• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3 – desenvolvimento (rural e territorial): uma revisão teórica e empírica

4.5 Considerações finais

Na primeira parte desse capítulo foram apresentadas as características socioeconômicas, culturais e ambientais do estado da Bahia em comparação às especificidades do Brasil para o ano de 2010. Os resultados apontam que, considerando o percentual da população que reside no meio rural e de estabelecimentos cujo proprietário é agricultor familiar, a Bahia pode ser classificada como um estado de perfil rural. Quanto à pobreza e extrema pobreza, os níveis chegam a quase o dobro do verificado para o Brasil, por isso mais da metade das famílias baianas recebem recursos do programa Bolsa Família.

Pelo IDH-M a Bahia possui nível médio de desenvolvimento, e o Índice de Theil-L indica que há considerável desigualdade inter e intragrupos. Ao avaliar as diferentes medidas de rendimento (renda per capita, renda per capita média do décimo mais rico, renda média dos ocupados, percentual dos ocupados com rendimento até um salário mínimo e percentual da renda proveniente do trabalho) verificou-se que a Bahia possui níveis bastante inferiores quando comparado aos níveis do Brasil. As condições da pobreza, do desenvolvimento e da desigualdade podem também ser reflexo da reduzida participação social, que foi representada pela associação ou não dos estabelecimentos agropecuários a cooperativas e/ou entidades de classes, e pelo nível de comparecimento dos eleitores nas eleições.

O PIB per capita da Bahia é bastante inferior ao do Brasil, mas a estrutura das atividades econômicas é muito semelhante: elevada participação do setor de serviços no valor adicionado e reduzida participação do setor agropecuário. Na Bahia é baixo o desempenho autônomo da economia local, porque maior parte da receita corrente é oriunda de transferências intergovernamentais (principalmente do FPM) e pequena parte é oriunda da contraprestação direta de bens e serviços gerados no próprio território, em termos de arrecadação tributária.

Em relação à estrutura fundiária, da mesma forma que o Brasil, a Bahia apresenta concentração de terras forte a muito forte, embora a área média dos estabelecimentos baianos seja muito inferior à do Brasil; isso porque a Bahia possui maior percentual de pequenos estabelecimentos e menor percentual de grandes estabelecimentos.

Na Bahia a produtividade econômica dos estabelecimentos agropecuários é maior que a do Brasil, quando se considera o valor dos financiamentos contraídos. Porém, essa produtividade é reduzida e menor que a do Brasil quando se considera os investimentos e o pessoal ocupado no setor agropecuário. Em termos de modernização (investimentos, financiamentos acesso à energia elétrica e orientação técnica), o potencial agropecuário da Bahia é bastante inferior ao do Brasil.

Sobre a situação ambiental, quando avaliada as práticas benéficas, tais como manutenção de áreas com matas e florestas naturais, com pastagens naturais e demais práticas agrícolas (pousio, recuperação de pastos e rotação de culturas e pastagens), a Bahia não difere do Brasil, pois carecem de políticas de conscientização e apoio aos estabelecimentos que decidam preservar o meio ambiente, mantendo e/ou ampliando as áreas naturais e as práticas agrícolas de preservação do solo.

Das práticas prejudiciais ao meio ambiente (o uso de agrotóxicos, adubação, corretivos e queimadas), os estabelecimentos agropecuários da Bahia os utilizam em menor proporção do que os do Brasil. Analisando a questão ambiental pela ótica dos domicílios, o meio rural da Bahia e do Brasil merecem maior atenção e investimentos públicos, no que diz respeito à coleta de lixo e, principalmente, de rede geral de esgotamento pluvial.

Quanto aos aspectos educacionais, os resultados indicam que a situação da Bahia e do Brasil têm muitas semelhanças, porque tanto para as crianças como para os adultos a presença nos estabelecimentos de ensino é reduzida, a taxa de analfabetismo é elevada e poucos conseguiram concluir o ensino fundamental, médio e, principalmente, o superior. Nas diferenças, o estado da Bahia apresenta-se ainda mais carente de investimentos públicos na área da educação.

Do mesmo modo, há muitas semelhanças entre a Bahia e o Brasil quanto à situação ocupacional. Poucos são empregadores e trabalhadores do setor público e somente ¼ trabalham por conta própria. Todavia, na Bahia a taxa de desocupação é maior que a do Brasil e o grau de formalização dos ocupados é menor, não alcançando nem a metade do total dos ocupados. Analisando a distribuição dos ocupados por setor de atividade, a Bahia e o Brasil apresentam o setor de serviços como o mais importante. Contudo, na Bahia o setor

agropecuário aparece como o segundo mais importante, diferente do Brasil em que o setor comercial é o segundo que mais contrata mão de obra.

Quantos aos aspectos de saúde e longevidade, para muitos dos indicadores a Bahia e o Brasil se aproximam. A mortalidade infantil é elevada, mas a esperança de vida ao nascer está acima dos 70 anos, o que torna alta a razão de dependência. Avaliando os domicílios familiares, a grande maioria, tanto na Bahia quanto no Brasil, possuem energia elétrica e coleta de lixo. O acesso a banheiro e à água encanada é mais restrito, principalmente nos domicílios baianos. O percentual de domicílios vulneráveis à pobreza e dependentes de idosos na Bahia supera o percentual do Brasil.

Na segunda parte das análises desse capítulo buscou-se “Identificar os componentes principais representativos das características dos municípios baianos no ano de 2010”. Para tanto, foram consideradas 72 variáveis representativas das condições socioeconômicas, culturais e ambientais dos 414 municípios do estado da Bahia. A partir desse banco de dados foi estimado, por grupos de variáveis, a AF pelo MCP que condensa a informação contida em um grupo de variáveis originais em um grupo menor de variáveis, denominadas fatores. O intuito foi apresentar o conjunto de características dos municípios baianos de forma mais resumida, sem perder informações relevantes.

Os resultados apontaram que 25 fatores são capazes de representar resumidamente as características dos municípios baianos. Considerando os aspectos demográficos dois fatores foram estimados: o Fator 1A (Presença da população rural e agricultores familiares) e o Fator 2A (Presença de indígenas e assentados). Em relação à situação da pobreza, do desenvolvimento, da desigualdade e da renda, dois fatores foram extraídos: Fator 1B (Pobreza medida pela renda) e o Fator 2B (Desigualdade de renda). Quanto à participação social, dois fatores foram estimados: Fator 1C (Associações de representação econômica e políticas) e o Fator 2C (Associação a entidades de classes).

Se tratando das estruturas das atividades econômicas, dois fatores foram extraídos: Fator 1D (Relação entre participação de setor serviços públicos e o setor industrial) e o Fator 2D (Relação entre participação do setor de serviços privados e o setor agropecuário). Considerando a estrutura fundiária, dois fatores foram estimados: Fator 1E (Médios e grandes estabelecimentos agropecuários) e o Fator 2E (Pequenos estabelecimentos agropecuários). O potencial agropecuário pode ser representado por dois fatores extraídos: Fator 1F (Produtividade econômica) e o Fator 2F (Infraestrutura agropecuária).

Em relação à situação ambiental, quatro fatores foram estimados: Fator 1G (Percentual da área natural nos estabelecimentos), o Fator 2G (Domicílios rurais com serviços de esgoto e

lixo), o Fator 3G (Estabelecimentos que degradam o solo) e o Fator 4G (Presença de monocultura). No que diz respeito aos aspectos educacionais, dois fatores foram extraídos: Fator 1H (Relação entre escolaridade e analfabetismo) e o Fator 2H (Relação entre crianças fora da escola e expectativa de anos de estudo). Quanto à situação ocupacional, três fatores foram estimados: Fator 1I (Ocupados formais no comércio/serviços e entre empregadores), o Fator 2I (Taxa de atividade entre trabalhadores conta própria) e o Fator 3I (Trabalhadores do setor público).

Considerando os aspectos da saúde e longevidade, dois fatores foram extraídos: o Fator 1J (Relação entre mortalidade infantil e sobrevivência) e o Fator 2J (Relação entre fecundidade e razão de dependência). Por fim, as características dos domicílios familiares são representadas por dois fatores: o Fator 1K (Relação entre infraestrutura dos domicílios, escolaridade e vulnerabilidade da população) e o Fator 2K (Domicílios com coleta de lixo).

Cada um dos 25 fatores estimados corroboram as primeiras análises baseadas na disposição dos dados originais, de que o estado da Bahia tem população com perfil rural, grande maioria dos estabelecimentos agropecuários de propriedade de agricultores familiares, baixos rendimentos, elevado nível de pobreza, grande desigualdade de renda e reduzido desenvolvimento municipal. Além disso, mesmo diante dessas condições, a participação social é diminuta, principalmente quando se considera o meio rural.

No estado da Bahia o setor de serviços é o que mais contribui na geração do valor adicionado, principalmente quando se trata de serviços públicos. É reduzida a participação do setor industrial no valor adicionado, e o setor agropecuário é o que menos contribui. A estrutura fundiária é bastante concentrada, embora existam muito pequenos proprietários com estabelecimentos que possuem entre 0 e 20 hectares. Como um estado de perfil rural, e que registra significativo percentual dos ocupados atuantes no setor agropecuário, também torna- se necessário ampliar o grau de formalização nesse setor.

O potencial agropecuário baiano, em termos de produtividade econômica e modernização, pode ser mais qualificado, assim como as condições que definem a situação ambiental, tais como a manutenção e/ou ampliação das áreas naturais, de domicílios rurais com acesso ao esgotamento sanitário e coleta de lixo. Também é preciso persistir na redução de práticas que degradam o solo (como o uso de queimadas e corretivos) e na presença de monoculturas.

No estado da Bahia é preciso criar maiores condições de acesso e permanência da população de crianças e de adultos na escola, para reduzir a taxa de analfabetismo e o nível de escolaridade. Embora a esperança de vida ao nascer, a probabilidade de sobrevivência até 60

anos de idade e o acesso à coleta de lixo, a banheiros e a água encanada seja relativamente alta, a taxa de mortalidade infantil e o percentual de pessoas vulneráveis à pobreza precisa ser reduzida.

CAPÍTULO 5 – ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO RURAL (IDR): UMA