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4 CULTURA

4.2 Valores

4.2.2 Mensuração de valores

Os valores que caracterizam uma sociedade não podem ser observados diretamente: hão de ser inferidos com suporte em seus produtos culturais ou mediante questionamento aos membros da sociedade para que estes expressem seus valores pessoais declarando suas preferências entre as opções oferecidas e, posteriormente, calculando suas tendências centrais (DE MOOIJ, 2004). Schwartz (2005) ratifica tal asserção ao informar que valores podem ser mensurados mediante inferências sobre o comportamento de uma pessoa, mediante perguntas sobre valores subjacentes aos seus atos e também por meio de questionário, para que um conjunto de valores seja avaliado e ranqueado por ordem de prioridade.

Para a comparação entre nações, a média das prioridades de valores de uma sociedade deve ser comparada às médias de outra. Valores individuais são, por um lado, o produto de uma cultura compartilhada e, por outro, produto único da personalidade e experiência individual (DE MOOIJ, 2004).

Pesquisadores e cientistas sociais percebem os valores como motivações profundamente enraizadas. Na prática, entretanto, eles distinguem pouco entre valores e atitudes e, geralmente, medem valores com base em um conjunto de questões acerca de atitudes relacionadas a diversos aspectos da vida, como religião, moralidade, política, trabalho etc. Em parte, isso corre pela falta de conhecimento teórico das motivações básicas representadas socialmente, tais quais os valores. Ou, também, em decorrências das poucas teorias sólidas acerca de instrumentos para a mensuração básica de valores (SCHWARTZ, 2003). Como resultado, a maioria dos estudos empíricos sobre valores provê entendimentos pouco integrados e bastante dispersos sobre assuntos sociais significativos que se intenta alcançar. O que é preciso, de acordo com Schwartz (2003), são teorias e instrumentos que representem o alcance e as motivações básicas relevantes para a enorme variedade de atitudes e comportamentos acerca dos vários domínios da vida.

Para o melhor entendimento da mensuração de valores, e a fim de compreender o desenvolvimento das escalas e instrumentos mais populares dos últimos anos, deve-se falar de Hofstede (1980, 1991), Rokeach (1967, 1973), Inglehart (1971), e Schwartz (1992). Este último, por embasar o modelo desta pesquisa, será, ao final, mais profundamente detalhado.

a) O modelo de Geert Hofstede

Hofstede publicou, em 1980, o seu famoso modelo dimensional acerca de valores culturais derivados de pontuações individuais e agregadas no patamar de países ou nações. A identificação das dimensões psicológicas de variabilidade cultural permitiu o desenvolvimento de possibilidades para o “desvendamento da cultura” (SMITH; BOND, 1998, FISCHER; VOLCKNER; SATLER, 2010). Pode-se dizer que a disponibilidade de uma mapa de culturas facilitou consideravelmente a pesquisa entre culturas ou cross-cultural.

A partir de cada uma das quatro dimensões do seu modelo quadridimensional no contexto nacional, Hofstede (1980, 2001) coletou um conjunto de dados originados de 63 itens aplicados a mais de 116.000 empregados de sete grupos ocupacionais de subsidiárias da IBM (International Business Machines), em um total de 40 países. Essa escala não pretende relacionar as orientações de valores das pessoas às suas opiniões e comportamentos (SCHWARTZ, 2005).

Ao informar que suas dimensões são aplicáveis apenas a países e não a pessoas, Hofstede explicitou o motivo pelo qual ele acredita que seu modelo não deve ser replicado no patamar individual. Ademais, a maioria de seus itens se refere a valores laborais e não mensura a variedade de valores humanos relevantes em vários domínios da vida (SCHWARTZ, 2005). Por isso que, ao pensar em valores como atributos psicológicos das pessoas assim como das populações às quais pertencem, percebe-se que os achados de Hofstede ainda são insuficientes (FISCHER; VOLCKNER; SATLER, 2010).

b) O modelo de Milton Rokeach

A escala proposta em Rokeach (1967, 1968, 1971, 1973), considerada uma das pioneiras e elaborada entre os anos de 1960 e 1970, solicita que os seus respondentes ranqueiem dois grupos de 18 valores abstratos desde o mais para o menos importante. Cada grupo da Escala de Valores de Rokeach (RVS) possui ainda, suas respectivas tipologias: os valores terminais (aqueles desejáveis, como um fim) e os valores instrumentais (aqueles que caracterizam o meio, a forma de chegar ao valor terminal).

Vários estudos, por meio dessa escala, identificaram relações significativas entre valores e diversas variáveis demográficas, opiniões, atitudes e comportamentos. Rokeach (1968, 1971, 1973) inaugurou uma diferente perspectiva de estudo sobre valores quando os relacionou à previsibilidade do comportamento. De acordo com ele, ao conhecer os valores prioritários de uma pessoa, é possível predizer qual será a sua ação, tanto em situações

experimentais, quanto em circunstâncias reais. Gouveia et al. (2001) garantem que Rokeach (1973) conseguiu: (1) propor abordagens que compilavam interesses de áreas diversas, como Antropologia, Filosofia e Psicologia; (2) diferenciar valores de demais construtos, tais quais atitudes e traços de personalidade; (3) introduzir um instrumento pioneiro para medir valores como objeto de estudo legítimo e de ordem específica; e (4) demonstrar a centralidade desses valores no sistema cognitivo. O modelo proposto por Rokeach (1967, 1968, 1971) ainda é utilizado e serviu de inspiração para a pesquisa, elaboração e desenvolvimento de outros instrumentos com o mesmo fim, inclusive o de Schwartz (1990, 1992, 1994), amplamente validado e utilizado ao longo dos últimos anos (ROCCA et al., 2002; BARDI; SCHWARTZ, 2003).

c) O modelo de Ronald Inglehart

O mapa de valores de Inglehart (1977) assume valores como fatores indicadores de mudanças culturais. Sob esse espectro cultural e sociológico acerca dos valores humanos, ele traz dois conjuntos de valores: materialistas e pós-materialistas.

Na perspectiva de Inglehart (1977), sociedades que enfrentam problemas sociais básicos tendem a maximizar os valores materialistas, enquanto aquelas que já superaram problemas dessa ordem buscam objetivos pós-materialistas. Para testar a sua teoria, Inglehart (1991) elaborou um instrumento para mensurar os valores materialistas e pós-materialistas. Enquanto os primeiros possuem indicadores relacionados à segurança física e econômica, os outros buscam avaliar a importância fornecida a indicadores, como o bem-estar individual e a realização profissional. Ao final, o autor argumentou também que sociedades industriais podem possuir uma estrutura bipolar em razão da importância fornecida aos dois tipos de valores. De acordo com Pereira et al. (2005), mesmo com as contestações à validade dessa dimensão, vários estudos que comparam pessoas e culturas contêm valores materialistas e pós-materialistas, organizados seja em uma dimensão, sejam nas duas de forma positivamente correlacionadas.