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PARTE II – METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO

5. Caracterização do contexto da investigação

5.1. Meio/escola

A escola onde se realizou o estudo localiza-se na periferia da cidade de Viseu. É uma escola básica com alunos do 5º ao 9º ano de escolaridade, que funciona em regime diurno. Com 452 alunos, a escola, à semelhança de outras, debate-se com alguns problemas de sobrelotação que se reflectem na falta de salas ou de espaços específicos para trabalhar com alunos com necessidades educativas especiais ou para proporcionar actividades de enriquecimento extra-curricular.

Nesta escola funcionam, desde 2006, turmas do 2º ciclo com Percurso Curricular Alternativo (PCA) e Cursos de Educação e Formação (CEF) nas áreas de hotelaria, informática e estética e cuidados do cabelo que conferem aos alunos certificação de conclusão do 3º ciclo e uma qualificação profissional de nível dois.

O corpo docente da escola é constituído por 72 professores, dos quais apenas 37 são do quadro de nomeação definitiva da escola. O pessoal não docente é constituído por 26 funcionários e uma psicóloga.

Os encarregados de educação possuem, na sua maioria, apenas o 1º e o 2º ciclo, sendo poucos os que concluíram o ensino secundário ou que terminaram uma licenciatura.

Quanto aos indicadores de resultados de sucesso escolar, no ano lectivo transacto (2007/2008) verificou-se uma taxa de sucesso na ordem dos 87% no 2º ciclo e 85% no 3º ciclo. As disciplinas com maior índice de insucesso foram Matemática e Língua Portuguesa.

Nesta escola, a carga horária prevista para a disciplina de Inglês do 2º ciclo foi distribuída da seguinte forma: no 5º ano os alunos têm 3 tempos semanais repartidos por 1 bloco de 90 minutos e outro com a duração de 45 minutos. No 6º ano as aulas

decorrem em quatro tempos semanais, distribuídos por 2 blocos com a duração 90 minutos cada um.

As turmas com Percursos Curriculares Alternativos têm uma carga horária semelhante às turmas do ensino regular, excepto o 6º ano que tem menos uma aula de 45 minutos.

Em termos globais, o aproveitamento na disciplina de Inglês no 2º ciclo foi, no ano lectivo transacto, considerado bastante satisfatório tanto no 5º como no 6º ano, sendo que a taxa de sucesso se situa na ordem dos 80%.

Relativamente ao aproveitamento evidenciado pelas duas turmas de PCA na disciplina de Inglês no ano lectivo transacto (uma de 5º ano e outra de 6º ano) os resultados podem ser vistos como sendo bastante satisfatórios, dado que se registou um baixo índice de atribuição de notas inferiores a três (em 20 alunos, 6 não atingiram os objectivos visados).

Como este percurso preconiza actividades alternativas e o currículo da turma deve ser desenhado com base nos interesses e necessidades dos alunos, a professora de inglês/investigadora organizou e concebeu o “manual escolar” para estes alunos, com actividades e propostas de trabalho adequadas às reais capacidades dos alunos e aos conhecimentos da língua por eles evidenciados. As tarefas idealizadas pretendem ser diversificadas e que correspondam às expectativas dos alunos, procurando sempre um nível de realização que assegure o sucesso e combata o sentimento de frustração que este tipo de alunos experimenta quando as tarefas não estão adequadas à sua capacidade ou ao seu nível de realização. Obviamente que esta adequação de tarefas não significa que se descure a exigência e o rigor em termos de saberes e competências, pois subsiste a ideia errada de que se devem omitir determinadas aprendizagens quando se trabalha com alunos integrados nestas turmas.

5.2. Participantes na investigação

5.2.1. Alunos

Atendendo à especificidade dos alunos e à necessidade de promover um processo de aprendizagem mais individualizado, a turma do 5º ano de escolaridade que participou nesta investigação é constituída por apenas dez alunos, 3 raparigas e 7 rapazes, com uma média de idades de 11 anos.

Esta turma integra o projecto denominado Percurso Curricular Alternativo, que supõe uma oferta escolar diferente, vocacionada para áreas mais práticas e que responde às necessidades e ritmo de aprendizagem dos alunos. Por este motivo, o desenho curricular desta turma é diferente do currículo regular do 5º ano.

Desta forma, o núcleo das disciplinas obedece ao fixado pelo Decreto-Lei 1/2006, ao qual foi acrescida uma área de formação artística/vocacional, com o objectivo de assegurar a aquisição das competências essenciais definidas para este ciclo. Numa filosofia de flexibilidade do currículo, as disciplinas de Expressão Visuo-Plástica (EVP) e Têxteis e Madeiras (TM) surgem em substituição da disciplina de Educação Visual e Tecnológica (EVT) e das áreas curriculares não disciplinares de Área de Projecto e Estudo Acompanhado. Ainda foi adicionada a disciplina de Introdução às Tecnologias de Informação e Comunicação (ITIC).

Os alunos que frequentam esta turma pertencem a um grupo específico de alunos que apresentam uma ou mais das seguintes situações:

(i) ocorrência de insucesso escolar repetido;

(ii) existência de problemas de integração na Comunidade escolar;

(iii) ameaça de risco de marginalização, de exclusão social ou abandono escolar; (iv) registo de dificuldades condicionantes da aprendizagem, nomeadamente: forte desmotivação, elevado índice de abstenção, baixa auto-estima e falta de expectativas relativamente à aprendizagem e ao futuro, bem como o desencontro entre a cultura escolar e a sua cultura de origem.

O processo de constituição deste Percurso Curricular Alternativo foi concebido com base em elementos referenciais fornecidos, em primeira instância, pelo professor do 1º ciclo e, posteriormente, confirmados e complementados com as informações recolhidas pelo conselho de turma do 2º ciclo. Todo o processo se iniciou com:

(i) a caracterização do grupo de alunos que o frequenta;

(ii) a realização do diagnóstico das competências essenciais a desenvolver para o cumprimento do ciclo de escolaridade do Ensino Básico;

(iii) a confirmação das habilitações de ingresso.

De acordo com a lei em vigor, a estrutura curricular de cada ciclo deve ter como referência os planos curriculares constantes do Decreto-Lei n.º 6/2001, de 18 de Janeiro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 209/2002, de 17 de Outubro, acrescida de uma formação artística, vocacional, pré-profissional ou profissional que permita uma abordagem no domínio das artes e ofícios, das técnicas ou das tecnologias em geral, anteriormente referido.

A matriz curricular apresentada para esta turma assegura a aquisição das competências essenciais definidas para o ciclo de ensino a que se reporta o percurso alternativo, nomeadamente em Língua Portuguesa e Matemática, permitindo, desta forma, a permeabilidade entre percursos e a consequente transição para outras modalidades de formação, bem como a continuidade de estudos. A transição de um aluno com um percurso curricular alternativo para um curso de educação e formação só pode ocorrer no decurso do 1.º período ou no final do ano lectivo. No entanto, a transição de um aluno com um percurso curricular alternativo para o currículo regular pode ocorrer em qualquer momento do ano lectivo.

Os conteúdos do projecto da turma em estudo foram determinados tendo em consideração:

(i) os resultados da avaliação diagnóstica aplicada em todas as disciplinas;

(ii) as necessidades e os interesses dos alunos manifestados pelos próprios, bem como o meio em que se inserem;

(iii) o ajustamento e a articulação entre as diferentes componentes do currículo, bem como com outras actividades de enriquecimento curricular existentes na escola.

A carga horária semanal atribuída a esta turma respeita os limites fixados, por ano de escolaridade e ciclo de ensino, pelo Decreto-Lei n.º 6/2001, de 18 de Janeiro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 209/2002, de 17 de Outubro. Tendo em conta as características do grupo de alunos, a carga horária não ultrapassa os quatro blocos de noventa minutos diários.

O Conselho de Turma deste projecto reúne quinzenalmente para proceder à definição, adequação e actualização de estratégias, partilha de metodologias e uniformização de critérios. Nestas reuniões, faz-se o balanço das actividades realizadas durante a semana e avaliam-se as dificuldades/progressos manifestados pelos alunos.

Para além das actividades de cariz obrigatório, alguns alunos frequentam actividades de acompanhamento e de compensação, bem como beneficiam do apoio de instituições especializadas na prestação de serviços na área da psicologia. Da mesma forma, outros elementos da turma frequentam actividades extra curriculares e de enriquecimento.

Os alunos que frequentam este modelo de ensino, nesta turma, são indivíduos com alguns problemas de aprendizagem e que partilham as mesmas dificuldades em diversas áreas, nomeadamente a nível do raciocínio lógico/abstracto, cálculo mental, leitura e expressão oral e escrita.

Quatro destes alunos concluíram o 1º ciclo avaliados ao abrigo do extinto Decreto- Lei 319/91 de 23 de Agosto, revogado pelo actual Decreto-Lei 3/2008 de 7 de Janeiro. De salientar que dois alunos apresentam problemáticas do foro psicológico/psiquiátrico, dois apresentam um quadro clínico caracterizado por hiperactividade com défice de atenção/concentração, dois alunos recebem ajuda psicológica e um é oriundo de um agregado familiar desestruturado e, por isso, encontra-se referenciado na segurança social/protecção de menores.

Este grupo de alunos caracteriza-se por não apresentar hábitos de trabalho ou qualquer método de estudo e de organização. Sofrem de falta de concentração/atenção (dois alunos tomam doses diárias de medicamento indicado para este síndroma), revelam dificuldade na aplicação de regras de conduta e convivência na sala de aula e, sobretudo, manifestam falta de autonomia e de confiança na resolução de situações problemáticas.

Como é óbvio, as dificuldades detectadas nestes alunos são condicionantes da sua aprendizagem, nomeadamente devido a desmotivação, baixa auto-estima e falta de expectativas relativamente à aprendizagem e ao futuro. É igualmente evidente o desencontro entre a cultura escolar e a sua cultura de origem.

São alunos que, devido às suas características e aos resultados escolares alcançados durante o 1º ciclo, se encaixam num quadro de risco de abandono escolar, ou mesmo de exclusão social.

Em situação de sala de aula são crianças pouco solidárias e cooperantes entre si. São muito intransigentes uns com ou outros e encaram a crítica ou o reparo com desagrado. No entanto, quando abordadas individualmente, são crianças dóceis e solícitas, que gostam de ajudar e de se sentir úteis.

Desde o início do ano que manifestam interesse e gosto pelo uso dos computadores em situação de sala de aula, mas verifica-se que a familiaridade com este recurso é um pouco incipiente e resume-se aos conhecimentos básicos/elementares.

5.2.2. Professora

A professora, que também é a investigadora deste estudo de caso, é docente de Língua Portuguesa e de Língua Inglesa no 2º ciclo. Lecciona no grupo 220 há 19 anos e pertence aos quadros de nomeação definitiva, embora se encontre destacada, pelo 3º ano consecutivo, nesta escola.

Com dois anos de experiência com alunos integrados em turmas com percursos curriculares alternativos, considera que a este tipo de alunos devem ser proporcionadas experiências de ensino significativas, enriquecedoras e desafiantes.

Motivada pelas competências adquiridas no Mestrado em Multimédia em Educação, considera que as TIC poderão ser um valioso aliado na tarefa de ensinar quem não gosta da escola ou para quem a escola nada significa. Desta forma, optou pela utilização do blogue e do podcast para ensinar este grupo de alunos, por serem ferramentas bastante intuitivas e de fácil navegação e publicação, para além de permitirem o recurso a outros elementos multimédia. A professora pretende, desta forma, perceber de que modo o uso de blogues e de podcasts contribui para a aprendizagem da Língua Inglesa, nomeadamente o desenvolvimento da competência comunicativa dos alunos, para o interesse/gosto pela disciplina e para o gosto pela escola.

O facto de leccionar Língua Portuguesa e Inglês e de ser a coordenadora do projecto de percursos curriculares alternativos desta turma do 5º ano permitiu, desde cedo, a criação de laços afectivos com estes alunos, que facilitaram a implementação do estudo de caso.