• Nenhum resultado encontrado

Origem e desenvolvimento do Sector não lucrativo português

2.2. Sociedade civil enquanto ‘Terceiro Sector’

2.2.1 Origem e desenvolvimento do Sector não lucrativo português

A dimensão e características do actual sector não-lucrativo português é fruto de uma história marcada pela tradição da Igreja Católica e Romana e do mutualismo, por um período histórico de quase cinco décadas de regimes políticos autoritários e ainda pela transição democrática recente, pouco mais de 30 anos (FRANCO, SALAMON et al. :2005;2).

A sociedade civil organizada em favor de populações carenciadas é anterior á própria constituição de Portugal como Estado-Nação, um dos mais antigos na Europa (desde o séc.XII que as suas fronteiras permanecem definidas). Por esta altura já existiam organizações de caridade dispersas pelo país e até ao Séc. XIII vai prevalecer um modelo de assistência informal e diverso. Surgem diversos tipos de instituições de caridade e assistência, alguns ligados à Igreja, a iniciativas privadas ou à monarquia. (FRANCO,2005)

Com os Descobrimentos emergem novos tipos de instituições e modelos de protecção – compromissos marítimos, confrarias dos mareantes e Misericórdias.

A Revolução Industrial e decorrentes mudanças socio-económicas motivam o surgimento de novas formas institucionais de ajuda mútua a partir da sociedade civil: associações de socorros mútuos, associações humanitárias, associações de comércio, Círculos Católicos Operários.

‘Contudo, as organizações da sociedade civil operaram sempre dentro de constrangimentos de um regime paternalista característico de uma aliança estreita entre a Igreja, Estado e elites rurais’ (FRANCO e SALAMON et al. 2005:3) o que fez com que em toda a história da sociedade civil se mantivesse limitada a actividades predominantemente assistenciais.

De notar a importância da Igreja Católica vai tendo ao longo da história do sector. Como refere (FRANCO 2005:5) ‘The role of civil society in the field of philanthropy resulted from the Christian idea that people need to act in a way deserving of God’s mercy’

A ideologia das ‘obras de misericórdia’ é difundida pela Igreja porque na altura não existia um poder central com interesse ou capacidade para adoptar políticas coerentes de assistência.

Com fim da I República (1926) e inicio do regime salazarista introduzem 48 anos autoritarismo caracterizados por um período de inflexão e declínio do movimento associativo. O regime ditatorial termina com a revolução de abril de 1974 e a independência das colónias portuguesas ocorrem nesta altura. A transição para um regime democrático traz novo impulso ao sector não lucrativo, motivada ‘uma crescente confiança do Estado nas organizações privadas sem fins lucrativos’ (FRANCO, SALAMON et al. :2005;2)

Por outro lado, considerando o Estado-Providência característica central de democracia assente no principio de que uma verdadeira participação nos Estados-Nação exigem padrões económicos, sociais e educacionais básicos, a protecção dos cidadãos no espaço nacional é responsabilidade assumida pelo Estado.

Contudo, o neoliberalismo que caracterizaram as políticas sociais dos anos 80 (traduzidos em ‘menos Estado’), os processos de globalização, a transnacionalização e decorrentes constrangimentos de gestão das políticas sociais e económicas nacionais, colocam

dificuldades aos Estados no cumprimento da sua função protectora junto de todos os cidadãos.

“Sob o impacto de um Estado que vem diminuindo sua ação social e de uma sociedade com necessidades cada vez maiores, cresce a consciência nas pessoas – tanto físicas quanto jurídicas – de que é necessário posicionar-se proativamente no espaço público, se o que se deseja é um desenvolvimento social sustentado”.12

A incapacidade do Estado ou do sector privado em colmatar todas as necessidades sociais, motivaram o crescimento ‘terceiro sector’ ou da sociedade civil organizada em torno de causas comuns e abrangendo franjas da população excluídas ou marginalizadas socialmente. A iniciativa parte de cidadãos que inicialmente se juntam em função de valores, princípios ideológicos ou religiosos comuns e criam organizações autónomas e independentes do Estado.

Assim, o sector não-lucrativo acaba por assumir um papel diferenciado e alternativo do Estado ou mercado substituindo ou complementando, como iremos ver.

Hoje este sector em Portugal têm uma dimensão inferior aos restantes países da Europa Ocidental, mas maior em relação aos países da Europa central e de Leste.

A partir do estudo do sector não lucrativo em Portugal13 comparado com 37 países chegou- se a um conjunto de elementos-resultados que permitem caracterizá-lo. Hoje o sector não- lucrativo português tem um peso económico significativo:

• As despesas deste sector corresponderam em 2002 a 4,2% do PIB ou seja 5,4 mil milhões de euros;

• Os recursos humanos afectos em tempo às actividades deste sector representam perto de 250 mil ETI (Equivalente a tempo integral), dos quais 70% são remunerados e os restantes desenvolvem actividades em regime de voluntariado; • Neste sector estão empregados mais indivíduos do que algumas indústrias como as

de serviços ou dos transportes;

• Em Portugal, a mão-de-obra neste sector representa 4% da população economicamente activa;

• É quase equivalente à dimensão do sector não lucrativo em Espanha ou Itália.

12

IOSHPE, Evelyn citada por AGUIAR, M. e DA SILVA,E. ‘Terceiro Setor – buscando uma conceituação’ in www.fundata.org.br.

13 FRANCO, R., SALAMON, L. et al. (2005), ‘O Sector Não-Lucrativo Português numa Perspectiva Comparada’, Universidade Católica e John

Os recursos humanos do sector não-lucrativo português dedicam-se sobretudo á prestação de serviços (60%) 48% na área social, em detrimento das áreas da saúde ou educação. Além destas actividades, a mão-de-obra do sector não lucrativo, envolve-se em actividades associadas à cultura, artes, lazer e participação cívica.

Um aspecto crítico relativamente a este sector diz respeito aos fundos para a realização das suas missões. As suas fontes de rendimento advêm sobretudo de receitas próprias (quotizações e vendas) (48%) e seguida dos apoios dos governos (40%), a filantropia representa 12%.