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7.2. ANÁLISE DO GRUPO FOCAL

7.2.1 Expectativas para futuro da carreira

Inicialmente, foi questionado aos entrevistados como eles se sentiram ou se sentem, por se tratar de pessoas formadas e concluintes universitárias, com o fim da faculdade. Foram compreendidos os sentimentos acerca da conclusão do curso e o nível empírico de preparo para o mercado de trabalho.

As conclusões sobre o fim da faculdade foram bem negativas. Houve algumas críticas ao sistema de ensino brasileiro, principalmente por focar extremamente em eixos teóricos, conforme comentado por P7 e P1:

O sentimento é que a faculdade me ensinou algumas coisas, mas eu não sei muito sobre alguma área em específica, ou seja, o curso é muito generalista. Saio com a vontade de encontrar algo que eu seja muito bom. (P7)

Quando eu fui chegando ao final da minha graduação foi me dando um desespero, porque eu não via muito como eu poderia aplicar meu trabalho e eu senti que tinha deixado 4 anos ir pro lixo, tinha poucas coisas que eu lembrava no momento que fui pra prática. A graduação não me preparou para o que eu precisava, foi extremamente teórica. (P1)

As principais temáticas e conclusões que o grupo focal chegou em relação a esse tema estão expostas na figura 7.

Figura 7 – Nuvem de palavras: expectativas para o futuro da carreira

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

É perceptível o sentimento de medo ou desespero na abordagem com os jovens. Eles realmente não se consideram preparados para o mercado de trabalho e costumam buscar outras alternativas além da faculdade para realizar suas capacitações e se tornarem mais técnicos. Segundo Casas (2019):

A insegurança com o futuro marca a GenZ mais do que a geração anterior. Esses jovens cresceram sentindo os efeitos de uma crise econômica global, começaram a trabalhar em um mercado que está se transformando e temem os efeitos das mudanças climáticas. Isso se reflete em uma grande preocupação com a possibilidade de não terem um emprego ou propósito na vida. (CASAS, 2019, online)

Outro ponto relevante levantado pela equipe foi a questão da expectativa com o mercado. O grupo focal falou bastante em relação as ofertas do mercado de trabalho, no qual elas não estavam alinhadas e não motivaram em nada os jovens da geração Z, como pode ser constatado na fala de P3:

Eu tô no penúltimo período do curso e a sensação é meio que medo, né? Sinto que o mercado oferece coisas que não estão alinhadas com as minhas expectativas, então muito do que eu tô tentando fazer é botar o pé no chão e pensar que não vai ser o mundo de mil maravilhas… As empresas passam pra gente uma realidade perfeita, mas na realidade quando entramos a gente vê que não é assim... Também dá medo por não saber se vou querer seguir minha carreira em empresas corporativas ou empreender, mesmo me sentindo confiante, medo é a palavra. (P3)

Nessa perspectiva, foi proposto que a discussão passasse para o foco de expectativas da carreira pós formação. Em sua maioria, os jovens participantes do grupo focal abordaram a diferença de ideais, valores e como a forma de fazer negócio da geração passada impacta claramente na motivação, tanto para entrada ou até para a retenção desses talentos na empresa, como evidenciado na fala de P4:

Mas em contraponto há uma distância muito grande entre a nossa geração e a geração dos donos das empresas. Talvez o que eles esperam esteja muito mais distante o que a gente quer, de fato a gente é muito rápido e isso pode ser bom e ser ruim. (P4)

Segundo Thiry-Cherques e Pimenta (2006), vários são os fatores que contribuem para a baixa motivação para a entrada em empresas tradicionais e conhecidas e na retenção desses talentos, como por exemplo: barreiras à socialização dos jovens executivos, que optam pelo desligamento; as empresas exigem uma qualificação impossível – querem, ao mesmo tempo, o acúmulo de informações das gerações anteriores, muitas delas sem utilidade na realidade atual, assim como o domínio de uma grande variedade de áreas de conhecimento –; e o mundo econômico e social contemporâneo (THIRY-CHERQUES e PIMENTA, 2006).

Esse contexto é problemático desde a atração até a retenção dos jovens na abordagem dos participantes dos grupos focais. No entanto, outro ponto que chama a atenção no contexto de futuro e entendimento de carreira está diretamente relacionado com a família dos jovens e um outro tipo de “conflito” com outras gerações, dessa vez, fora do trabalho e dentro de casa, conforme fala P7:

Quando eu penso em carreira eu lembro no que eu cresci ouvindo que era carreira, meus pais falavam que era estabilidade e eu já acho hoje que é flexibilidade. Flexibilidade nos horários, nas tarefas e enfim.. Não me vejo trabalhando 8h por dia durante 30 anos... Não consigo visualizar isso na minha vida, acho que minha vida tem que ser muito mais proveitosa, no sentido de mensurar de outra forma por meio dos meus projetos e não por horas que eu passo presencialmente na empresa. (P7)

O impacto na forma que os familiares buscam influenciar o pensar e estimular os jovens é um fator adverso entre os participantes. A maioria abordou sobre a dificuldade de entendimento e motivações deles para com os pais, como cita P2:

A pressão familiar é algo que me angustia, sabe? Eles projetam muitas coisas e nos comparam com as pessoas da família e as vezes me sinto frustrado com minhas conquistas, meu pai queria que eu fosse advogado e minha mãe administrador, eu não sou nenhum dos dois. (P2)

Um fator interessante e que chamou muito a atenção entre os participantes foi a questão de um nicho de mercado ao qual mostraram certa aversão, que foi a questão do setor público, conforme transcrições abaixo:

Prova da pressão familiar é que não pode ter uma reunião de família que perguntam quando eu vou entrar em um concurso público. Isso não tem nada a ver com a gente! (P4)

Só de falar nesse nome em concurso eu já tenho arrepios… Meu pai é servidor público e me pressionava bastante. (P3)

Essa aversão pode ser reflexo da questão familiar comentada acima, ou seja, por tanta pressão sofrida pelos pais e família, no geral por um emprego dito “estável”, hoje os jovens entrevistados desconsideram a possibilidade de concorrer em concursos públicos. Eldridge e Nisar (2006 apud Dutra et al. 2013) discorrem em seus estudos:

Algumas transformações ocorridas nas organizações para se adequarem a esse novo contexto, dentre elas, podemos citar a diminuição de níveis hierárquicos, utilização de novas tecnologias, necessidade constante de desenvolvimento do empregado e aumento da participação dos profissionais. (ELDRIDGE; NISAR, 2006 apud DUTRA et al., 2013, p. 5)

Dessa forma, é possível compreender o motivo dessa área tão importante no país estar banalizada entre os mais jovens. O setor público é considerado atrasado e fora dos padrões de desejo profissional do jovem da geração Z, com base nas constatações feitas através das entrevistas com o grupo focal.

Ao finalizar essa discussão, foi proposto que fosse discorrido sobre as características da empresa ideal e quais eram as expectativas de carreiras ideais para os jovens participantes da geração Z, como podemos visualizar no tópico seguinte.

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