• Nenhum resultado encontrado

O papel do treinador no DP dos jovens através do desporto: Que

Capítulo I. O papel do treinador no desenvolvimento positivo dos jovens

3. O papel do treinador no DP dos jovens através do desporto: Que

Os treinadores são os elementos mais importantes, com exceção dos pais, para jovens adolescentes, representando recursos externos que influenciam o seu desenvolvimento, ensinando valores e competências para a vida (Gould & Carson, 2008). Este agente deve adotar um estilo de instrução que integre o DP e o ensino de competências para a vida (Holt, 2016; Petitpas et al., 2005). Devido à importância do treinador no DP dos jovens, múltiplos estudos têm analisado o seu papel neste domínio em função do contexto em que está inserido (e.g., jovens em risco de exclusão social, competição) (Strachan et al., 2011; Vella, Oades, & Crowe, 2013b).

Através de uma revisão da literatura existente, podemos verificar que o papel de treinadores envolvidos no desporto escolar tem sido alvo de diversas investigações (Camiré, 2014). Camiré, Trudel e Bernard (2013) num estudo de caso conduzido no âmbito de um programa de desporto escolar concluíram que os treinadores de hóquei no gelo procuraram ensinar valores e competência para a vida aos jovens, estabelecendo relações significativas. O modelo proposto por Petitpas (2005) foi utilizado para interpretar o papel do programa no processo de desenvolvimento dos atletas. Gould e Carson (2011) recorreram ao Youth Experiences Scale-2 para analisar as perceções de 297 atletas envolvidos no desporto escolar e constaram que os comportamentos negativos dos treinadores prediziam as experiências negativas percebidas pelos jovens. Neste âmbito, Collins, Gould, Lauer e Chung (2009) levaram a cabo entrevistas semi-estruturadas a 10 treinadores de futebol americano que valorizaram o desenvolvimento pessoal e social dos seus atletas, mas ao mesmo tempo encontravam-se extremamente motivados para vencer e alcançar o sucesso desportivo.

34

Reforçando esta ideia, Gould, Chung, Smith e White (2006) aplicaram um questionário baseado nos constructos do DP a 154 treinadores de diversas modalidades, com o objetivo de compreender quais os aspetos que constituam prioridades para estes agentes, sendo que o desenvolvimento pessoal e social assumiu-se como um elemento preponderante. Torna-se evidente que o desporto escolar reúne as condições necessárias para promover o DP dos jovens (Camiré, 2014; Forneris, Camiré, & Trudel, 2012; Camiré, Trudel, & Lemyre, 2013).

Diversos estudos têm retratado outras realidades como por exemplo a dos clubes desportivos que implicam distintos objetivos (e.g., recreação, competição) (Watson, Connole, & Kadushin, 2011). Estes ambientes não apresentando ligação com projetos escolares em que existe uma tendência, de acordo com o exposto anteriormente, para valorizar o DP dos jovens através do desporto. Nos clubes desportivos, os treinadores debatem-se com o dilema de conjugar o desenvolvimento pessoal e social dos jovens com a necessidade de obter vitórias e atingir records (Camiré, 2015). Esta tarefa é extremamente complexa e tem levado diversos investigadores a procurar responder à seguinte questão: Será que o DP dos jovens é encarado pelos treinadores como um objetivo relevante nestes contextos?

Num estudo realizado por Vella, Oades e Crowe (2011), 22 treinadores foram sujeitos a entrevistas semi-estruturadas, tendo-se verificado que procuravam promover diversos conceitos associados à literatura sobre o DP dos jovens: competência, confiança, conexões, carácter, competências para a vida e afeto positivo. A generalidade destes treinadores tinham formação, estando certificados para exercer a função, e foram classificados como estando inseridos em contextos de participação situados na Austrália em que era valorizado o prazer, a diversão e a adoção de um estilo de vida saudável. Por outro lado, Flett, Gould, Griffes e Lauer (2013) verificaram que treinadores de jovens em risco de exclusão social considerados menos eficazes utilizavam estratégias negativas de ensino como diversas formas de punição, não proporcionando as condições necessárias ao DP.

35

Num outro estudo, Flett, Gould, Griffes e Lauer (2012) utilizaram uma abordagem qualitativa, recorrendo a entrevistas semi-estruturadas e observações etnográficas, para analisar o trabalho desenvolvido por 12 treinadores de jovens com o objetivo do DP. Estes treinadores intervinham em comunidades carenciadas situadas em Detroit nos Estados Unidos, tendo formação e experiência limitadas. Constatou-se que os treinadores relataram múltiplos conflitos com os pais, identificaram poucas estratégias utilizadas com o objetivo do DP e apresentavam uma filosofia de treino pouco clara quanto à inclusão desta abordagem. Os resultados de um estudo realizado por McCallister, Blinde e Weiss (2000) corroboram o facto de, em certos casos, existir uma discrepância entre a importância dada ao DP e as estratégias desenvolvidas pelos treinadores com este intuito. Em certos casos, os treinadores sugerem que a participação no desporto por si só fomenta o DP os jovens, tendo dificuldade em articular as estratégias que utilizam neste sentido (Lacroix et al., 2008).

A argumentação de que a prática desportiva pode promover automaticamente o DP dos jovens e o ganho de competências para a vida tem sido contrariada por diversos investigadores como por exemplo Martinek (2009), Hellison (1996) e Petitpas (2005) que sugerem que é fundamental recorrer a uma abordagem explícita e sistemática. Apesar disso, diversos investigadores têm procurado responder à seguinte questão: Será que é possível promover o DP dos jovens através de uma abordagem implícita? Esta perspetiva quanto ao DP através do desporto e ensino de competências para a vida pode ser descrita como uma abordagem sustentada na ideia de que "(...) não é necessário ensinar diretamente os jovens a transferirem competências para a vida." (Turnnidge et al., 2014, p. 209). Os mesmos autores, referem que as características do clima vivenciado pelos jovens atletas e da competição originam experiências de desenvolvimento positivas (Chinkov & Holt, 2015; Gould et al., 2012). A intensidade com que os jovens encaram a competição dão maior significado ao conjunto de aprendizagem efetuadas neste contexto, possibilitando a modificação de comportamentos (Camiré, 2015).

36

Neste contexto, as vantagens desta abordagem residem no facto de implicar um menor dispêndio de tempo e de tornar facilmente exequível para programas desportivos comunitários, pois não é necessário criar momentos de ensino específicos para desenvolver competências para a vida. Contudo, ainda não é clara a mais-valia que esta abordagem pode ter em detrimento de uma abordagem implícita, sendo que esta perspetiva implica menor controlo sobre o que aprendido pelos jovens (Petitpas et al., 2005; Turnnidge et al., 2014).

Com base no exposto, verifica-se a existência de um conjunto significativo de estudos no âmbito do desporto escolar e de clubes desportivos que envolvem contextos distintos (i.e., recreação) (Camiré, 2014). Todavia, torna-se necessário explorar as especificidades de certos contextos desportivos com maior profundidade, como por exemplo comunidades desfavorecidas (Flett et al., 2013; Flett et al., 2012; Marques, Sousa, & Feliu, 2013; Whitley et al., 2011) e o desporto de competição (Strachan et al., 2011) (Gould & Carson, 2008).

4. A Formação como um indicador de DP dos jovens através do