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4. A FORMAÇÃO TERRITORIAL DE ITABATÃ: do povoado rural ao distrito urbano

4.1. A GÊNESE DE ITABATÃ (MEADOS DE 1960 A 1972)

4.1.2. O primeiro morador e as primeiras residências

Em 1967, quando o trecho da BR-101 estava em construção no município, foi registrada a edificação da primeira residência em Itabatã, erguida em um espaço ainda inabitado, há cerca 40 km da sede litorânea de Mucuri, segundo notícias locais. A primeira, de muitas outras casas a serem construídas posteriormente, no povoado que estava se formando, foi a residência do Sr. Rael Lopes Pereira e seus familiares. Portanto, o Sr. Rael é reconhecido como primeiro morador do distrito; em função disso, atualmente, existe na câmara municipal o projeto de Lei Nº 021/2013, que nomeia um logradouro público com seu nome, no intuito de prestar homenagem a esse pioneiro morador de Itabatã. Não há qualquer registro, nem mesmo menção pelos entrevistados, de ocupação antes dessa mencionada. A investigação apresentada no capítulo anterior, referente ao passado da região em que Itabatã se insere, também não revelou qualquer informação a respeito dessa localidade antes da construção dessa primeira residência. Por esse motivo, levanta-se a hipótese de que até 1967, a localidade de Itabatã não era ocupada de forma permanente, visto que nem mesmo nos mapas históricos há registro de ocupação na localidade.

No ano de 1968 a localidade apresentava apenas quatro casas, uma delas do Sr. Clemente Neto, conhecido como Seu Quelé, que na entrevista relembrou como era o povoado. Nesse mesmo ano, outros moradores chegaram à localidade, dentre eles, o Sr. Dionísio (5º morador), natural de Nanuque (MG), que trabalhou como mascate e posteriormente fotógrafo. Meses depois, chegou a família da Dona Ieda Caribé dos Santos e do Sr. Ulisses Ferreira dos Santos. Naturais de Jequié (BA) e Jitaúna (BA), respectivamente, desde que se mudaram para Itabatã eles residiram no mesmo lugar.

O Sr. Ulisses (falecido em 2017, cinco meses antes das primeiras entrevistas) já havia trabalhado no ramo farmacêutico; em 1968, a família decidiu, então, estabelecer um comércio no local para venda de produtos diversos, principalmente medicamentos. A modesta farmácia foi muito benéfica para a localidade, ainda sem infraestrutura urbana, e com apenas seis famílias. Sobre esse fato, a Sra. Iêda Dos Santos reconta: “[...] nós viemos para o povoado, já tinha cinco casinhas. Aí eu e meu esposo tinha uma farmaciazinha em Posto da Mata, e aí ele veio de lá pra’qui. Abriu o comércio, aqui mesmo nesta avenida [...] aí foi aonde nós compramos esse sitiozinho, e ficamos aqui.” (DOS SANTOS, Entrevista, 2017).

Os mapas elaborados a partir dos relatos ajudam na construção da narrativa histórica desse território. Conforme retratado no mapa referente ao final da década de 1960 (Figura 54), o trecho da rodovia BR-101, onde hoje é Itabatã, já estava em construção, e no local havia poucas casas, restritas a uma das margens da rodovia.

As vias (forma urbana) foram utilizadas para nortear a investigação acerca do processo de crescimento e urbanização de Itabatã, visto que as mesmas são os elementos mais longevos. Sendo assim, deve-se ponderar que, em comparação ao processo de ocupação e construção das residências, a criação das vias ocorreu de modo mais acelerado, pois estas eram definidas inicialmente, ainda no loteamento. Após as primeiras ocupações, o pequeno conglomerado contava com algum comércio local; capela para práticas religiosas; e um salão alugado onde eram lecionadas aulas de alfabetização, sendo que em todo o município havia apenas nove professores, aproximadamente. Nos depoimentos acerca desse momento inicial, são frequentes os termos “sapê” e “capoeira” pelos entrevistados, que enfatizaram a expressiva vegetação e cursos d’água, como pequenos rios e uma lagoa que havia em Itabatã, indicados na Figura 54. A partir das histórias orais, torna-se evidente a relação de proximidade entre Itabatã e as localidades vizinhas, desde o norte do Espírito Santo ao nordeste de Minas Gerais. E muitos percursos entre localidades eram realizados a pé, ou com animais de carga.

Os relatos revelam detalhes de uma paisagem do passado, marcada por forte aspecto rural:

Sempre eu saía pra caçar... mexer com gado por aqui, na época (1964) não tinha cento e um não (a rodovia), era mata né?! Itabatã se chegasse aqui cê nem ia falar quê que era não, era mata pura [...] Eu morei lá no começo [...]

Então naquele tempo eu cheguei pra aí não tinha nada, certo?! Era mata e tinha umas casinhas cabrolando às vezes, umas casinhas de tábua, de barraca de palha. [...] esse riozinho aqui ó, que passa aí, isso era muita água (NETO, Entrevista, 2018).

[...] quando eu cheguei aqui na cidade (1968), só tinha quatro famílias, o Sr. João Alvez Correia, Érick Batista, Tecílio Pereira e o Sr. chamado de Lisberto. [...] Quando eu cheguei, completei a 5ª família [...] O que cê pensar aí tudo era mato, tudo! Só tinha mesmo essas quatro casinhas lá embaixo, essas quatro famílias, e em volta vizinhos né. Mas aqui (em relação ao atual centro), tudo que cê pensar aqui, tudo era mato né. O povo transportava madeira, fazia transporte e tirava riqueza desse meio aqui" (NASCIMENTO, Entrevista, 2018).

Figura 54 - Mapa retratando as primeiras ocupações e elementos de Itabatã, em 1968

Dessa maneira, as primeiras casas do povoado concentravam-se à margem da rodovia BR-101, demarcando uma localidade com pequenos comércios de apoio aos que passavam pela rodovia. As edificações geralmente eram feitas de adobe ou também palha, pela facilidade de autoconstrução e de aquisição dos materiais. Comenta-se nas entrevistas que a localização das primeiras casas ocorreu em função da topografia do terreno, que nessa área encontrava-se no mesmo nível da rodovia BR-101, facilitando o acesso por automóveis.

São escassas as informações a respeito das primeiras terras ocupadas, à margem da rodovia BR-101, pois os primeiros moradores são falecidos, e não puderam ser entrevistados. Algumas pessoas que chegaram em Itabatã posteriormente, na década de 1970, mencionaram que essas propriedades seriam terras devolutas5. Como não foi possível a entrevista com o primeiro morador, ainda é imprecisa a informação sobre os proprietários originais dessa terra, onde surgiram as primeiras residências. Todavia, a localização à margem da rodovia pode ser um indício de que elas seriam, de fato, terras devolutas. As demais propriedades do entorno pertenciam a fazendeiros, alguns deles mencionados pelos entrevistados, conforme tratado no próximo subcapítulo.

Nesse período de gênese, utiliza-se a o termo “povoado” para caracterizar a localidade de Itabatã. Isto porque, conforme disserta Maia (2009), os “povoados” apresentam pouca capacidade em suprir as necessidades de seus habitantes, carecendo de produtos e serviços básicos. E, considerando que no início da década de 1970, Itabatã carecia de comércios e serviços para atender aos moradores, pode- se atribuir à localidade o termo “povoado rural”, em referência às suas primeiras ocupações.