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2 PROCESSO EDUCACIONAL DA FENOMENOLOGIA DO TRABALHO DE

2.1 O ESTADO-MAIOR

2.1.2 Características do Trabalho de Estado-Maior

O Exército Brasileiro é uma instituição hierárquica que possui em todos os escalões de comando estruturas de EM similares, porém, em todos, segundo Brasil2 (2003), as áreas de atividades que envolvem os trabalhos abrangem cinco grandes campos: pessoal, inteligência, operações, logística e assuntos civis. Baseadas nesses cinco grandes campos estão elencadas as funções comuns a todos os oficiais de EM: produzir conhecimentos de inteligência, realizar estudos de

situação, apresentar propostas, elaborar planos e ordens, e supervisionar a execução desses planos e ordens. O Quadro 04 detalha essas funções.

Quadro 04- Campos de Estudo de Estado-Maior.

Campo Definição

Produzir

conhecimentos de inteligência

A tarefa principal é produzir conhecimento para o Comandante, processando os dados que chegam continuamente ao comando.

Realizar estudo de situação

Estudos elaborados sobre o contexto das operações com o objetivo de assessorar o comandante na apreciação de todos os fatores que influenciam as opções de tomada de decisão do Comandante.

Apresentar propostas

Os oficiais de EM apresentam propostas ao Comandante assessorando-o na tomada de decisão. Também apresentam sugestões a outros oficiais de EM e aos Comandantes subordinados.

Elaborar planos e ordens

As diretrizes e ordens do Comandante são transformadas em planos e ordens.

Supervisionar a execução dos planos e ordens

O EM acompanha a execução dos Planos e Ordens estabelecidos pelo Comandante, o que proporciona o conhecimento detalhado de inteligência para a confecção de relatórios.

Fonte: baseado em Brasil2 (2003).

O trabalho de EM envolve intensas atividades, algumas individuais e outras tantas em trabalho colaborativo, sendo que estas últimas de forma dialógica, tendo como delimitador as especialidades que constam do Quadro 03. As atividades não são somente teóricas, mas também práticas, pois após o Comandante chegar à decisão são elaborado documentos como ordens, decisões, diários, cadernos de trabalho e cartas de situação, que servem de guia para que a tropa execute tarefas para o cumprimento das missões. Estas atividades envolvem muitas interações sociais entre os integrantes da equipe de EM.

A prática do trabalho de EM significa preparação e planejamento para uma operação de combate militar. O sucesso é conseguido quando o objetivo é conquistado com o menor número possível de feridos e mortos. Em tempos de paz, são realizados exercícios que simulam operações reais que na prática podem acontecer com tropas simbolizando forças amigas e inimigas e com tiros de festim. Outra maneira simulada de verificar a eficiência e eficácia do trabalho de EM é inserir os dados, as variáveis, as informações e os conhecimentos produzidos em

simuladores construtivos, que devolvem um resultado que será objeto de análise. Apesar de poder estar longe da realidade, as informações obtidas dos simuladores são analisadas e são uma valiosa fonte para o processo de aprendizagem. Podemos considerar este contexto como uma práxis da arte da guerra da Força

Terrestre, quando o homem aprendendo e entendendo o ambiente natural e agindo

sobre ele também é influenciado pelo ambiente.

[...] Práxis, em grego antigo, significa a ação, de levar algo a cabo, mas uma ação que tem seu fim em sim mesma, e que não cria ou produz um objeto alheio ao agente ou na sua atividade [...] (SANCHES, 2011, p. 30).

[...] O homem comum e corrente é um ser social e histórico; isto é, encontra- se imerso em uma rede de relações sociais e enraizado em um determinado terreno histórico [...] (SANCHES, 2011, p. 33).

As operações militares reais assim como as simulações utilizam fundamentos socioconstrutivistas e sociointeracionistas. Podem ser reconhecidas como o homem trabalhando em equipe e agindo sobre o ambiente de forma a atender as suas necessidades. São realizados estudos, planejamentos e documentos são produzidos e colocados em prática nas manobras militares ou em simuladores. Quer em operações reais ou em treinamentos, as manobras produzem um resultado que, após análise e reflexão, permite a ratificação de que o planejamento e o entendimento da situação foram corretos ou que são necessárias retificações para a correção de rumos.

A coordenação e mediação dos trabalhos de EM nos níveis Grandes Comandos Operativos e Grandes Unidades é atribuída ao Chefe de Estado-Maior (Ch EM), e no escalão Unidade é atribuída ao Subcomandante (S Cmt). Este modo de atuação também é aplicado em cada uma das Seções do EM como, por exemplo, no campo das operações, o Chefe da 3a Seção é o especialista responsável perante o Ch EM e o Cmt sobre dados, informações e conhecimentos sobre operações em curso, e coordena os trabalhos de seus auxiliares. Foram criados métodos específicos de coordenação para os trabalhos colaborativos de EM, que segundo Brasil2 (2003), incluem:

- reuniões formais e informais de vários integrantes;

- rápida disseminação dos dados e conhecimentos de inteligência essenciais, decisões e ordens, dentro e entre as seções;

- circulação formal dos documentos de EM para as seções interessadas para apreciação e apresentação de sugestões; e

- estreita ligação e troca de informações (incluídos aí os conhecimentos de inteligência) entre a seção de EM e as correspondentes dos escalões superior, subordinados, vizinhos e em apoio.

Apesar da estrutura organizacional hierarquizada, as interações entre os oficiais EM de comandos superiores, vizinhos e subordinados é regulamentar e incentivada, para troca de informações, prestar orientação ou expedir ordens ou instruções que interessam tanto às operações quanto a um elemento do EM. Estas interações destinam-se apenas a coordenação e cooperação, não têm força de ordem e devem ser comunicadas aos superiores. Se um pedido for considerado impertinente ou que contrarie as prerrogativas de comando, deverá ser informado ao Ch EM ou SCmt, que poderá solicitar que a requisição seja feita através dos canais de comando.

Cada novo dado recebido é analisado pelos Oficiais de EM e, se for importante para a missão, passa por estudo minucioso para determinar o tipo de ação a ser tomada. Relatórios e sumários são importantes meios para a difusão da informação aos escalões superiores, subordinados e vizinhos. Esses dois documentos podem ser classificados em periódicos, especiais ou a pedidos, que, de acordo com Brasil2 (2003), têm características específicas.

Planos e ordens são documentos distribuídos aos escalões subordinados que expressam as determinações de um Comandante. Quando o tempo para confecção permite, a responsabilidade pela elaboração dos planos e ordens é atribuída a um oficial do EM. Este oficial recebe dos demais integrantes elementos relacionados com a área de interesse de cada componente do EM, já devidamente interpretada com a ideia do Comandante para cada uma das áreas de atividade. Após a conclusão do documento pelo oficial responsável, ele é submetido ao Ch EM para aprovação e assinatura pelo Cmt, quando então cópias são autenticadas para distribuição.

Documentos internos do EM devem estar organizados para facilitar as operações e a ambientação de novos membros. Os documentos típicos de EM em operações são: arquivo de ordens e decisões, registros, diários, cadernos de trabalho e cartas de situação. A descrição de cada um deles consta do Quadro 05.

Quadro 05- Documentos internos do Estado-Maior. Tipo de documento Características Arquivo de ordens e decisões

O arquivo de ordens e decisões consiste num sumário das normas em vigor do Cmt, do escalão superior e dos princípios básicos de manutenção deste arquivo pela seção de EM. Reúne uma variedade de assuntos relativos à área de interesse da seção de EM e baseia-se nas ordens existentes, experiências e decisões anteriores do Cmt.

Registros

Os registros das seções do EM são essenciais para proporcionar informações ao Cmt e ao EM, para os escalões superior e subordinados e para o elemento responsável pelo registro histórico.

Diários

São o registro cronológico dos acontecimentos relacionados com a seção de EM. Os detalhes registrados variam com a disponibilidade de pessoal na seção e com a natureza e o tipo de operação. O registro deve limitar-se aos detalhes necessários para fixar a época e os fatos essenciais dos acontecimentos importantes. Estes acontecimentos são registrados à medida que ocorram, mencionando-se, para cada um, a hora de recepção ou transmissão das mensagens importantes; as visitas do Cmt e dos oficiais do EM superiores; a finalidade, os assuntos e as conclusões das reuniões e entrevistas; o afastamento do Cmt e do chefe de seção do Posto de Comando (PC).

Cadernos de trabalho

São referências de pronta utilização na conduta das operações em curso e na preparação de relatórios. Um caderno de trabalho de seção de EM é uma coletânea de informações extraídas de ordens escritas ou verbais, mensagens, registros de diário, reuniões e entrevistas. Pode incluir também anotações, conclusões, opiniões, ideias e inspeções dos oficiais do EM.

Carta de situação

É a representação gráfica da situação em curso. Cada seção do EM mantém sua carta de situação atualizada, onde são anotados os dispositivos e as atividades de seu interesse. As instalações do centro de operações táticas e as salas de operações também dispõem de cartas de situação. Os dados e conhecimentos de inteligência recebidos são imediatamente colocados na carta de situação e registrados no diário da seção.

Fonte: baseado em Brasil2 (2003).

A fenomenologia do trabalho de EM é uma práxis corrente que está plenamente implementada no Exército Brasileiro e é o principal objeto de estudo dos capitães alunos na EsAO. O objetivo deste estudo, com o desenvolvimento da solução pedagógica OT-RPG, é a ampliação do espaço/tempo na Escola, no processo educacional da fenomenologia do trabalho de EM, para além da sala de

aula presencial, com a perspectiva de que ajude a otimizar a construção do conhecimento neste tema.

A estrutura das equipes de EM é similar em todos os níveis hierárquicos podendo variar para mais ou menos componentes em função do nível em que opere. A seguir, será descrita a estrutura do EM no nível Unidade, objeto de estudo na Escola e onde efetivamente o capitão aluno egresso irá desempenhas as funções de EM.

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