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Caracterização do ator organizacional da IS

4 Análises dos resultados

4.1 Caracterização do ator organizacional da IS

Antes de apresentar a análise dos dados, convém apresentar aqui a caracterização do objeto de estudo que permitiu a criação, execução e difusão de inovações sociais no semiárido brasileiro.

A Articulação do Semiárido (ASA) é uma rede social que surgiu na Paraíba na década de 70, em uma tentativa de buscar alternativas para as dificuldades encontradas nos períodos de seca (SILVA, 2007). A proposta era pautada em alternativas de convivência com o semiárido, porém, a abrangência dessa ideia aconteceu em 1999, com a criação da ASA Nacional.

O surgimento da ASA Nacional, caracterizada como ASA, trouxe um debate acerca da realidade vivenciada pelo semiárido e o entendimento de que a seca não pode ser combatida, mas deve-se aprender a lidar com as especificidades da região e buscar alternativas endógenas para sua convivência.

A ASA nasce com a Declaração do Semiárido, documento que sistematiza os princípios e propostas das entidades reunidas em torno da articulação. Assim, tornam-se parceiros da ASA todas as entidades ou organizações da sociedade civil que aderem à essa declaração, descrita como: um espaço de articulação política regional da sociedade civil organizada, no semiárido brasileiro; nos quais são membros ou parceiros da ASA todas as entidades ou organizações da sociedade civil que aderem à Declaração do Semiárido; Sendo

apartidária e sem personalidade jurídica, e rege-se por mantado próprio; Fundamentando-se no compromisso com as necessidades, potencialidades e interesses das populações locais, em especial os/as agricultores/as familiares, baseado em: a) a conservação, uso sustentável e recomposição ambiental dos recursos naturais do semiárido; b) a quebra do monopólio de acesso à terra, água e outros meios de produção - de forma que esses elementos, juntos, promovam o desenvolvimento humano sustentável do semiárido; Buscando contribuir para a implementação de ações integradas para o semiárido, fortalecendo inserções de natureza política, técnica e organizacional, demandadas das entidades que atuam nos níveis locais; apoia a difusão de métodos, técnicas e procedimentos que contribuam para a convivência com o semiárido; e propondo-se a sensibilizar a sociedade civil, os formadores de opinião e os decisores políticos para uma ação articulada em prol do desenvolvimento sustentável, dando visibilidade às potencialidades do semiárido; contribuindo, assim, para a formulação de políticas estruturadoras para o desenvolvimento do semiárido, bem como monitorar a execução das políticas públicas (ASA, 1999).

Atualmente, a ASA representa mais de 700 organizações da sociedade civil, e tem como missão fortalecer a sociedade civil na construção de processos participativos para o desenvolvimento sustentável e a convivência com o semiárido referenciados em valores culturais e justiça social (ASA, 2015). Assim, a ASA conta com o apoio das organizações da sociedade civil que realizam ações em prol do desenvolvimento do semiárido, caracterizando- se como a rede de organizações que mais tem se destacado em relação a qualquer outra iniciativa em curso na região dado ao seu desenho metodológico, escala social e geográfica e grau de capilarização (SOARES, 2011).

A ASA se destaca pela conquista do Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semiárido que compreende um conjunto de ações de formação processual e mobilização de famílias e organizações associativas para a convivência com o semiárido. Seu objetivo central é desencadear processos de discussão e envolver as famílias no fomento à construção de cisternas e de pequenas infraestruturas hídricas para produção de alimentos, para captação e armazenamento de água de chuva; água que será usada para o consumo doméstico e produção, no período de estiagem, garantindo, de forma complementar, a segurança e soberania alimentar das famílias do meio rural (ANDRADE; QUEIROZ, 2009). O programa desenvolve dois projetos, o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) e Programa Uma Terra, Duas Águas (P1+2), e envolve famílias envolve as famílias nos processos de discussão e implementação de políticas públicas voltadas para ampliar o acesso

à água e aos demais meios de produção e direitos básicos, no semiárido, conforme apresentado na Figura 12.

Figura 12 – Programa de formação e mobilização social

Fonte: P1MC: Foto 1. www.projetosadcb.blogst.com; Foto 2. www.caritas.org.br P1+2: Foto 1. www.portaldodia.com; Foto 2. www.radiopajeu.com.br

A metodologia adotada pelos dois programas parte-se de um processo de capacitação, intercâmbios de experiências, da construção das cisternas e das pequenas infraestruturas hídricas para produção de alimentos e da implantação de equipamentos para subtração da água de subsolo em poços rasos para dessedentação animal.

O P1MC trata de um programa que prevê a construção de um milhão de cisternas para armazenamento de água de chuva para consumo humano. O programa, lançado em julho de 2003, tem como objetivo contribuir, por meio de um processo educativo, para a

transformação social, visando à preservação, ao acesso, ao gerenciamento e à valorização da água como um direito da vida e da cidadania (ANDRADE; QUEIROZ, 2009).

As cisternas de placas (P1MC), produto final desse projeto, são reservatórios de captação de água de chuva, com capacidade para armazenamento de 16mil litros de água, feitas com placas de cimento pré-moldadas, cuja finalidade é armazenar água para consumo humano das famílias rurais.

O P1+2 fomenta a implementação de tecnologias sociais voltadas ao aproveitamento hídrico para a produção de alimentos – cisternas calçadão, barreiros-trincheiras, tanques de pedra, infraestruturas que dão suporte para o fortalecimento da estrutura hídrica e de segurança alimentar e nutricional das famílias e comunidades de agricultores familiares.

A ASA promove e difunde essas inovações sociais voltadas para o semiárido, discutindo e organizando novas opções de política pública voltadas para ampliar o acesso à água às famílias de baixa renda da região, como também ações voltadas para a produção de alimentos para o autoconsumo, com vistas à garantia da segurança e soberania alimentar.

O programa de formação e mobilização social se relaciona a outros projetos desenvolvidos pela ASA, que atuam em grupos temáticos, e correspondem às diferentes experiências de convivência com o semiárido. Como exemplo, o Projeto de Sementes, que reforça a cultura do estoque das sementes crioulas e tem sua concepção assentada no reforço das estratégias de resgate e valorização do patrimônio genético, através do fortalecimento das práticas já existentes de auto-organização comunitárias (ASA, 2015).

Outras metodologias também são adotadas pelas organizações da sociedade civil vinculadas a ASA, como o incentivo ao uso dos fundos rotativos solidários (FRS) e apoio técnico a promoção da agroecologia, através das feiras agroecológicas. Cada uma dessas redes possui composição, área de abrangência, princípios, missão, valores determinadas, mas todas têm como objetivo principal a implementação de atividades que visam a sustentabilidade camponesa do semiárido.

Nas seções a seguir, a ASA e seus respectivos projetos serão abordados de acordo com as dimensões de análise propostas nesta tese.

4.2 Análise do papel do ator organizacional na Dimensão