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2 O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E A ESCRITA ARGUMENTATIVA

4.2 ETAPAS DE GERAÇÃO DE DADOS

4.2.2 Intervenção do professor: sequência didática

Ao elaborar uma sequência didática, precisamos levar em conta alguns critérios, tais como: o programa de cada série, o grau de dificuldade da sequência para os alunos e a produção de uma variedade de atividades que condizem com a realidade da turma. Ao fazer o levantamento dos principais problemas apresentados pelos alunos, será possível começar a elaborar uma sequência de atividades que os auxiliem a superar as dificuldades. Estamos cientes de que a elaboração de uma sequência didática leva tempo e as atividades executadas acontecem de forma gradual, não sendo algo fixo, podendo, assim, ocorrer alterações ou adaptações, tudo dependerá do retorno do aluno.

Ao tratarmos da sequência didática, baseamo-nos nos pressupostos teóricos advindos dos estudos do Grupo de Genebra5. Para esses pesquisadores, a sequência didática (SD) é

5O Grupo de Genebra é formado por pesquisadores da “Escola de Genebra”, entre os quais se destacam: Jean Paul

Bronckart, Bernard Schneuwly, Joaquim Dolz, A. Pasquier, Sylvie Haller, pertencentes ao Departamento de Didáticas de Línguas da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Genebra (UNIGE).

definida como um “conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito” (DOLZ; NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004, p. 97).

Quanto aos procedimentos da SD, de acordo com o Grupo de Genebra, dividem-se em quatro fases, explicitadas na Figura 11:

Figura 11 – Procedimentos da sequência didática

Fonte: Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 98)

De acordo com os autores, a apresentação da situação é o momento em que a turma constrói uma representação da situação de comunicação e da atividade de linguagem a ser executada. Nessa etapa, o professor define com os alunos a modalidade que vai ser trabalhada, a quem vai se dirigir a produção; qual será o suporte dessa produção e, além disso, o professor definirá os conteúdos a ser desenvolvidos.

A produção inicial é o momento em que os alunos vão realizar sua primeira produção. Com essa atividade, o professor poderá diagnosticar as principais dificuldades dos alunos e quais atividades ele deverá desenvolver nos módulos para que essas dificuldades sejam sanadas.

Os módulos, por sua vez, só serão definidos após o diagnóstico do professor em relação à primeira produção. Com base nas dificuldades mais recorrentes, o professor poderá elaborar as atividades. Esses módulos desenvolvem-se a partir de três princípios, a saber: trabalhar problemas de níveis diferentes, tais como o lexical, o sintático, o semântico, entre outros; variar as atividades e os exercícios; e capitalizar as aquisições. O professor, nesse caso, deverá dar instrumentos necessários para que os alunos sanem as dificuldades encontradas na primeira produção.

A produção final é a última produção realizada pelo aluno na sequência. É o momento de avaliar se o aluno conseguiu colocar em prática o que aprendeu com os módulos e se eles conseguem dominar o gênero trabalhado. É o momento de avaliar a aprendizagem do aluno e também as dificuldades que ainda não foram superadas para que possa haver mais intervenções, se necessário.

Baseamo-nos também na proposta de produção escrita de gêneros discursivos apresentados por Lopes-Rossi (2011). Para essa autora, é preciso “criar condições para que os alunos possam apropriar-se de características discursivas e linguísticas de gêneros diversos, em situações de comunicação real” (LOPES-ROSSI, 2011, p. 71). Segundo Lopes-Rossi (2011), por meio de projetos pedagógicos, há possibilidades de produzir diversos gêneros com eficiência. Nessa direção, a autora sintetiza três etapas para o desenvolvimento de projetos pedagógicos, explicitados no Quadro 5:

Quadro 5 – Projeto de produção escrita de gêneros discursivos na escola

Módulos didáticos Sequência didática

Módulo 1: Leitura para as características típicas do gênero discursivo

Atividades de leitura, comentários e discussões de vários exemplos do gênero para conhecimento de suas características discursivas, temáticas e composicionais (aspectos verbais e não verbais).

Módulo 2: Produção escrita do gênero de acordo com suas condições de produção

típicas

Várias atividades de produção:

 Planejamento da produção (assunto, esboço geral, forma de obtenção de informações, recursos necessários);

 Coleta de informações;  Produção da primeira versão;  Correção colaborativa do texto;  Produção da segunda versão;  Revisão do texto;

 Produção final, de acordo com o suporte para circulação.

Módulo 3: Divulgação ao público, de acordo com a forma típica de circulação

do gênero

Série de providências para efetivar a circulação da produção dos alunos fora da sala e mesmo da escola, de acordo com as necessidades de cada evento de divulgação e das características do gênero.

Fonte: Lopes-Rossi (2011)

O módulo 1 da proposta relatada por Lopes-Rossi (2011) inicia-se com a leitura de diversos exemplares dos gêneros para que o aluno possa tomar conhecimento das condições de produção, apropriando-se de suas principais características: discursivas, temáticas e composicionais. Já no módulo 2 são trabalhados os diversos aspectos necessários à produção escrita do gênero solicitado, tais como: planejamento da produção, coleta de informações, versões, revisões, buscando seu aperfeiçoamento, até chegar à produção final. Por fim, o módulo 3 é dedicado à divulgação ao público do gênero produzido, de acordo com o suporte combinado.

A esse respeito, trabalhamos com elementos presentes nas duas sequências didáticas explicitadas. Primeiro, conforme Dolz, Noverraz e Schnewly (2004), explicitamos à turma a situação de comunicação:

 O gênero a ser produzido: o artigo de opinião.

 A quem se dirige a produção: a outras turmas da escola e a pessoas que acessam o blog da escola.

 Que suporte assumirá a produção: serão digitados, expostos em um mural para ser lidos pelos alunos da escola e também serão inseridos no blog da escola.

 Quem participará da produção: todos os alunos da turma.

Após a realização da primeira produção, pudemos avaliar as principais dificuldades apresentadas e elencar os conteúdos necessários para a superação das dificuldades e o aperfeiçoamento da produção. De acordo com a proposta de Lopes-Rossi (2011), produzimos várias aulas, com atividades diversificadas, conforme o Módulo 2 especificados pela autora. Para tanto, mediamos as atividades com revisões das produções e consequente reescrita, a fim de aperfeiçoar a produção escrita final.

No Quadro 6, apresentamos os detalhes das oficinas propostas e dos assuntos abordados para a produção escrita dos alunos. Vale ressaltar que, durante a execução dessas oficinas, foram realizadas duas reescritas do primeiro texto produzido pelos alunos, até chegar à última produção, sendo esta objeto de possíveis revisões.

Quadro 6 – Conteúdos trabalhados nas oficinas para a produção do artigo de opinião

Oficinas Conteúdos

Oficina 1 A construção da argumentação Oficina 2 A tese e os tipos de argumentos

Oficina 3 A tese e argumentos presentes nas produções textuais dos alunos Oficina 4 Os modalizadores e seus efeitos de sentido

Oficina 5 A construção do parágrafo

Oficina 6 Os operadores argumentativos na construção textual

Oficina 7 Movimentos argumentativos

Oficina 8 A estrutura do artigo de opinião Oficina 9 Produção do artigo de opinião

Oficina 10 Orientações para possíveis reescritas e publicação do texto.

Fonte: Autoria própria (2016)

Após a realização das oficinas e das reescritas, os alunos produziram o artigo de opinião, denominado PF (Produção Final). Conforme o módulo 3, de Lopes-Rossi (2011), buscamos divulgar os artigos de opinião produzidos. Como já tínhamos combinado o suporte

no qual o texto seria veiculado, juntamente com os alunos, digitamos e expomos a produção textual dos alunos no mural escolar e depois inserimos os textos no blog da escola.