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Capítulo IV – Fundamentação da Metodologia e procedimentos de investigação

4. Caracterização da Amostra

Encarando esta investigação como uma oportunidade para reflectir sobre o papel da educação nos dias de hoje e sobre as respostas alternativas ao ensino actualmente preconizado nas escolas públicas, circunscreve-se ao grupo profissional que trabalha seguindo o ideário preconizado por Rudolf Steiner, nas Escolas Waldorf.

Dadas as características deste estudo e tendo em conta a trajectória de existência dos projectos Waldorf, optou-se por seleccionar três entrevistados, identificados por A, B, C, seguindo os seguintes critérios:

− Ter experiência num projecto baseado nos princípios da Pedagogia

Waldorf.

− Ter desempenhado funções de educador/professor ou de direcção em

estabelecimentos de Pedagogia Waldorf.

− Interesse em serem entrevistados.

Decidiu-se que se deveria agrupar as diferentes entrevistas, tratando-se da mesma questão, com o objectivo de se poder, sempre que possível, fazer ao mesmo tempo um estudo comparativo das práticas, das opiniões e das atitudes, dos profissionais ligados ao ensino alternativo Waldorf, em diferentes projectos, funções e localidades. No próximo capítulo apresentar-se-ão as características dos entrevistados e a consequente análise das entrevistas.

Salienta-se que foram cumpridos os critérios de selecção da amostra para o presente estudo.

4.1. Caracterização contextual da “Escola das Virtudes Waldorf”, situada no Porto

Implantada no centro histórico da cidade do Porto, num edifício de raiz setecentista (com fachada prolongada por muro encimado por estatuetas em granito

atribuídas a Nicolau Nasoni) e voltada ao ocidente com o Atlântico no horizonte e o Rio Douro a seus pés, a “Escola das Virtudes Waldorf" prossegue a experiência iniciada em 1982 com a Cooperativa de Ensino Waldorf que lhe deu existência e que, durante mais de uma década, desenvolveu experiências alternativas de formação na área das artes plásticas e do design, sob influência e como resultado da “aventura” pedagógica ensaiada pelo movimento de artistas, professores e intelectuais que, na década de sessenta, deu corpo à Cooperativa Waldorf do Porto, denominado comummente Ensino Waldorf: unidade e diversidade, experimentação e abertura à inovação, aprendizagem em vez de burocracia, convívio contra a indiferença, preocupação pelos problemas individuais, a todos os níveis, ousadia artística no seio de rigor científico.

Esta “Escola das Virtudes Waldorf” mantém um relacionamento privilegiado e de grande afinidade com a Escola Superior Artística do Porto, devido às gratificantes experiências no recente passado comum, nomeadamente no sucesso do Curso de Ingresso no Ensino Superior Artístico (C.I.E.S.A.) que deu origem à Constituição da Cooperativa titular da Escola.

Mantendo em funcionamento cinco cursos profissionais para outros tantos sectores de actividade com incidência artística, hoje, a “Escola das Virtudes Waldorf”, enquadra-se perfeitamente neste sub-sistema de ensino tutelado pelo Ministério da Educação. Numa clara perspectiva de formação para o desenvolvimento de novas gerações de jovens técnicos e, fiel às suas ideias fundadoras, a esta escola procura fazer do espaço-escola um lugar favorável ao emergir das potencialidades de cada um para a afirmação da sua identidade e autonomia, da criatividade individual e invenção colectiva, de rigor científico e competência técnica.

A definição dos cursos da “Escola das Virtudes Waldorf”, o estabelecimento dos seus currículos e a elaboração de grande parte dos programas das suas disciplinas foram realizados no interior da mesma. Alguns programas das disciplinas das áreas artística e técnica foram desenvolvidos pelos seus professores, tendo mais tarde sido alargados a outras escolas com currículos semelhantes.

Uma nova atitude perante o ensino da arte foi sempre um princípio fundamental deste Ensino que se estendeu à “Escola Profissional Waldorf”. O conceito de que o desenho é algo que se aprende, e não apenas para que se tem

ou não jeito, aliado à estimulação da criatividade são a razão de ser do “Ensino Profissional Waldorf”.

Assim, esta Escola, encontrando-se vocacionada inteiramente para a área artística, aborda o ensino profissional numa perspectiva que privilegia o desenvolvimento das capacidades criativas e das competências técnicas, aliada a uma forte preparação pessoal e profissional numa perspectiva transdisciplinar e de integração de saberes, com vista à formação de trabalhadores adaptados a um mundo do trabalho em rápida mutação e, ao mesmo tempo, de cidadãos activos e participativos na sociedade.

Procurando formar jovens que possam também dar continuidade aos seus estudos no ensino superior, a “Escola das Virtudes Waldorf”, ao mesmo tempo que atribui uma grande importância às disciplinas de carácter científico, procura que os seus formandos obtenham uma formação técnica de qualidade, visando responder às necessidades de formação do tecido social da região norte ao nível de quadros médios, numa área que se reveste de particular significado na actualidade, visto que o desenvolvimento da nossa região passa por uma grande aposta no design e no desenho de projecto, vertentes mais carenciadas no tecido empresarial envolvente.

Para além de uma formação em contexto de trabalho, e considerando que o futuro dos profissionais que estamos a formar passa, não só pela angariação de um emprego, mas pelo desenvolvimento da sua capacidade de trabalho que poderá ser realizada sob a forma independente de prestação de serviços, procura-se dar grande importância à informação e formação, pelo gabinete da Unidade de Inserção na Vida Activa (UNIVA), com vista à associação de jovens para a criação de micro- empresas ou cooperativas de prestação de serviços.

Na formação profissional desenvolvida na “Escola das Virtudes Waldorf”, desempenha um papel importante a Prova de Aptidão Profissional (P.A.P.), cujos trabalhos realizados pelos alunos e avaliados por um júri constituído não apenas por professores mas, também, por técnicos ligados ao mundo empresarial e sócio- profissional, são expostos no final do ano lectivo em local de grande público - Mercado Ferreira Borges, Museu do Carro Eléctrico, Casa das Artes, Casa da Companhia, Alfândega do Porto, nas instalações da “Escola das Virtudes Waldorf”, a par de um Desfile de Moda que têm sido formas eficazes de evidenciar as competências dos nossos alunos e, simultaneamente o melhor passaporte para o

mercado de trabalho, reconhecidas que têm sido a qualidade dos trabalhos apresentados.

4.2. “Jardim-de-Infância Waldorf”, em Alfragide

O Jardim-de-infância Waldorf situa-se numa vivenda rodeada por um amplo jardim com árvores. Para além de um grupo de Jardim-de-infância com 20 crianças, compreendidas entre os 3 e os 6 anos, tem também um berçário com 6 bebés e um grupo de creche com 10 crianças de idades compreendidas entre a aquisição da marcha firme e os 3 anos.

Os ritmos do mundo e os ritmos da criança orientam o dia-a-dia do Jardim- de-Infância Waldorf. Aqui, com base na pedagogia Waldorf, dá-se a maior importância à imaginação que ao intelecto, aos brinquedos simples feitos com materiais naturais do que às máquinas de plástico.

Neste espaço educativo, as crianças encontram um ambiente que lhes permite desenvolver a imaginação, a confiança, a vontade, indispensáveis nesta fase pré-escolar em que a experiência do mundo está ainda muito ligada ao seu próprio ser.

Neste Jardim-de-infância acredita-se que o melhor ambiente para a criança pequena se desenvolver é a atmosfera familiar onde a mãe cozinha, canta e cuida com amor. Por isso, com uma família em que os pais e os educadores actuem em sintonia na tarefa de sentir e entender a criança, estabelecendo laços de confiança de modo a ajudá-la a desenvolver-se de forma integral e feliz.

O princípio básico é o da imitação: é o que a educadora faz e sobretudo a forma como o faz que actua, decisivamente, como aspecto formador. Evitam-se formas de autoridade exteriormente impostas (confronto, reprimenda directa), contribuindo-se, desta forma para o fortalecimento da vontade da criança, permitindo um clima de segurança afectiva e criando uma relação de confiança e respeito mútuo.

Os ritmos da natureza – a noite e o dia e contracção e a expansão do pulmão na respiração – são aplicados ao desenvolvimento da criança e à rotina diária do Jardim-de-infância. As sequências repetem-se diariamente, mudando apenas o conteúdo das aprendizagens modelagem em cera de abelhas, Euritmia, fabrico de

pão, pintura, limpeza/manutenção, sempre com a preocupação de não sobrecarregar as crianças.