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Características dos programas desportivos com o objetivo do DP dos

Capítulo I. O papel do treinador no desenvolvimento positivo dos jovens

2. O Desenvolvimento positivo de jovens através do desporto:

2.2 Características dos programas desportivos com o objetivo do DP dos

que a agressividade presente em dadas modalidades desportivas de elevado grau de contato (e.g., rugby, futebol) era um fator que podia potenciar a prevalência do incumprimento deliberado de regras, "jogo sujo" e desrespeito pelos adversários.

Deste modo, constata-se que a intervenção dos agentes educativos, assim como o clima construído ditam se o DP dos jovens através do desporto é tangível (Gould et al., 2012). Isto é, para além de compreender se o DP dos jovens é possível torna-se relevante analisar em que condições pode ocorrer.

2.2 Características dos programas desportivos com o objetivo do DP dos jovens

O desporto deve ser perspetivado nos seus diversos níveis: recreação, desenvolvimento e competição (Gilbert & Trudel, 2006), pois nem todos os ambientes desportivos apresentam as mesmas características, sendo necessário compreender o papel destes contextos no DP dos jovens em função dos seus objetivos e do enquadramento específico (Gould et al., 2006). Ou seja, quando falamos em desporto estamos na verdade a referirmo-nos a várias conceções de desporto com uma determinada estrutura, objetivos e participantes (Pot & Hilvoorde, 2013).

Os clubes desportivos distanciam-se dos programas de intervenção desenhados por Donald Hellison (Blanco et al., 2013; DeBusk & Hellison, 1989) também pelo facto de envolverem um número considerável de jovens (Hansen & Larson, 2007). A título de exemplo, no Canadá estima-se que mais de 2 milhões de jovens entre os 5 e os 14 anos de idade estejam inseridos e competem neste contexto desportivo (Statistics Canada, 2014).

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Por sua vez, em Portugal mais de 300 mil jovens praticam desporto federado em clubes desportivos (Instituto Português de Desporto). Estes programas desportivos implicam a articulação entre a procura de vitórias e o DP dos jovens, isto é, os clubes desportivos e os treinadores devem encarar o desenvolvimento desportivo e o DP como objetivos indissociáveis, o que nem sempre se verifica (Säfvenbom, Geldhof, & Haugen, 2014). Camiré (2015, p. 31) realça que "a natureza da competição (...) permite que estas experiências sejam vivenciadas com a intensidade suficiente para promover a mudança de comportamentos. Se o desporto for encarado com pouca competitividade, os jovens não são expostos tanto a valores como o compromisso, ética no trabalho, disciplina e perseverança que são vitais para o desempenho e sucesso em contextos de competição.". Este potencial existente na competição deve ser aproveitado para facilitar o DP dos jovens, conjugando desenvolvimento e competição (Rosado & Mesquita, 2011; Willis, 2000).

O interesse em analisar em que condições o DP ocorre, considerando as particularidades dos contextos desportivos, esteve na origem do modelo teórico proposto por Petitpas et al. (2005). Este autor sugere que sejam considerados três fatores, aquando da planificação de programas desportivos com o objetivo do DP, nomeadamente: i) contexto; ii) recursos internos; iii) recursos externos. Segundo este modelo, diversos fatores devem estar presentes num dado contexto para que o DP dos jovens possa ser promovido, especificamente devem ser dadas oportunidades para que integrem atividades intrinsecamente motivantes (Escartí et al., 2012; Ward & Parker, 2013), em que se sintam valorizados, isto é, deve-se dar voz aos jovens ao mesmo tempo que se desenvolve o sentimento de pertença, satisfazendo as suas necessidades de serem considerados pelos pares. Deste modo, garante-se que os jovens despendem tempo e esforço ao envolverem-se em atividades com significado. Por outro lado, o suporte dado pela comunidade e pelos agentes educativos que rodeiam o jovem (recursos externos) são fatores fundamentais para facilitar o DP através do desporto (Gould et al., 2007; Strachan et al., 2011).

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A qualidade e a quantidade das interações entre agentes educativos, como pais (Knight & Holt, 2012), mentores (Weiler et al., 2015), treinadores (Hansen & Larson, 2007), e os jovens desempenham também um papel crítico neste domínio. Por fim, o modo como o jovem assimila e aplica as competências que lhe são ensinadas no programa são os recursos internos necessários à mudança de comportamentos fora do contexto da intervenção (Danish & Nellen, 1997). Este processo requer tempo e decorre de modo gradual, tendo como objetivo ensinar os jovens a tomar decisões, definir objetivos, trabalhar em equipa, assumir papéis de liderança, entre outras competências para a vida (Petitpas et al., 2005).

Torna-se pertinente mencionar que as competências para a vida podem ser definidas como atributos que são desenvolvidos no contexto desportivo mas que têm transferência para outros ambientes. Somente reunindo estas características se pode considerar uma competência para a vida. A título de exemplo, a calma que é necessária para resolver um conflito com um atleta de outra equipa é igualmente importante para solucionar problemas na escola ou em casa (Danish et al., 2004).

Diversos investigadores no âmbito do DP através do desporto têm utilizado este enquadramento. Goudas, Dermitzaki, Leondari e Danish (2006) no âmbito da Educação Física implementaram o programa de intervenção

GOAL, Going for Goal, a 73 jovens adolescentes, verificando-se melhorias na

definição de objetivos. Brunelle, Danish e Forneris (2007) delinearam um programa em parceria com uma academia de golfe que visava ensinar a 100 jovens adolescentes competências para a vida, constando-se que influenciou positivamente a empatia e responsabilidade social dos participantes. Weiss et al. (2013) utilizando a mesma modalidade desportiva, sustentando-se no modelo teórico de Petitpas (2005), desenvolveram o programa First Tee que tinha como população-alvo 95 jovens com idades compreendidas entre os 11 e os 17 anos. Conclui-se que o estilo de instrução dos treinadores, os atributos ensinados e o ambiente construído pelas suas características constituíram práticas promissoras que promoveram a transferência de competências para a vida.

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As competências que devem ser ensinadas aos jovens em programas desportivos estruturados, como é o caso dos descritos anteriormente, ou no âmbito do desporto federado, tendo como objetivo o DP e o ensino de competências para a vida têm levado diversos investigadores a procurar explicar o que se espera que os indivíduos adquiram através da prática desportiva (Bowers et al., 2010; Jelicic et al., 2007; Lerner et al., 2014).

Diversas competências denominadas os 5 C´s têm sido associadas a comportamentos que se espera que os jovens envolvidos em programas desportivos desenvolvam, a saber: competência, confiança, conexões, cuidar e carácter (Bowers et al., 2010; Erentaitė & Raižienė, 2015; Lerner et al., 2005; Vierimaa et al., 2012). Pretende-se que, através do desporto, os jovens: i) tenham oportunidades para ter sucesso e tornarem-se progressivamente mais competentes; ii) consigam desenvolver relações significativas com a família, pares e comunidade (conexões); iii) sejam capazes de cuidar dos outros; iv) se sintam capazes de dedicar o seu esforço a uma dada atividade e confiantes para desafiar os seus limites (Roth & Brooks-Gunn, 2003).

Neste contexto, Hansen, Larson e Dworkin (2003) analisaram as perceções de 450 estudantes do ensino secundário da cidade de Illinois nos Estados Unidos, através do instrumento Youth Experiences Survey, quanto às competências que poderiam adquirir no desporto e em outros contextos como é o caso do ensino vocacional e de outras atividades na comunidade. Os resultados deste estudo indicam que o desporto foi perspetivado como o contexto ideal para o desenvolvimento emocional. Conway, Heary e Hogan (2015) num estudo conduzido com 672 adolescentes Irlandeses utilizando a escala dos 5 C´s do DP dos jovens constataram que uma maior ponderação na referida escola encontrava-se associada negativamente a comportamentos de risco. Considerando as conclusões destes estudos, se estas competências correspondem ao que é esperado que os jovens aprendam através da prática desportiva (Jones & Lavallee, 2009), torna-se necessário aferir o que é efetivamente ensinado pelos treinadores (Belando et al., 2012). Esta relação entre o potencial e a utilidade do desporto está na origem do interesse em analisar se o DP é uma realidade ou apenas uma hipótese.

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3. O papel do treinador no DP dos jovens através do desporto: Que