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5. Estudo de caso

5.1 Características gerais dos projetos

Nos últimos anos, no Brasil, a indústria de óleo e gás efetuou investimentos em suas plantas, com a finalidade de adequar suas instalações industriais à produção de diesel e de gasolina com baixos teores de enxofre, visando atender aos padrões de qualidade dos combustíveis definidos pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP (SOARES, 2013).

Os projetos selecionados para compor o estudo de caso da presente tese encontram- se inseridos nesse contexto. O escopo de ambos projetos compreende a construção e

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montagem de unidades destinadas ao hidrotratamento de correntes do petróleo (processo que consiste na inserção de gás hidrogênio nas correntes derivadas da destilação do petróleo para remoção de átomos de enxofre e nitrogênio) como, por exemplo, unidades de hidrodessulforização de nafta craqueada, hidrotratamento de nafta de coque, hidrotratamento de diesel e geração de hidrogênio. O escopo de ambos projetos abrange também a construção de unidades auxiliares ao processo de hidrotratamento. Como exemplo de unidades auxiliares podem-se citar unidades de recuperação de enxofre, de tratamento de águas ácidas e unidades de dietanolamina. Tratam-se, portanto, de projetos de ampliação das carteiras de diesel e de gasolina de plantas industriais já existentes, motivados, dentre outros fatores, por aspectos relacionados à qualidade dos combustíveis produzidos e à conformidade legal.

Os dois projetos selecionados requereram investimentos da ordem de milhões de dólares, apresentaram longos períodos de construção e envolveram diversos atores, conforme apresentado na Tabela 13.

Tabela 13. Características dos projetos de empreendimentos industriais selecionados para o estudo de caso.

Projeto A Projeto B

Escopo

Construção e montagem industrial de quatro unidades

principais destinadas ao hidrotratamento de petróleo e

três unidades auxiliares

Construção e montagem industrial de seis unidades

principais destinadas ao hidrotratamento de petróleo e

quatro unidades auxiliares Características gerais

Unidade com menor capacidade diária de processamento: 3.000 m3/d

de corrente de petróleo

Unidade com menor capacidade diária de processamento: 4.000 m3/d

de corrente de petróleo Localização geográfica Região Sudeste Região Sudeste

Duração 7 anos 6 anos

Número de empreiteiras

envolvidas 5 empreiteiras 8 empreiteiras Estratégia de gestão de

resíduos

Gestão independente de

resíduos Gestão conjunta de resíduos

Geração de resíduos 45.460 t 53.820 t

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Em cada projeto, empreiteiras, sub-contratadas e o futuro operador do empreendimento encontravam-se co-localizados no mesmo canteiro de obras. As empreiteiras envolvidas tratavam-se de empresas especializadas na construção e montagem de empreendimentos em plantas químicas e petroquímicas, contratadas pelo futuro operador do empreendimento sob a modalidade de contratos do tipo Engineering- Procurement-Construction (EPC).

Atualmente, tem-se observado uma forte tendência para a utilização de contratos de serviços do tipo EPC, modalidade na qual um único prestador de serviços se encarrega do fornecimento de uma instalação, responsabilizando-se pelas atividades de projeto executivo, suprimento de materiais e equipamentos, bem como construção e montagem (ANP, 1999). Esse prestador de serviços caracteriza-se pela capacidade de gerenciar empreendimentos de grande porte, de alavancar grande volume de recursos financeiros e de liderar uma grande rede de subfornecedores e parceiros. Dessa forma, essa modalidade apresenta algumas vantagens para o futuro operador do empreendimento como, por exemplo: a centralização da responsabilidade pela condução e pelo desempenho das atividades de construção do empreendimento em um único prestador de serviços; a realização do gerenciamento das interfaces pelo prestador de serviços, diminuindo a equipe de acompanhamento do empreendimento por parte do futuro operador; e a maior possibilidade de realização de um planejamento integrado visando à otimização do cronograma do empreendimento (ANP, 1999).

Nota-se que, para essa modalidade de contratação, o futuro operador do empreendimento estabelece relacionamento com o prestador de serviços contratado sob a modalidade EPC, cabendo a esse realizar as devidas interfaces com seus subcontratados. No entanto, em um projeto de empreendimento industrial típico é comum haver mais de um contrato sob a modalidade EPC para a execução da construção e montagem do empreendimento, devido à sua complexidade. No setor de óleo e gás, para um projeto do refino, por exemplo, é comum haver um contrato para a construção e montagem das estruturas e equipamentos onsite, isto é, das unidades de produção (destilação, craqueamento catalítico, hidrotratamento, entre outros); outro contrato para a construção das estruturas offsite, isto é, para a interligação das unidades (tubovias); dentre outros. Dessa forma, em um canteiro de obras de um empreendimento para o refino, comumente, encontram-se alguns prestadores de serviços contratados pelo futuro operador do empreendimento sob a modalidade EPC e diversos subcontratados.

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Na presente análise, para ambos projetos, foram consideradas apenas os prestadores de serviços contratados para execução de serviços de construção e montagem das unidades mencionadas na Tabela 13, não sendo consideradas empresas contratadas exclusivamente para elaboração ou detalhamento de projeto, assistência técnica, fornecimento de equipamentos, tão pouco empresas contratadas para construção de unidades ou outras obras não contempladas na Tabela 13 que encontravam-se em execução nas plantas industriais consideradas, no mesmo período analisado.

Com relação à gestão de resíduos, no Projeto A, foi adotada uma estratégia de gestão independente de resíduos, isto é, estratégia na qual cada empreiteira é responsável por gerenciar os resíduos sólidos gerados em suas atividades, de forma independente da gestão de resíduos realizada pelas demais empreiteiras. No Projeto B, por sua vez, foi adotada estratégia conjunta de gestão de resíduos sólidos. Nessa estratégia, os resíduos gerados pelas atividades de todas as empreiteiras envolvidas no projeto são gerenciados de forma conjunta. Detalhes a respeito de cada estratégia de gestão de resíduos serão apresentados nos itens 5.2 e 5.3. Cabe mencionar que a análise apresentada, nos itens mencionados, considera apenas os resíduos gerados nas atividades de construção e montagem de ambos projetos (resíduos perigosos, entulho, madeira, sucata metálica, resíduos de papel, resíduos de plástico, resíduos de vidro, discos abrasivos usados, sobras de isolantes térmicos, resíduos orgânicos, embalagens não contaminadas, resíduos de borracha). Solo movimentado e efluentes gerados nas obras não foram contemplados na análise.

Por fim, com relação à localização geográfica, os dois projetos foram implementados na região Sudeste do Brasil, em áreas industriais próximas a centros urbanos (distância inferior a 20 km). O Sudeste é a região mais industrializada do país, sendo os setores da construção, alimentação, óleo e gás, petroquímico, automotivo e químico os principais setores industriais da região (CNI, 2017).

De acordo com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (MMA, 2011), 51.582 t de resíduos de construção e demolição são coletados diariamente na região Sudeste do Brasil, quantidade superior à observada nas demais regiões do país. Portanto, a implementação de práticas de gestão de resíduos de construção adequadas faz-se necessária para redução dos impactos ambientais das atividades do setor nessa região. Gerenciar uma quantidade de cerca de 50.000 t de resíduos de construção em um período de 7 anos, como observa-se nos projetos em análise, equivale a gerenciar os resíduos de

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construção gerados por um município de cerca de 30.000 habitantes, considerando uma taxa de geração de resíduos da construção de 230 kg por habitante por ano (IPEA, 2012). Cabe ressaltar que a legislação brasileira imputa a responsabilidade pela gestão de resíduos aos geradores (BRASIL, 2010).

Sabe-se que a seleção da alternativa de destinação final adotada para os resíduos sólidos gerados nas atividades produtivas é influenciada por diversos fatores (MURAKAMI et al., 2015; ETC/SCP, 2013; HIRSCHNITZ-GARBERS et al., 2015; PAJUNEN et al., 2012). Dentre esses, a infraestrutura de transporte e tratamento de resíduos existentes na região onde os resíduos são gerados é comumente citada na literatura.

Durante o período em que os projetos em análise se encontravam em fase de construção e montagem industrial, a região Sudeste apresentava a maior quantidade de unidades de tratamento de resíduos e de unidades de reciclagem do país, de acordo com levantamentos do perfil do setor de tratamento de resíduos no Brasil, publicados em 2013, com ano base 2012 (ABETRE, 2013; ABRECON, 2013). Os levantamentos considerados foram realizados por associações e congêneres, uma vez que não há levantamentos dessa natureza realizados por órgãos governamentais. Atualmente, apenas a gestão de resíduos sólidos urbanos é acompanhada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, através de trabalhos como a Pesquisa Nacional de Saneamento, não havendo estudos periódicos sistematizados por órgãos governamentais a cerca da infraestrutura privada para gestão e destinação de resíduos sólidos no Brasil.