• Nenhum resultado encontrado

Capítulo I. O papel do treinador no desenvolvimento positivo dos jovens

2. Método

Participantes

Os participantes neste estudo foram dez treinadores de futebol de alto rendimento que treinavam atletas com idades compreendidas entre os 16 e 39 anos (ver Tabela 1). Todos os treinadores possuíam o grau máximo de certificação concedido pela Federação Portuguesa de Futebol, UEFA PRO (UEFA, 2015) e tinham experiência prévia no desporto de competição para jovens.

Tabela 1. Perfil demográfico dos treinadores.

EFD - Educação Física e Desporto

*número de vezes por semana e duração em minutos

Idade Anos de Experiência Habilitações Académicas Tempo de Contato com

os Jogadores

55 15 Ensino Secundário 6x/por semana/150 min* 52 21 Ensino Secundário 6x/ por semana /210 min

39 13 Mestrado em EF 6x/ por semana /90 min

53 25 Ensino Secundário 6x/ por semana /150 min

50 30 Doutoramento em

Ciências do Desporto 6x/ por semana /90 min

47 9 Ensino Básico 7x/ por semana /210 min

44 11 Ensino Secundário 7x/ por semana /210 min

54 21 Mestrado em EF 7x/ por semana /210 min

54 24 Licenciatura em EFD 7x/ por semana /150 min

49 Procedimento

Antes da recolha dos dados, o comitê de ética da faculdade autorizou a realização deste estudo. Utilizou-se uma técnica de amostragem intencional para recrutar os treinadores, (Silverman, 2000) em função dos seguintes critérios inclusão: 1) tinham o grau máximo de certificação e/ou grau académico na área das ciências do desporto; 2) encontravam-se a treinar equipas profissionais da primeira e segunda ligas profissionais de futebol. Inicialmente foram contatados por telefone 13 treinadores que foram informados acerca dos objetivos deste estudo e convidados a participar (i.e., as condições necessárias ao consentimento informado) (Denzin & Lincoln, 2011). Contudo, dois treinadores não estavam dispostos a colaborar, pois as suas equipas iniciavam uma fase decisiva de jogos competitivos nessa altura, o que impossibilitou a participação no estudo. Um treinador não respondeu aos contatos, não se encontrando disponível para uma eventual participação no estudo. Antes de agendar as entrevistas, os participantes assinaram um formulário de consentimento, explicando os direitos ao anonimato e à confidencialidade, contexto de publicação, entre outras informações consideradas importantes. Em média, as entrevistas tiveram a duração de 49 minutos, variando entre os 45 e os 70 minutos. Não foi necessário contatar mais treinadores, pois o ponto de saturação teórica atingiu-se à décima entrevista, sendo que nesta fase já não era possível obter informação adicional e as questões de investigação levantadas tinham sido respondidas (Denzin & Lincoln, 2011; Guest, Bunce, & Johnson, 2006).

Guião de Entrevista

O guião de entrevista baseou-se em estudos anteriores (Camiré et al., 2014; Strachan et al., 2011), especificamente no trabalho desenvolvido por Vella, Oades e Crowe (2011). Antes de obter a versão final do guião de entrevista realizou-se uma entrevista piloto que não originou quaisquer alterações ao guião inicial, pela sua pertinência e adequação a este contexto.

50

A primeira parte do guião de entrevista foi organizada para recolher informação demográfica acerca dos treinadores: (a) idade, (b) anos de experiência como treinador, (c) grau dos cursos de treinadores, (d) habilitações académicas, (e) tempo de contato com os jogadores, (f) idade dos jogadores, e (g) experiência enquanto atleta. As restantes questões do guião (ver apêndice) procuraram analisar as componentes da filosofia de treino dos treinadores (e.g., Como define a sua filosofia de treino?), resultados de aprendizagem visados (e.g., Quais os resultados de aprendizagem que espera alcançar através da sua intervenção?), as estratégias utilizadas para atingir esses resultados de aprendizagem (e.g., Quais as estratégias que utiliza para promover o DP dos seus atletas?), as diferenças na filosofia de treino no desporto para jovens e alto rendimento (e.g., Como é que a sua filosofia de treino mudou na transição do desporto para jovens para o alto rendimento?), impacto da formação de treinadores na promoção do DP (e.g., Como aprendeu a facilitar o DP?) e a influência da experiência enquanto atleta na perspetiva que tem sobre o DP (e.g., Qual a influência da sua experiência enquanto atleta?).

Análise dos dados

As entrevistas foram transcritas verbatim e inseridas no software NVivo10 que foi utilizado para analisar os dados, permitindo uma constante análise do material e uma melhor compreensão das 148 páginas de texto geradas (Silverman, 2000). Realizou-se uma análise temática dos dados (Silverman, 2000) com o objetivo de organizar as respostas dos participantes em unidades de registo (e.g., as respostas foram segmentadas em parágrafos que foram codificados, 'Sim, falamos nisso. Havia sempre professores que falavam sobre esses temas nos cursos'), categorias (formação de treinadores, filosofia de treino) e finalmente em subcategorias (e.g., falta de conteúdos associados ao DP, ganhar como a principal prioridade). Foi atribuído a cada resposta de uma dado participante um código numérico (e.g., T7). As decisões tomadas neste processo tiveram como objetivo encontrar padrões e temas nos dados.

51

As unidades de registo foram codificadas e as categorias e subcategorias organizadas de modo hierárquico (e.g., filosofia de treino, centrada na forma de jogar, ganhar como a principal prioridade) (Denzin & Lincoln, 2011). As subcategorias foram relacionadas de modo a criar uma categoria. Este processo foi revisto constantemente por todos os autores com o objetivo de assegurar que a análise dos dados era conduzida de modo a responder às questões da presente investigação. Assim, recorreu-se a uma análise dedutiva para criar os cinco temas (e.g., filosofia de treino, resultados de aprendizagem). Por outro lado, as categorias e subcategorias foram criadas indutivamente (e.g., conteúdos associados à Psicologia, constrangimentos no DP). Esta abordagem permitiu considerar temas e categorias estruturadas através dos dados e ao mesmo tempo utilizar conceitos de estudos anteriores (Silverman, 2000).

Com o objetivo de aumentar a qualidade da investigação, desenvolveram-se diversos procedimentos, tais como: verificação das entrevistas pelos participantes; discussão com grupo de especialistas em investigação qualitativa; reportar casos divergentes (Denzin & Lincoln, 2011). As transcrições foram enviadas por email e verificadas pelos entrevistados, o que não originou quaisquer alterações nos documentos. Neste sentido, procurou-se também reportar perspetivas dos treinadores que divergiam da tendência geral dos dados (e.g., a formação de treinadores proporcionava o suporte necessário ao DP). Os autores considerados especialistas em investigação qualitativa monitorizaram todo o processo de análise dos dados.

52 Tabela 2. Temas, categorias e subcategorias.