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CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO E CARACTERÍSTICAS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE

2.4 Características socioeconômicas das áreas do estado da Bahia nos anos 2000

Independente do tipo de regionalização adotada para analisar o território da Bahia, se grandes áreas, mesorregiões, tipologia de municípios ou região metropolitana e não- metropolitana (urbana e rural), no início dos anos 2000 discrepâncias dos indicadores econômicos e sociais são verificadas. Considerando as “grandes áreas” do estado da Bahia, em 2000, o litoral contribuiu com 69,7% do PIB estadual, concentrando 47,9% da população; o cerrado foi responsável por apenas 3,3% do PIB e somente 3,7% da população; o semiárido participou com 26,9% do PIB baiano e concentrou 48,3% da população (ALVES, 2003).

O litoral da Bahia é a região que concentra a maior parte das atividades econômicas dinâmicas do Estado, como as indústrias intensivas de capital da RMS e as indústrias de papel e celulose do Extremo Sul. O turismo também constitui uma atividade de destaque nessa área. Mesmo assim no Litoral baiano a desigualdade interna é muito grande (ALVES, 2003).

Na região do Cerrado após a instituição do Programa de Desenvolvimento dos Cerrados (Prodecer), do governo federal, que apoiou o cultivo de grãos, alguns municípios registram diversificação (com produção de café, milho, arroz e fruticultura) e elevada produtividade resultante da mecanização e intensificação do uso de insumos agrícolas. Como

consequência, desenvolveu-se uma infraestrutura logística, novas estradas e serviços, embora o potencial produtivo da região ainda não tenha sido todo explorado (ALVES, 2003).

A região do Semiárido é bastante representativa no estado da Bahia, pois ocupa 69,31% do território (BAHIA, 2011). É uma área tradicionalmente agrícola, onde grande parte da população reside no meio rural. As culturas agrícolas tradicionais são produzidas com reduzida competitividade, num modelo de baixa produtividade e investimentos, dependentes das variações do clima; os rebanhos se baseiam numa atividade extensiva. Após a utilização de novas tecnologias, a fruticultura irrigada do São Francisco vem se destacando pela elevada produtividade, qualidade e capacidade de exportação. Nessa área existe um processo de industrialização em reduzida parcela dos municípios, mas em geral, o setor de serviços continua limitado (ALVES, 2003).

A Tabela 2 apresenta as diferentes características demográficas das “mesorregiões” do estado da Bahia no ano de 2000. Nesse ano, existiam mesorregiões com elevado percentual da população vivendo no meio urbano, como na RMS (92,47%), Sul (70,4%) e Centro Norte (59,85%), enquanto em outras mesorregiões havia grande percentual de residentes no meio rural, a exemplo da região Nordeste (55,05%), Centro Sul (47,86%) e Extremo Oeste (46,77%).

Tabela 2 - Características das mesorregiões do estado da Bahia, em 2000

Mesorregiões População urbana (%) População rural (%) Municípios

Pessoas com renda per capita abaixo

de (%) IDH-M ¼ SM ½ SM Bahia 67,12 32,88 415 31,13 55,32 0,69 Centro Norte 59,85 40,15 80 43,22 69,43 0,61 Centro Sul 52,14 47,86 118 39,8 67,41 0,63 Extremo Oeste 53,23 46,77 23 47,41 70,85 0,63 Região Metropolitana 92,47 7,51 38 30,36 56,93 0,68 Nordeste 44,95 55,05 59 43,24 70,08 0,59 Sul 70,40 29,6 70 37,02 66,00 0,53

Vale do São Francisco 56,52 43,48 27 47,17 70,72 0,62

Fonte: Adaptado de Lacerda (2009).

A Tabela 2 também registra a desigualdade do rendimento pessoal entre as mesorregiões no ano 2000, considerando como pobres as pessoas com renda inferior à ½ SM e indigentes àqueles com renda inferior a ¼ do SM. Os maiores percentuais de pessoas indigentes estão nas mesorregiões Extremo Oeste (47,41%), Vale do São Francisco (47,17%) e Nordeste (43,24%). Nessas mesmas mesorregiões estão os maiores percentuais de pessoas

pobres: Extremo Oeste (70,75%), Vale do São Francisco (70,72%) e Nordeste (70,08%). Por outro lado, os menores percentuais de pessoas indigentes estão nas mesorregiões Metropolitana (30,36%), Sul (37,02%) e Centro Sul (39,8%); do mesmo modo que os menores percentuais de pessoas pobres estão nas mesorregiões Metropolitana (56,93%), Sul (66%) e Centro Sul (67,41%). Assim, os dados evidenciam que os maiores percentuais de pobres e indigentes estão presentes nas regiões mais rurais.

As condições sociais nas áreas de saúde, educação e renda per capita podem ser percebidas através do IDH-M, apresentado na Tabela 2. Em 2000, a RMS apresentava o maior IDH-M (0,68), indicando que esta seria a área de maior desenvolvimento, e a região Sul apresenta o menor IDH-M (0,53), classificada como a menos desenvolvida; uma desigualdade significativa entre o nível de desenvolvimento de duas regiões urbanas, a RMS e a região Sul. Tal desigualdade também se verifica quando comparada o IDH-M da região Nordeste (0,59), a mais rural, com o IDH-M da RMS, a mais urbana.

Levando em consideração a “tipologia municipal” a partir do número de habitantes, segundo a Tabela 3, em 2000, dos 415 municípios baianos, 394 municípios (94,9%) possuíam até 50 mil habitantes (41,4% do total da população baiana) e 71 municípios (17,1%) tinham população entre 10 e 20 mil habitantes (12,5% do total de habitantes da Bahia). Os municípios dessa última categoria muitas vezes são classificados como urbanos, fruto das mudanças estabelecidas pelas legislações municipais, mas apresentam características rurais, cuja economia está centrada na agricultura de subsistência. Somente 21 municípios (5,1%) registram população total acima de 50 mil pessoas.

Tabela 3 - Tipologia dos municípios do Estado do Bahia, a partir do número de habitantes, no ano 2000 Tamanho do município (mil habitantes) Municípios Habitantes (Total) (%) (Total) (%) Menos de 5 166 40 469.634 6,1 Mais de 5 até 10 125 30,1 873.481 10,7 Mais de 10 até 20 71 17,1 1.019.513 12,5 Mais de 20 até 50 32 7,7 984.001 12,1 Mais de 50 até 100 11 2,7 770.308 9,5 Mais de 100 até 200 7 1,7 927.998 11,4 Mais de 200 até 500 2 0,5 634.689 7,8 Acima de 500 1 0,2 2.439.823 29,9 Total 415 100 100 Fonte: BAHIA (2002).

Em 2000, o estado da Bahia concentrava o maior contingente de população rural do Brasil em termos absolutos, 4.297.902 pessoas (33% da população baiana total, 13% da população rural do país e 29% da população rural do Nordeste) (BAHIA, 2003; BAHIA, 2002). E considerando somente o aspecto renda, o percentual de pobres no meio rural baiano, em 2001, era de 46,95% (LACERDA, 2009).

No entanto, para Lacerda (2009) o estudo da pobreza deve ser muito mais abrangente e multidimensional, considerando aspectos sociais adicionais tais como condições de moradia, segurança alimentar, participação política, acesso aos serviços básicos de infraestrutura, dentre outros, aspectos não assimilados pela linha de pobreza monetária e apresentados de forma limitada pelo IDH. Por isso, a pesquisadora, no intuito de estimar a pobreza multidimensional considerou a “área metropolitana e não metropolitana (urbana e rural)”, a partir de seis diferentes dimensões (moradia, saneamento, educação, trabalho, renda e demografia), ao estimar o Indicador Multidimensional de Pobreza (IMP), medida equivalente ao índice FGT(0) (LACERDA, 2009).

Com base nesses critérios, Lacerda (2009) constatou que há grande divergência entre as áreas pesquisadas do território baiano, pois na região metropolitana, a proporção de indivíduos pobres era bem menor (30,61%) do que o verificado para as áreas urbanas não metropolitana (47,53%) e rural não metropolitana (66,26%). A proporção de pobres na área urbana era a que mais se aproximava da média do estado (49,67%) (Tabela 4). Assim, na visão multidimensional, em 2001, na área rural a proporção de pobres (66,26%) era a mais elevada do que as estimativas baseadas somente em critérios monetários (46,95%).

Tabela 4 - Proporção de pobres [FGT(0)] da área metropolitana e não metropolitana da Bahia, com base no Indicador Multidimensional de Pobreza (IMP), em 2001 e 2006

Área/Proporção de Pobres 2001 2006 Bahia 49,67 46,78 Metropolitana 30,61 35,63 Urbano 47,53 44,80 Rural 66,26 57,95 Fonte: Lacerda (2009).

Observando dados micros, em nível de domicílio, as desigualdades entre a área rural e a área urbana do estado da Bahia também se verificam. Em 2001, do total de 3.421.888 famílias baianas, 1.079.112 (31,55%) residiam no meio rural e 2.342.226 (68,45%) residiam no meio urbano. A renda per capita média da família baiana era de R$452,12; maior no meio urbano (R$536,46) e muito menor no meio rural (R$190,04). Em 2001, na Bahia o chefe de

família possuía, em média, 6 anos de estudo; no meio urbano 7 anos, mas no meio rural somente 3 anos (CAVALCANTI et al, 2012).

2.5 O recente processo de indução do desenvolvimento territorial por políticas públicas