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Características socioeconômicas e demográficas dos sujeitos do estudo

2 REFERNCIAL TEÓRICO

4.1 Características socioeconômicas e demográficas dos sujeitos do estudo

Assim como no Brasil, também em Portugal as famílias que vivenciam a hospitalização do filho recém-nascido não costumam residir na mesma cidade onde o serviço é ofertado. Doze das mães que participaram do grupo na Casa da Mamãe procediam de outras cidades circunvizinhas, sendo que quatro ainda moravam na zona rural destes lugares. Entre as quatro mães que procediam de Sobral-CE, uma residia em um distrito da cidade.

Todas as famílias que fizeram parte do estudo na cidade do Porto (Portugal) eram procedentes de outras localidades (Braga, Viseu, Maia, Felgueiras, Vila Nova de Gaia, Valongo, Gondomar, Póvoa de Varzim, entre outros), reforçando o fato do hospital e do serviço de neonatologia se constituírem referência para a Região Norte do país. Nesse contexto, vale ressaltar que é constatada uma melhoria da acessibilidade e na qualidade dos cuidados prestados, tendo em vista uma melhor articulação entre os cuidados de saúde primários e hospitalares, para a qual tem contribuído a Rede de Referenciação Materno- Infantil (RRMI) (PORTUGAL, 2004).

Por outro lado, esse achado reflete, nas duas realidades, o obstáculo de deslocamento das mães e dos outros familiares até o serviço, dificultando as visitas e a permanência destes junto ao bebê hospitalizado. Estas dificuldades eram de caráter financeiro, familiar e doméstico e serão discutidas mais adiante neste estudo.

Quanto ao estado civil, as mães mais jovens (três brasileiras e uma portuguesa) que participaram da pesquisa eram solteiras e correspondiam àquelas que ainda residiam com sua família de origem. A maioria dos sujeitos portugueses (dez) era casada, morando somente o casal com os filhos, constituindo-se o que se denomina, segundo Carvalho (2000), família nuclear. No grupo brasileiro, se evidencia, em cinco famílias participantes, a forma de convivência de união estável, por um período que variava de 1 a 10 anos.

As estatísticas revelam que, em Portugal, a proporção de núcleos familiares de casais com filhos, em 2001, era de 64,76 (INE, 2007). No entanto, de um modo geral nos últimos anos, ocorreram alterações em nível da nupcialidade e divorcialidade que apontam para a diminuição do número de casamentos, especialmente os celebrados de forma católica (INE, 2006). A família tem sofrido transformações que ocorrem devido às mudanças sócio- culturais e tecnológicas cujas variáveis ambientais, sociais, econômicas, culturais, políticas e/ou religiosas têm vindo a determinar suas distintas estruturas e composições (CARVALHO, 2000). Desta forma, tem-se observado, no Brasil, e no restante do mundo, rearranjos familiares, sendo cada vez mais raras as famílias nucleares.

A idade dos entrevistados variou entre 15 e 49 anos. No entanto, enquanto metade das mães portuguesas em estudo (seis) tinha idade superior a 30 anos e apenas uma tinha menos que 20 anos; entre as participantes do estudo em Sobral - CE - Brasil, sete (44%) eram adolescentes com idade entre 15 a 19 anos e somente uma mãe tinha acima de 40 anos.

Os Indicadores de Dados Básicos (IDB-2006) mostram que a taxa brasileira de fecundidade específica para adolescentes (15 a 19 anos) está decrescendo: de 83,9/1000, em 1996 para 71,4/1000, em 2004. Isso acarretou também uma discreta redução na proporção de mães adolescentes, entre 1996 e 2004, de 22,9% para 21,8% (BRASIL, 2000). Entretanto, estudos de coorte de nascimento, realizados em Pelotas/RG/Brasil desde 1982 mostram que a proporção de partos de adolescentes aumentou de 15,4%, em 1982, para 18,3% em 2004. A preocupação é que a prevalência de mães com menos de 16 anos aumentou de 1,1% dos nascimentos, em 1982, para 2,7% em 2004. Em números absolutos, as mães entre 11 e 15 anos eram 65 em 1982 e aumentaram para 114 em 2004 (GIGANTE et al., 2008).

A população portuguesa é caracterizada pelo seu envelhecimento. Desde 2005 observou-se um decréscimo das taxas de fecundidade nos grupos etários abaixo dos 30 anos, por oposição a um aumento nos grupos etários com idade mais elevada, o que indica um adiamento da maternidade. Destaca-se o deslocamento da taxa de fecundidade específica mais

elevada do grupo dos 25 aos 29 anos para o dos 30-34 anos de idade. Em 2000, a taxa de

fecundidade no grupo etário dos 20-24 anos era de 63,0% e, no final de 2005, situava-se em 47,6%; evolução inversa sofreu o grupo etário dos 30-34 anos que subiu de 84,5% para 85% ao longo do mesmo período (INE, 2007a).

Na realidade, pode-se afirmar que o adiamento dos nascimentos é uma característica fundamental da fecundidade européia, particularmente acentuada no sul da Europa e no antigo bloco soviético (regiões onde se encontram índices sintéticos de fecundidade mais baixos). Trata-se de um fenômeno que tem sido objeto de análises

comparativas em muitos países da Europa, sendo apontado o aumento da educação e da duração dos estudos como uma das suas principais causas (INE, 2007b).

Em relação à escolaridade das mulheres que estavam na Casa da Mamãe, sete

tinham deixado de estudar sem concluir o Ensino Fundamental, ao passo que apenas uma tinha formação superior e havia uma mãe que era analfabeta. Entre os sujeitos do estudo em Portugal, mais da metade (sete) possuía Nível Superior e nenhuma era analfabeta.

Ao relacionar fecundidade à educação, observou-se uma tendência inversa, isto é, quanto maior o nível de instrução, menor a fecundidade das mulheres e estas decidem ter filhos em idade mais avançada. Em Portugal, os primeiros nascimentos ocorrem em média aos 24,1 anos, para as mulheres com menos qualificações, e vão sendo cada vez mais tardios à medida em que se adquire mais qualificações acadêmicas. As mulheres que frequentaram o Ensino Superior tiveram o seu primeiro filho em média aos 31,1 anos. Evidenciou-se ainda que as mulheres com baixo nível de escolaridade tinham cerca de 74% dos nascimentos até os 30 anos, percentagem que vai diminuindo com as qualificações (INE, 2007b).

Enquanto todos os participantes do estudo em Portugal tinham emprego fixo, assim como seus respectivos cônjuges, com exceção de uma mãe que era adolescente; entre as mães brasileiras, onze (69%) não trabalhavam, o que se justifica pelo fato de que quase metade delas (44%) serem adolescentes e ainda não terem concluído o Ensino Fundamental. Esse percentual também se refere às mães que viviam com menos de um salário mínimo por mês. Da mesma forma, as rendas mais elevadas dos sujeitos portugueses correspondiam às famílias cujo casal tinha Curso Superior, chegando até o valor de 5.000 euros por mês.

Sabe-se que quanto maior o nível de escolaridade da mulher, maiores são as probabilidades desta conseguir emprego. Para as mulheres com baixos níveis de escolaridade os ganhos salariais são muito limitados, melhorando a partir do Ensino Secundário. Em contra partida, há uma redução no número de mulheres com escolaridade mais alta que trabalham. Os dados relativos a salários e ao trabalho feminino também apontam para a possibilidade das diferenças de fecundidade em função da escolaridade (INE, 2007b).

Portanto, percebe-se nesse estudo a relação entre a idade, o nível de escolaridade, o trabalho e a renda familiar. Os participantes do estudo procedentes de Portugal configuraram-se em casais em sua maioria acima dos 30 anos de idade, com Curso Superior, que tinham emprego fixo e com uma média de renda mensal de 2.500 euros. Ressalta-se que o salário mínimo português era de 428 euros em 2008, sendo a média de renda familiar mensal dos participantes portugueses de mais de cinco salários mínimos, entretanto, três dos participantes viviam com renda mensal de um pouco mais de um salário mínimo.

Em estudos anteriores realizados pela pesquisadora nessa mesma temática, no Brasil, evidenciou-se o perfil de mãe adolescente, proveniente da zona rural, com baixo grau de instrução, renda familiar precária e residente com sua família de origem (CARVALHO et

al., 2007; MONTEIRO; PINHEIRO; SOUZA, 2007). Entende-se que essa diferença seja

justificável, dada as diferenças socioeconômicas entre os dois países, e também pelo fato de que as mães que ficam na Casa não correspondem à totalidade das puérperas que podem estar com seus recém-nascidos internados na unidade neonatal. O hospital de Sobral também recebe pacientes particulares ou que possuam plano de saúde, mas as mães que costumam ficar na Casa da Mamãe são usuárias do Sistema Único de Saúde. Entretanto, não se pode deixar de considerar que o perfil socioeconômico das mães brasileiras em estudo pode intensificar as repercussões negativas da experiência de ser puérpera com um filho hospitalizado.