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7.2. ANÁLISE DO GRUPO FOCAL

7.2.2 Caracterização da empresa ideal

Em relação a caracterização da empresa ideal, existiram pontos em comum que os jovens participantes do grupo focal colocaram em pauta, como podemos perceber nas falas a seguir:

Pensando em carreira eu penso muito em um local que me dê desafios constantes e eu não sei até que ponto uma empresa pode me dar esses bigs desafios. Chega um momento que a sua curva de aprendizados para de maneira muito rápida. Quero uma empresa que me proporcione uma curva de aprendizado muito grande. (P4)

Quando eu penso em carreira eu penso nisso, eu prezo flexibilidade, qualidade de vida e conexão com meus valores. Muito mais isso do que quanto eu vou ganhar ou qualificações. Pensando sempre em contribuição para a empresa, sociedade e enfim... A minha carreira não vai ser a principal coisa da minha vida, sabe? Minha vida não vai ser movida pela minha carreira, como era/é pros meus pais. (P7)

É notório na fala dos participantes a importância que os jovens dão para o protagonismo da própria carreira e como já demonstram uma forma totalmente autêntica de pensar esse contexto. Segundo Beck e Beck-Gernsheim (2006, p. 23 apud DUTRA et al., 2013, p. 130), os jovens estão se tornando “atores, construtores, juízes e gestores de suas próprias biografias e identidade e também de seus vínculos e redes sociais”. A fala demonstra todo o protagonismo e individualidade deles nesse cenário.

Outro ponto importante nessa composição sobre carreira foi a questão dos valores e propósitos, que indubitavelmente foi demonstrada tanto nas falas como nas pausas, respirações e demonstrações físicas dos jovens participantes. Os entrevistados P1 e P6 nos auxiliam nessa compreensão:

Não faz sentido eu acordar todos os dias para eu trabalhar em uma empresa que eu não tenho liberdade, autonomia e conexão com os valores. Vejo e desejo empresas que busquem esse equilíbrio. (P1)

E uma das coisas que eu consigo ter certeza para meu futuro é que meu acordar e meu dormir precisa estar relacionado a alguma causa, entendeu? Não dá pra ser em vão. (P6)

É possível destacar que, pela necessidade emergente de adequação às demandas e premissas do mercado de trabalho, o indivíduo assume maior parcela no desenvolvimento de sua carreira (DUTRA et al., 2013, p. 130). O jovem luta pelo autodesenvolvimento mesmo estando em organizações que não compactuam com seus pensamentos; melhor seria, portanto, que as metas organizacionais correspondessem aos valores pessoais daqueles que integram a organização (TAMAYO; MENDES, 2000).

Nessa lógica, os jovens representados aqui pelos participantes desse grupo focal, esperam fit cultural com as empresas em que trabalham e que os valores sejam algo compartilhado e sentido de fato por eles, assim como abordado na fala de P2:

Acho que a carreira hoje tá muito ligada com o que você busca, em termos de identificação com a empresa. Hoje o desafio é buscar uma empresa que você tenha vontade, autonomia e liberdade. (P2)

Essa compatibilidade entre valores pessoais e organizacionais é tida como um desafio da geração Z. Conforme a obra de Cooper-Hakim e Viswesvaram (2005), podemos aceitar que essa concordância, de um modo geral, pode ser considerada totalmente ligada pelas relações negativas ou positivas dessas. Ainda, como aborda Riveros e Tsai (2011), essa força motivacional voltada pelo fit com os valores e propósito das organizações, quando direcionada ao alcance de metas, tem um papel importante e relevante – ou seja, quando bem utilizado, esse comprometimento com a carreira e compatibilidade com os valores pode direcionar os esforços para resultados nas organizações como um todo.

Em resumo, as expectativas para a empresa ideal, segundo a visão do grupo, podem ser resumidas conforme a nuvem de palavras exposta na figura 8.

Figura 8 – Nuvem de palavras: expectativas quanto a empresa ideal

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

Como podemos observar, “propósito” foi uma palavra muito comentada no desenvolver da conversa com o grupo focal, principalmente quando se pediu para contextualizar os motivos escolhidos para a escolha e caracterização da empresa ideal. No momento em que os jovens ingressam em uma empresa na condição de colaborador é inevitável que ele leve para a empresa suas necessidades e expectativas, principalmente de como atingir sua realização profissional (CHIAVENATO, 2005). Por esse motivo se faz importante as organizações se preocuparem com esse senso de propósito, tão falado e recomendado pelo grupo. Em concernência a isso, o livro “Os segredos das empresas mais queridas” já apresentava esse contexto de nova organização, a qual deve trazer a ideia de carinho, amor, alegria, empatia e compaixão para o dia a dia das organizações, e que essas palavras e sentimentos formataram o contexto das empresas inovadoras (SISODIA; SHET; WOLFE, 2008).

Outro fator bastante comentado pelos entrevistados foi a questão da humanização e diversidade, conforme exposto nas falas de P5 e P1:

Ah, e se eu fosse gestora de alguma empresa ou dona teria um requisito básico, a pessoa não poderia ser de forma alguma machista, homofóbico ou coisa desse tipo, eu não aguentaria e não admitiria conviver com uma pessoa desse tipo. (P5)

Lembrei quando P6 estava falando é que antigamente o desafio era como a tecnologia poderia favorecer as organizações, hoje em dia o desafio é como o ser humanizado por favorecer as organizações. Acho que vai ser sempre mais ou menos nesse ciclo. Nosso desafio de fato enquanto organizações é de fato ser mais humano. (P1)

Estes fatores estão relacionados às novas tendências para o mundo, como podemos observar no artigo desenvolvido por Casas (2019), o qual cita que a geração Z está muito ligada as causas humanizadas e a diversidade, argumentado que “a realidade preocupa esses jovens, que desejam arregaçar as mangas e fazer algo por ela. Nada menos do que 85% disseram estar dispostos a doar parte do seu tempo para alguma causa”. É possível visualizar as causas na figura 9 a seguir.

Figura 9 – Causas mais procuradas e engajadas por jovens da geração Z

Fonte: Google Custumer Survey: Homens e Mulheres, 18 - 24 anos (Brasil, 2019).

Por fim, um fator abordado nos medos, anseios e expectativas para o futuro da carreira dos jovens participantes foi a flexibilidade, conforme aborda P7:

Não consigo visualizar isso na minha vida, acho que minha vida tem que ser muito mais proveitosa, no sentido de mensurar de outra forma por meio dos meus projetos e não por horas que eu passo presencialmente na empresa. (P7)

A flexibilidade é fundamental para a dinâmica do funcionamento das empresas inovadoras. Além de reduzir custos, proporciona uma percepção aos empregados de qualidade e satisfação no trabalho e com certeza pode ser considerada uma tendência que hoje já é realidade (DUTRA et al., 2013, p. 10).

Segundo Dytchwald, Erickson e Morison (2006), as expectativas em relação ao trabalho foram descritas com algumas características, como:

Responsabilidade individual e liberdade para tomar decisões, ambiente de trabalho agradável que fomente relações sociais, oportunidades de aprendizagem e crescimento, colaboração e tomada de decisões em conjunto, feedback contínuo, comunicação aberta, gestores próximos e acessíveis, respeito ao seu estilo de vida e trabalho, retribuição por resultados e flexibilidade temporal e espacial. (DYTCHWALD; ERICKSON; MORISON, 2006, p. 289)

Os autores reiteram a necessidade de flexibilidade, tanto de tempo, quanto geograficamente falando, e ainda por questões de autonomia e liberdade dentro das organizações.

Definiu-se a importância de falar quanto a expectativa do que é um profissional de sucesso, ou seja, sobre o colaborador ideal que trabalharia na empresa, traçada pelos participantes do grupo focal, e podemos concluir que novamente os participantes reacenderam a importância da humanização e propósito.

Acho que hoje em dia as coisas estão virando ainda mais humanizadas, mesmo estando tudo robotizado e orientado pela tecnologia, no fim isso tudo é feito para pessoas e no final pessoas fazem coisas para pessoas. (P6)

Capacidade de solucionar problemas. (P2)

Quando eu penso no perfil dessa eu acho que ele precisa ter uma capacidade de se comunicar com diferentes ambientes e tenha a capacidade de engajar outras pessoas por um propósito. Tem que ter autoconhecimento, tem que entender o que é boa e não é, tem que focar na melhora desses pontos. Uma pessoa orientada pela solução, sabe que vai enfrentar diversos desafios durante o dia, mas foca na solução. (P7)

Os entrevistados também identificaram a importância do relacionamento e a solução de problemas, que segundo Prates (2018), sócio da Falconi, é uma competência de suma importância e de peso para o profissional do futuro, pois o contexto que nos inserimos de inovação e mudanças tornam o cenário de mercado altamente competitivo e imprevisível, conforme cita Prates (2018), que o futuro do mercado será marcado por muitas mudanças e avanços tecnológicos e ainda ressalta que para que as empresas se mantenham competitivas elas precisarão se adaptar junto as pessoas e a é uma habilidade ímpar a resolução de problemas.

Além desses fatores, foram elencadas algumas características resumidas na nuvem de palavras exposta na figura 10 a seguir.

Figura 10 – Nuvem de palavras: características do profissional de sucesso

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

Ele precisa saber como utilizar recursos de maneira eficiente, ele precisa saber como utilizar a tecnologia ao seu favor. (P4)

As habilidades para levar rapidamente os produtos ao mercado e para responder rapidamente às demandas dos clientes são chaves determinantes para o sucesso competitivo, conforme exposto por Horton (1989). Por esse motivo, a tecnologia se faz muito importante e está inserida cada vez mais na rotina do colaborador de empresas atuais e inovadoras, e consequentemente será inerente ao perfil do “colaborador ideal”.

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