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Capitulo II – EDUCAÇÃO E PEDAGOGIA WALDORF

2. A Pedagogia Waldorf

2.2. Os Professores e os Alunos na Pedagogia Waldorf

2.2.1. O Professor Waldorf

Na maioria das escolas, o professor é um funcionário público contratado para ensinar. O corpo docente é a soma dos seus membros unidos por certos interesses comuns.

No que concerne à escola Waldorf, o corpo docente é uma comunidade de pedagogos autónomos, responsáveis apenas perante a sua própria consciência pedagógica.

Lanz (2000, p.86) esclarece:

Eles são chamados de uma forma livre… o que vale para a sua escolha, são a sua personalidade, a sua capacidade pedagógica, os seus conhecimentos e a sua experiência de vida. Essa comunidade colegiada baseia-se na identidade da sua tarefa, conforme os princípios que resultam da Antroposofia de Steiner.

São os professores que representam a pedagogia Waldorf, praticando-a, e cada professor Waldorf encontra-se com os seus alunos a partir desse conceito geral.

Tendo em conta todo o contexto cármico, o professor Waldorf, sente-se encarregado de uma tarefa especial diante de cada aluno, mormente quando este apresenta problemas.

Cada professor deveria ter sempre em conta a evolução do indivíduo e da humanidade, pois participa activamente de ambas.

Conforme Lanz (2000, p.80), o professor sabe que “cada matéria (da qual ele é mensageiro para os seus alunos) está integrada num Cosmo total. Sabe também que as ciências têm um lugar importante na visão geral do mundo, mas que não a constituem exclusivamente”.

Deste modo, o papel do professor Waldorf é de grande responsabilidade. Ele deve estar consciente do seu próprio trabalho, o qual não visa apenas o intelecto e os sentimentos dos seus alunos, mas tem por meta última o seu desenvolvimento espiritual e moral, bem como a harmonização do anímico-espiritual com o corpo.

Steiner (1999, p.81) clarifica que:

Cada membro da personalidade do educador actua principalmente sobre o membro imediatamente inferior da pessoa do discípulo. O corpo físico deste é, portanto, influenciado, nas suas funções mais íntimas, pelas forças que emanam do corpo etérico do professor; o corpo astral – isto é, as emoções e qualidades mais íntimas deste último – exerce uma influência sobre as suas funções orgânicas e sobre a sua índole em geral. Finalmente, a personalidade do professor

actua sobre os sentimentos e emoções dos alunos, ou seja, sobre a sua organização astral. O único membro do aluno que não recebe influência directa é o eu, e de facto a personalidade humana, potencialmente livre, deve seguir os seus próprios impulsos.

Como tal, o professor actua com o seu corpo etérico sobre o corpo físico do aluno, justamente na altura em que o próprio corpo etérico do aluno também plasma o corpo físico, isto é, durante o primeiro seténio.

Conclui-se, então, que é a maneira de ser do educador que actua sobre a criança até aos sete anos de idade. No que concerne ao segundo seténio, é a vida temperamental do professor, bem como as emoções que dela irradiam que agem sobre o corpo etérico dos alunos. Já no terceiro seténio, o eu do educador, a sua personalidade intelectual e moral provocam as reacções emocionais da astralidade dos alunos.

Importa relembrar que como seténios se denomina as divisões da vida humana de sete em sete anos. Portanto, quando se referenciam aos primeiros seténios, está-se a referir às fases que vão dos zero aos sete anos de idade, dos sete anos aos catorze, aproximadamente, e assim sucessivamente.

Deste modo, ao professor Waldorf são exigidas qualidades e capacidades diferentes, de acordo com os seténios em que se encontra a leccionar.

Steiner elaborou três princípios pedagógicos que orientam o professor neste âmbito: a imitação no primeiro seténio; a autoridade amorosa no segundo e o juízo próprio, resultado da observação e da vivência própria, no terceiro.

Para os primeiros oito anos, se tudo corre normalmente, o ideal é o professor acompanhar a classe (“professor de classe”) sendo que, ao longo desse tempo, o professor deverá desenvolver-se para que a turma não se canse dele, e, por outro lado, deverá assumir encargos fora do próprio ensino (participar em conferências, reuniões, …).

A partir da nona série, o sistema de “professor de classe” termina, deixando de existir, deste modo, a figura protectora do “professor de classe”, e todas as matérias passam a ser dadas por professores especializados e cada classe possui, ainda, o seu tutor (escolhido pelos próprios alunos, ele constitui o elemento de ligação entre a classe e a escola, que assume a função de manter o contacto pessoal com a classe, conhecer os seus problemas e ajudar na solução de quaisquer problemas que possam surgir, bem como de centralizar as informações

de todos os professores que leccionam na sua classe e ser o elemento de ligação com os pais dos alunos).

Com efeito, a partir da nona série, o professor não pode aplicar um método, mas sim, deverá actuar como indivíduo, sendo que o seu ensino será cunhado da sua personalidade. Serão as suas qualidades que conquistarão o respeito dos alunos e não a aplicação de qualquer técnica ou método.

O professor é, nesta pedagogia, o próprio símbolo do espírito Waldorf.

A consideração de que a criança tem uma forma de apreender o mundo diferente do adulto, não é uma exclusividade da visão antroposófica. Ela foi construída – processual e historicamente – junto ao reconhecimento da especificidade da infância (Áries, 1978) e ao estabelecimento da Pedagogia como Ciência (Kohan, 2005).

No percurso desta história é importante ressaltar a contribuição de Rousseau, um dos primeiros pensadores a considerar que a mente infantil opera diferentemente da do adulto, ou seja, “a mente infantil não é nem carente, nem insuficiente, mas se estrutura de outra forma” (Costa, 2000, p.36).