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Caracterização das amostras: estatística univariada dos valores

6 RESULTADOS

6.2 Caracterização das amostras: estatística univariada dos valores

Em uma crescente globalização do mercado, existem evidências de que o conhecimento acerca das questões ambientais, atitudes quanto aos problemas ecológicos e comportamentos ecologicamente corretos variam de acordo com sua cultura (LAROCHE et al., 1996; LAROCHE; BERGERON; BARBARO-FORLEO, 2001). Torna-se relevante, portanto, descrever ambas as amostras de estudantes com base nas prioridades de valores elencados por eles, por meio do Schwartz Values Survey (SVS), de acordo com a tabela 11. Tabela 11 – Eixos estruturais e valores motivacionais no Brasil e no Canadá: médias, desvios-padrão e teste t

Brasil Canadá

Eixo Estrutural Valor

Motivacional Média D.P. Média D.P. Teste t

Autotranscendência Universalismo 4,90 1,54 4,63 1,63 0,12 Benevolência 5,03 1,54 5,07 1,56 0,61

Autopromoção Poder 3,60 1,69 4,13 1,90 0,36

Realização 4,97 1,40 5,50 1,36 0,01 Autodeterminação 4,98 1,40 5,27 1,43 0,30 Abertura à mudança Estimulação 4,34 1,74 4,71 1,63 0,10

Hedonismo 5,22 1,53 5,31 1,51 0,04

Tradição Tradição 3,75 1,82 3,67 1,95 0,24

Conformidade 5,18 1,49 4,80 1,50 0,00

Segurança 4,96 1,50 4,83 1,59 0,01

* Se o teste t< 0,05, então haverá diferença significativaentre Brasil e Canadá (HAIR et al., 2005). Fonte: Dados da pesquisa.

Ao observar a tabela 11 a partir de um panorama geral, nota-se que a amostra do Canadá possui predominância dos índices de valores referentes à Autopromoção e Abertura à mudança, enquanto a amostra brasileira registrou valores superiores no tangente à Autotranscendência (ainda que tenha uma média um pouco inferior quanto à Benevolência) e

Tradição. No entanto, é válido salientar que, devido ao teste t realizado, nem todas as diferenças de médias podem ser consideradas. No caso dos valores motivacionais mencionados, os únicos que possuem diferenças significativas, ou seja, menor que 0,05, são Realização, Hedonismo, Conformidade e Segurança.

Quanto aos valores motivacionais, tem-se, por ordem, o Universalismo, representado pelos valores “protetor do meio ambiente”, “um mundo de beleza”, “união com a natureza”, “aberto” (broad-minded), “justiça social”, “sabedoria”, “igualdade”, “um mundo de paz” e “harmonia interior”. Apesar de não possuir diferenças significativa entrre as amostras, isto é, a diferença entre elas não pode ser levada em consideração, a amostra brasileira indicou uma maior média (4,90 versus 4,63) em relação à amostra do Canadá. A Benevolência, com valores como “prestativo”, “honesto”, “indulgente”, “responsável” e “sentido na vida”, revelou um escore maior pela amostra canadense, com apenas a diferença mínima de 0,04. A diferenças dos valores referentes a Benevolência também não puderam ser considerados por apresentar um teste t de 0,61. De qualquer forma, é interessante saber que Franzen e Meyer (2009) informam que as culturas de países emergentes solvem problemas relacionados a condições básicas de vida (alimentação, educação e saúde, por exemplo), elas tendem a voltar-se a problemas de cunho coletivo (justiça social, preservação do meio ambiente e liberdade política). Ademais, por serem valores de natureza coletivista, sabe-se que “a fim de promover o bem-estar coletivo e a harmonia social, as pessoas são encorajadas a suprimir alguns dos seus desejos individualistas e hedonistas” (GOUVEIA; CLEMENTE, 2000).

Os valores motivacionais – Poder (representa valores como “poder social”, “autoridade” e “reconhecimento social”), Realização (“bem-sucedido”, “capaz”, “ambicioso”, “influente”, “inteligente” e “autorrespeito”) e Autodeterminação (“criatividade, “curioso”, “liberdade” e “independente”, por exemplo) – revelam escores maiores por parte da amostra canadense. A Realização, no caso, é a única que pode ser considerada significativa para as amostras estudadas devido ao teste t.

Além disso, Estimulação (engloba “audacioso”, “uma vida variada” e “uma vida excitante”) e Hedonismo (“prazer”, “que goza a vida” e “autoindulgência”) também demonstram escores mais elevados na amostra canadense. Entretanto, apenas Hedonismo pode ser considerada para a análise das amostras devido à diferença devido ao índice de teste t = 0,04.

Os altos índices dos respondentes do Canadá quanto aos eixos de Autopromoção e Abertura, principalmente com base nos valores motivacionais Hedonismo e Realização (por

terem diferenças significativas entre as amostras), estão relacionados ao que defende Mallen (1977): os franco-canadenses (cidadãos da provincial do Quebec) demonstram comportamento de consumo mais hedonístico que os canadenses de outras subculturas, inclusive os próprios canadenses de origem inglesa. Ademais, Laroche et al. (2002) atribuem a isso o motivo da expressão “joie-de-vivre” (fun-living ou alegria de viver), constantemente utilizada para caracterizar essa subcultura.

Os valores motivacionais de Tradição (com valores como “devoto”, “respeito pela tradição”, “humilde” e “moderado”), Conformidade (“polidez”, “obediente” e “auto- disciplina) e Segurança (“limpo”, “segurança nacional”, “ordem social”, “segurança familiar”, “senso de pertencer”, “saudável” e “retribuiçãoo de valores”) possuíram uma relação mais forte com a amostra brasileira. É válido lembrar que apenas Conformidade e Segurança apresentaram diferenças significativas entre estudantes brasileiros e canadenses.

Os índices apresentados pelos valores motivacionais do eixo Tradição correspondem à caracterização fornecida por Darcy Ribeiro (1997) acerca da cultura brasileira. De acordo com o autor, o Brasil é formado por diversas subculturas baseadas em seus antecedentes socioeconômicos, entre elas, a criola (região Nordeste do País) e cabocla (região Norte). Ambas subculturas possuem um histórico pautado na subsistência em grandes fazendas, nas quais os seus proprietários e os senhores de escravos possuíam uma forte autoridade e um sistema patriarcal bastante consolidado. Ademais, os habitantes e trabalhadores das fazendas se apropriaram, com a influência da chegada dos portugueses, de valores com base no coletivo, na lealdade e nas normas do grupo (RIBEIRO, 1997). Pode-se ressaltar, portanto, que ambas as regiões do Brasil (Norte e Nordeste) possuem preferência e inclinação por valores coletivistas baseados na sua trajetória colonizadora.

Deve-se salientar ainda que valores exclusivos da amostra brasileira (“trabalho”, “vaidade”, “sonhador” e “esperto”), perfizeram bons índices na amostra brasileira. Foi notável a supremacia do valor “trabalho”, com média de 5,66, enquanto “sonhador” e “esperto” apresentaram números menores de 4,74 e 4,33, respectivamente. O valor “vaidade”, com um escore de 3,44, ficou no quarto lugar entre eles. Os resultados obtidos com esses valores, postulados como peculiares à cultura brasileira, estavam em harmonia com os resultados mostrados por Tamayo e Schwartz (1993) e Tamayo (1994). No caso do trabalho, por exemplo, que atingiu o maior escore, Tamayo e Schwartz (1993) revelam que se trata de um valor baseado em interesses coletivos e que, no caso, está relacionado à meta motivacional da subsistência da família. A importância dada ao trabalho pode estar conectada, também, ao fato de as amostras, tanto a de Tamayo e Schwartz (1993) quanto a deste estudo, terem sido

aplicadas com alunos universitários, ou seja, jovens em formação que se encontram em preparação para o mercado de trabalho.