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A investigação desenvolvida é um estudo exploratório na medida em que não é extrapolável para a população das ONG portuguesas e não parte de hipóteses, mas fornece uma série de conteúdos associados às capacidades ou capacitação destas organizações envolvendo valores, estratégias que no âmbito de outro projecto poderão ser aprofundados - tanto de projectos de estudos de caso como estudos mais abrangentes com maior número de casos, mas com um enfoque mais qualitativo. Dado que existem alguns estudos de caracterização e análise de dados globais mas com pouco aprofundamento sobre a forma como actuam com vista resultados efectivos, sobre a sua indução de desenvolvimento.

Partindo do objectivo de conhecer a capacitação para o desenvolvimento das ONGD, considerámos importante trazer à análise informação que nos permite caracterizar por um lado, estas organizações considerando o seu universo e, por outro, as acções que realizam, áreas e sectores de actuação junto dos PALOP.

Para tal recorremos à informação existente relativa a cada ONGD disponível em publicação da autoria da Plataforma das ONGD portuguesas o ‘Guia das ONGD portuguesas de 2003’, permitindo também construir dados quantitativos de evolução correspondentes ao período de tempo entre 2000 e 2002.

A análise implicou um tratamento prévio dos dados e registo em bases de dados a qual contém informação sobre o ano de criação da ONGD, natureza jurídica, actividades em cada país PALOP entre 2000 e 2002, intervenções nos PALOP por tipo de actividade, grupos-alvo, ligação a redes e filiações nacionais e internacionais, áreas de actuação.

Para o entendimento e aprofundamento das formas de pensar e agir das organizações recorremos à técnica de recolha de dados por entrevista da qual resultam sobretudo, dados de natureza qualitativa, não captáveis através de dados quantitativos.

A escolha desta técnica tem como pressuposto teórico de que os actores dão um sentido à sua acção (weberiano), esta pressupõe reflexividade e assente em valores, princípios, objectivos captáveis através de perguntas abertas, onde a espontaneidade e desenvolvimento das questões ultrapassam respostas objectivas, mais adequadas a outros métodos como a recolha de dados por inquérito por questionário.

Assume–se que o seu discurso, o que dizem, traduz o sentido das suas acções, e que este é significativo em termos de organização na medida foram constituídos como corpo de

análise, os discursos de agentes privilegiados que têm um papel–chave de responsabilidade na hierarquia da organização.

Assim, como estratégia metodológica consideramos que deveríamos privilegiar o pensar/reflectir dos dirigentes/responsáveis das ONGD , uma vez que se trata de um cargo director e muito do que pensa a organização é reflexo do que os dirigentes pensam. Este tem o poder de mobilizar em torno de missões da organização e tem sobretudo a responsabilidade na forma como a instituição se organiza e desenvolve estrategicamente as suas actividades.

Foi realizado pré-teste ao formato e conteúdo do questionário a três agentes responsáveis por ONGD portuguesas, com vista à sua afinação mais conforme os objectivos do estudo e a base teórica que o fundamenta. Os conteúdos resultantes destas três entrevistas serão apenas usados como complemento e ilustração dos resultados, mas não constituem o ‘corpus de análise’.

3.4.1 Definição e selecção das ONGD a entrevistar

A diversidade que caracteriza as ONGD, observada a partir da análise dos dados quantitativos recolhidos, constitui o ponto de partida para a definição de critérios de selecção das ONGD a serem submetidas às entrevistas para recolha de informação qualitativa.

A selecção de organizações não governamentais foi feita a partir do universo das Organizações registadas na Plataforma das ONGD portuguesas, restringindo o nosso estudo a organizações não governamentais cujo estatuto as define com organizações vocacionadas para o desenvolvimento. A idade da organização e a execução de projectos nos PALOP são características fundamentais para a concretização dos objectivos da investigação e por isso consideradas na escolha das ONG a entrevistar. A primeira porque reflecte à partida diferentes backgrounds de experiência e reflexão sobre as questões do desenvolvimento, a segunda na medida em que nos situamos na análise da actuação destas organizações sobre o desenvolvimento dos PALOP.

Foram entrevistadas ONGD localizadas em Lisboa, onde está localizada a maior parte das ONGD associadas à Plataforma (84%).

De modo a reflectir a diversidade do universo das ONDG considerámos ainda natureza jurídica, inspirações valorativas confessionais ou laicas que caracterizam as ONGD. O

conjunto de ONGD seleccionadas resultou ainda da disponibilidade das organizações em participar no estudo.

Assim, como se observa na figura seguinte, foram seleccionadas 6 ONGD (12% do total das 50 ONGD registadas actualmente) as quais se formaram nos anos 50, 80, 90 e no princípio deste milénio, de inspiração laica ou religiosa e pela sua natureza jurídica são Fundações, Cooperativas e Associações.

Figura 3.4.1.1 – Natureza jurídica e valores das ONGD estudo em 2005

ONG estudo Natureza jurídica Valores

A Associação confessionais/laicos

B Fundação laicos

C Associação de direito civil e canónico confessionais

D Fundação laicos

E Cooperativa de responsabilidade limitada laicos

F Associação laicos

Características

Fonte: Plataforma das ONGD portuguesas, 2005

Outra razão pela qual se chegou ao número de 6 ONGD baseou-se também na análise de dados quantitativos referentes aos recursos financeiros mobilizados por este grupo de ONGD, que em 2005 receberam 44% do financiamento total pelo IPAD de apoio a projectos de desenvolvimento nos PALOP. Quase metade do financiamento, embora com diferenças entre as 6 organizações em termos de capacidade de mobilização de recursos oficiais. Em 2006, 35% do co-financiamento total pelo IPAD às ONGD portuguesas foi atribuído às ONGD estudo, correspondendo 15 projectos co-financiados.

3.4.2 Trabalho de campo

O trabalho de campo teve por base a pesquisa e recolha de informação, passível de tratamento quantitativo, relativa à Ajuda portuguesa ao Desenvolvimento e às ONGD, e a realização de entrevistas a actores privilegiados dentro de cada organização.

As entrevistas tiveram lugar em Setembro/Outubro de 2006. A marcação de entrevistas foi realizada através de contacto telefónico, solicitando encontro com responsável máximo ou cargo directivo. A par da recolha de dados através da entrevista foi pedido às ONGD informação relativamente a recursos financeiros e humanos e de projectos realizados em 2004 ou 2005.

Contudo, a recolha daqueles dados junto das ONGD não teve os resultados esperados. Dada a impossibilidade de obtenção da informação referida, procurou-se recorrer a outras fontes, nomeadamente, junto do IPAD, da Plataforma portuguesa das ONGD e informação disponibilizada nos sites das ONGD, relativa sobretudo a recursos financeiros.

No decorrer do trabalho de campo, com o objectivo de realização das entrevistas a representantes das ONGD, constatou-se progressivamente que o material recolhido começava a ganhar corpo suficiente passível de análise, tanto de aspectos comuns, como distintos relativamente, ao sentido das práticas e das próprias formas de actuação para o desenvolvimento por parte das organizações. Paralelamente, a possibilidade de estabelecer a ligação entre aspectos mais globais e micro das acções das ONGD.

3.4.3 Método de análise das entrevistas

Recorremos à técnica de análise de conteúdo para análise de dados a partir das entrevistas. Em função do quadro de análise construído previamente a partir da revisão da literatura foram destacadas as ocorrências, em detrimento das frequências, o significado de uma afirmação vale por si só, enquanto elemento valorativo, conceptual e prático inerente às actividades desenvolvidas por estes agentes. Através das ocorrências dos indicadores definidos para a análise procurou-se, no entanto evidenciar tanto aspectos comuns como divergentes.

IV – Análise dos resultados