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Capítulo V: Metodologia e instrumentos de análi se

V.3. Amostra

V.3.3. Caracterização da amostra

A caraterização desta amostra é concretizada com base nos dados demográficos fornecidos pelos jovens e pelos seus encarregados de educação no período que antecedeu cada entrevista. Foram recolhidos através de questões realizadas informalmente, isto é, sem um questionário estruturado, para funcionar como quebra-

gelo.

Idades

O grupo dos JSE é constituído por 12 indivíduos, com idades entre os 21 e os 26 anos, numa média de 22,6. Este valor é ligeiramente mais baixo para o grupo JIE, que atinge apenas os 20,75 anos. A mesma diferença se verifica entre os encarregados de educação dos jovens, sendo no entanto mais acentuada neste caso; verifica-se que em média os encarregados de educação dos JSE são bastante mais velhos; têm idades que variam entre os 47 e os 67 anos, numa média 53 anos; enquanto isso, os encarregados de educação dos JIE atingem uma média de 46,6 anos e as suas idades variam entre 39 e 67 anos.

Género

O grupo JSE é constituído por quatro jovens do sexo masculino e por oito do sexo feminino. Quanto aos encarregados de educação destes jovens, fazem parte da amostra dois indivíduos do sexo masculino e 10 do sexo feminino. Dos JIE, 8 são rapazes, quatro são raparigas; nos encarregados de educação enquanto dois são homens 10 são mulheres. Em ambos os grupos de encarregados de educação, realça-se a preponderância das mães.

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Habilitações académicas

Os JSE distribuem-se por várias áreas de formação, que vão das mais técnicas como a Contabilidade e a Gestão e Administração Pública às mais sociais como a Antropologia, o Serviço Social ou a Educação de Infância. Dos que a inda se encontram a frequentar o ensino superior, verifica-se que se encontram em diferentes anos de escolaridade, dado que uns estão a iniciar a sua formação e outros estão prestes a concluí-la.

A Tabela 7 caracteriza as habilitações académicas dos JSE, JIE e respetivos encarregados de educação.

O grupo JSE é formado quatro jovens recém-licenciados e oito a frequentar o ensino superior. Os JIE apresentam alguma dispersão no que se refere às suas habilitações literárias, embora se verifique a prevalência de jovens com o 9º ano; seis deles cumpriram a escolaridade obrigatória de nove anos, um dos quais através do programa de RVCC, e cinco limitaram-se ao 6º ano de escolaridade.

Quanto aos encarregados de educação, destaca-se o facto de os EEJSE apresentarem habilitações académicas inferiores aos dos EEJSI. Esta realidade não pode ser desligada do facto de aqueles pais serem, em média, mais velhos. Metade dos indivíduos é analfabeta (seis mães); quatro são detentores da 4ª classe e apenas dois têm uma escolaridade ao nível do 2º e 3º ciclo. O peso excessivo da representação das mães Tabela 7

Habilitações Académicas dos Participantes

Habilitações literárias JSE EEJSE JIE EEJIE

Analfabetos 0 6 0 1 4ªClasse 0 4 0 6 5º Ano 0 0 0 0 6º Ano 0 1 5 0 7º Ano 0 0 0 1 8º Ano 0 0 1 0 9º Ano 0 1 6 3 11º Ano 0 0 0 1 A frequenta Ensino Superior 8 0 0 0 Licenciados 4 0 0 0 Total 12 12 12 12

168 no grupo não permite fazer uma análise comparativa da diferença de género a este nível, mas o que se constata é que dos seis elementos analfabetos, todos são do sexo feminino. Em suma, ao nível da escolaridade este grupo é caracterizado pela sua baixa escolaridade, registando um significativo peso do analfabetismo e uma fraca representatividade de indivíduos com habilitações para além da 4ª classe.

No que se refere ao grupo dos EEJIS, o panorama é diferente, para melhor, registando-se apenas um caso de analfabetismo; seis indivíduos concluíram o ensino primário sem dar prosseguimento aos estudos; um indivíduo concluiu o 2º ciclo do ensino básico; quatro frequentaram o 3º ciclo de ensino tendo três concluído e um deles encontra-se em processo de conclusão do 12º ano através do programa de RVCC; uma encarregada de educação frequenta o 11º ano. Para além de apenas integrar um caso de analfabetismo, este grupo tem em relação aos pares EEJSE mais indivíduos com experiência de escolaridade para além do ensino primário.

Para complementar os dados relativos aos participantes e enriquecer os dados sobre as famílias dos jovens, incluímos na Tabela 8 o nível de escolaridade do pai e da mãe.

Tabela 8

Nível de Escolaridade dos Progenitores

Nível de Escolaridade Pai/mãe Pai/mãe Pai/mãe

JSE JIE Total

Ambos Analfabetos 1 0 1 Analfabeto e 4ª Classe 5 2 7 4ª Classe e 2ª Classe 1 1 2 Ambos a 4ª Classe 3 4 7 4ª Classe e 7º Ano 0 1 1 8º Ano e 4ª Classe 1 0 1 9º Ano e 4ª Classe 1 1 2

Sem informação/9º Ano 0 1 1

9º Ano e 9º Ano 0 1 1

9º Ano e 11º Ano 0 1 1

Total 12 12 24

Quando fazemos uma análise dos níveis de escolaridade dos grupos tendo em conta os dois progenitores e não apenas o encarregado de educação, verificamos que dos

169 12 JSE que fazem parte da amostra, cinco têm progenitores em que um é analfabeto e o outro tem como habilitações literárias apenas a 4ª classe; apenas um jovem descende de pais em que um dos elementos concluiu o 3º ciclo do ensino básico, não havendo nenhum caso em que pelo menos um dos elementos tenha experiência de ensino secundário. Confirma-se a perceção de que estamos perante jovens descendentes de pais muito pouco escolarizados.

A situação nos JIE é ligeiramente diferente, com quatro casos em que ambos os progenitores têm a 4ª classe como nível de escolaridade. Em quatro casos, há pelo menos um dos progenitores com experiência do 3º ciclo de ensino, e em três desses casos com conclusão do mesmo. Uma encarregada de educação deste grupo é a única que detêm uma escolaridade ao nível do secundário (11º ano), encontrando-se à data da recolha dos dados a frequentar o 12º ano, enquanto uma segunda mãe encontrava-se no processo de RVCC para também concluir esse ciclo de ensino.

O facto de este grupo ser mais escolarizado que o dos EEJSE não disfarça o problema da baixa escolaridade dos pais dos jovens da amostra; o grau de escolarização continua a ser muito baixo, apesar de ligeiramente superior no caso dos EEJIE; esta superioridade não parece ser para fazer diferença nos desempenhos escolares dos seus filhos.

Habitação

Todas as famílias incluídas no estudo residem ou residiram em bairros sociais ou clandestinos. Duas das famílias dos JSE vivem atualmente em casa própria, adquiridas uma no bairro social onde vivia em regime de arrendamento e outra no local adjacente ao bairro social onde antes vivia; estas famílias beneficiaram do apoio do programa estatal PER – Programa Especial de Realojamento. Três agregados habitam casas de construção clandestina; os restantes seis vivem em edifícios de construção vertical em apartamentos de habitação social para os quais pagam uma renda.

170 Tabela 9

Habitação

Tipo de Habitação JSE JIE Total

Construção Clandestina 3 4 7

Habitação Social Arrendada 6 3 10

Casa Própria 2 4 5

Casa Arrendada 1 1 2

As famílias dos JIE vivem quatro em construções clandestinas, mas quase metade (cinco) tem casa própria ou arrendada.

Constata-se, assim, que uma boa parte do total das famílias vive numa habitação social arrendada; um número expressivo dos agregados vive em casas de construção clandestina; algumas destas construções encontram-se bastante degradadas, apresentando condições de habitabilidade muito precárias.

Da amostra fazem parte jovens residentes nos seguintes bairros e Concelhos: Bela Vista (Setúbal); Santa Marta de Corroios, Arrentela e Quinta da Princesa (Seixal); Monte de Caparica (Almada); Cova da Moura, Bairro 6 de Maio, Quinta de Santa Filomena (Amadora); Apelação (Loures) e Outurela (Oeiras).

A escolha do espaço geográfico de abrangência do estudo foi ditada pela concentração dos imigrantes em determinados territórios (Distritos de Setúbal e Lisboa); procurámos incluir na amostra jovens de diferentes Concelhos para obter alguma dispersão. Este objetivo foi conseguido, apesar das grandes dificuldades em captar para o estudo jovens de locais que, em muitos casos, não conhecíamos.

Naturalidade e nacionalidade dos participantes

Na Tabela 10 apresentamos os dados relativos à naturalidade e nacionalidade dos participantes do estudo.

171 Tabela 10

Naturalidade e Nacionalidade dos Participantes

Naturalidade JSE JIE Total EEJSE EEJIE Total

Portugal 9 6 15 0 0 0

Cabo Verde 3 6 9 12 12 24

Nacionalidade JSE JIE Total EEJSE EEJIE Total

Portuguesa 12 10 22 7 9 16

Cabo-verdiana 0 2 2 5 3 8

Os JSE são maioritariamente nascidos em Portugal (nove) e têm nacionalidade portuguesa (12). No caso dos JIE são tantos os que nasceram em Portugal como os que são nativos de Cabo Verde; seis indivíduos em cada país. Os encarregados de educação, quer dos JSE quer dos JIE, nasceram em Cabo-Verde; cinco dos EEJSE conservam a nacionalidade cabo-verdiana, enquanto no caso dos EEJIE apenas três; a nacionalidade de todos os restantes encarregados de educação é portuguesa.

Dimensão dos agregados familiares

Todos os JSE vivem em famílias com um número igual ou superior a cinco elementos, atingindo o número máximo de oito indivíduos. A maioria dos jovens vive em agregados de cinco ou seis elementos. Por seu turno, os JIE vivem em agregados com um número igual ou superior a três e no máximo a chegar aos oito; a maioria das famílias comporta entre cinco a sete elementos. A dimensão destes agregados concorrerá certamente para agudizar as dificuldades económicas que a partida as carateriza.

Tabela 11

Dimensão dos Agregados Familiares

Dimensão do Agregado

JSE JIE

Nº de Famílias Nº de Famílias Total

3 0 2 2 4 0 1 1 5 4 4 8 6 4 2 6 7 3 2 5 8 1 1 2 Total 12 12 24

172 Os agregados familiares da amostra são caracterizados pelo número de filhos que, chega a ser de seis; parte das famílias agregam elementos para além do casal e dos filhos: avós, tios, primos e sobrinhos fazem parte de algumas.

Ocupação profissional dos progenitores

As baixas qualificações das mães e dos pais dos jovens da amostra refletem-se nas atividades profissionais que desenvolvem. A maioria das mães dos serviços de limpeza e prestação de cuidados a idosos; os pais na construção civil.

Tabela 12

Ocupação e composição dos progenitores

Mães EEJSE EEJIE Total Pais JSE JIE Total

Empregada de limpezas 9 4 13 Pedreiro 8 6 14

Empregada doméstica 2 2 4 Ladrilhador 1 0 1

Ama 1 1 2 construção civil Subempreiteiro 1 0 1

Auxiliar ação educativa 0 0 0 Laminador 1 0 1

Empregada de lar 0 1 1 Bombeiro 0 1 1

Ajudante de apoio

domiciliário 0 1 1 Carpinteiro 1 1 2

Comerciante 0 1 1 Comerciante 0 1 1

Secretária 0 0 0 Segurança 0 1 1

Ajudante de pasteleiro 0 1 1 Desempregado 0 1 1

Desempregado 0 1 1 Falecido 0 1 1

Total 12 12 24 12 12 24

Não se verifica diferença na ocupação das mães de ambos os grupos; para além dessas atividades são também áreas de ocupação o apoio domiciliário e em lares. As mães empregadas de limpezas exercem as suas funções por conta de empresas do ramo, em casas particulares ou em restaurantes. Têm normalmente mais do que um emprego e trabalham quase sempre mais do que oito horas diárias. As mães empregadas domésticas, que exercem a sua função para particulares, fazem-no em várias casas (trabalho à hora) e raramente numa única. Quanto aos pais, em ambos os casos, são maioritariamente operários da construção civil, embora alguns casos exerçam outro tipo

173 de atividade: um pai é monitor de formação68, um é bombeiro, um comerciante e outro segurança.

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