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3. A GEOGRAFIA HISTÓRICA DE ITABATÃ: análise espaço-temporal em múltiplas escalas

3.4. A FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE MUCURI

3.4.2. O município de Mucuri entre os séculos XX e XXI

Em 1911 o então município de “São José de Porto Alegre” recebe a denominação “Porto Alegre”. Posteriormente, em 1931, o município de Porto Alegre retoma seu nome original, quando passa se chamar novamente Mucuri. Segundo Almeida (1978), as principais culturas dessa região eram a mandioca, o cacau, e o café nas proximidades de Itaúnas; quanto às etnias, documenta-se que o número de mestiços e negros era superior a 80%, conforme Relatório apresentado ao Presidente do Estado, Florentino Avidos, em 18 de junho de 1925. No final da década de 1950, Mucuri apresentava-se como um pequeno povoado. A praia ainda não era explorada turisticamente e, por isso, não existiam casas ou comércios à beira-mar, conforme apresentado na Figura 30. A Igreja católica Matriz São José (Figura 31), tinha sua arquitetura original preservada.

Figura 29 – Mapa das Capitanias Hereditárias, por Nicolas Sanson (1656)

Figura 30–Praia de Mucuri (1957)

Fonte: IBGE.

Figura 31 - Igreja Católica Matriz São José, Mucuri (1957)

Fonte: IBGE.

Em meados de 1970, foram iniciadas as plantações de eucalipto na região (ROCHA, 2002), e posteriormente, em 1989, foi iniciada a construção da fábrica Bahia Sul Celulose. Em março de 1992, a linha 1 da unidade de Mucuri começou a operar a produção de celulose. Assim, foi esboçado um novo ciclo produtivo, desencadeando mudanças socioeconômicas em Mucuri, conforme dissertado anteriormente acerca do Extremo Sul da Bahia.

O município de Mucuri possui uma centralidade urbana ao litoral, representada pela Sede criada em 1769, e outra centralidade em ascensão no eixo da rodovia BR-101, o distrito de Itabatã, que até 1999 era apenas um povoado. Segundo o Plano Diretor Municipal (PDM), elaborado em 2010, o macrozoneamento do município é constituído por três grupos de Macrozonas: ambientais, rurais e urbanas, conforme apresentado na Figura 32.

Figura 32 - Macrozoneamento Municipal de Mucuri (BA)

Fonte: Plano Diretor Municipal de Mucuri, 2010 (editado pela autora).

O município possui área total de 1.787,626 km², e na unidade territorial são reconhecidos três distritos, além do distrito-sede de Mucuri. Os demais distritos são indicados a seguir com a respectiva distância em relação à sede de Mucuri: Ibiranhém – 108 km; Taquarinha – 105 km; Itabatã – 40 km. Estima-se que no município habitem 41.221 habitantes em 2018 (IBGE), gerando uma densidade demográfica de aproximadamente 23,05 hab/km². O Rio Mucuri (Figura 33) mede 15.500 km², nasce

na Serra do Chifre (MG) e deságua no Oceano Atlântico, margeando a sede municipal de Mucuri. É navegável apenas no território baiano, ou seja, de Santa Clara à foz do rio em Mucuri (BAHIA, 1997).

Figura 33 – Fotografias aéreas da Sede municipal de Mucuri

a. b.

c.

a. Foz do Rio Mucuri (na margem norte está a ocupação urbana); b. Vista aérea da macrozona urbana de Mucuri (Sede);

c. Centro da Sede de Mucuri, destaque para o contato do urbano com o rio. Fotografias: sítio eletrônico Mafalda (blogspot), 2007.

Há alguns anos, Mucuri tornou-se um ponto turístico visado, devido seus 35 km de praias com areias douradas, apresentando na parte urbanizada casas de veraneio e comércios locais. O município ficou famoso pelas festas de Carnaval e grupos carnavalescos, onde aconteciam shows de bandas e trio-elétrico. As festas em homenagem a santos padroeiros são muito tradicionais, especialmente as festas

juninas. Também os grupos de capoeira tais como Acarbo, Raiz Aquibara e Reza Forte representam traços culturais significativos.

Mucuri está em pleno crescimento, e de acordo com dados da SEI (2013), estima-se que em 2030 o município estará entre os dez municípios da Bahia com maior taxa geométrica de crescimento anual da população, como mostra o Gráfico 2, abaixo.

Entretanto, há alguns anos vem ocorrendo na sede municipal o processo de erosão costeira, que atualmente tem gerado impactos significativos no local, como pode ser observado na Figura 34. Em 2010 uma obra com oito espigões foi realizada na tentativa de conter o avanço do mar, o que não foi suficiente para sanar o problema. Desde abril de 2017, a Prefeitura de Mucuri decretou estado de emergência, e está preparando estudos para solucionar o caso, alegando, porém não possuir verba suficiente para novas intervenções. Em vista disso, há poucos anos a sede de Mucuri tem sido desvalorizada do ponto de vista turístico.

É interessante perceber que, apesar do núcleo urbano de Itabatã não ser tão antigo quanto a sede municipal, e localizar-se afastado do litoral, tem se urbanizado e crescido de modo considerável, atraindo muitas pessoas. Isto se deve em parte, à construção da BR-101, e às mudanças do novo ciclo econômico marcado pela monocultura de eucalipto, que tem provocado o deslocamento de pessoas da zona

Gráfico 2 - Taxa média geométrica de crescimento anual da população projetada 2010-2030

rural para zonas urbanas. Contudo, a mesma atratividade não se verifica na Sede municipal; pelo contrário, esta tem se mostrado cada vez mais pacata, recebendo atualmente poucos turistas e investimentos.

Desse modo, a dinâmica socioeconômica de Mucuri tem se alterado e, em consequência, a Sede do município busca se adaptar para sobreviver do turismo a partir de outros atrativos. Dentre eles, destaca-se a Praia da Costa Dourada (Figura 35), uma vila de pescadores localizada na divisa da Bahia com o Espírito Santo, que possui barrancos de até 15m de altura, dividindo o povoado da praia (BAHIA, 1997). Outros atrativos são as trilhas ecológicas do Parque Ecológico do Rio Mucurizinho e a Passarela Ecológica Gigica (Figura 36), que contribuem para a preservação do Manguezal e ainda atraem turistas do Sudeste.

As antigas festas e manifestações culturais têm sido cada vez mais raras, sendo descaracterizadas e adaptadas em eventos maiores. No entanto, estas não deixaram de existir, persistindo na cultura local. Em Mucuri é tradicional a Festa de São José,

Figura 34 - O processo de erosão costeira em Mucuri (Sede)

Fonte: Prefeitura de Mucuri

Figura 35–Praia de Costa Dourada, Mucuri

Fonte: praia de costa dourada (blogspot), 2012.

Figura 36 – Passarela Ecológica Gigica, Mucuri

evento religioso no qual acontece a procissão pelas principais ruas, e missa celebrada a céu aberto. Usualmente ocorre na segunda metade de março, e é organizado pela Comunidade e diocese da igreja católica.

Um festejo muito tradicional de Mucuri é a Festa do Peroá, também conhecido como Forró do Peroá, em comemoração ao dia de São Pedro. Nesse festejo é popular a procissão marítima dos pescadores com a imagem de São Pedro, além do concurso de quadrilhas, as brincadeiras e jogos, comidas típicas e o tradicional forró (Figura 37). Esta festa ocorre no final do mês de junho, e geralmente é organizado pela comunidade de pescadores em parceria com a prefeitura (BAHIA, 1997). O nome Peroá é uma homenagem à espécie de peixe, antes farta na região, atualmente pouco encontrada. Esse peixe é um dos símbolos de Mucuri, que além de dar nome à festa, também é representado em um importante espaço público, a “Praça do Peroá”, situada na margem do rio.

Entretanto, em eventos mais recentes verificam-se mudanças nas atrações culturais, que hoje caracterizam-se por apresentações maiores de grupos musicais, em palcos. As procissões e marujadas, muito tradicionais nas festas religiosas, têm sido raras na atualidade, sendo ainda identificadas em outros municípios da região.

Esses traços da cultura local são expressivos na paisagem, porém não se restringem a Mucuri. São heranças culturais que também estão presentes nos municípios próximos, não apenas da Bahia, mas também do Espírito Santo. Essas similaridades são históricas, e se manifestam em aspectos e elementos variados, conforme dissertado a seguir, no último tópico deste capítulo.

Figura 37–Tradicional Forró do Peroá (2011)

Fonte: Prefeitura de Mucuri (blogspot).

Figura 38 – Praça do Peroá, Mucuri

3.5. TERRITÓRIOS E FRONTEIRAS: O EXTREMO SUL BAIANO E O NORTE