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3. Ecologia Industrial: conceitos, instrumentos e experiências

3.4 Análises das experiências da Ecologia Industrial

3.4.2 Disseminação de práticas da Ecologia Industrial

Os PIEs e demais iniciativas vinculadas à aplicação de princípios da EI se disseminaram, ao longo das últimas décadas, em diversos países, por meio de diferentes dinâmicas de formação, resultando em diferentes arranjos colaborativos.

BELLANTUONO et al. (2017), com base em revisão da literatura, analisaram de forma sistemática as práticas adotadas em um conjunto de 28 PIEs (alguns dos quais ainda em fase de projeto e outros já fora de operação), procurando identificar diferentes modelos organizacionais e verificar as diferenças existentes quanto às práticas adotadas em cada modelo. Três modelos organizacionais foram identificados pelos autores. O primeiro abrange os PIEs planejados, com forte cooperação com agentes governamentais, presença de uma empresa âncora e grande heterogeneidade entre as empresas envolvidas. O segundo modelo contempla os PIEs marcados por grande cooperação entre as empresas

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envolvidas e pela ausência de uma empresa âncora. Por fim, o terceiro modelo reúne os PIEs com processo de formação espontânea, pequeno apoio governamental, baixa heterogeneidade entre as empresas envolvidas e grande colaboração entre as mesmas.

Os autores verificaram que algumas práticas como intercâmbio de resíduos, colaboração entre as empresas e provisão conjunta de serviços estão presentes na maioria dos PIEs analisados, independentemente do modelo organizacional do mesmo, conforme pode-se verificar na Tabela 7. Tal tabela apresenta um panorama da adoção de algumas práticas analisadas por BELLANTUONO et al. (2017) nos PIEs mencionados na seção 3.3.

Tabela 7. Caracterização das iniciativas de EI com base nas práticas adotadas.

Fonte: Adaptado de BELLANTUONO et al. (2017).

A adoção de outras práticas como, por exemplo, práticas de gestão ambiental de fornecedores, práticas de transporte sustentáveis, cooperação com a comunidade, realização de treinamento e educação conjuntos para a força de trabalho das empresas do PIE, dentre outras, foi observada principalmente nos PIEs associados ao primeiro modelo organizacional, tendo se observado pequena tendência de adoção de tais práticas em PIEs com baixa heterogeneidade e baixa colaboração governamental (terceiro modelo organizacional).

A partir do exposto acima e das experiências internacionais e nacionais apresentadas na seção 3.3, pode-se constatar que alguns aspectos organizacionais e práticas como, por exemplo a cooperação entre empresas, provisão conjunta de serviços e intercâmbio de

Elementos-

chave Kalundborg Styria

Value Park Uimarharju Parque Ambiental de Turim Burnside TEDA Cooperação entre empresas √ √ √ √ √ √ √ Cooperação com universidades/centros de pesquisa √ √ √ √ √ Cooperação com governo √ √ √ √ Compartilhamento de serviços √ √ √ √ √ Intercâmbio de resíduos e sub- produtos √ √ √ √ √ √

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resíduos, são característicos dos PIEs, estando presentes na maioria dos casos, enquanto a adoção de outras práticas, como aquelas mencionadas no parágrafo anterior, varia caso- a-caso.

Apesar de não haver um modelo padrão de PIE, todas as iniciativas buscam o aproveitamento das sinergias oferecidas pela proximidade geográfica entre empresas. Entretanto, dadas as diferentes características dos PIEs (atores envolvidos nas relações de colaboração, coordenação do PIE, dinâmica de formação, heterogeneidade) surgem diferentes sinergias e, em alguns casos, certas práticas são priorizadas, em detrimento de outras, por razões técnicas, econômicas ou organizacionais.

As práticas adotadas nas diferentes fases do ciclo de vida dos PIEs que contribuem para o alcance dos resultados almejados pelos atores envolvidos são consideradas elementos-chave do seu processo de implementação e operação. Tais elementos são discutidos em maior detalhe no Capítulo 4.

A Tabela 8 sintetiza as principais constatações a respeito dos conceitos, ferramentas e experiências da EI a que se chega a partir dos trabalhos citados anteriormente.

70 Tabela 8. Síntese das constatações sobre a EI a partir do referêncial teórico adotado.

Constatação Referências

Na Europa, encontra-se um dos exemplos mais bem- sucedidos de SI: a rede estabelecida em Kalundborg. Além desse caso de SI que se estabeleceu espontaneamente, existem diversas outras experiências que se estendem de programas governamentais como o NISP a iniciativas organizadas por associações industrias como o INES, bem como a implantação de PIEs formados a partir de empresas âncoras e de Áreas Industriais Ecológicas Equipadas. SCHWARZ e STEININGER (1997), MILCHRAHM e HASLER (2002), BAAS e BOONS (2004), MIRATA (2004), SAIKKU (2006), BAAS e HUISINGH (2008), LAYBOURN e MORRISSEY (2009), LIWARSKA-BIZUKOJC et al. (2009), COSTA et al. (2010), CAROLI et al. (2015), TADDEO (2016), VALENTINE (2016). A maior parte das iniciativas relacionadas à

implementação de PIEs nos Estados Unidos enfrentaram dificuldades, não apresentando, no início, práticas da EI como intercâmbio de resíduos. Dois PIEs bem-sucedidos, na América do Norte (PIE de Denvers e PIE de Burnside), apresentam uma característica em comum: atuação de um agente que fomenta a melhoria do desempenho ambiental das empresas e a formação de relações de simbiose entre as mesmas.

HEERES et al. (2004), GIBBS e DEUTZ (2004), GIBBS e DEUTZ (2007), CHERTOW (2007), CAROLI et al. (2015), LIU et al. (2016).

Na Ásia, destacam-se três programas governamentais: o Programa Nacional de Demonstração de Parques Industriais Ecológicos na China, o Programa de Parques Industriais Ecológicos na Coreia do Sul e o Programa Eco-Town no Japão. Alguns desses passaram por dificuldades, mas pode-se afirmar que todos conseguiram incentivar a implantação de PIEs ou, até mesmo, de aplicações que ultrapassam as fronteiras dos sistemas industriais.

VAN BERKEL (2009), SHI et al. (2010), ZHANG et al. (2010), BAI et al. (2014), QU et al. (2014), TIAN et al. (2014), BAYULKEN e HUISINGH (2015), OHNISHI et al. (2016).

No Brasil, a aplicação da EI ainda se encontra pouco disseminada e nem todas as iniciativas foram concluídas ou apresentam resultados monitorados e divulgados.

TANIMOTO (2004),

FRAGOMENI, (2005), MAGRINI e MASSON (2005), VEIGA (2007), VEIGA e MAGRINI (2009), RUIZ (2013), TRAMA (2016)

Com relação à dinâmica de formação das relações de SI, as diversas experiências relacionadas à aplicação da EI levaram ao desenvolvimento de modelos, a partir dos quais conclui-se que: a formação de relações de SI ocorre em estágios que se sucedem no tempo; as relações podem ser iniciadas por diferentes atores; capacidades institucionais são necessárias para o processo; as relações de simbiose podem ser estabelecidas a partir de relações pré-existentes ou por novas relações; há uma fase em que as relações de simbiose são colocadas à prova do mercado e, se bem- sucedidas, estimulam a formação de novas relações.

BAAS e BOONS (2004), CHERTOW (2007), ASHTON (2009), BOONS et al. (2011), BOONS et al. (2016).

Alguns aspectos organizacionais e práticas são característicos dos PIEs, estando presentes na maioria dos casos. Entretanto, não há um padrão fixo para o desenvolvimento dos PIEs.

BELLANTUONO et al (2017).

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4. Implantando um Parque Industrial Ecológico: de uma

concepção clássica para aplicação em um canteiro de

obras industriais

Após a proposição dos conceitos e princípios da EI, no final da década de 80 e início da década de 90 (FROSCH e GALLOPOULOS, 1989; LOWE, 1996; CHERTOW, 2000), aplicações práticas dos mesmos foram identificadas e implementadas em diversos países, conforme apresentado no item 3.4. As experiências reportadas na literatura sugerem que a EI apresenta potencial para contribuir para a reestruturação dos processos produtivos em diferentes contextos, desempenhando papel relevante para a implementação de práticas inter-organizacionais focadas no intercâmbio de resíduos, água e energia entre empresas.

A proximidade geográfica é tida como um facilitador para a implementação de práticas inter-organizacionais, tais como a SI e os PIEs. Conforme apresentado anteriormente, a fase de construção e montagem de empreendimentos industriais é caracterizada pela presença de empreiteiras, sub-contratadas e outros atores no mesmo canteiro de obras, propiciando que práticas inter-organizacionais similares àquelas observadas em PIEs sejam implementadas nessa fase do ciclo de vida dos empreendimentos industriais.

Nesse capítulo, é apresentada a metodologia adotada para investigar como a EI pode contribuir para a gestão de resíduos sólidos na fase de construção e montagem de empreendimentos industriais. Inicialmente, no item 4.1, analisa-se o processo de implantação de um PIE convencional. Alguns elementos-chave de cada uma das fases do ciclo de vida dos PIEs, em sua concepção clássica, são apresentados.

Em seguida, no item 4.2, tomando como base os elementos-chave das fases de planejamento, projeto, construção e operação dos PIEs clássicos, analisa-se o processo de gestão de resíduos nos mesmos. As principais práticas relacionadas a esse processo são discutidas frente às especificidades dos canteiros de obras de empreendimentos industriais, apresentando-se uma proposta para aplicação de tais práticas nesses canteiros, isto é, uma adaptação do modelo dos PIEs clássicos para esse contexto.

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Por fim, para investigar a aplicação das práticas consideradas na proposta apresentada em canteiros de obras de empreendimentos industriais e discutir as suas contribuições para a gestão de resíduos nos mesmos, adota-se o estudo de caso como método de pesquisa. As etapas e ferramentas a serem aplicadas no estudo de caso são apresentadas ao final do item 4.2. A Figura 3 ilustra as etapas da metodologia adotada.

Figura 3. Etapas da metodologia proposta. Fonte: Elaboração própria.

4.1 Parques Industriais Ecológicos clássicos: metodologia de