relevantes fatos da vida humana, posto que a manutenção desses assentos públicos interessa à própria pessoa, à Nação, bem como a todos que com ele mantenham relações. (...) Tem relevância para a Nação, pois o registro civil das pessoas naturais consiste na principal fonte de estatística do Governo, servindo de base para suas políticas públicas, inclusive cometendo infração o registrador que não remeter, trimestralmente, à Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, os mapas de nascimentos, casamentos e óbitos. (EL DEBS, 2016, p. 119).

O Registro Civil interessa a todos, visto que ali se fará a prova fiel da existência do registrado, bem como a história civil de toda pessoa natural. (EL DEBS, 2016, p. 117). Nesse sentido, o registro civil de nascimento é prerrogativa para que o indivíduo possa exercer sua cidadania, uma vez que em um Estado democrático, tal prática se manifesta através da participação do sujeito, o que sem o seu registro e documentação, não seria possível, já que o registro garante a “existência” da pessoa, capacitando-a a praticar sua cidadania. (NETO, 2014, p. 19).

Neto (2014, p. 22) ainda lembra da importância do registro de nascimento, visto que o direito de o tê-lo foi alçado ao status de direito humano, reconhecido pelo Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos de 1966, que prevê, em seu artigo 24, § 2º, que, imediatamente após o nascimento, toda criança terá que ser registrada e receber um nome.

El Debs (2016, p. 118), acerca do registro civil das pessoas naturais, esclarece que este se relaciona aos principais fatos da vivencia da pessoa humana e, por refletirem a vida das pessoas, tais registros são dinâmicos e devem acompanhar as modificações de estado civil por meio das averbações, anotações e transcrições.

Diante da exposição, é verossímil afirmar que o registro civil é imprescindível à cidadania, porque declara a existência da pessoa natural e permite a ela o acesso aos direitos civis, políticos, econômicos, socias e culturais, nas mais variadas vertentes.

Nesse contexto, a finalidade do registro civil é proporcionar notoriedade e segurança jurídica sobre atos da vida da pessoa natural, alcançando a todos, “erga omnes”. Para tanto, se faz mister a compreensão dos princípios norteadores do

registro civil do pessoal natural, elencados no art. 1º da Lei n. 6.015/73/. (BRASIL, 1973).

3.1.1 Da publicidade

Como se estabelece no art. 1º da Lei n. 6.015/73, os serviços prestados pelos cartórios consoantes aos Registros Públicos serão dotados de “autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos”. (BRASIL, 1973).

O princípio da publicidade, igualmente conhecido como finalístico, prevê que os atos registrados serão públicos e exequíveis de tal forma que seja fácil o acesso às informações pretendidas. (NETO, 2014, p. 60).

Existem situações como a adoção, por exemplo, em que, por disposição legal, tal princípio sofre limitação, (PORTALUPPI, 2011, p. 02), já que importam tão somente à intimidade e vida privada da pessoa. Adiciona-se a essa limitação os casos de redesignação de sexo, entre outros.

El Debs (2016, p. 67) leciona que a publicidade dos atos tem a finalidade de “outorgar segurança às relações jurídicas”, viabilizando o acesso ao conteúdo do “acervo das serventias notariais e registrais”, assegurando sua oponibilidade por qualquer interessado.

Acerca disso, estabelece o art. 17 da LRP que “qualquer pessoa pode requerer certidão do registro sem informar ao oficial ou ao funcionário o motivo ou interesse do pedido.” (BRASIL, 1973).

Nesse tocante à publicidade, Loureiro (2014) elucida que:

[...] o papel principal de publicidade é assumido pela inscrição ou registro em sentido amplo, aí incluída a averbação. Esta é a chamada publicidade registral, que é uma publicidade jurídica que se dá por meio de órgãos estatais especializados e regulados por lei, destinados a dar cognoscibilidade a todos os membros da comunidade acerca de atos, fatos e negócios jurídicos, cujos efeitos legais repercutem na esfera jurídica de terceiros. Tratando-se de fatos e atos jurídicos, e mesmos direitos relativos à pessoa natural e a seu estado civil e familiar, como o nascimento, o óbito, o casamento e sua extinção, entre outros, o órgão competente para a publicidade registral é o Registro Civil das Pessoas Naturais.

Assevera-se que a publicidade é dada por intermédio das certidões que permitirão o conhecimento do conteúdo dos registros, uma vez que é vedada a publicidade por meio da exibição dos livros de registros, pois a exibição destes

colocaria em risco a sua própria conservação, restando comprometida a segurança jurídica pretendida pela publicidade. (EL DEBS, 2016, p. 70).

A publicidade também constitui requisito essencial aos direitos reais, visto que, para alcançá-los, a lei exige que seja dado ao máximo a “devida divulgação da nova situação jurídica, uma vez que ela é pressuposto para viabilizar o necessário efeito ‘erga omnes’.” (AUGUSTO, 2013, p. 160).

Sendo assim, o princípio da publicidade garante a eficácia dos atos notariais e registrais que vinculam o caráter público desses atos administrativos. Visa, sobretudo, a proteção dos interesses individuais e da coletividade, tornando público e oponível por todos os interessados.

3.1.2 Da autenticidade

Os oficiais e registradores, por meio da fé pública que lhes é conferida, atestam que os atos realizados por eles ou na sua presença, terão a presunção de veracidade e autenticidade.

Em verdade, a autenticidade “é qualidade, condição ou caráter de autêntico. Na atividade notarial e registral, decorre da fé pública do notário e do registrador.” (EL DEBS, 2018, p. 20).

Lisboa (2014, p. 55) preleciona que “o princípio da autenticidade corresponde à declaração de veracidade dos documentos e certidões fornecidos pelo oficial registrador. A presunção de veracidade é “juris tantum” (presunção relativa).”

Com efeito, a autenticidade, visa, portanto, demonstrar um prognóstico relativo da verdade daquele “conteúdo do ato notarial ou registral, ou seja, diz respeito ao próprio registro, e não ao negócio causal.” (EL DEBS, 2018, p. 20).

Pessoa (2009), ao falar sobre a autenticidade ensina que “o princípio da autenticação significa a confirmação, pela autoridade da qual o notário é investido, da existência e das circunstâncias que caracterizam o fato, enquanto acontecimento juridicamente relevante.”

Ceneviva (2014, p. 44), ao comentar sobre o princípio da autenticidade, esclarece que:

autenticidade é a qualidade do que é confirmado por ato de autoridade, de coisa, documento ou declaração verdadeiros. A escritura tabelioa e o registro criam presunção relativa de verdade, mas não dão autenticidade substancial ao negócio causal ou ao fato jurídico de que se originam. Servem de exemplo: escrituras lavradas mediante documentos falsos de identificação, apresentados pelos signatários, aparentemente expedidos por autoridade pública competente; ou registros civis de nascimento, feitos a contar de declaração de quem se apresenta como pai biológico da criança sem o ser.

O autor ensina que o instrumento e o próprio registro têm autenticidade devido à presunção conferida ao serventuário. Acrescenta também que “os substantivos autenticidade e autenticação e, ainda, o verbo autenticar são usados neste art. 1º, nos incisos II e IV do art. 6º, no inciso V do art. 7º e no art. 52, no mesmo sentido confirmatório da autoridade que pratica o ato.” (CENEVIVA, 2014, p. 44).

Desta feita, sabe-se, portanto, que o notário é um profissional do Direito, titular de uma função pública delegada, nomeado pelo Estado, para conferir autenticidade aos atos e negócios jurídicos contidos nos documentos que redige e intervém, assim como para aconselhar e assessorar os requisitantes de seus serviços. (BRASIL, 2006).

3.1.3 Da segurança

A segurança jurídica é o que dá estabilidade às relações sociais. Tem força inibidora que ampara as relações entre as pessoas e entre as pessoas e o Estado. (PESSOA, 2009).

Para maior proteção e controle dos instrumentos notariais e registrais, vem-se galgando caminhos que buscam sempre o aperfeiçoamento, na incansável busca de garantir “malha firme e completa de informações, que terminará, em dia ainda imprevisível, a ter caráter nacional.” (CENEVIVA, 2014, p. 44).

Nessa diretriz, Ceneviva aduz que “a primeira segurança é da certeza quanto ao ato e sua eficácia. Quando o ato não corresponder à garantia, surge o segundo elemento de segurança: a de que o patrimônio prejudicado será devidamente recomposto.” (2014, p. 45).

Por tais razões, afirma-se que a segurança jurídica é, sobretudo, o foco do sistema registral e a valia do trabalho do registrador. (CAMARGO NETO; OLIVEIRA, 2014).

Percebe-se, portanto, que a segurança nos atos registrais confere estabilidade às relações jurídicas, dando a certeza que aquele ato é seguro, repelindo possíveis riscos no tráfego das relações praticadas na sociedade.

3.1.4 Da eficácia dos atos jurídicos

A eficácia dos atos jurídicos, prevista no art. 1º da Lei n. 6.015/73, “significa a aptidão de produzir efeitos jurídicos, calcada na segurança dos assentos, na autenticidade dos negócios e declarações para eles transpostos.” (CENEVIVA, 2014, p. 45).

Ela produz, sob a escrituração ou registro, garantia de satisfazer o interesse jurídico da parte e, também o proteger contra terceiros que intentarem contra seu interesse.

Em síntese, Rodrigues (2016, p. 10 apud EL DEBS, 2018, p. 20) denota que as características da publicidade, autenticidade, segurança e eficácia, “apontam o norte, distinguem os fins e põem em relevo os objetivos de toda legislação concernente aos Registros Públicos.”

Em outras palavras, a partir do momento que um ato é praticado perante a serventia extrajudicial, dá-se a publicidade, como já aclarado, e também a produção de efeitos em relação às partes que o elaboraram e perante terceiros.

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