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Capítulo V: Metodologia e instrumentos de análi se

V.3. Amostra

V.3.6. Procedimentos de tratamento e análise de dados

Esta fase do trabalho foi iniciada com a atribuição de um código a cada entrevista e respetivos entrevistados, integrando as seguintes componentes: número da entrevista, (E1 a E48); referência ao grupo a que pertence o entrevistado (JSE; JIE; EEJSE; EEJIE)69 e ainda um número correspondente a cada indivíduo dentro do seu grupo. Assim, no código E2JSE2, por exemplo, E2 corresponde ao número da entrevista (entrevista nº 2); JSE significa que se trata de um(a) jovem com sucesso escolar e 2 refere-se ao número que lhe é atribuído dentro desse grupo; o código E17JIE1, por exemplo, refere-se à entrevista nº 17, concedida pela jovem com insucesso escolar nº1; no grupo dos encarregados de educação, o último número do código corresponde ao número do seu educando. Assim, por exemplo, E37EEJSE9, significa entrevista nº 37, pertencente ao encarregado de educação do jovem com sucesso escolar nº 9.

A utilização deste código serve duas finalidades : manter o anonimato dos participantes e permitir ao leitor identificar a que participante e grupo pertencem as citações integradas no texto.

A análise crítica dos discursos dos participantes neste estudo exigia em primeiro lugar a identificação dos temas abordados por eles; o surgimento dos temas no discurso foi nalguns casos provocado pelo investigador e noutros levantados no contexto da realização da entrevista pelos próprios participantes.

Iniciámos o processo com a transcrição integral das entrevistas, passando do registo áudio para o escrito, procurando corresponder às exigências da análise. Após a

69 Relembramos: JSE (jovem com sucesso escolar); JIE (jovem com insucesso escolar; EEJSE (encarregado de educação de JSE); EEJIE (encarregado de educação de JIE)

179 audição das gravações e da leitura flutuante das transcrições, iniciámos a fase de análise textual, recorrendo para tal ao auxílio do software referido.

As categorias ocupam um lugar central na análise qualitativa de conteúdo. Os critérios da sua definição podem ser suportados nas questões e nos fundamentos teóricos que alicerçam o estudo, os quais delimitam os aspetos ou unidades de sentido do texto a ter em conta. As categorias são, por conseguinte, sempre provisórias e deduzidas passa a passo; o investigador pode concluir da pertinência de reduzir o seu número, reorganizando-as em categorias principais ou área temáticas (Mayring, 2000, 2004; Ryan & Bernard, 2003; Böhm, 2004).

A análise textual realizada foi executada por fases; numa primeira, foram categorizadas as entrevistas dos JSE e EEJSE (alternadamente, um jovem um encarregado de educação). A meio do processo tinham sido identificadas 140 categorias, as quais, depois de reagrupadas, deram origem a pouco mais de meia centena; ainda nesta fase foi realizada uma validação das categorias com recurso à colaboração de uma investigadora com conhecimento desta metodologia. Findo o processo de análise textual das entrevistas referentes a esses grupos fez-se novamente um reorganização tendo-se passado para um sistema de 43 categorias; posteriormente a análise do material referente aos JIE e dos EEJIE contribuiu com sete novas categorias, terminando-se o processo com um total de 50. Pouco menos de vinte categorias não atingiram a dezena de citações enquanto mais de dez ultrapassaram a centena, chegando algumas a atingir as três centenas.

No final dessa fase de trabalho as 50 categorias foram reduzidas em seis áreas temáticas, que cobrem o grande tema do estudo – o sucesso escolar dos descendentes de imigrantes cabo-verdianos em Portugal - A ação da família; A ação do próprio aluno; A

ação da escola; A ação dos pares e de “outros significantes”; A ação exercida pelo meio e A ação exercida pelo mercado de trabalho. Estas áreas temáticas estão divididas em subtemas os quais serão objeto de análise conceptual.

As metodologias comparativas são metodologias de investigação qualitativa recomendadas para estudo de N reduzidos e permitem, em primeiro lugar, abordar cada caso como uma configuração complexa de acontecimentos. Os casos, intencionalmente

180 selecionados, são vistos como um todo singular e não como parte de um conjunto homogéneo aleatoriamente selecionado de uma determinada população. Nessa perspetiva, e de acordo com Ragin (2000), cada caso é concebido como uma hipótese de trabalho cuja seleção parte da premissa que reúne um número suficiente de caraterísticas semelhantes às de outros casos para permitir a comparação entre si.

As metodologias comparativas combinam a recolha de dados, a codificação e a análise sistemática com amostragens teóricas, tendo como propósito a construção de teorias a partir dos dados (Kolb, 2012); essas teorias são produto de um diálogo entre as ideias e as evidências dos dados (Ragin, 2000). A sua utilização permite ao investigador descriminar os padrões gerais e isolar as regularidades contextuais, ou seja, a análise das similaridades entre os casos e as especificidades de cada caso, segundo Ragin (2000) e Mills, Bunt, e Bruijn (2006).

De acordo com Ragin (2000), a análise das caraterísticas comuns aos casos positivos fornece pistas significativas em relação à necessidade de ocorrência de determinada condição para que se verifique o fenómeno em estudo; e a construção de uma população negativa permite investigar não a ocorrência de um resultado empírico, mas sim a sua ausência. De acordo com Kolb (2012), a investigação de casos negativos constitui um dos métodos utilizados nos estudos comparativos, nomeadamente como medida de validade dos mesmos. Este autor considera que a investigação de casos negativos permite retirar informação valiosa “from the smallest pieces of data that may appear insignificant at one moment but prove the contrary in the final analysis” (Kolb, 2012, p. 85).

Neste estudo adotamos uma metodologia de análise comparativa, que confronta de forma sistemática os discursos produzidos pelos dois grupos de jovens incluídos na amostra (JSE e JIE) e pelos seus encarregados de educação (EEJSE e EEJIE), procurando identificar um padrão de comportamentos, atitudes e ações dos jovens e suas famílias, associados aos percursos escolares.

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