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2 O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E A ESCRITA ARGUMENTATIVA

5.6 A REESCRITA TEXTUAL

A habilidade de escrever bem demanda tempo e orientação adequada do professor. Não existem fórmulas “mágicas” ou técnicas que possam facilitar a produção textual escrita. Escrever bons textos exige bastante prática, logo, é uma tarefa que se constrói ao longo de uma trajetória escolar. Porém, o domínio da escrita escolar poderá ser “facilitado”, como enfatiza Possenti (2005), se levarmos em conta que o funcionamento da escrita na sociedade – a escrita na sua prática social e o domínio desta – depende de sua prática regular, dentro ou fora da escola.

Ensinar a escrever não é apenas estimular o aluno a colocar algumas ideias no papel, é ensiná-lo, sobretudo, que a escrita apresenta uma função social e, para isso, precisa ser

cuidadosamente trabalhada. O aluno precisa compreender que a produção textual não é permanente, mas processual, isto é, precisa ser revisada. Ao produzir um texto, precisamos, muitas vezes, reescrevê-lo para chegar ao que queremos dizer, com clareza. Nesse processo de reescrita, desenvolvemos o senso crítico do aluno, já que possibilitamos a reflexão sobre as possibilidades que a língua oferece.

Consideramos a reescrita como um processo que vai além da verificação de problemas como ortografia, concordância, regência, entre outros. Reescrever implica diversas mudanças no texto, o indivíduo precisa analisar se o que escreveu foi pertinente ao que fora solicitado; se seguiu a organização textual do gênero; se soube adequar-se à situação comunicativa (suporte, interlocutores, finalidade, entre outros) e se fez uso das demais estratégias que poderiam ser utilizadas para alcançar seus objetivos.

Nessa perspectiva, é importante que, ao corrigir as produções textuais dos alunos, o professor tenha definido com clareza quais são seus objetivos. O modo como o texto será corrigido influenciará no processo de reescrita textual dos alunos. A esse respeito, apontamos os trabalhos de Serafini (2004) e Ruiz (2010) como importantes para compreender as possibilidades de correção textual escrita. Para a primeira autora, existem três estratégias de correção textual: a indicativa, a resolutiva e a classificatória. A segunda autora acrescenta a correção textual – interativa, como uma nova possibilidade de correção textual.

Entende-se por correção indicativa aquela que o professor assinala no texto dos alunos os erros e equívocos cometidos por eles; na correção resolutiva, os erros são corrigidos e reescritos no texto pelo professor; e na classificatória, o professor indica de forma clara os erros que o aluno cometeu e apresenta a ele uma classificação por meio de símbolos pré- estabelecidos.

O último tipo de correção proposta por Ruiz (2010), a textual-interativa, consiste em apontamentos realizados pelo professor, ao final do texto do aluno, em forma de bilhetes, que apresentam aspectos globais do texto, elogiando o que for positivo e orientando a refacção dos aspectos negativos. Nesse tipo de intervenção, há uma relação dialogal entre professor-texto- aluno. Conforme enfatiza Geraldi (2003), assume-se uma relação interlocutiva na medida em que professor e aluno se debruçam sobre o objeto de reflexão (o texto). Nessa relação, não existe saber mais ou menos, mas sim, saberes compartilhados, visto que o professor escuta a palavra do aluno e a utiliza para mediar a construção de novas aprendizagens.

Nessa direção, buscamos orientar os alunos no processo de reescrita do artigo de opinião utilizando a correção textual-interativa, porque acreditamos que o diálogo estabelecido poderá proporcionar resultados mais significativos na produção. Nos comentários realizados

em forma de bilhetes, buscamos focar os aspectos linguístico-discursivos do gênero textual produzido. Vejamos, adiante, a descrição do plano da oficina realizada.

5.6.1 Descrição da Oficina 10 do Plano Geral III: orientações para reescrita do artigo de opinião

A seguir, apresentamos a planificação da Oficina 10 (Quadro 55), voltada para orientar acerca da reescrita do artigo de opinião.

Quadro 55 – Plano da oficina 10

Escola Estadual Carlos Gomes Data: 22/08/2016

Professora: Jaklini Medeiros

Série: 9º Ano Turma: Única Turno: Matutino Duração: 2 horas/aula Disciplina: Portu

 Tema da aula: Reescrita do artigo de opinião  Objetivo comunicativos/linguísticos:

 Orientar a reescrever o artigo de opinião de acordo com as orientações apontadas pelo professor.

Fonte: Autoria própria (2016)

Cada aluno recebeu seu artigo de opinião com comentários do professor. Conforme a correção textual-interativa proposta por Ruiz (2010), ao final do texto do aluno, em forma de bilhetes, apresentamos aspectos globais do artigo de opinião produzido, elogiando o que foi positivo e orientando a refacção dos aspectos negativos.

Desse modo, os alunos leram os comentários ao final do texto e foram solicitados a reescrevê-lo, levando em consideração os aspectos apontados. Alguns alunos demonstraram dúvidas acerca de alguns pontos questionados, mas receberam os devidos esclarecimentos; outros, foram indiferentes e disseram que não iriam reescrever o texto. A maior parte da turma reescreveu, conforme solicitado, totalizando treze textos reescritos, entre os quinze produzidos.

Essa consistiu na última etapa de oficinas voltadas à produção de um artigo de opinião. Elaboramos as oficinas porque acreditamos que, ao tomar conhecimento das diferentes estratégias argumentativas, os alunos teriam mais possibilidade de desenvolver a habilidade para produzir textos argumentativos com eficiência. Apesar de as estratégias argumentativas terem sido trabalhadas aos poucos nas oficinas, tentamos demonstrar aos alunos que elas aparecem em conjunto nos textos argumentativos, pois o produtor busca utilizar esses recursos a fim de obter sucesso em seu intento (adesão do leitor).

Tratamos nessa sequência didática, especificamente, da produção do artigo de opinião, pois esperamos que o aluno desenvolva a capacidade de se posicionar e selecionar argumentos adequados para sustentar suas ideias, em variados contextos, principalmente, por meio de um texto escrito. Nesse sentido, consideramos o processo de reescrita porque acreditamos que, por meio da reflexão do seu próprio texto, o aluno poderá aprimorar sua capacidade escrita.

Na próxima seção, analisaremos três textos de cada uma das versões textuais produzidas (PD, 1ªPR, 2ªPR e a PF), a fim de demonstrar as melhorias e as dificuldades dos alunos ao longo do processo de reescrita.

6 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS TEXTOS PRODUZIDOS PELOS ALUNOS EM DIFERENTES ETAPAS

Nesta seção, analisamos as produções diagnósticas (PD); as primeiras e segundas produções reescritas (1ªPR, 2ªPR) e a produção do artigo de opinião (PF), realizadas pelos alunos. As três últimas versões textuais foram produzidas após a aplicação de algumas oficinas. Apontamos os objetivos de cada uma das análises e buscamos verificar de que forma as atividades aplicadas contribuíram para a melhoria dessas produções. Ademais, buscamos demonstrar as dificuldades mais recorrentes no processo de reescrita desses textos.