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Características obstétricas e neonatais dos sujeitos do estudo

2 REFERNCIAL TEÓRICO

4.2 Características obstétricas e neonatais dos sujeitos do estudo

Todas as mães entrevistadas tiveram acompanhamento pré-natal e realizaram as consultas e exames de rotina preconizados. No Brasil, dez mães realizaram de três a cinco consultas, o que pode estar relacionado à ocorrência do parto antes das 40 semanas.

Segundo o Ministério da Saúde, a proporção de mães que referiram ter feito sete ou mais consultas de pré-natal vem aumentando nos últimos anos. Eram 43,7% em 2002 e 52% em 2004, partindo-se de 1,2 consultas por parto em 1995 para 5,45 em 2005. Entretanto, esse indicador apresenta diferenças regionais significativas, pois nas regiões Norte e Nordeste encontrou-se o menor percentual de realização de sete ou mais consultas de pré-natal, independentemente da escolaridade da mãe (BRASIL, 2004, 2006).

Em Portugal, mais de 80% das grávidas iniciam o pré-natal antes da 16ª semana, no entanto, ainda existem casos de mulheres com acompanhamento pré-natal inadequado, em particular mulheres com baixa escolaridade e baixo nível socioeconômico (PORTUGAL, 2004).

Para mais da metade dos sujeitos, tanto entre as brasileiras (dez) quanto portuguesas (sete), o filho internado correspondia ao primeiro filho do casal.

Os indicadores habituais, como o índice sintético de fecundidade, mostram um declínio da fecundidade em Portugal há muito tempo, tal como em outros países europeus. No início dos anos 60, o índice sintético de fecundidade situava-se em torno dos três filhos por

mulher e tem diminuído de forma gradual até chegar a um patamar em torno dos 1.5 filhos, em meados dos anos 90 (INE, 2007b).

Também no Brasil, tem-se observado um decréscimo acentuado na taxa de fecundidade: em 1940, a média nacional era de 6,2 filhos e em 2000, passou a ser de 2,3 filhos por mulher. A diferença é que, enquanto nos países da Europa esse declínio teve início ainda com o processo de industrialização e ocorreu de forma gradual, durante cerca de cem anos, no Brasil, a diminuição da fecundidade se deu em pouco mais de 40 anos (BRASIL, 2006).

Esse quadro de baixa fecundidade também reforça o fato de que do filho recém- nascido internado, correspondia, na maioria das vezes, ao primeiro filho do casal. Assim, a hospitalização configurou-se uma experiência nova que as participantes do estudo estavam vivenciando pela primeira vez.

Quanto ao tipo de parto, oito mães que participaram do estudo no Brasil tiveram partos normais e oito realizaram partos cesáreos. Entre as mães portuguesas, oito se submeteram à cirurgia cesariana e quatro tiveram partos normais.

O aumento significativo das taxas de partos cesarianos tem ocorrido em todo o mundo nos últimos anos. Os EUA, que mantinham taxa de cesárea estável inferior a 23% por mais de 20 anos, chegaram a 27,5% de partos cesáreos em 2003. Na América Latina, o Chile é o país com a maior taxa de cesariana, com 45% em 1999, seguido de perto pelo Brasil, com 37% de cesarianas em 2000 (RAMOS, 2005).

Portugal ainda mantém taxas de cesáreas elevadas. Em 2005, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, 34,7 % dos bebês em Portugal nasceram por cesariana. Um número superior à media européia, situada nos 27-28 %, e substancialmente mais elevado do que a taxa recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) de 10 a 15%. No entanto, o governo tem a pretensão de reduzir essas taxas em 2-5% por ano, até atingir os níveis europeus mais baixos. Como estratégia de intervenção, os gestores passaram a utilizar essas taxas como indicador de qualidade para monitorar o desempenho dos hospitais. Outra estratégia planejada diz respeito ao incentivo ao desenvolvimento de atividades de preparação psicofísica para o parto (PNS, 2004).

Entre os dezesseis recém-nascidos cujas mães estavam na Casa da Mamãe e participaram do grupo, doze tinham sido internados com diagnóstico de prematuridade. Silveira et al., (2008) identificaram estudos que indicam um aumento da prematuridade no Brasil, embora os dados do Sistema de Nascidos Vivos apontem para uma discreta elevação da prevalência a partir de 1994 (5% em 1994, 5,4% em 1998, 5,6% em 2000 e 6,5% em

2004). No entanto, é consenso que a prematuridade tem um importante papel nos óbitos infantis sendo, portanto, necessárias intervenções que diminuam sua ocorrência, contribuindo assim, para a redução das taxas de mortalidade infantil do país.

Dentre os bebês dos pais portugueses entrevistados, seis eram prematuros e dois tinham baixo peso ao nascer. A taxa de nascimentos pré-termo em Portugal era de 6,4 em 2002 e projeta-se para 2010 a taxa de 6,0. Também é crescente a percentagem de crianças com baixo peso ao nascer associado à baixa idade gestacional. O governo português pretende melhorar ainda mais os indicadores no período perinatal e estabelece como uma das metas para 2010, a redução da taxa de nascimentos antes do termo para 5,5 (PORTUGAL, 2004).

Também dentre esses bebês, seis realizaram ou ainda iriam realizar procedimentos cirúrgicos. Esse fato se justifica pelo serviço de neonatologia do hospital em estudo, constituir-se em um dos poucos serviços da cidade que atende casos de alta complexidade. Representa ainda um dos fatores causadores de ansiedade nos pais e familiares, intensificando negativamente a experiência da hospitalização. Nesse estudo não houve relação da prematuridade dos bebês com a realização de procedimentos cirúrgicos, entretanto, observou- se que a idade de nascimentos dos bebês influenciou o tempo de permanência na unidade de neonatologia, pois quanto mais prematuros os bebês, maior o período de internação.

Durante a coleta das informações, identificaram-se diversos períodos referentes ao tempo de hospitalização do bebê. Em Portugal, seis mães já estavam acompanhando seus filhos por um período de 1 a 2 meses, quatro de 2 a 7 dias e uma mãe há quinze dias. Entretanto, entre as mães do estudo em Sobral-CE-Brasil, 94% (quinze) passaram a fazer parte do estudo, nos dias logo em seguida ao nascimento do filho, desta forma, estes tinham entre dois a três dias de internação. Segundo Monteiro (2005), esses diferentes períodos de tempo vivenciando a hospitalização do filho tem influência sobre o estado emocional da mãe, dependendo das condições de saúde do bebê.

Desta forma, percebeu-se que, apesar de realidades socioeconômicas distintas, os

dois países vivenciam as mesmas problemáticas no que diz respeito à atenção à saúde obstétrica e neonatal, especificamente no que se refere ao número crescente de partos cirúrgicos realizados; à ocorrência de prematuridade, constituindo-se a causa principal de internamentos do recém-nascido.

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