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CAPÍTULO 2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA SALA DE LEITURA E SUAS

3.1 Caracterização da escola, da comunidade, e dos alunos

A escola que integra a RMESP iniciou suas atividades escolares em 17 de setembro de 2009, sendo criada com o objetivo de receber os alunos de outra escola municipal próxima, que deixou de oferecer um turno intermediário de aulas. Nesse sentido, sua composição inicial de alunos teve um caráter diferenciado, uma vez que foi feita a partir das transferências de outra escola, num período atípico do ano letivo: o mês de setembro. Grande parte dos alunos não queria a transferência para essa unidade nova, mas foram escolhidos pela escola anterior para a transferência compulsória. A princípio, começou a funcionar com um número de salas reduzido e hoje conta com 21 salas de ensino fundamental, sendo: 12 salas dos anos iniciais do ensino fundamental e 09 salas dos anos finais do ensino fundamental.

Apenas em 2011 é que foi formado um corpo docente estável na escola, que tinha optado pela unidade. Até então, os professores excedentes em outras escolas eram remanejados para lá, sem opção de escolha. Em 2014, a unidade escolar completou cinco anos de funcionamento, sendo que apenas nesse ano foi realizada a sua inauguração oficial, ou seja, é uma escola relativamente nova.

Durante a realização da pesquisa, a escola atendia por volta de 700 alunos, distribuídos em dois turnos. No período da manhã, funcionava com as turmas de 6º ao 9ºanos com aproximadamente 280 alunos e 420 alunos do de 1º ao 5ºanos no período da tarde. O espaço físico da escola é limitado, pois o prédio segue uma padronização arquitetônica das novas escolas municipais. A escola é cercada por um muro, intercalado com uma espécie de cerca de grades. Não há muita vegetação e plantas no espaço externo da escola. O prédio possui dois andares, em que são distribuídas as salas de aulas. O pátio fica no andar de baixo e divide espaço com a cozinha, sendo que os alunos têm de dividir esse espaço para recreação e alimentação. A quadra de esportes fica fora do prédio. No andar superior, há um laboratório de informática, com computadores para a utilização dos alunos, uma sala de aula utilizada para exibição de vídeos, em que se encontra uma televisão e um projetor de Datashow, uma sala ampla que deveria ser um laboratório e a Sala de Leitura.

53 Os dados acerca do histórico da escola e da comunidade foram levantados com base na leitura do Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola dos anos de 2013 e 2014. Apesar da existência do PPP do ano de 2014, até o mês de dezembro desse ano ele ainda não tinha sido aprovado pelo supervisor da escola. Dessa forma, consultamos o PPP do ano de 2013 e as atualizações desse documento, na sua versão de 2014, sem vigência oficial.

A escola faz parte da Diretoria Regional de Educação de São Mateus, que se situa no extremo Sul de São Paulo, na imensa área populacional compreendida pela Zona Leste. A área de abrangência dessa diretoria é compreendida por quatro Distritos: São Mateus, Iguatemi, São Rafael e Sapopemba. Na década de 1980, essa região passou pela implantação de grandes conjuntos habitacionais destinados à população de baixa renda, como o Conjunto Teotônio Vilela e Fazenda da Juta, em Sapopemba. O bairro em que se localiza a escola possui infraestrutura e rede de serviços precários para atender os moradores. Dentre alguns equipamentos sociais próximos, consta-se uma Unidade Básica de Saúde (UBS), um Clube Escola (CEL), uma entidade social e dois CEUs. Além disso, vale informar que não há uma biblioteca municipal ou comunitária próxima à escola.

Nos anos de 2013 e 2014, houve a reformulação do Projeto Político Pedagógico (PPP) da unidade com o objetivo de ele ser um documento construído coletivamente. Consta no Projeto Político Pedagógico da unidade educacional que as concepções de educação, educador, aluno, processo de ensino-aprendizagem e de avaliação se aproximam das perspectivas teóricas interacionistas: Teoria Cognitivista e Sócio-Histórico-Cultura54l.

No Projeto Político Pedagógico, há um item com um perfil diagnóstico da comunidade55.

Nele encontramos alguns dados como: (a) o principal cuidador/responsável dos alunos é mãe, em segundo lugar, estão responsáveis pelo cuidado, o pai e a mãe, e em terceira posição há os avós como principais cuidadores; (b) na questão religiosa, impera a evangélica como mais professada, seguida pela católica, e também por aqueles que se dizem católicos mas não praticantes; (c) no geral, o número de habitantes das residências é de três a cinco pessoas; (d) a maioria das famílias possui membros empregados, com renda de dois a quatro salários mínimos, mas o número de trabalhadores autônomos também é alto; (e) o grau de escolaridade dos responsáveis é impreciso, mas indica que em sua maioria chegaram a cursar o segundo ano do Ensino Médio completo; (f) as famílias moram a mais de dez anos no bairro.

Cada turma dos anos iniciais do ensino fundamental possui uma professora polivalente e pedagoga, responsável pelo grupo. De acordo com o Projeto Político Pedagógico da escola, a

54 A base de toda a psicologia histórico cultural foi criada e desenvolvida por pesquisadores vinculados a psicologia soviética, que se utilizaram do materialismo histórico e dialético, para analisar o psiquismo humano. Além da mudança de paradigmas na psicologia, essa teoria foi transposta para as discussões da área educacional, sendo que tem como premissa, a compreensão dos fenômenos humanos a partir de sua constituição histórico- cultural. Para maiores informações consultar: REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico- cultural da educação. 19 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

55 Não é apresentada no Projeto Político Pedagógico a metodologia utilizada para obtenção desses dados, nem maiores informações sobre a quantidade de pessoas pesquisadas.

formação das turmas de alunos, ou agrupamentos, é feita com base no objetivo de se formar turmas heterogêneas, por conta de considerar a questão da diversidade como um fator de aprendizagem.

Em relação ao 4° ano, no ano de 2014, a escola vivenciou uma rotatividade de professoras da turma. A despeito da nossa motivação inicial de escolha da turma por conta da possibilidade de parceria com a professora, tivemos que lidar com essa rotatividade de docentes. A primeira delas foi deslocada para um cargo de gestão na própria escola; a segunda professora que assumiu a turma teve problemas de acúmulo de cargo, por conta de trabalhar na rede estadual de educação, surgindo a necessidade de que uma terceira professora assumisse a regência da turma. Dessa forma, ao longo do ano letivo, os alunos tiveram de passar por um constante processo de adaptação em relação ao trabalho executado pelas professoras.

Na proposta curricular dos alunos do 4° ano, existem as aulas dos professores especialistas, que dizem respeito aos componentes curriculares: de Educação Física, Artes, Inglês, Informática Educativa e Leitura (na SL).

A maioria dos alunos do 4° ano está na unidade desde o início dos anos iniciais do ensino fundamental, e frequentam a SL, sob a minha docência desde o 2° ano do ensino fundamental. Essa situação é relevante, na medida em que a vivência de experiências desses alunos nesse ambiente é anterior às aulas do ano letivo que perfaz a nossa investigação.

A turma do 4° ano tinha trinta e cinco alunos, sendo 21 meninos e 14 meninas, com idade entre nove ou dez anos. A sua composição condiz com os pressupostos do Projeto Político Pedagógico, pois ela apresenta grande heterogeneidade de alunos em termos econômicos, étnico raciais e sociocultural. Os alunos eram em sua maioria brancos, mas também haviam alunos negros. A turma perfazia o perfil indicado pelo PPP, pois apresentava alunos com situações familiares diferenciados em relação a renda e a sua composição. Também haviam diferenças bastante dispares, relativas aos níveis de ensino e aprendizagem, sendo que contava com alunos não alfabetizados.