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Caracterização das funções de professor no Programa UAB/UnB

Capítulo I – Educação superior a distância no Brasil

1.6 Caracterização das funções de professor no Programa UAB/UnB

O Sistema Universidade Aberta do Brasil possui diversas categorias de professores e compreender as funções de cada um deles é necessário para a compreensão da autonomia docente no recorte de pesquisa adotado.

Professores tutores são aqueles selecionados em processo simplificado, aberto em edital público, que atua no acompanhamento virtual e nos encontros presenciais. Professor autor é o que constrói a disciplina, com ou sem o apoio do professor tutor64. A escolha da bibliografia, o carregamento de arquivos (vídeos e textos), a estrutura do curso na plataforma, configuração de datas de abertura e fechamento de atividades avaliativas (de fóruns à exercícios enviados pelo recurso tarefas), construção de questionários e espaços de comunicação síncrona como videoconferências e chats) são ações delegadas ao professor autor. Professor revisor é o que faz a releitura de uma disciplina que já foi dada e irá ser ofertada novamente, podendo propor alterações no planejamento de ensino. Professor supervisor é o que acompanha o andamento da disciplina. Analogamente à modalidade presencial, é quem oferece a disciplina. Dentro das possibilidades de trabalho do professor supervisor está poder alterar a forma como foi inicialmente pensada a disciplina pelo professor autor ou continuada por outro professor supervisor de oferta anterior. Com o consentimento da coordenação de graduação do curso e dentro dos prazos, o professor supervisor tem competência para alterar todo o planejamento realizado anteriormente para a disciplina.

Analisando legalmente, nos cursos de Pedagogia e Biologia do Programa UAB/UnB não existe a figura de um professor revisor ou professor autor somente com essas funções, pois o Programa define que estas atividades devem ser exercidas pelo mesmo profissional (UAB/UnB-IB, 2011, p. 21). O professor que acompanha a disciplina – professor supervisor – , mesmo que seja uma nova oferta (como uma segunda turma do Programa UAB/UnB), faz a revisão de todo o conteúdo que foi ofertado anteriormente, podendo inclusive montar um curso totalmente novo, comunicando a coordenação do curso. Quando a disciplina é ofertada pela primeira vez, também é o professor supervisor quem configura a plataforma e a planeja,

64 Como professor tutor no Programa UAB/UnB tive excelentes experiências de construir todo o planejamento da disciplina juntamente com o professor supervisor, bem como trabalhos ruins em que atuei como executor de planejamentos pré-determinados. Os trabalhos que tiveram resultado mais satisfatório foram, certamente, os que pude intervir no processo de ensino-aprendizagem desde o início de seu planejamento, incluindo indicação de bibliografia, atividades e formas de avaliação, além de participação no encontro presencial.

sendo difícil a ocorrência isolada de um professor autor. Isso é compreensível, uma vez que dificilmente um profissional iria querer apenas ser executor de um plano construído por um professor revisor ou autor, sem que pudesse exercer a sua autonomia, juntamente com os professores tutores, do que é trabalhado ao longo do curso. A tipificação legal, jurídica, para a existência de professor autor ou revisor é permitir a contratação eventual desse profissional, para um trabalho específico e que envolva menos tempo do que o acompanhamento de uma turma durante um semestre, como ocorre com o professor supervisor.

A depender do professor, a maioria dos conteúdos são colocados dentro da plataforma, no intuito de evitar a dispersão do estudante, prejudicando o seu rendimento acadêmico ao observar materiais fora do Moodle. Isso significa que sempre que o estudante encontra o material necessário para fazer as tarefas na própria plataforma, ele evita ir à ambientes externos, como sites de busca. Indiretamente, a opção de pesquisa do aluno, a sua autonomia de estudo, é condicionada por uma estratégia de ensino adotada pelo professor, uma vez que busca limitar o acesso do estudante fora do ambiente virtual de aprendizagem.

Ainda que esse seja um trabalho que trata da autonomia docente, cabe refletir que acima vê-se uma forma de interferência externa, mas sem proibição, de dificultar o acesso do estudante à ambientes externos ao Moodle, uma vez que se pretende minimizar a sua atuação fora da plataforma utilizando-se, para isso, os arquivos anexados ao AVA, permitindo a visualização on line ou o download para visualização no computador. Essa última opção é a mais recomendada, fazendo com que estudantes que tem computador em casa mas não tem internet ou possuem conexão de baixa velocidade possam fazer seus trabalhos. Na maioria das vezes a internet no polo, casa ou trabalho dos estudantes é transmitida via rádio, o que torna a conexão lenta e difícil de utilizar outros recursos, como o de videoconferência.

Dos professores, a categoria professor supervisor é o sujeito da pesquisa a ser investigado, enquanto compreensão da autonomia docente em educação a distância. Aprofundando o conceito de professor supervisor, este é em geral um profissional do quadro (efetivo) de uma instituição pública de ensino superior que, juntamente com o professor tutor, administra uma disciplina por um determinado período pelo Programa UAB/UnB65. Há casos de professores supervisores que não são concursados e que por questões de metodologia deste

65 Considerando-se a UAB/UnB, há cursos que trabalham com disciplinas semestrais e outros com disciplinas bimestrais.

trabalho não foram objetos de análise66. A dissertação visa investigar a relação de autonomia de professores do quadro, ou seja, docentes concursados, preferencialmente com mais de três anos na UnB, que tenham uma relação de trabalho que envolva ensino, pesquisa e extensão na modalidade presencial na universidade.

Dada as conceituações das funções de professor no Programa UAB/UnB, vale dizer que a educação a distância deve ser trabalhada de forma que compreenda o espaço presencial como algo substancial, tal qual os encontros presenciais com os professores tutores nos polos. Essa deveria ser uma linha da política global do Sistema UAB. A visão de aprendizagem mista abordada já é discutida por pesquisadores que entendem a modalidade a distância e, mais que isso, as TICs67, numa perspectiva crítica e de emancipação dos educandos. Compreendem que a EaD deve ter espaços dialéticos e sem hierarquização entre os momentos presencial e a distância, o que pode ser visto como educação híbrida.

Assim, o conceito de educação híbrida e a percepção de muitos professores que trabalham com o Sistema UAB são mais abrangentes e articulados que a metodologia conhecida como blended learning, em que sequer fala-se de professor presencial e sim em atividade presencial, o que não pressupõe necessariamente a presença de um docente. Vale frisar que a prática do e-learning visa muito mais a racionalização de custos (corte de gastos com deslocamento de professores entre cidades ou pagamento de outro profissional que iria executar um trabalho de natureza distinta do tutor a distância, além é claro da infraestrutura necessária às atividades presenciais e projeto político-pedagógico diferenciado) do que a flexibilização de horários dos educandos, como querem fazer acreditar alguns donos de faculdades de ensino a distância que não trabalham com o b-learning. Vê-se aqui um desrespeito ao que rege a legislação brasileira sobre momentos presenciais na EaD.

66 A natureza do trabalho como professor tutor (presencial e a distância), professor supervisor ou coordenador de curso é efêmera diante do que se pretende como institucionalização do Sistema UAB. Os professores são pagos por bolsas e não tem diminuição de sua carga horária para trabalhar na modalidade a distância, o que afasta muitos docentes do curso. Essa forma de precarização do trabalho docente foi melhor abordada no capítulo da análise dos resultados da entrevista.

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Alguns pesquisadores, como Gilberto Lacerda (FE/UnB), utilizam o termo NTICE - Novas Tecnologias da Informação, Comunicação e Expressão. Para essa pesquisa, utilizaremos o termo TIC, mais comum academicamente.