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2 O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E A ESCRITA ARGUMENTATIVA

4.1 CARACTERIZAÇÃO DO CONTEXTO E DOS PARTICIPANTES

Explicitamos a seguir, brevemente, o contexto escolar no qual a pesquisa foi aplicada e também caracterizamos os sujeitos (alunos) que participaram desta pesquisa, a fim de compreender um pouco a motivação de trabalhar especificamente nesta escola e com esta turma.

4.1.1 A escola

A pesquisa foi realizada na Escola Estadual Carlos Gomes, que se localiza no munícipio de Montanhas/ RN e é responsável por atender alunos do Nível Fundamental II (6º ao 9º ano), nos turnos matutino e vespertino, e a EJA (Nível Fundamental 6º ao 9º ano) no turno noturno. A escola atende, em média, 400 alunos anualmente.

O município possui apenas três escolas estaduais, sendo essa a mais antiga, com estrutura física ainda precária. Por ter um espaço pequeno, a escola só dispõe de cinco salas de aula; dois banheiros; uma pequena cozinha; a secretaria e a diretoria são praticamente o mesmo espaço; uma sala que deveria ser o laboratório de informática serve apenas como sala para os professores organizarem reuniões ou permanecer durante o intervalo; e o que poderia ser a biblioteca é apenas uma pequena sala, frequentemente fechada, com alguns livros desorganizados.

A escola não dispõe de quadra de esportes ou de outros espaços que possibilitem a prática de atividades extras. Logo, quando existem horários vagos em outras turmas, a dificuldade em dar uma aula de maneira satisfatória é um pouco difícil, devido aos alunos

ficarem nos corredores fazendo barulho e isso acaba atrapalhando e tirando atenção daqueles que estão assistindo às aulas.

Apesar das limitações físicas, dispomos de outros recursos que facilitam nossa prática de ensino. Este ano, por exemplo, foi disponibilizado wi-fi para alunos e professores, o que nos favorece quando precisamos utilizar a internet em uma aula. Para o aluno, o acesso só é disponibilizado no intervalo, pois o acesso livre estava prejudicando a atenção nas aulas. Além disso, a escola também possui dois equipamentos de projeção multimídia, que nos auxiliam a dinamizar as atividades.

Há pouco tempo, a escola está sob nova direção e isso colaborou para que a comunidade escolar passasse a se motivar mais, pois essa nova gestão implementou novas propostas, como projetos que envolvem a participação ativa dos alunos. No entanto, a inovação é um processo lento, já que requer uma postura diferenciada por parte de todos que fazem a escola. Em particular, os professores, que muitas vezes não estão dispostos a rever sua prática, mostram-se inflexíveis a algumas mudanças. Além disso, as condições, tanto físicas quanto de ensino, não são as melhores, mas podemos contar com apoio da equipe escolar, dos coordenadores pedagógicos e dos diretores, os quais nos auxiliam muito, disponibilizando os materiais de que necessitamos e estando sempre dispostos a ajudar no que for preciso.

Apesar das adversidades encontradas na escola, acreditamos que é possível promover mudanças significativas, mas, para isso, não basta só propor mudanças é necessário executá- las, sem idealizações, partindo da realidade desses alunos, buscando alternativas viáveis e propostas de ensino que contribuam para que o aluno não seja mero repetidor de informações, e sim, agente do seu próprio conhecimento.

4.1.2 Os alunos do 8º ano do ensino fundamental

O público-alvo desta pesquisa é uma turma do 8º ano do ensino fundamental, do turno matutino, da escola já mencionada. Essa turma é composta por 18 alunos, sendo 11 meninas e 7 meninos, os quais possuem uma faixa etária de 13 a 15 anos. Mais da metade desses alunos não residem na cidade, eles moram em um distrito próximo, a pouco mais de 10 quilômetros, mas isso não é empecilho para frequentar as aulas e eles dificilmente faltam.

Entretanto, mesmo estando presentes, percebemos que a motivação em realizar algumas tarefas não é compartilhada por todos. Pelo menos cinco alunos não realizam as tarefas regularmente e, algumas vezes, ainda chegam atrasados na aula. Não é difícil avaliar as dificuldades desses alunos, pois eles estudaram o ano de 2014 nessa mesma escola. Pelo menos

cinco alunos, dos dezoito que frequentam, são repetentes, entre os quais, apenas dois mudaram sua postura em relação ao ano anterior, já que realizam e participam das aulas satisfatoriamente. Em relação à disciplina dos alunos, não temos problemas. A turma respeita o professor e a relação é harmoniosa. As dificuldades mais visíveis desses alunos nas aulas de língua portuguesa dizem respeito às práticas de leitura e escrita, talvez, por muito tempo, foram habituados a ler para responder questionários e a escrever sobre temas que nada lhes instigavam.

Nesse sentido, acreditamos ser importante disponibilizar materiais de qualidade, além do material didático entregue pelo governo para os alunos terem acesso na escola, pois, com leitura e discussão de variados assuntos, é possível que o aluno amplie seu repertório de informações e possa se posicionar, possa ter voz. A esse respeito, buscamos trabalhar, principalmente, com gêneros que circulam na esfera jornalística: notícias, reportagens, charges, artigo de opinião, entre outros. Acreditamos que o contato com esses textos poderá possibilitar aos alunos a circulação de saberes e informações, além de despertar-lhes o senso crítico, na medida em que forem orientados a analisar os vários aspectos desses textos.

Quando começamos a trabalhar numa perspectiva mais dinâmica e reflexiva, os alunos sentiram-se apreensivos, porque não estavam acostumados a questionar, a falar ou a expor suas ideias, e sempre questionavam o porquê de não utilizarmos, com tanta frequência, o livro didático. Observamos, com isso, o quanto é arraigado na “cultura escolar” a ideia de um ensino atrelado diretamente aos conteúdos presentes no livro didático daquela determinada série, porém, na maioria das vezes, o conteúdo a ser aplicado, que está pronto naquele livro, não condiz nem um pouco com a realidade dos alunos.

Fazendo um levantamento inicial da turma desde o primeiro bimestre, pudemos identificar que a principal dificuldade dos alunos, dependendo do assunto discutido, era de se expressar por escrito. A partir desse diagnóstico, buscamos trabalhar com a prática da argumentação, por acreditar ser um caminho viável para desenvolver e aprimorar as habilidades de se expressar por meio de textos escritos, já que, para se defender um ponto de vista, é necessário se apoiar em argumentos plausíveis e articulá-los de maneira lógica a fim de chegar a determinada conclusão.

Percebemos, com isso, que os alunos poderiam começar a desenvolver essas capacidades por meio da leitura e das discussões sobre temas polêmicos diversos, assuntos que interessassem aos alunos foram o principal motivador para iniciar este trabalho. Assim, realizamos um levantamento de temas que instigassem o interesse dos alunos e depois selecionamos textos que abordassem esses assuntos. Verificamos que essa era uma maneira de eles se envolverem mais.

A partir da leitura de variados assuntos, os alunos passaram a questionar mais e a buscar informações mais aprofundadas a respeito dos temas trabalhados. As variadas atividades, escritas e orais, também funcionaram para atrair a atenção deles. Passaram a perceber a importância que a linguagem possui em suas vidas, não somente dentro da escola, que era a maneira como muitos enxergavam, mas também em seu cotidiano extraescolar. Antes separavam as aulas de português de sua vida pessoal, com o tempo, passaram a perceber que as aulas estão diretamente ligadas às ações que realizam no seu dia a dia.

Sabemos que nem todos os problemas de leitura e escrita podem ser sanados em apenas dois semestres. As dificuldades observadas durante a execução desta pesquisa são oriundas de uma trajetória escolar de vários anos anteriores, com muitas deficiências, porém, acreditamos que é possível despertar-lhes o conhecimento e ajudá-los a ler e a escrever de maneira mais eficiente quando forem solicitados.