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Características do Terceiro Sector

2.2. Sociedade civil enquanto ‘Terceiro Sector’

2.2.4 Características do Terceiro Sector

SALAMON e ANHEIER (1997,2005) propõem uma definição estrutural/operacional do Terceiro Sector, amplamente aceite, e não apoiada nem na origem dos fundos, nem no estatuto legal ou mesmo pelos propósitos das organizações. Assim, definiram cinco características comuns às organizações que integram este Sector para efeitos de comparação internacional:

Estruturadas – apresentam um certo nível de formalidade, regem-se por regras e procedimentos, têm actividades regulares e uma existência mais ou menos permanente. Nesta definição consideram ainda grupos informais, mesmo que não estejam legalmente registados. Tal permite um alargamento do conceito, mas coloca ainda assim dificuldades em definir até que grau de formalidade se pode considerar uma organização da sociedade civil.

Privadas - não têm qualquer relação institucional com o Estado, embora possam receber de fundos de apoio oficiais. As abordagens económicas do sector da sociedade civil excluem no entanto, organizações que tenham um apoio significativo do Estado (consideram sobretudo a origem dos fundos na definição do sector.

Não distribuidoras de lucros – os eventuais lucros decorrentes das suas actividades de mobilização de fundos não são distribuídos entre accionistas, gestores ou dirigentes.

São organizações sem fins lucrativos não porque não geram lucro, mas porque a estes dado um destino específico, para a realização da missão e cumprimento dos estatutos da organização. Esta característica aproxima-se da distinção feita em algumas definições entre organizações de benefício mutuo e organizações de benefício público e constitui elemento distintivo entre organizações não-lucrativas e as empresas.

AGUIAR e DA SILVA (s.d, 3) chamam a atenção para a diferença entre organizações do Terceiro Sector que promovem ‘benefícios colectivos’ das que promovem ‘benefícios públicos’.

As primeiras referem-se a organizações que têm como objectivo a ajuda mútua na defesa de interesses de um grupo restrito de indivíduos e cujo alcance social é reduzido. As organizações que visam interesses públicos procuram produzir bens e serviços que beneficiem a sociedade como um todo e por conseguinte o âmbito da sua acção é mais alargado. Dentro do Sector que é não-governamental e não lucrativo existem organizações que desenvolvem acções sociais e que são consideradas de utilidade pública que podem auxiliar o Estado no cumprimento dos deveres que não consegue desempenhar adequadamente.

No entanto, as organizações de benefício colectivo podem desempenhar actividades socialmente relevantes o que dificulta a distinção clara entre o que é puramente benéfico mútuo do benefício público, tal dependerá dos grupos que compõem as organizações e da forma como executam as suas acções.

Outras características são ainda as seguintes:

Autónomas – a sua gestão não é controlada por entidades externas. Têm meios para controlar a gestão da organização.

Voluntárias – o critério é a associação e participação livre dos membros das organizações em tempo e dinheiro em benefício do bem público. Estas organizações têm também uma grande componente de participação de voluntariado (pessoal não remunerado) variável por instituição ou actividades desenvolvidas.

SALAMON e ANHEIER propõem, deste modo, uma definição abrangente, engloba organizações formais ou informais, religiosas ou seculares. Por exemplo, as organizações religiosas podem assumir duas formas: como locais de culto religioso ou organizações com afiliação religiosa que prestam serviços (por exemplo, hospitais ou escolas). Em termos de recursos humanos nelas trabalham indivíduos profissionais remunerados e/ou voluntariado.

Quanto ao tipo de actividades desenvolvidas pelas organizações da sociedade civil, os autores classificam-nas em duas categorias ((FRANCO, SALAMON et al. :2005;6,7):

1. actividades de serviço – as organizações prestam serviços além e complementando os serviços públicos em áreas como a saúde, educação e serviços sociais;

2.actividades de expressão – as organizações ‘oferecem mecanismos através dos quais os indivíduos se podem juntar de forma a fazerem face a necessidades da

comunidade, participar na vida política e perseguir interesses individuais e de grupo’ por exemplo, defesa de causas, expressão cultural, direitos humanos, defesa de interesses ou participação política.

Organizações não-lucrativas como Associações, Fundações, instituições de desenvolvimento local, Misericórdias, Museus, Cooperativas e Associações mutualistas (não distribuidoras de lucro) podem ter funções ora mais de serviço ora mais de expressão.

No caso das Organizações não-governamentais para o desenvolvimento ‘têm um leque alargado de fins de desenvolvimento e frequentemente recorrem a uma estratégia de empowerment em que as suas funções de serviço e de expressão se diluem’. De facto, a multiciplicidade de actividades que podem desenvolver cobrem estes dois tipos de funções. Por um lado, realizam serviços sociais, educação e de saúde por vezes, até são vocacionadas para uma destas áreas. Por outro lado, na linha das funções de expressão promovem a participação cívica, defendem causas como a redução da pobreza ou advocacia (influência nas políticas públicas nacionais ou internacionais).

Numa aproximação à delimitação deste tipo de organizações pelas actividades que desenvolvem e considerando-as no vasto sector não-lucrativo, consideremos a proposta de definição de Organizações não-governamentais para o desenvolvimento (ONGD) de FRANCO, SALAMON et al. (2005) ‘organizações não lucrativas que levam a cabo programas sociais, culturais, ambientais, cívicos ou económicos que beneficiam países em desenvolvimento (ex. cooperação para o desenvolvimento, assistência humanitária, ajuda em situações de emergência e protecção e promoção dos direitos humanos) embora muitas delas operam também em Portugal’ .

Na Classificação Internacional das Organizações não Lucrativas – ICNPO proposta pelos autores , as ONGD correspondem à área de actividade Internacional (9) na qual estão incluídas pelo menos três tipos actividades que podem ser entendidas como típicas destas organizações (IDEM, p.37):

• Associações de assistência ao desenvolvimento – desenvolvem projectos no sentido de promover o desenvolvimento social e económico em diversos países; • Organizações de assistência internacional a situações de desastre – ‘recolhem,

encaminham e proporcionam apoio a outros países em situações de desastre ou emergência’;

Organizações internacionais promotoras dos direitos humanos e da paz – ‘promovem e monitorizam internacionalmente os direitos humanos e a paz’