• Nenhum resultado encontrado

Valores e Crenças das Escolas Waldorf

Capitulo II – EDUCAÇÃO E PEDAGOGIA WALDORF

2. A Pedagogia Waldorf

2.1. Valores e Crenças das Escolas Waldorf

Em todo o contexto educativo das escolas de Rudolf Steiner, está presente a Antroposofia. Esta é uma ciência que torna única cada escola Waldorf pois os valores, tradições e símbolos que fazem parte da cultura da organização estão directamente relacionados com os princípios projectados pela Antroposofia.

Relembremos que para a Antroposofia, o Homem não pode ser apenas considerado como ser biológico, mas também como um ser espiritual para que possa ser compreendido, ou seja, para que possam ser encontradas soluções para “a crise da economia, da religião, do equilíbrio, da moral, das instituições políticas, do ensino, da medicina, etc., uma vez que essas crises são na realidade, apenas sintomáticas” que, quando agrupadas, se transformam numa só crise, “a crise do Homem” (Lanz, 1999, p.41).

A Antroposofia procura, desta forma, perspectivar e entender a realidade fornecendo uma explicação para a existência do Homem, sendo conhecedora das causas relativas às crises por ele vivenciadas e tendo em atenção o seu desenvolvimento e crescimento global. É com este pensamento mais amplo e

abrangente que a Antroposofia encontra soluções para o Universo do Homem e para a situação em que vive a Humanidade (Ibidem).

Qualquer que seja o momento, o meio social deve moldar-se ao homem e variar em função dele. A sociedade, no entender de Lanz (1986, p.149), não é apenas a soma das partes (os serviços, os bens, os elementos que dela fazem parte), é algo mais, uma vez que possui o seu “espírito próprio e as suas instituições particulares, sempre em função dos seus membros”.

Apesar desta adaptação da sociedade ao indivíduo, este deverá conhecer o meio em que vive para mais tarde se integrar mais facilmente dentro dele.

Steiner (1997) defendia uma Antroposofia orientada para o futuro onde o Homem poderia vencer a crise em que vive a Humanidade através do livre-arbítrio. Não estabelece rigidamente soluções, apenas pretende estimular o homem para a reflexão da responsabilidade que possui ― formar a criança para que esta se integre harmoniosamente na sociedade e na civilização ambientes.

Deste modo, Lanz (2000), partindo da ideia de que a educação humana possui como objectivo principal o desenvolvimento da personalidade, sugere ser a escola um lugar privilegiado nessa preparação.

Na escola Waldorf, o ideal que o Homem deve alcançar é o de “indivíduo espiritual, anímico e físico; alguém que lute para realizar a sua imagem arquetípica”. A entidade humana é formada por quatro elementos: “o corpo físico, o corpo etérico” (o que mantém o corpo biológico vivo), “o corpo astral” (ligado à luminosidade do ser e aos sentimentos) e “o eu espiritual” (consciência da moral). Os primeiros sete anos da criança estão intimamente ligados ao desenvolvimento do corpo físico “consolidando-o, estruturando-o e dotando-o de funcionamento correcto”; o corpo etérico só se torna autónomo, aproximadamente aos sete anos, quando a criança se prepara para entrar na escola (Lanz, 2002, pp.79-80).

O ser humano possui todas estas características dentro de si e a educação deverá auxiliá-lo nas suas realizações. O próprio corpo e a vida anímica são considerados como meros instrumentos para que a individualidade, considerada como uma luta espiritual, possa atingir a sua meta suprema (Lanz, 1986).

A relação de convívio que o indivíduo tem com os outros é primordial, pois facilitam o desenvolvimento e o bem-estar comum a todos.

Há uma outra face considerada fundamental na Antroposofia é o facto de esta se encontrar em permanente evolução. Assim, os professores Waldorf têm de

procurar que o seu conhecimento e também a sua forma de leccionar não sejam perenes, modificando-se e alargando-os sempre que possível. É com base neste pensamento que se deve considerar a Antroposofia como uma ciência espiritual viva, embora ela se apresente, hoje, como algo integralmente construído (Lanz, 1999).

Nas escolas seguidoras da pedagogia de Rudolf Steiner, não é leccionada a disciplina de Antroposofia. Porém, esta encontra-se bem patente em toda a organização e “é esta visão do Universo e do Homem resultante de métodos científicos” projectados no desenvolvimento da criança que vive no coração dos professores e dos alunos (Lanz, 1986, p.66).

O sistema educativo criado pelo mentor das Escolas Waldorf - Rudolf Steiner - assume, como se pode constatar, o modelo paradigmático existencial, ligado ao paradigma humanista da dimensão normativa educacional que, por sua vez, pressupõe uma abordagem orgânica, na sua dimensão exemplar (Bertrand & Valois, 1994).

O modelo educativo de Steiner assume uma concepção existencialista dado conceber a pessoa como fim (sujeito) e não como objecto, bem como enfatiza a extra-racionalidade, a intuição e a afectividade como significação global do paradigma existencial (Ibidem).

A concepção da pessoa veiculada pelo paradigma existencial, inspira-se, claramente, nas teorias da psicologia humanista que propõe uma concepção da pessoa activa, a pessoa que age mais de forma consciente e responsável.

A pessoa do paradigma existencial caracteriza-se por ser capaz de estar à escuta dela própria, de viver todos os seus sentimentos, de desenvolver todas as suas possibilidades. Aberta ao mundo e à sua própria experiência, a pessoa confia no seu organismo, adopta uma linha de comportamento em função de critérios subjectivos e vê o seu poder de criação facilitado.

De acordo com Bertrand & Valois (Idem, p.131):

A vida e a evolução são concebidas de uma forma teleológica e que tudo o que existe se define no seu conjunto como um sistema de fins e de meios cuja finalidade última é exógena à pessoa humana. Esta possui a capacidade de se consciencializar da sua interacção com o ambiente biofísico, social, cultural, cósmico e espiritual.

Segundo os mesmos autores (1994), o crescimento individual é essencialmente a finalidade da vida e constitui o seu valor por excelência.

Na Escola Waldorf, o humanismo, ou mais precisamente, aquilo a que chamamos paradigma existencial, valoriza a filosofia da educação centrada no aluno concebido como agente activo das suas aprendizagens.

O paradigma humanista da educação centra-se, prioritariamente, no desenvolvimento da pessoa para que ela se sinta bem na sua pele e possa funcionar plenamente e favorece a criação de uma sociedade centrada na pessoa, promovendo uma concepção do conhecimento centrada na subjectividade e na qualidade do ser, substituindo o saber ter, a aquisição de conhecimentos, pelo saber ser e organicidade das aquisições (Ibidem).

Deste modo, é objectivo desta pedagogia, centrada numa visão humanista da educação, a promoção da criatividade subjectiva, da expressão do eu, da comunicação, da alegria, do amor, de uma nova imagem da pessoa, na qual ela é livre interiormente para se movimentar em qualquer direcção e optar, livremente, pelo processo transformador, possuindo um sentido de liberdade total.

Nas Escolas Waldorf está presente a abordagem orgânica, na medida em que os conteúdos da formação são determinados pelo aluno, a aprendizagem faz- se num clima caloroso, vivo e alegre, construído com base nas relações humanas revalorizadas.

Por outro lado, o modelo Educativo Waldorf é orientado ao Cliente, dado aspirar à restituição de uma dimensão humanista e personalista do acto educativo, fazendo da exposição escolar uma experiência aprazível de vida, sujeita à constante interpelação por parte do conjunto da comunidade que assim se assume no papel de sociedade educativa (Carneiro, 2001).

O ciclo educativo orientado ao Cliente vê na instituição escolar, de acordo com Carneiro (Idem, p.108) “um poderoso aliado na busca de um sentido para a formação integral que é a antecâmara de uma cidadania participativa e consciente”.

De facto, o modelo educativo criado por Steiner preocupa-se com a valorização dos quatro pilares da educação. O aprender a conhecer; o aprender a fazer; o aprender a viver e o aprender a ser, pilares esses que serão tratados/referenciados mais adiante.