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Papel do ator organizacional em promover a cooperação entre os atores sociais, organizacionais e institucionais

4 Análises dos resultados

4.2 Análise do papel do ator organizacional na Dimensão Atores

4.2.3 Papel do ator organizacional em promover a cooperação entre os atores sociais, organizacionais e institucionais

O papel do ator organizacional para promover a cooperação entre todos os atores constitui uma das principais formas de participação efetiva na geração de inovações sociais, permitindo que seja, como afirma Quandt (2012) um processo dinâmico, associado à convergência de conhecimentos complementares, processos de interação e mecanismos de apoio à cooperação em contextos específicos. Assim, dentro da cooperação entre os atores sociais, organizacionais e institucionais, foram identificados na coleta de dados os indicadores apresentados na Figura 17.

Figura 17 – Papel da cooperação entre os atores sociais, organizacionais e institucionais

Fonte: Dados da pesquisa de campo (2015)

A inovação social pode ser introduzida em ações a partir da atuação de variados atores, dentre os quais se inserem os governos e as organizações da sociedade civil, como já mencionado anteriormente. Assim, o processo de inovação social vem aglutinando várias adesões ao termo parceiros, enfatizando a importância em identificar quem são esses parceiros como indicador de análise do papel do ator organizacional. Dessa forma, verificou- se que os principais parceiros responsáveis pelo desenvolvimento e a manutenção dos programas P1MC e P1+2 são: o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS, como órgão financiador, de controle e coordenação da política dos programas e a Articulação do Semiárido, o que inclui as diversas organizações sociais que a compõem (implementadores da política) e as comunidades e famílias envolvidas (público alvo), confirmando assim, a importância do papel do ator organizacional quando se trata de gerar a cooperação entre os atores da inovação social.

Além desses parceiros, constatou-se uma notável diversidade de organizações da sociedade civil e instituições de governo que cooperam para a mobilização em torno de causas do semiárido, agregando mais recursos e fortalecendo o espaço político, e principalmente na implementação das inovações sociais. Os exemplos citados pelos entrevistados foram: Federação Brasileira de Associações de Bancos – FEBRABAN, Banco Mundial – BIRD, Ministério do Meio Ambiente – MMA, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS, Conferência dos Bispos do Brasil - CNBB, Comunidades Solidária, Cáritas, UNICEF e Pastoral da Criança. Além destas, também foram apontados as Agências de Cooperação Internacional, pelos investimentos nas organizações sociais envolvidas nos projetos; a Fundação Banco do Brasil, pelos editais voltados ao apoio e a

implementação de tecnologias sociais; e a Petrobrás pelo projeto de qualificação com foco nos jovens agricultores com o objetivo de ensiná-los a trabalharem com tecnologias sociais.

Essa cooperação atua na construção de novas relações sociais e em novos padrões de sociabilidade, baseando-se em um conjunto de valores de reciprocidade e partilha, laços de complementaridade e interdependência. Dessa forma, a confiança entre os parceiros emerge como uma categoria de análise da cooperação entre eles e acontece na medida em que eles absorvem tais valores e cumprem as responsabilidades, tarefas e funções estabelecidas pela relação de parceria. Nos casos investigados, os diversos atores devem manter uma relação direta de confiança junto à família beneficiada.

Nesse sentido, a cooperação é uma forma de gerar uma rede interdependente de ações sociais, baseada na confiança entre atores que trabalham em conjunto. Em alguns casos, essas relações ocorrem por um período determinado de tempo e levam em consideração os interesses das partes envolvidas na cooperação, as quais deveriam estar conscientes de que esse é o caminho para se alcançar os objetivos sociais traçados.

A cooperação entre os atores, como papel do ator organizacional no processo de inovação social, provoca a opção comunitária atraente para a política local, porém, os resultados positivos só podem ser esperados se as comunidades locais conseguirem se articular com os demais atores e colocar em prática um modelo de interação social (KLAUS, 2003). Esse relacionamento é soma da confiança que é construída por meio da comunicação e pelo processamento de informação entre os atores, o que pode refletir na compatibilidade entre eles e na formação de laços interpessoais, bem como na formação de equipes comprometidas (HUTT et al., 2000) com o propósito da relação de parceria.

Na busca por essa articulação entre os sujeitos coletivos, a ASA atua como uma forma de pensar e agir sobre o ambiente em que está inserida, provocando relações comunitárias nas quais os envolvidos estejam comprometidos com os objetivos sociais. Assim, a confiança e a cooperação são aspectos que podem influenciar positivamente as relações entre os atores, diminuindo as práticas de oportunismos e clientelismo, como pode ser visto nas falas dos sujeitos representantes do ator organizacional.

“Há mais de dez anos que estamos vinculados com a política pública do estado brasileiro, isso é super importante, o governo está mostrando que está querendo fazer e está chamando quem sabe fazer.” (E03_PE).

Percebe-se então, que a relação de confiança não permite o entendimento que a sociedade civil como substituta do Estado, mas um governo que regulamenta a atividade

associativista e lhes dá garantias fiscais, jurídicas, de mediação das relações de poder no seio da própria sociedade civil. Assim, a sociedade civil não visa à extinção do Estado, mas uma mudança paradigmática na forma de agir. Busca novas soluções que permitam aos setores excluídos terem direito a participar na arena política, atuando ativamente de um processo democrático para a resolução das questões reivindicadas.

Assim, uma vantagem identificada no caso investigado, nessa relação entre sociedade civil e Estado, é a inserção da sociedade civil nas esferas públicas, permitindo que as políticas públicas respondam aos problemas detectados pelos atores sociais, contando, inclusive, com sua ação para a implementação. Nessa perspectiva, as conexões com a sociedade civil se tornam parte da solução, na medida em que se estabeleçam interlocutores comprometidos e um processo burocrático competente, evitando assim, ações de clientelismos.

Corroborando com os resultados, Dagnino (2000) argumenta que uma sociedade civil consolidada é capaz de criar articulações que abriguem seus princípios, abrindo espaços de experiências participativas em todo o país, assumindo estratégias e formas de ação específicas. Assim, as iniciativas decorrentes de mobilização bottom-up auxiliam a superar desafios porque se baseiam na capacitação dos cidadãos para buscar oportunidades não convencionais que visem o atendimento das suas necessidades básicas, ao tempo em que lhes proporcionam a descoberta de seus direitos sociais e políticos.

Deve-se ressaltar, entretanto, que os impactos dessas inovações sociais podem ser limitados porque tais iniciativas precisam ser coordenadas para que possam ser apoiadas por outros atores institucionais e governamentais de modo que possam realimentar seus resultados e experiências em processos de difusão (LOREK; FUCHS, 2013).

Essa colaboração acontece por meio do ideal comum. Assim, o objetivo da cooperação, tem foco na geração de novas formas de ações socioprodutivas que visem atender as necessidades sociais. Nos casos analisados, os objetivos foram traçados através das experiências de convivência com semiárido, fortalecendo, especialmente, as comunidades rurais, com uso de práticas sustentáveis de uso dos recursos naturais, bem como o fomento à organização comunitária.

Quando se olha para o ator organizacional do caso estudado, percebe-se que o objetivo para a formação de sua rede de articulação é

Contribuir, através de um processo educativo, para a transformação social, visando a preservação, o acesso, o gerenciamento e a valorização da água como um direito essencial da vida e da cidadania, ampliando a compreensão e a prática da convivência sustentável e solidária com o ecossistema do semiárido” (ASA, 1999).

Dessa forma, a ASA passou a qualificar o espaço de diferentes articulações políticas e sociais, criadas para que se agreguem com objetivos comuns, integrando indivíduos e organizações que partilham valores culturais construídas no cotidiano. Essa articulação detém forte capacidade de mobilização dos atores sociais, das agências de cooperação e dos órgãos públicos, focados na preocupação com a convivência no semiárido.

A partir do exposto, percebe-se que o resultado do conhecimento aplicado a necessidades sociais através da participação e da cooperação de todos os atores envolvidos, o que ultrapassa fronteiras organizacionais, setoriais ou disciplinares (BIGNETT, 2011). Assim, exige-se nova forma de governança capaz de conciliar a cooperação, autonomia e interdependência, para o desenvolvimento de inovações sociais capazes de solucionar efetivamente problemas sociais. O processo de inovação social necessita da integração e participação dos atores sociais, conforme de discute na subseção a seguir.

Um desafio que permeia esse processo está associado ao acesso ao financiamento. Devido ao fato dos programas receberem financiamento pelo MDS, grande parte dessas interações ocorrem com esse ente federal e seus órgãos de controle, que buscam garantir uma fiscalização do uso dos recursos públicos empregados no programa, implicando também, na imposição de metodologias padronizadas, causando transtornos no momento da implementação dos projetos.

Constatou-se que, nos casos investigados, as relações com as esferas estaduais e municipais são quase nulas.

“Na esfera estadual, a gente não teve avanço, estamos numa fase de retrocesso, e no município a gente não tem quase inferência nenhuma. A relação com o poder público municipal é o pior lugar [...].” (E03_PE).

Essas interações com os atores ligados ao governo estadual só trazem repercussão aos programas quando os Estados lançam editais para construção de cisternas. A vantagem desse distanciamento identificado é o argumento da ASA, que o distanciamento das ações dos estados e municípios afastam o perigo do clientelismo político por parte dessas instâncias.

Outra dificuldade mencionada pelos entrevistados são os prazos estabelecidos pela gestão pública para apresentação dos resultados, incondizente com o tempo de desenvolvimento dos projetos comunitários, levando ao entendimento que a esfera pública busca uma “produção de resultados quantificáveis” (E02_RN).

Portanto, esse movimento criado pelas organizações da sociedade civil serviu de base para discussões sobre questões consideradas importantes para o contexto local, fortalecendo

os laços dos atores sociais, sua capacidade de articulação, e ampliando as possibilidades de acesso a uma perspectiva pública, por meio de atos públicos.

Para encerrar essa seção, apresenta-se no Quadro 18 os principais papéis pertinentes à dimensão de atores, os quais corroboram parte do argumento teórico que embasa o framework proposto nesta tese.

Quadro 18 – Papéis do ator organizacional na dimensão atores

Dimensão Categoria Indicador

Atores

Envolvimento com os atores sociais

Representação dos atores sociais Perpectiva bottom-up

Possibilidade de acesso a politica pública (Combate ao clientelismo)

Capacidade de promover meios que satisfaçam suas