• Nenhum resultado encontrado

2 O ESTADO DO CONHECIMENTO E AS ESCOLHAS METODOLÓGICAS DA

3.1 Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais

3.1.1 Características metodológicas

Para essa compreensão, Barbosa (1996), a partir de sua experiência com bandas de música, nos apresenta importantes reflexões a respeito do ensino coletivo de instrumentos musicais heterogêneos6. Esta metodologia engloba atividades através das quais o aluno tem a possiblidade de desenvolver a leitura musical, o domínio instrumental, a capacidade auditiva, as habilidades mentais e o entendimento musical. Dentre as ferramentas pedagógicas empregadas, o autor destaca a utilização de melodias do cotidiano dos alunos que são selecionadas e adaptadas a fim de desenvolver habilidades musicais e instrumentais dos estudantes através de diversas texturas musicais, como tocar e cantar, duetos, cânones, trios, dentre outros.

No ensino coletivo, os alunos já têm contato com o instrumento desde o início, exercitando os princípios da produção do som, trabalhando um repertório fácil e divisões musicais simples, avançando progressivamente através de exercícios técnicos mais difíceis, elementos teóricos e rítmicos mais avançados, chegando a características de forma, estilo e gêneros variados, juntamente da habilidade de se tocar em conjunto. As atividades básicas são geralmente as mesmas: cantar, tocar diversificadas formas e texturas musicais e ouvir “performances” que servem de modelo para o desenvolvimento da sonoridade, articulação e interpretação. Corroborando com as colocações acima, apresento a partir de Tourinho (2007a), intercalando com perspectivas de outros autores, alguns princípios importantes para a aprendizagem através do ensino coletivo:

1) Todos podem aprender a tocar um instrumento

A perspectiva apresentada busca acolher todos os interessados, desde que possuam ou possam compartilhar dos instrumentos disponíveis, trazendo assim outras alternativas para os processos seletivos. Algumas dessas alternativas é realizar inscrições, observando outros aspectos como organizar os alunos a partir de entrevista de classificação e/ou nivelamento, faixa etária ou grupos por idade e habilidade prévia no instrumento (TOURINHO, 2007a, p. 2).

2) Aprendizagem colaborativa: todos aprendem com todos

Na aprendizagem colaborativa espera-se que a aprendizagem ocorra a partir da interação dos alunos em um sistema de resolução interdependente das atividades propostas pelo professor, que nessa abordagem não assume o papel de “guru”, e sim de facilitador, tornando o

6 [...] o ensino coletivo heterogêneo ocorre quando vários instrumentos diferentes são trabalhados num mesmo grupo (CRUVINEL, 2005, p. 74).

aprendizado mais efetivo. Uma ideia fundamental é de que o conhecimento é construído socialmente na interação entre as pessoas, reconhecendo o conhecimento prévio dos alunos, suas experiências e entendimento de mundo (TORRES; IRALA, 2014).

3) Ritmo da aula, que é planejada e direcionada para o grupo

O planejamento deve proporcionar atividades que mantenham todo o grupo motivado, ativo e concentrado durante a aula, não deixando espaços para distrações ou conversas paralelas, “exigindo do estudante disciplina, assiduidade e concentração” (TOURINHO, 2007a, p. 3). A professora ressalta que “[...] no ensino coletivo, o ritmo é do grupo e cabe ao professor mantê-lo interessado e produtivo, o que às vezes não é uma tarefa muito fácil” (TOURINHO, 2014, p. 158).

4) Concepção da atividade voltada ao grupo, e não a um indivíduo de forma isolada

É fundamental que as atividades sejam planejadas em modelos que atendam a todos os alunos, levando em conta as habilidades individuais de cada um, muitas vezes disponibilizando partes “personalizadas”, possibilitando que estes desenvolvam suas habilidades musicais, sociais e cognitivas de forma criativa na interação com os outros.

5) Desenvolvimento da autonomia musical e do poder de decisão

Como parte das contribuições da aprendizagem colaborativa, está a promoção de uma aprendizagem mais ativa por meio do estímulo:

[...] ao pensamento crítico; ao desenvolvimento de capacidades de interação, negociação de informações e resolução de problemas; ao desenvolvimento da capacidade de autorregulação do processo de ensino-aprendizagem. Essas formas de ensinar e aprender, segundo seus defensores, tornam os alunos mais responsáveis por sua aprendizagem, levando-os a assimilar conceitos e a construir conhecimentos de uma maneira mais autônoma (TORRES; IRALA, 2014, p. 61).

Dessa forma, os “estudantes possuem melhor argumentação e questionamento, inclusive para tomar decisões musicais, de administração ou organização dos eventos” (TOURINHO, 2007a, p. 4), tendo a possiblidade de buscar soluções de maneira independente para suas dificuldades, a partir das atividades e interação desenvolvidas em grupo.

6) O ensino coletivo elimina os horários vagos

Trabalhando com vários alunos, quando um deles falta, os outros estarão presentes fazendo com que a aula aconteça. Com isso, a dificuldade fica sendo equilibrar o aprendizado de todos. A depender da faixa etária, a “[...] assiduidade acoplada a velocidades diferentes de

aprendizado requer um remanejamento semestral (TOURINHO, 2007a, p. 4). Geralmente, turmas de crianças levadas pelos pais tem boa assiduidade.

A depender da quantidade de alunos por turma, diversas possiblidades podem ser experimentadas. Em turmas de dois alunos, na falta de um, o professor pode tocar com o aluno que compareceu. Essa administração requer prévia análise para não pegar o professor de surpresa e comprometer o desenvolvimento da aula.

Complementando os princípios de Tourinho (2007a), o professor Joel Barbosa nos explica que é possível ensinar mais pessoas utilizando menor espaço de tempo. Uma análise em um contexto escolar do ensino básico, mostra que apenas três professores, cada um trabalhando trinta horas semanais, poderiam atender até 1.080 alunos em turmas coletivas, o que em aulas individuais se reduziria para 90 alunos. São visivelmente claras as vantagens da conversão tempo versus quantidade de alunos. Através do ensino coletivo é possível ensinar muito mais alunos do que se poderia, utilizando o mesmo tempo com aulas individuais. Mesmo nessa perspectiva, é importante levar em consideração os objetivos de cada contexto e espaço que em algumas situações podem optar pelo ensino individual (BARBOSA, 1996, p. 47).

As particularidades apresentadas por Barbosa (1996) e Tourinho (2007; 2014) são consideradas estruturantes para o desenvolvimento dessa metodologia, orientando as principais atividades e ferramentas contidas no processo pedagógico. Ressalto ainda que assim como a banda de música, os instrumentos de metal, apesar de serem da mesma família, também têm a característica de serem heterogêneos, contendo instrumentos de afinações diferentes e dedilhados/posições variados, o que exige algumas habilidades do professor, que serão apresentadas a seguir. A partir do processo apresentado, reforça-se e delineia-se a importância da aplicabilidade destes aspectos no ensino coletivo de instrumentos metal.