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3. Ecologia Industrial: conceitos, instrumentos e experiências

3.3 Algumas experiências da Ecologia Industrial

3.3.2 Experiências nacionais

3.3.2.1 Rio de Janeiro: Programa Rio Eco-pólo

A primeira iniciativa por parte do Estado do Rio de Janeiro para fortalecer a gestão ambiental cooperativa no Estado e reduzir os impactos ambientais das atividades industriais foi a instituição do Programa de Fomento ao Desenvolvimento Industrial Sustentável do Estado do Rio de Janeiro – Rio Ecopólo, atráves do Decreto nº 31.339 de 04 de junho de 2002, conforme VEIGA (2007).

O programa previa a concessão de financiamento e incentivo, a partir da utilização de recursos oriundos do Fundo de Desenvolvimento Econômico e Social (FUNDES), aos projetos de produção mais limpa, projetos destinados à transformação de resíduos e despejos em insumos, projetos para a reutilização de água no processo produtivo e projetos de reciclagem de resíduos em geral. Os projetos poderiam ser submetidos pelas empresas tanto individualmente quanto em conjunto.

O decreto citado nomeou a Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro (CODIN) como órgão responsável pela execução do programa e atribuiu a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA), atual Instituto Estadual do Ambiente (INEA), a responsabilidade de análise dos projetos quanto à sua adequação ambiental. Posteriormente, o Decreto nº 33.392, de 04 de junho de 2003, alterou o Decreto nº 31.339/2002, visando conferir maior agilidade ao processo de enquadramento das empresas no Programa Rio-Ecopólo, condicionando a liberação do financiamento à apresentação de Licença Ambiental ou documento equivalente expedido pelo órgão

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ambiental competente. A Tabela 4 apresenta as principais características e objetivos do Programa Rio-Ecopólo.

Tabela 4. Características e objetivos do programa Rio-Ecopólo. Programa Rio-Ecopólo

Adoção de práticas de desenvolvimento sustentável Tomada de decisão envolvendo o apoio do Estado

Parceria entre o setor público, privado, comunidade e academia Adoção de práticas de gestão ambiental

Presença do Estado dando suporte às indústrias Incentivo fiscal e financeiro

Apoio do Estado para conversão de zonas industriais existentes em PIEs Estímulo à participação de empresas nacionais e internacionais

Conformidade com a legislação ambiental Revisão do zoneamento ambiental

Implementação de práticas de eco-eficiência e produção mais limpa Aumento da competitividade das indústrias

Melhoria na qualidade dos empregos, aumento na geração de renda e no bem-estar da comunidade

Fonte: VEIGA E MAGRINI (2009).

Neste contexto, foram lançadas as primeiras iniciativas de implantação de PIEs no Estado, conforme VEIGA e MAGRINI (2009). Um estudo realizado pelo Consórcio COPPER-UFRJ-IBAM (MAGRINI e MASSON, 2005) que analisou o zoneamento industrial da região metropolitana do Rio de Janeiro, havia proposto a conversão de 9 zonas de uso estritamente industriais em PIEs. Dentre essas zonas, o Governo do Estado inicialmente, selecionou três para serem convertidas em PIEs: Santa Cruz, Campos Elíseos e Fazenda Botafogo. Posteriormente, o Governo indicou um quarto projeto, Paracambi, o único desenvolvido a partir de uma nova área (greenfield). A formalização desses projetos deu-se através da assinatura de um termo de compromisso entre a FEEMA e representantes das respectivas indústrias, apoiando-se no Programa Rio-Ecopolo.

Alguns anos após o início do programa, o governo do Estado, representado pela CODIN, FEEMA e Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico e Turismo, não deu continuidade ao programa, devido a mudanças de ordem política e de liderança no governo. Cabe destacar que os dois decretos referentes ao Programa Rio Ecopólo continuam em vigor e os projetos continuaram sendo conduzidos pelas próprias indústrias e associações dos distritos industriais mesmo de forma limitada, sem apoio do setor público, com exceção do PIE de Paracambi no qual o governo Municipal chegou a atuar

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em parceria com o setor privado, tentando levar esta iniciativa adiante, conforme VEIGA e MAGRINI (2009).

O Ecopolo de Santa Cruz foi lançado em 17 de setembro de 2002, ocasião em que também foi criada a Diretoria de Desenvolvimento Sustentável (DISC), responsável por coordenar os projetos relacionados à sustentabilidade e redução de impactos ambientais no PIE. O Ecopólo de Santa Cruz foi o único que tornou público o seu Plano de Ação, através do documento “Relatório de Sustentabilidade – Ecopólo Industrial de Santa Cruz”, estabelecendo propostas de gestão ambiental compartilhada planejadas para 2003 – 2004 (RUIZ, 2013), dentre as quais encontram-se: gestão integrada de resíduos sólidos e coleta seletiva, intercâmbio técnico científico e gestão ambiental integrada, estímulo à instalação de indústrias que possam interagir com as cadeias produtivas locais, reflorestamento da região com espécies nativas, entre outros. Em consulta realizada à página na internet da Associação das Empresas do Distrito Industrial de Santa Cruz e Adjacências (AEDIN), esses programas ainda são citados na área destinada à apresentação do Ecopólo.

A DISC realizou reuniões regulares até 2003 com representantes de cada empresa. No entanto, com o tempo, as reuniões se tornaram escassas, devido à falta de disponibilidade de tempo dos representantes das empresas para dedicação ao desenvolvimento das propostas, falta de recursos financeiros destinados à condução dos projetos conjuntos e mudanças nas lideranças de algumas empresas, não garantindo a adesão e o empenho das mesmas (FRAGOMENI, 2005).

Em novembro de 2008, houve uma retomada do Projeto Ecopólo por parte das empresas sócias da AEDIN. No entanto, por mais que o Ecopólo seja um distrito no qual há gestão compartilhada das áreas públicas, no que se refere à iluminação de ruas e segurança, e seja evidente o interesse por parte das indústrias de reduzir seus impactos ambientais, este não apresenta relações concretas de troca entre elas, o que impossibilita sua classificação como um PIE, apesar de ter potencial para tal (RUIZ, 2013). A falta de apoio do setor público, de comprometimento institucional, de familiaridade com o conceito de PIE e com os potenciais benefícios gerados pela sua implantação, bem como a relutância das empresas em compartilhar informações e reformular seus processos internos para se integrar ao parque são apontados pela literatura como alguns fatores que tem dificultado a sua evolução (VEIGA e MAGRINI, 2009; e RUIZ, 2013).

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O Ecopólo de Campos Elíseos foi o segundo instituído no Estado do Rio de Janeiro, em outubro de 2002, quando doze indústrias integrantes do pólo petroquímico de Campos Elíseos assinaram o termo de compromisso com o Governo do Estado, representante da FEEMA e representante da Associação de Indústrias do Distrito Industrial de Campos Elíseos (ASSEMCAMPE) (VEIGA, 2007). Diferentemente do Ecopólo de Santa Cruz, as indústrias não consolidaram um Plano de Ação, tendo sido desenvolvidas algumas iniciativas isoladas, de acordo com FRAGOMENI (2005), tais como: sistema de monitoramento da qualidade do ar da região, sinergias entre algumas indústrias e economias de escala.

Dois programas anteriores ao Ecopólo, Plano de Emergência a Nível Local e Plano de Auxílio Mútuo, já haviam promovido uma forma de gestão cooperativa entre as indústrias e a comunidade, estabelecendo confiança organizacional e facilitando o desenvolvimento de outras parcerias (VEIGA, 2007). As informações disponibilizadas na página da ASSECAMPE permitem concluir que esses programas continuam ativos com agenda de realização de atividades publicada para 2017. No entanto, não há qualquer informação sobre o Ecopólo na página da associação.

A criação do Ecopólo Fazenda Botafogo ocorreu em dezembro de 2002, tendo reunido indústrias do Distrito Industrial Fazenda Botafogo, em Acari, e também empresas do entorno. VEIGA (2007) lista algumas das iniciativas que foram desenvolvidas nesse ecopólo, dentre as quais encontram-se: programa de gestão integrada de resíduos e coleta seletiva, programa de intercâmbio técnico-científico e gestão ambiental integrada, programa de monitoramento da qualidade do ar e do sistema hídrico, programa de desenvolvimento social, entre outros. No entanto, em consulta realizada à página da Associação das Indústrias do Distrito Industrial da Fazenda Botafogo (ASDIN), são citados apenas algumas ações de educação ambiental na área destinada à apresentação do Ecopólo, bem como a existência de um Plano de Ação Integrado referente à resposta a situações de emergência.

Diferentemente das outras experiências do Estado, o Ecopólo de Paracambi não consiste em conversão de um distrito industrial em um Parque Industrial Ecológico. Trata-se de uma área adquirida pelo governo municipal com a intenção de ocupação por grandes e médias empresas. Segundo VEIGA e MAGRINI (2009), o governo local estava comprometido com a implementação desse PEI, tendo promulgado a Lei nº 552/2002 visando conceder incentivos financeiros e isenção de taxas para empresas que se

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instalarem no local, além de estar financiando o planejamento e infraestrutura do PEI (sistemas de fornecimento de água, eletricidade, gás e tratamento de esgoto). As autoras apresentam os principais aspectos que faziam parte do planejamento que estava sendo realizado para o PIE desde 2006 por um grupo da COPPE/UFRJ, dentre os quais encontrava-se o mix de indústrias, as potenciais trocas de resíduos e energia, o planejamento urbanístico do site, interações com a comunidade e serviços comuns de transporte, saúde, alimentação, resposta à emergência, dentre outros.

Em consulta realizada na página da internet da Prefeitura de Paracambi, bem como em sistemas de busca, não foram encontradas referências mais atualizadas quanto ao estado atual desse Ecopólo.

Em síntese, pode-se concluir que, atualmente, não existe, de fato, nenhuma iniciativa concluída.