• Nenhum resultado encontrado

4. A FORMAÇÃO TERRITORIAL DE ITABATÃ: do povoado rural ao distrito urbano

4.4. GLOBALIZAÇÃO E URBANIZAÇÃO EM ITABATÃ (1992 A 2019)

4.4.4. Caracterização de Itabatã na atualidade (2019)

O município de Mucuri possui duas Macrozonas Urbanas, conforme apresentado no capítulo anterior, sendo uma delas a Sede de Mucuri, e a outra Itabatã, no eixo da BR- 101. O PDM de Mucuri subdivide a Macrozona urbana de Itabatã em 3 áreas (Figura 91), sendo elas: urbana, de expansão urbana, e de preservação ambiental.

Figura 91 – Mapa da Macrozona Urbana de Itabatã

As três grandes áreas apresentadas estão subdivididas em zonas diversas, com base nos usos e aspectos ambientais. Tais zonas estão indicadas no mapa de zoneamento da sede de Itabatã, apresentado na Figura 92, abaixo.

Figura 92 – Mapa de zoneamento do núcleo urbano de Itabatã

Fonte: PDM Prefeitura Municipal de Mucuri, 2010 Elaboração: própria autora.

O PDM de 2010 ainda não incluía as expansões ao nordeste do distrito. Pela sobreposição do Mapa do PDM com a imagem de satélite, de 2018, observa-se que o distrito está em plena expansão territorial. Muitas áreas estão em processo de loteamento, e são verificadas casas espaçadas nessas novas zonas, evidenciando o processo de especulação imobiliária. Muito além do que se imaginava na década de 1960, quando havia na localidade apenas 5 famílias, na atualidade, Itabatã está se expandindo em áreas que ultrapassam o limite administrativo de Mucuri. Nota-se ao norte que as novas ocupações estão adentrando o município de Nova Viçosa, e isso pode ser questão para estudos futuros.

As fotografias de caracterização do núcleo urbano, apresentadas na Figura 92, mostram a ambiência de diferentes espaços urbanos da sede de Itabatã, diferenciados pelas zonas indicadas no PDM. Atualmente, a sede do distrito de Itabatã se apresenta dividido pela rodovia BR-101, e possui uma dinâmica urbana pouco complexa. Ainda não há um sistema de transporte público, e o saneamento é precário em alguns bairros. É perceptível a escassez de áreas verdes e voltadas ao lazer, sendo que Itabatã não possui qualquer parque municipal. Essa função acaba sendo desempenhada pela vila residencial, denominada “Jardim dos Eucaliptos”, muito utilizada para práticas de atividades físicas.

A antiga lagoa, no bairro “Cidade Nova”, alterou-se consideravelmente. Hoje, sua área caracteriza-se por um terreno alagadiço, que possui a marcação de vias não ocupadas. No entorno imediato do núcleo urbano de Itabatã ainda é marcante a presença das plantações de eucalipto. São raras as edificações que ultrapassam 5 andares, seja nas Zonas de Comércio e Serviços (ZCS), ou nas Zonas Urbanas Consolidadas, exibidas na Figura 92. O sistema de drenagem em alguns bairros é ainda precário, especialmente nas Zonas de Regularização Urbana (ZRU), e na Zona de Expansão Urbana (ZEU). Esses desafios foram considerados desde 2010 no PDM, que apresentou diretrizes na intenção de solucionar tais questões.

A maioria das vias não eram calçadas até 2013, quando um projeto municipal iniciou o calçamento de cerca de 20 ruas e avenidas só em Itabatã, além de outras dezenas nas demais localidades do município. Com isso, foram verificadas obras de pavimentação de ruas nos bairros Gazinelândia, Bela Vista (Figura 93), Triângulo Leal e Cidade Nova. Também ocorreram melhorias em infraestrutura com a inauguração de unidades de saúde em bairros periféricos. Essas obras e reformas demonstram um

cuidado maior com os espaços públicos de Itabatã, e com sua população. No entanto, ainda há muitos desafios, sobretudo com a hegemonia do capitalismo globalizado na Região do Extremo Sul baiano.

Figura 93– Fotografias sequenciais da Rua Sete Lagoas em processo de pavimentação, bairro Bela Vista, Itabatã

2012.

Fonte: Street view (Google).

2013.

Fonte: Sul Bahia News.

2019.

Os velhos problemas socioambientais, originados com a monocultura de eucalipto, acarretaram em novos desafios, não só em Mucuri e Itabatã, mas também na região do Extremo Sul da Bahia. A redução da agricultura e a transferência da população rural para as cidades, os graves impactos ambientais, o baixo dinamismo das atividades produtivas na região, dentre outras repercussões negativas, intensificou conflitos territoriais.

Em consequência, organizações políticas e socioambientais têm se articulado na intenção de reduzir os danos causados pelas extensas plantações de eucalipto. Um exemplo é a rede “Alerta Contra o Deserto Verde”, criada no Espírito Santo, em 1999. Também o MST tem se articulado nesse sentido, e em março de 2018, mais de mil trabalhadoras rurais sem-terra ocuparam a entrada da fábrica Suzano Papel e Celulose (Figura 94). A ocupação fez parte da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra, e segundo informações da notícia:

As mulheres denunciam os problemas relacionados à crise hídrica no município, causados pela produção em grande escala de eucalipto; à pulverização aérea realizada nas áreas da Suzano; os monocultivos; e uso de sementes transgênicas no manejo produtivo. (COMUNICAÇÃO MST, 2018).

Figura 94 – Ocupação da entrada da Suzano pelas trabalhadoras rurais Sem Terra (2018)

A escassez de água tornou-se frequente, e tem provocado situações de calamidade no sul da Bahia. Segundo notícias da região, em 2016 os moradores de Itabatã chegaram a ficar mais de 30 dias sem abastecimento de água. A empresa de abastecimento, Embasa, teve que utilizar carros-pipa para fornecer água aos moradores. As escolas também têm sido prejudicadas com a falta de água, que pode estar diretamente relacionada à supressão dos recursos hídricos para a produção industrial. Atualmente, com frequência, a rodovia BR-101 transforma-se em palco de protestos, sendo registrados, na região, muitos conflitos, especialmente por demarcações de terras indígenas, tanto no Sul da Bahia quanto no Norte do Espírito Santo.

Em relação ao núcleo urbano de Itabatã na atualidade, as figuras a seguir mostram que seus espaços são característicos de uma “cidade local”, mas que possui um porte considerável para um lugar que, até poucos anos, era um povoado rural. O comércio é, usualmente, de pequeno a médio porte, e por vezes estende-se à calçada (Figura 95), com exceção dos comércios de grande porte, como os supermercados. Dentre os serviços de maior relevância para uma cidade em crescimento, destacam-se os negócios para aluguel de veículos, bancos, pousadas, hotéis e restaurantes, que tem crescido de modo considerável em Itabatã.

São encontrados resquícios da mata atlântica e de linhas d’água, tais como córregos (Figura 96), que há muito tempo vêm sendo negligenciados. Atualmente, essas linhas

Figura 95 - Calçada no centro comercial de Itabatã

Figura 96 - Córrego na Avenida André São Castro, Itabatã

Figura 97 - Torre de telecomunicação, Itabatã

d’água encontram-se em estado de abandono, sendo degradadas pelo descarte irregular de esgoto. Novos elementos, como a torre de telecomunicação (Figura 97), passaram a se destacar na paisagem, marcando a nova fase de crescimento local. Hoje, o núcleo urbano de Itabatã possui dez bairros, em ordem de formação: Centro; Bela Vista; Gazinelândia; Jardim dos Eucaliptos; Triângulo Leal; Cidade Nova; São José Operário; Cidade Alta, Planalto Verde e Caribe, conforme mapa local apresentado no Anexo II. As edificações apresentam escala reduzida, e até mesmo a rodoviária de Itabatã se apresenta modesta (Figura 98); por vezes o terminal é lotado, não conseguindo comportar todos as pessoas.

Figura 98 - Terminal Rodoviário de Itabatã, área externa (2019)

Fonte: Própria autora.

Figura 99 – Área interna do Terminal Rodoviário de Itabatã (2019)

Na Figura 100, é apresentada a entrada de Itabatã, onde também se encontra o acesso ao terminal rodoviário de Itabatã. E na Figura 101, à direita, é mostrado o local de travessia da rodovia BR-101 com a entrada para o núcleo urbano. Observa-se que o local de encontro entre a ocupação urbana e a BR-101 ocorre de modo precário, sem sinalizações ou mesmo calçamento adequado. Todavia, apesar de serem identificados tantos desafios e precariedades, o distrito tem crescido vertiginosamente, visto que muitas pessoas foram atraídas pelas oportunidades de emprego geradas na região, e investimentos que foram realizados.

Figura 100 – Acesso ao terminal rodoviário, Itabatã

Fonte: Própria autora.

Figura 101 – Entrada de Itabatã, pela rodovia BR-101

Fonte: Própria autora.

Hoje Itabatã é um pequeno aglomerado urbano de muitas peculiaridades, onde escalas “local” e “global” interagem diretamente, refletindo o processo de industrialização do Brasil, bem como de globalização no mundo. O crescimento urbano verificado em Itabatã tem ignorado as características culturais e históricas do distrito, estas que não se encontram registradas em espaços de memória. Por consequência, atualmente pouco se conhece a respeito das origens desse lugar, e sua memória é ainda pouco valorizada. Atualmente, também são raras as manifestações culturais da população, e as festas populares perderam muito de sua importância no contexto urbano.

Entretanto, Itabatã ainda está repleto de experiências sociais, memórias coletivas e espaços simbólicos. Há uma história local, vivenciada e perpetuada pelos moradores mais longevos, e que acompanharam o processo de formação territorial de Itabatã. Portanto, a memória de Itabatã também sobrevive pelos moradores, e são perpetuadas em suas histórias orais, recordações de uma paisagem do passado, mas que ecoa na atualidade.

5. DO PASSADO AO PRESENTE: MEMÓRIA E IDENTIDADE CULTURAL