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O papel do ator organizacional na “dimensão caráter inovador”

2 Inovação Social

2.4 Dimensões e papéis do ator organizacional

2.4.4 O papel do ator organizacional na “dimensão caráter inovador”

As inovações sociais possuem como característica comum o caráter inovador, no sentido de ser uma nova solução ou uma nova resposta. Chambon, David e Devevey (1982) argumentam que o caráter inovador é um conceito relativo, por apresentarem uma inovação social como uma solução não-padrão em um determinado contexto. Assim, essa dimensão volta-se para uma ação (de reorganização) medida pela extensão e profundidade das mudanças que causam no ambiente. Portanto, é uma condição suficiente, mas não essencial para a inovação social (CLOUTIER, 2003).

Nesse contexto, o ator organizacional tem como papel principal buscar soluções inovadoras em colaboração com os demais atores para trabalhar com problemas sociais. Mais especificadamente, os papéis são apresentados no Quadro 10.

Quadro 10 – Papéis do ator organizacional na dimensão caráter inovador

Papel do ator organizacional Objetivo

Inovações sociais específicas para o contexto investigado

Identificar soluções inovadoras que sejam adequadas ao contexto

investigado Inovação associada aos modelos de trabalho, na

economia e nas ações sociais

Diagnosticar as IS com abordagem técnica, sociotécnica e/ou social Investigação dos tipos de inovação social

implementada

Diagnosticar se a IS tem caráter aberto ou fechado no ambiente investigado Fonte: Elaborado pela autora a partir da revisão teórica (2015)

As inovações sociais se constituem a partir do bem-estar atingido com as respostas desenvolvidas pelos atores emersos em crises, que impulsionam esses a agir, ou seja, a desenvolver soluções para mitigar uma determinada situação-problema. Essas soluções devem ser “novas”, ou seja, inéditas nos ambientes específicos onde elas emergem, podendo também ser identificadas como a implementação de novos arranjos institucionais entre os atores e novas regras sociais (TARDIF; HARRISSON, 2005). As novas soluções surgem como tentativas na fase inicial da implementação, mas, a longo prazo, tendem a se institucionalizar, gerando novos modelos de trabalho, de desenvolvimento e de governança.

A inovação social é definida mais pelo impacto do que pela novidade, pelas conquistas sociais que fornecem melhores soluções, porém as novas soluções servem para auxiliar no alcance dos resultados, aperfeiçoando as práticas existentes, e consequentemente, trazendo melhorias para as populações que servem (CAULIER-GRICE et al., 2012). Ressaltando que, não necessariamente as soluções são originais ou únicas, devem ser novas para o campo, setor, mercado ou usuário, ou apenas ser aplicado de uma nova maneira.

Uma das características é permitir que a inovação já tenha sido utilizada em outro contexto, contudo, o que caracteriza a inovação social é o novo arranjo institucional provocado por meio de uma ação coletiva. Portanto, independente da forma de inovação social, Tardif e Harrisson (2005) mencionam que estas inovações possuem um caráter local ou localizado. Ou seja, o ineditismo não está apenas no desenvolvimento de novas inovações, mas no emprego de conhecimentos já existentes e soluções amplamente exploradas pelo mercado, em novos contextos.

Assim, a inovação social deve encontrar sinergia dentro das iniciativas locais (MAZINI, 2006) e o ator organizacional é propulsor de uma mudança sistêmica, sendo responsável por articular desafios e possibilidades das localidades para criar experiências viáveis que mostrem soluções adequadas a realidade investigada.

Não há mudança sistêmica se ela não estiver preparada para a escala local, ou seja, nas práticas locais e cotidianas de uma comunidade (MANZINI, 2006), convidando assim os atores sociais a se tornarem co-criadores de soluções dos problemas que eles estão imersos. É o foco no modo de fazer ou de como produzir um conhecimento, na inclusão de valores como a participação e disseminação de conhecimentos entre todas as partes envolvidas, na busca de uma solução de fácil aplicabilidade pela própria comunidade que tenha como características o saber local.

Nesse caso, um papel particular é exercido pelas inciativas de inovação social, que, pelas suas próprias características, são sinais de novos comportamentos e novos modos de pensar (CLOUTIER, 2003; TARDIFF; HARRISSON, 2005). Ou seja, são as descontinuidades locais (MANZINI, 2006), provocadas pelas práticas da inovação social e suas implicações na promoção de melhores condições de vida da população.

Reflete, assim, em uma inovação associada aos modelos de trabalho, na economia e nas ações sociais, sendo necessário o diagnóstico das abordagens dos tipos de inovação que estão sendo criadas ou implementadas. Nesse contexto, Tardif e Harrisson (2005) indicam que as inovações sociais podem estar em um continuum de técnica a social, classificando-se em técnicas, sociotécnicas e sociais.

As inovações sociais com abordagem técnica são as que têm forma de produto ou tecnologia. As inovações sociotécnicas englobam os elementos sociais e técnicos para, juntos, realizarem tarefas e sistemas de trabalho focados na produção tanto de produtos físicos como resultados socais. A questão-chave é a concepção de trabalho para que as duas partes (técnico e social) produzam resultados positivos em um processo de otimização conjunta (VALADÃO; ANDRADE, 2012).

Já as inovações sociais que mais apropriadamente tomam a forma de “sociais” são principalmente as desenvolvidas por atores da sociedade civil, que não sejam promulgadas em uma organização, em uma empresa ou como soluções mais amplas desenvolvidas pelo Estado (TARDIF; HARRISSON, 2005).

No que se refere a investigação dos tipos de inovação social implementada, Buckland e Murillo (2013) apresentam dois tipos de inovação para analisar com maior profundidade uma inovação social, as baseadas em inovação aberta, aquelas que os usuários e outras partes

interessadas são livres para copiar uma ideia, reaproveita-la e adaptá-la; e as baseadas em inovação fechada, calcadas por meio da propriedade intelectual.

A inovação aberta tem como princípio básico o reconhecimento que os componentes da inovação devem ser originados de fontes internas e externas ao ambiente (CHESBROUGH, 2006), com o objetivo de capturar e criar valor a partir do conhecimento gerado por essas fontes, gerando como resultado, uma inovação fruto do compartilhamento de conhecimentos e interações de modo colaborativo (SILVA; BIGNETTI, 2012; CALCAGNO, 2013).

A inovação aberta é construída no pressuposto de que existe conhecimento a serem capturados em um processo de co-criação, nos quais os beneficiários são uma fonte de conhecimento e construção dos produtos e serviços a serem oferecidos (SIMANIS; HART, 2009).

A colaboração entre os atores dos diversos setores é uma prática relatada tanto na inovação social como na inovação aberta, nos quais Governo, mercado e organizações da sociedade civil são estimulados a trabalhar como parceiros (MURRAY et al., 2010). Assim, as inovações sociais têm uma tendência a identificação com a inovação aberta, por ocorrer em arenas colaborativas caracterizadas pela existência de limites tênues entre os atores envolvidos, na busca de soluções para seus problemas.

Assim, o objetivo social das inovações pode ser evidenciado, destacando o caráter inovador no processo da inovação, desde a identificação das necessidades sociais, ao processo de implementação, bem como na adaptação a outros contextos no momento da reaplicação. Todo esse desenvolvimento conta com a participação de uma pluralidade de atores que atuam de maneira democrática, tornando o caráter inovador relacionado a mudanças de práticas cotidianas.

2.4.5 O papel do ator organizacional na “dimensão ganhos e