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8 DESENVOLVENDO A INTERVENÇÃO NO GRUPO

8.2 O Processo grupal

8.2.2 Expressão de fatores terapêutico

O processo que ocorre em pequenos grupos foi explorado sob várias perspectivas em pesquisas sobre dinâmica de grupo. Loomis (1979) apresenta as seguintes variáveis: instilação de esperança, universalidade, compartilhamento de informação, altruísmo, catarse e coesão grupal, que são discutidas nessa investigação. Considera-se ainda como fator terapêutico a correção do grupo familiar primário, o desenvolvimento de técnicas de socialização, a imitação de comportamento e os fatores existenciais, os quais não foram evidenciados no processo do grupo em estudo.

A instilação de esperança era algo que ocorria com freqüência durante as sessões. O momento final de cada encontro era destinado à verbalização dos desejos, onde as mães expressavam como desejavam que seus filhos (os delas e os das outras mães) se recuperassem logo e faziam isso de forma positiva, demonstrando que tinham fé que logo iriam poder ir para casa. Também se pôde observar instilação de esperança na sessão IV, quando uma mãe que já havia passado pela experiência de hospitalização de seu filho recém-nascido e de ter se alojado na Casa da Mamãe chega ao grupo. Seu filho também havia nascido prematuro como o de muitas outras mães que estavam presente naquela sessão, e esta mãe pode expor como foi vivenciado por ela e sua família aquela situação, a forma como conseguiu enfrentar e o fato de que seu filho agora era um garoto saudável e alegre. A forma positiva como a mesma pode se colocar representou uma fonte de esperança para as mães que estavam no grupo.

Loomis (1979) refere que é comum encontrar no grupo outros membros que experimentaram evento semelhante e que puderam vivenciá-lo satisfatoriamente. A autora ressalta os efeitos terapêuticos do cliente positivo, assim como da exposição das expectativas do terapeuta para os participantes em relação aos resultados do grupo, antes deste se iniciar. Portanto, é importante que o líder do grupo expresse aos novos membros a confiança de que a participação no grupo será benéfica.

A universalidade é o fator terapêutico que está relacionado à instilação de esperança. Quando os membros do grupo compartilham suas experiências comuns, eles aprendem que não estão sós. Embora havendo distinção entre eles de raça, idade, ocupação ou outra característica, o evento que estão experimentando é semelhante e, desta forma, não se sentem os únicos (LOOMIS, 1979). O grupo formado nesse estudo tem como característica importante o fator terapêutico da universalidade, pois as mães que compuseram o grupo tratavam-se de mulheres de faixas etárias variáveis, de adolescentes à primíparas idosas, de analfabetas às que tinham o Ensino Superior completo, as que residiam na zona urbana e as que moravam na zona rural, as que tinham o apoio do companheiro, da família e as que eram sozinhas e que não gozavam da presença dos familiares. No entanto, naquele momento, vivenciavam a mesma situação, experimentavam sentimentos semelhantes, atravessavam a mesma dificuldade e queriam a mesma coisa: que o filho se recuperasse, recebesse alta e fossem o mais rápido possível para casa.

Para Loomis (1979), mesmo que não seja o principal objetivo do grupo, há sempre compartilhamento de informações em um grupo de cuidado de saúde. O oferecimento de

informações foi transversal em quase todas as sessões, pois a cada fala em que se percebia a

objetivo, em que se procurou desmistificar, esclarecer as condutas, tirando as dúvidas das participantes, especialmente quanto aos cuidados com o RN. “Maria Brasil 7” e “Maria Brasil 9” pareciam ser as participantes mais ansiosas quanto a esse assunto e eram as que mais demonstravam interesse na discussão. Talvez pelo fato de serem primíparas e de não poder contar com apoio de outros familiares no cuidado do filho. Segundo Loomis (1979), o oferecimento/compartilhamento de informações envolve um elemento cognitivo que precede a mudança de comportamento na maioria das situações de cuidado de saúde. Também, em sessão específica como a sessão XI, foram fornecidas e discutidas informações sobre o estado de saúde dos filhos das participantes. Nesse momento, todas as dúvidas em relação ao tratamento e condutas realizadas para o cuidado com o RN foram abordadas.

Nesse sentido, Rabelo et al. (2007) ressaltam que a equipe de saúde deveria dispensar mais tempo ao acolhimento das dúvidas da mãe e familiares, pois, na maioria das vezes, se voltam mais para o suporte tecnológico ou repassam informações superficiais ou sintéticas, principalmente no que concerne ao diagnóstico e prognóstico do bebê.

O Altruísmo é a experiência de compartilhar uma parte de si mesmo com outras pessoas e assim poderem ajudar-se um ao outro (LOOMIS, 1979). O Altruísmo foi oportunizado em quase todas as sessões. Foram utilizadas técnicas e atividades que permitiram as participantes falarem um pouco de si, de suas vidas, do que gostavam e do que não gostavam. Isso facilitou a integração dos membros, na medida em que as mães puderam se conhecer melhor. Na sessão X, em que foi desenvolvida uma atividade de colagem para que as mães colassem figuras que representassem algo marcante em suas vidas; “Maria Brasil 9” contou sobre sua experiência numa tribo indígena, como isso foi importante para ela e explicou o significado da tatuagem que tinha na perna. Falou sobre sua “filosofia de vida” e de seu companheiro, já “Maria Brasil 8” teve dificuldade de falar sobre si, especialmente do seu passado, talvez pelo fato de não ter recebido nenhum apoio de sua família quando engravidou.

Percebeu-se que o altruísmo geralmente vem acompanhado de outro fator terapêutico que é a catarse, pois, ao falar um pouco de si, as participantes acabavam expressando seus sentimentos. No III encontro, quando foi proposto que cada mãe procurasse saber um pouco mais sobre a outra, “Maria Brasil 5”, que até então se apresentava muito calada e séria contou detalhes sobre sua vida e demonstrou estar triste e sentindo-se culpada, por ter traído seu companheiro e ter enganado-o a respeito de seu filho.

Em várias sessões houve expressão de sentimentos e estes eram tanto negativos como positivos: a saudade da família, em especial em relação aos outros filhos que ficaram

em casa; a tristeza e a preocupação pelo estado de saúde do filho internado; a amizade em relação aos membros do grupo; a felicidade por estar vivenciando a maternidade; o carinho em relação ao filho; a tranquilidade por o filho está se recuperando, entre outros.

Vale ressaltar que nos momentos em que houve expressão de sentimentos negativos, e que algumas mães se emocionavam, também houve feedback das outras participantes. Estas procuravam apoiar e reforçar os sentimentos positivos na tentativa de amenizar o sofrimento das companheiras de grupo. No dia em que “Maria Brasil 16” chegou ao grupo, logo no momento em que se apresentavam os objetivos e metas daqueles encontros, ela se emocionou e chorou muito. Quase que imediatamente “Maria Brasil 11” contou sua experiência de que quando chegou ao grupo chorava em muitas situações com facilidade, especialmente nos momentos em que ia encontrar seu filho, já não tinha esperanças e referia que estava “quase em depressão”. “Maria Brasil 11” ainda falou que encontrou no grupo, especialmente nas palavras de “Maria Brasil 9”, força e tranquilidade para continuar e disse que passou a entender como seu humor atrapalhava a recuperação do seu bebê, pois depois que ela melhorou seu estado emocional, seu filho logo melhorou: “... comecei a tocá-lo e a

conversar com ele... passar coisas boas para ele...já até abriu os olhinhos...”, disse sorrindo .

Outro exemplo de expressão de sentimento positivo foi no XII dia de encontro. Antes mesmo de começar a sessão, “Maria Brasil 13” chegou eufórica na direção das pesquisadoras dizendo com alegria: “hoje estou melhor, meu bebê tirou a sonda, tirou todos

os aparelhos, está só na luz (fototerapia)... hoje sou outra pessoa...”.

Loomis (1979) refere que a expressão de emoções previamente não expressas foi considerada terapêutica por psicoterapeutas, porém ressalta que só a catarse não é suficiente para produzir um estado de mudança por muito tempo. Refere também que a catarse está relacionada à coesão grupal com uma onda de causa e efeito. A expressão de emoções pode aumentar a proximidade e a coesão do grupo, por outro lado, a coesão grupal é uma condição prévia necessária para que os membros compartilhem seus sentimentos.