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CAPÍTULO II – DA PROBLEMÁTICA À METODOLOGIA

2.2. Caracterização do Contexto de Estudo

Para a pesquisa ser bem-sucedida, o estudo de investigação deve decorrer em meio natural, pois esta é uma das principais caraterísticas de um estudo qualitativo. Para Fortin (1999) são estudos conduzidos fora dos laboratórios, o que significa que eles se efetuam em qualquer parte, fora de lugares altamente controlados como são os laboratórios. Segundo Sampieri [et.al] o investigador “(…) deve realizar uma imersão completa no ambiente” (2013, p.385). Esta imersão exige um questionar contínuo do que acontece e do que aconteceu, o seu porquê e que significado se dá ao que se observa; implica ainda, uma aproximação aos participantes, para que se consiga criar um ambiente ideal à colheita de dados, que levará certamente, ao sucesso da investigação.

Assim, atendendo aos objetivos do estudo, que devem constituir o principal critério para selecionar o campo empírico, os locais eleitos para a realização da investigação foram uma UCI e a equipa intra-hospitalar de suporte em cuidados paliativos (EIHSCP), de um hospital da zona norte.

Relativamente à escolha pela UCI, deve-se, essencialmente, ao facto de ser um contexto onde se prestam cuidados ao doente crítico e pela proximidade com o local de trabalho da investigadora.

A seleção pela EIHSCP paliativos prende-se com dois aspetos, um, está relacionado com investigadora desenvolver a sua atividade profissional num serviço de medicina e colaborar nesse mesmo internamento com a EIHSCP, possuindo conhecimento efetivo não só da realidade em questão, como das necessidades sentidas e/ou manifestadas pelos profissionais de saúde e doentes; outro motivo advém também da proximidade com o local de trabalho, com este serviço. Assim sendo, estes contextos facilitarão o acesso à colheita de dados.

Importa acrescentar, que a seleção desta tipologia de serviços prende-se também, com o facto de serem contextos onde o contacto com o doente em fim de vida é uma constante e toma contornos intensos, ocorridos pelas mais diversas circunstâncias, nomeadamente a adoção de medidas terapêuticas por vezes desadequadas à situação clínica do doente conduzindo a dilemas éticos entre os profissionais de saúde envolvidos.

Numa UCI prima o desconhecido, cada admissão de um doente constitui para o profissional de saúde um verdadeiro desafio, pois exige deles, tomadas de decisão complexas. O

internamento de uma pessoa em cuidados intensivos permite reverter muitas situações patológicas e ampliar as perspetivas terapêuticas, salvando inúmeras vidas. No entanto, também gera incertezas, receios e preocupações, quando independentemente das medidas adotadas, a doença evolui de forma inevitável para a morte.

A UCI onde decorreu o estudo, está integrada numa Unidade Local de Saúde que tem por missão dar resposta a uma população residente estimada de 244.836 (INE, 2011), 13,3% dos quais com menos de 15 anos e 23,1% com idade igual ou superior a 65 anos.

É um serviço polivalente de Medicina Intensiva, vocacionado para a prestação de cuidados altamente especializados a doentes em estado crítico, com a ajuda de meios físicos, humanos e técnicos adequados, dentro da área de implantação geográfica do distrito e pontualmente a utentes transferidos de outras áreas, com acordo do diretor do serviço e/ou médico de serviço. A Medicina Intensiva é, assim, uma área sistémica e diferenciada das Ciências Médicas que aborda especificamente a prevenção, diagnóstico e tratamento de situações de doença aguda potencialmente reversíveis, em doentes que apresentam falência de uma ou mais funções vitais, eminente(s) ou estabelecida(s).

A UCI constitui uma unidade de doentes críticos de cuidados de Nível I e Nível II, integrada num Departamento de Medicina Crítica. Conta com 8 camas ativas e capacidade de extensão para 10 camas em situações de exceção. Encontra-se em estreita relação com o Serviço de Urgência da mesma Unidade Local de Saúde, em especial com Sala de Emergência como local de eleição para doentes críticos oriundos do exterior, mas também com a Unidade de Cuidados Intermédios Polivalente (Caldeiro e Silva, 2019).

Defende uma estratégia de responsabilidade na abordagem precoce e segura do Doente Crítico em todo o seu circuito, desde a sua admissão (oriundo ou não pela equipa da Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER), até à alta e/ou transferência para os serviços de internamento, independentemente do local onde este se encontre (Caldeiro e Silva, 2019).

Como principais funções destacam-se:

▪ Abordar, prestar cuidados diferenciados e tratar o doente crítico ou potencialmente crítico, que necessite de um órgão ou mais órgãos ou sistemas e/ou monitorização contínua e intensiva;

▪ Resposta a situações urgentes/emergentes do foro médico-cirúrgico e de trauma;

▪ Resposta a situações de paragem cardiorrespiratória; ▪ Colheita de órgãos em dador cadáver;

Esta UCI também desenvolve e participa em estudos e ensaios clínicos de âmbito nacional e internacional. Obteve idoneidade formativa atribuída pelo Colégio da Especialidade de Medicina Intensiva, que permite a formação de internos da formação específica de diversas especialidades em estágio de Cuidados Intensivos (Caldeiro e Silva, 2019).

A UCI dispõe de uma equipa multidisciplinar autónoma e permanente, constituída por médicos, enfermeiros e assistentes operacionais, que presta assistência 24 horas por dia, 365 dias por ano. Relativamente à equipa médica é constituída por 9 médicos (2 especialistas em medicina intensiva e medicina interna; 7 especialistas em medicina interna). Colaboram também 3 médicos especialistas em medicina interna e 1 em anestesiologia. A equipa de enfermagem é constituída por 27 enfermeiros (7 com especialidade médico-cirúrgica e 3 com especialidade em reabilitação) e um enfermeiro chefe com especialidade em enfermagem médico-cirúrgica. As assistentes operacionais são 8 e 1 assistente técnica. Tem também há colaboração do Serviço de Medicina Física e de Reabilitação e do Serviço de Nutrição e Alimentação.

No que diz respeito ao outro local selecionado para a realização da colheita de dados, EIHSCP é uma equipa que está integrada numa Unidade Local de Saúde e que tem um nível especializado em Cuidados Paliativos. O âmbito geográfico desta EIHSCP cinge-se a toda a área de influência da Unidade Local de Saúde e tem por finalidade prestar assessoria diferenciada nesta área nos diferentes serviços da instituição.

Como principal missão destaca-se:

▪ Garantir apoio e suporte aos doentes internados e aos seus familiares e cuidadores, com situação de doença grave, avançada e progressiva, proporcionando-lhe maior qualidade de vida, dignidade e autonomia, bem como cuidados de saúde humanizados, através da prestação de cuidados paliativos de qualidade;

▪ Prestar orientação no plano individual de intervenção, formação e consultadoria aos profissionais de saúde do internamento, sempre que solicitado (Mendes, 2013). Os objetivos expostos no seu regulamento são:

▪ Proporcionar cuidados de saúde rigorosos e humanizados, ao doente paliativo e à sua família, promovendo a sua adaptação à doença e acompanhamento no luto; ▪ Proporcionar consultadoria técnica e formação de outros profissionais;

▪ Facilitar a toda a população abrangida pela unidade local de saúde a cuidados paliativos de excelência;

▪ Assumir um papel dinamizador e formativo na implementação de uma filosofia e de um modelo de cuidados paliativos diferenciados que privilegiem a dignidade e a qualidade de vida da pessoa doente e família;

▪ Elaborar planos individuais de cuidados paliativos para a pessoa com doença avançada e incurável;

▪ Elaborar normas e procedimentos específicos de atuação, conforme diferentes áreas de atuação dos profissionais da equipa;

▪ Proporcionar apoio psicológico e social ao doente e família/ cuidadores, incluindo período de luto (Mendes, 2013).

A articulação com os serviços de internamento e consulta externa é efetuado através de pedidos de colaboração interna e através de aplicativos informáticos.

Esta equipa é constituída por: 2 médicos, 3 enfermeiros, 1 assistente social, 1 assistente técnica, 1 psicóloga e 1 capelão. Todos com formação em Paliativos à exceção da assistente técnica.

As atividades desenvolvidas por esta equipa promovem uma melhoria no controlo de sintomas, diminuindo o tempo de internamento e promovendo uma adequação das terapêuticas e exames complementares de diagnóstico às necessidades de cada pessoa, contribuindo também para a diminuição dos custos hospitalares (Capelas e Neto, 2010). É de realçar que “as equipas de nível I, intra-hospitalares, de acordo com a sua própria caracterização, não dispõem de camas próprias, sendo a sua atividade assistencial coordenada e articulada com os demais serviços hospitalares e comunitários onde os doentes terminais se encontram, realizando uma actividade de consultoria” (Capelas e Neto, 2010, p.798), tal como acontece com a EIHSCP do nosso estudo.