• Nenhum resultado encontrado

Concepção tripartida da sociedade

2.2. Sociedade civil enquanto ‘Terceiro Sector’

2.2.3 Concepção tripartida da sociedade

Genericamente, as organizações do Terceiro Sector surgem da sociedade civil e promovem acções de natureza privada com fins públicos.

À denominação Terceiro Sector subjaz a ideia de conjugação do objectivo central do Primeiro Sector (Estado) que visa o bem público e da natureza privada do Segundo Sector (Mercado) embora não vise o lucro.

A concepção das diferenças entre os três sectores pode ser entendida através da seguinte proposta-esquema que distingue claramente o significado da utilização dos termos privado e público para a definição dos três sectores.

Figura 2.2.3.1 Diferentes combinações entre agentes e fins públicos e privados

Fonte: FERNANDES (1994) in AGUIAR e DA SILVA (s.d.,p.4).

Agentes Fins Sector

Privados Privados Mercado

Públicos Públicos Estado

Privados Públicos Terceiro Sector

O Terceiro sector constitui um espaço de participação da sociedade civil e as organizações os seus agentes activos. As actividades desenvolvidas pelas organizações são ‘extensões da esfera pública não executadas pelo Estado’ e por outro lado, essas actividades não são suportadas pelo Mercado, pelo seu custo elevado.

SIMONE COELHO (2000 referida por AGUIAR e DA SILVA: s.d) salienta a relevância do termo Terceiro Sector identificada por diversos autores ‘expressa uma alternativa para as desvantagens tanto do mercado, associadas à maximização do lucro, quanto do governo, com sua burocracia inoperante. Combina a flexibilidade e a eficiência do mercado com a eqüidade e a previsibilidade da burocracia pública’.

A conceptualização da sociedade sob três pilares: Estado, Sector Privado e Sociedade Civil pressupõe que cada sector têm características próprias, manifestam-se e têm formas distintas de participação. A separação conceptual dos sectores não excluí, no entanto, a interdependência entre eles, têm relações de mais ou menos dependência, as suas actividades podem ser equivalentes, ou mesmo sobreporem-se e o âmbito da sua acção pode situar-se tanto a um nível macro como micro.

Segundo COELHO (2000) citada por AGUIAR e DA SILVA (s.d) ‘o fator determinante na delimitação desses setores será a interação dos mesmos, através da qual se interpenetram e se condicionam. Essa relação varia de intensidade e profundidade de acordo com a conjuntura sociopolítica’.

A interacção entre os sectores admite que nem o Estado nem o Mercado funcionam apenas numa lógica intrínseca aos seus sectores, na medida em que estes se inter relacionam e condicionam. O Estado ao conceder subsídios às organizações do Terceiro Sector está de certo modo a assumir a imprescindibilidade da participação da sociedade civil na medida em que esta constitui um suporte importante da sua função social. Por seu lado, em geral, a sociedade civil organizada, porque frágil quanto à sua sustentabilidade continua a depender dos fundos do Estado para a realização dessa função social. A natureza destas organizações e dependendo das suas missões pressupõe no entanto, que estas criem uma margem de acção capaz de influenciar tanto esfera política como económica.

Num estudo de SALAMON & ABRAMSON (1981, 1982) referido por HALL (2005:23) concluíram que o suposto sector ‘independente’ era de facto inteiramente dependente do subsídio directo do Estado. Mais tarde apontaram a necessidade de conhecer mais os contornos desta relação Estado/terceiro sector.

Reportando-se à realidade norte-americana HALL destaca o crescimento no período Pós- Guerra de desenvolvimento do Estado-Providência de grupos (think thanks, grupos de advocacy, fundações, associações industriais, por exemplo)que emergem da sociedade civil com interesses particulares (inclusive políticos) utilizando uma forma de actividade baseada no não-lucro para assim canalizar fundos a partir de donativos.

Para o autor está a ocorrer uma mudança qualitativa que parece ser o ‘disappearance of philanthropic commitment to building and maintaining broad civic capacity – and its replacement by narrower commitments to institutions and causes that benefit particular geographic or demographic segments of population’ (IDEM, p.37)

A autor salienta que da parte as associações não-lucrativas haver resistências ás chamadas de atenção pelos investigadores para a tendência crescente do caracter comercial do sector. Referindo-se ao trabalho de Hansmann que as organizações que geram lucros sobretudo através de actividade comercial devem ser tratadas de forma diferente das que se baseiam a sua actividade a partir donativos com origem na sociedade civil.

As organizações que são maioritariamente suportadas pela sociedade civil em detrimento dos apoios do Estado ou Sector Privado, conseguirão mais facilmente mobilizar maior liberdade de opção na concretização dos seus objectivos, princípios, nem sempre em acordo com os outros sectores.

Na relação entre os sectores dever-se-á acrescentar outro factor – o poder – ou seja, na relação entre Estado, sociedade civil e sector privado, poder-se-á conceber relações de força. É um facto que as ONG e alianças especialmente internacionais têm conseguido marcar posições e têm a capacidade de influenciar decisões políticas, de movimentar e agitar consciências ou sob protesto pôr em causa as orientações económicas das grandes empresas multinacionais (SMITH:2000)

A reivindicação de independência do Terceiro sector face aos restantes sectores embora pertinente, se o mesmo definir para si um papel de vigilante e interventivo com capacidade de influenciar políticas, é discutível se observarmos as práticas. Na medida em que, exige da parte das organizações da sociedade civil capacidades de gestão de meios nem sempre fáceis de gerir, o que as coloca em situação de menor liberdade para pôr em causa injustiças e intervir politicamente sobre elas junto das entidades públicas ou privadas responsáveis.

Veja-se por exemplo, a sociedade civil pelas ONGD que se assume independente, autónoma face ao Estado, mas ao mesmo tempo dependente dos seus fundos para a sua sobrevivência, manutenção e execução das suas actividades. Dependendo da organização e seus objectivos este aspecto pode ser condicionante e essa independência reinvindicada pode perfeitamente diluir-se.